segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7785: Memórias de Mansabá (16): Vamos todos cá ver / O quanto custa aqui viver / Nesta terra que é Mansabá... (Rogério Cardoso)

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (16)

CANCIONEIRO

1. Comentário de Rogério Cardoso  (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66, foto à direita), inserido no poste P7767 (*)

Caro amigo Ernesto [Duarte]:

O que contas fez-me voltar atrás no tempo, 1964/65. Eu pertencia aos ÁGUIAS NEGRAS, estacionados em Mansabá,  CArt 642 e 644, Bissorã,  CArt 643. Conheci bem todos esses locais, inclusive o célebre Morés, essas locais foram calcorreados pela nossa malta.

Eu também senti a chamada sorte ou talvez um pouco mais, fui atingido por uma granada Pancerovka de 120 m/m, que bateu na minha perna e não rebentou.

A respeito de Mansabá, um camarada nosso adaptou um poema à musica La Mamma, cantada na altura por Charles Aznavour. É que a sede do Batalhão [, BART  645,]  estava em Mansoa e quando porventura por lá "poisávamos", a malta era sempre tramada.

Vista aérea de Mansabá

VENHAM TODOS VENHAM CÁ VER
O QUANTO CUSTA AQUI VIVER
NESTA TERRA QUE É MANSABÁ.


UMA VIDA DE COMOÇÕES,
CONSTANTEMENTE EM OPERAÇOES,
SEM TERMOS ACOMODAÇÕES,
COMO TE ADORO, Ó MANSABÁ!


SÓS NA CASERNA SEM NINGUÉM,
COM UM CINEMA DE ANO A ANO,
CHEIOS DE SAUDADE DE ALGUÉM,
Ó MANSABÁ DA MINHA ALMA!


QUANDO QUEREMOS O CORREIO,
NUNCA APARECE UM AVIÃO,
MAS SURGEM LOGO TRÊS OU QUATRO
PARA FAZER UMA OPERAÇÃO.


E QUANDO ALGUÉM,  PARA DESCANSAR,
VAI A MANSOA, SÓ POR ISSO
DIZEM-LHE LOGO, AO CHEGAR,
QUE AMANHÃ ENTRAS DE SERVIÇO.


Ó MANSABÁ E BISSORÃ!,
O TEU DESCANSO NÃO TEM IGUAL,
FAZ REVIVER OS CORAÇÕES,


E PARA PREOCUPAÇÕES,
PREFERIMOS AS OPERAÇÕES,
MAS JAMAIS, JAMAIS, JAMAIS,
SEDE DE BATALHÕES!!!!

Um abraço
Rogerio Cardoso
CART 643 "Águias Negras"

____________

Nota de LG:

13 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7773: Memórias de Mansabá (4): A construção dos destacamentos de Banjara e K3 (Ernesto Duarte)

3 comentários:

Anónimo disse...

Afastei as preocupações e fui então fazer uma espécie de karaoke (mas com o Aznavour a cantar). Deu certíssimo com a letra do nosso "soldado desconhecido".
Que grande recolha havia a fazer para constituir um cancioneiro da guerra do Ultramar ou da Guiné, no caso concreto.
O Luís tem chamado a atenção para este aspecto, pedindo colaboração dos camaradas que possuam destas relíquias para as enviarem para o blogue.
Gostei mesmo.
Um abraço,
Carlos

Luís Graça disse...

Parabéns ao Rogério por ter salvo esta "letra" do(s) nosso(s) Cancioneiro(s)...

Infelizmente, muitas outras já se perderam ou vão-se perder... Elas são/seriam importantes para se perceber melhor o "quotidiano" dos nossos militares no TO da Guiné, e o grande sentido de humor e a capacidade de crítica social que fazem parte da nossa "idiossincrasia" como portugueses... (Desde as medievas cantigas de escárnio e maldizer aos autos vicentinos, desde os sonetos de Bocage às caricaturas e às cerâmicas de Bordalo Pinheiro, sem falar da ironia queirosiana, nem de toda uma tradição de poesia popular de veia sarcástica)...

manuel quelhas disse...

Muitos parabéns, por estes versos. Como te adoro Mansabá, Manhau, Mantida, Madina fula,Bironque, Carreiro da morte, Monboncó, etec. etec. Só quem lá esteve pode recordar estes lugares onde muitos de nós deixaram lá a própria vida.
Gostava de lá voltar e ver os sítios onde os meus camaradas, perderam a vida. abraço.
Quelhas