segunda-feira, 24 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12895: Notas de leitura (575): "Como Fui Expulso de Capelão Militar", por Padre Mário de Oliveira (Mário Beja Santos)






Capa do livro “Como eu fui expulso de capelão militar”, por Mário de Oliveira (Edições Margem, 1995)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Outubro de 2013:


Queridos amigos,
São assim as surpresas da Feira da Ladra.
Estou já regalado com livros encontrados de leituras que fiz na meninice e que espero que venham a ser úteis para um livro que ando a congeminar sobre as minhas memórias de fedelho, eis quando uma bela capa me chamou a atenção.

Porque o Padre Mário não se faz rogado, capas só de grandes autores como Inácio Matsinhe e neste caso Roberto Chichorro, um dos nomes maiores da pintura moçambicana. O título tinha o seu picante, e a decisão ficou tomada quando vi que se tratava da memória dos quatro meses em que ele viveu na Guiné-Bissau como capelão.
Posso imaginar a turbulência que ele lá provocou, nos meios castrenses. Também assim se fez a história da Guiné, com padres revoltosos.

Um abraço do
Mário



Como fui expulso de capelão militar: O Padre Mário de Macieira da Lixa explica-se, mostra o seu diário

Beja Santos


“Como eu fui expulso de capelão militar”, por Mário de Oliveira (Edições Margem, 1995) é o testemunho do Padre Mário de Oliveira que em Março de 1968 foi expulso de capelão militar depois de integrar durante quatro meses um Batalhão na Guiné.

 Sacerdote polémico, vive desde Outubro de 1975 como padre sem ofício pastoral, dedica-se a um projeto denominado Igreja Popular e é jornalista. 

Antes de ser capelão militar na Guiné-Bissau, foi professor de Religião e Moral no então Liceu D. Manuel II e era assistente diocesano da JEC. Terão chegado queixas ao administrador apostólico da Diocese do Porto acerca do seu trabalho com os jovens, foi despachado para a Academia Militar para frequentar o curso de Capelões. 

Não guarda em grande conceito o Bispo castrense, D. António dos Reis Rodrigues. Tece comentários amargos à conivência da hierarquia da Igreja Católica com o regime de Salazar. Naqueles meses da Guiné escreveu um diário e explica as reservas utilizadas: 

“O diário propositadamente omite o nome das terras por onde passei. Tão pouco divulgo o número do Batalhão em que fui integrado e no seio do qual desencadeei a ação que culminou com o meu afastamento compulsivo”.

O diário começa no dia 28 de Outubro de 1967: 

“Não sinto saudades. Não chorei à partida. E não esforço. Mas costumou-se a separação. Só Deus me aguentou. Se Ele não fosse o ideal da minha vida, não teria saído”

No dia seguinte, o capelão do Batalhão celebrou Missa no porão do Uíge: 

“Não me satisfez a Missa. Está numa linguagem que não se entende. Celebrámos a Festa de Cristo Rei e ninguém terá entendido isso”

Percebe que não houve fraternidade, no final da Missa foram todos a correr para os bares. E no dia seguinte houve instrução, tece outro tipo de recriminações: 

“O major falava das moças pretas. E pude ouvi-lo a instruir como conhecer quando o soldado poderia usá-las sexualmente. E quando elas, por sinais já convencionais, deixassem perceber concordavam, que era só procurar um sítio para isso. Ouvi bem! Nenhum estímulo a saberem servir, a respeitar, a permanecer fiéis. Será isto civilizar? Será isto amar o preto, respeitá-lo?”.

A viagem prossegue maravilhosamente e a 1 de Novembro o Capelão apercebe-se que estavam perto da Guiné, aqui chegarão no dia seguinte. A 4 regista os muitos soldados que vê em Bissau, as viaturas do Exército e escreve: 

“Tenho a sensação de estar num país estrangeiro. Não se entende os que os nativos dizem entre si. Outro defeito grave do passado. Nem a língua comum se procurou dar ao nativo

A 8 marcha para o seu Batalhão, à noite aproximou-se do edifício das praças, encontrou muita gente na jogatina. Medita sobre o que poe fazer para a valorização pessoal, ali não há clima de virtude. Os dias que se seguem são de contacto com as unidades, desloca-se e celebra Missa num fortim: 

“Ali estão perdidos dias seguidos. Estiveram presentes. Também o que estava de vigia no ponto mais alto, pois ficava mesmo em frente do altar. Num cenário de guerra, Cristo nasceu. E falou”

Vai registando factos para si surpreendentes: um inimigo que fugiu da prisão; a chegada de uma companhia de uma operação, chegaram eufóricos porque mataram e feriram e não tiveram baixas; vai registando depoimentos, acompanha o tenente médico pelas tabancas.

Por vezes, espraia-se em dissertações sobre a evangelização em África, mas acontecimentos triviais ou inusitados são transcritos para o papel como aquele Pedro que estava louco de amores pela Mariana e atirou duas granadas de sopro que feriram a bajuda. Reflete sobre a Missa. 

Numa coluna que se deslocou a Bissau rebentou uma mina em plena estrada, o capelão ia num jipe, a tudo assistiu. Escreve sobre o Advento. A 8 de Dezembro, exalta Maria, mãe da humanidade. Visita a cadeia onde se encontra pessoal preso em operações, há ali também suspeitos. Sente-se nas suas reflexões que está a entrar num caldeirão emocional. Nunca esquece os soldados feridos, acompanha-os, reza com eles. Continua a visitar os destacamentos e as tabancas. Começou a preparação litúrgica do Natal, toma nota dos maus tratos dados aos nativos que se recusaram a fazer capinações. 

Escreve longamente na vigília de Natal e a 25 regista que chegaram dez feridos, um dos quais já sem pernas, mais uma mina anticarro. 

“Nunca passei uma noite de Natal tão esquisita. Estive no refeitório das praças, em confraternização geral, com oficiais da companhia que jantava e os comandos. Mas não estava bem. Nunca senti saudades de ninguém. Apenas sofria". 

A 26, é procurado por um alferes que manifestara vontade de se confessar e que pediu para comungar.

Já não esconde o seu estado de revolta, refere a situação desumana dos prisioneiros, as torturas a que são submetidos. Em 1 de Janeiro, houve um ataque ao aquartelamento onde estava o capelão. Morreu um soldado milícia e ele rezou a seu lado. Os textos ganham dureza: construímos a paz ou alimentamos uma guerra, o texto da sua homilia vai suscitar polémica. O seu chefe religioso de Bissau vai inteirar-se da situação. 

O seu diário é tão confuso quanto a sua incompreensão ao destino que lhe está reservado. Continua a celebrar Missa, percebe-se que o deixam andar pelos destacamentos, não o querem no Batalhão. Regista a 30 de Janeiro: 

“Vivo horas difíceis. Estou a ser rejeitado e mal interpretado. Deus é o meu apoio, a minha força, o meu refúgio. Soube, ontem, que veio cá ao quartel um agente da PIDE para falar com um dos comandantes. Foi pedido o meu cadastro. Será pelas homilias. Como português e como cristão, apenas quero dar o meu contributo para a solução do problema que nos mantém cá na Guiné”

No dia seguinte chega uma mensagem para se apresentar em Bissau. E escreve: 

“Mas que mal fiz eu? Será um crime pregar aos cristãos a Palavra de Deus com clareza e objetividade e querer que as relações em Batalhão e fora dele sejam mais realizadas no Amor uns aos outros?”

Sente-se caluniado, até admitiram a hipótese de ter vindo assalariado por um grupo de revolucionários do Porto.

As suas homilias são cada vez mais incómodas, o Padre Mário tira toda a incandescência possível das homilias: 

“Muita gente, mesmo de responsabilidade, confundiu o Reino dos Céus com a vida ultraterrena, à qual se chegava abandonando esta. Não sei mesmo como foi possível fazer da religião um conjunto de práticas de piedade que nada tinham a ver com a vida no mundo, quando o Evangelho de Cristo é todo ele atividade contínua e entusiasta no mundo”

Exalta a sociedade nova, critica os ociosos e recorda o cristianismo primitivo. A 17 de Fevereiro, o seu chefe religioso apareceu e falou-lhe em particular, perguntou-lhe se aceitava mudar de unidade, ir para outro batalhão, recomendou-lhe que usasse da prudência no futuro. A 22 de Fevereiro, volta a Bissau, encontra-se com o chefe religioso de Lisboa. E diz ao seu superior que não achava justo mudar de batalhão, não praticara qualquer crime. O seu chefe reagiu mal: 

“Há já um mês que queriam mandá-lo para Lisboa. Eu é que o fui segurando aqui. Mas, já que agora me fala dessa maneira, não muda de Batalhão: vai para Lisboa e lá vê-se o que se há de fazer”

No fim de Fevereiro recebe instruções para embarcar para Lisboa. E conclui:

“Ouvi do meu bispo as piores referências! Não quis ouvir-me. Não me deu oportunidade de o informar, pormenorizadamente, do que se tinha passado. Não se mostrou interessado em conhecer a mensagem que anunciara no correr dos quatros meses”

É considerado irrecuperável para determinadas atividades sacerdotais. E daqui parte para casa dos pais, em Lourosa, onde chegou pela meia-noite. Era dia dos seus anos.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12864: Notas de leitura (574): "Pai, tiveste medo?", por Catarina Gomes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12894: Tabanca Grande (430): Silvério Dias, 1º srgt art ref, o senhor PIFAS, e "poeta todos os dias!...Nove anos de permanência em terras guineenses, incluindo uma comissão na CART 1802 (Nova Sintra, 1967/69)... É agora o grã-tabanqueiro nº 651

1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro, Silvério Dias, o ex-1º srgt art, locutor do PFA;


Data: 23 de Março de 2014 às 18:51
Assunto: Alistamento no Regimento dos "Tabanqueiros"


 Assim seja, desejo alistar-me, voluntariamente, tomando a posição 651. Que me seja conservado o posto de 1º.Sargento de Artilaharia, bem assim, todos os louvores e condecorações, constantes na caderneta!

Brincadeira aparte, caro "Homem-Grande", Luís Graça (*), não se culpe. Se erro existe é apenas meu, ainda que desculpável.

Só muito recentemente e de modo ocasional, tive conhecimento da existência da "Tabanca Grande" e dos seus efeitos benéficos, reunindo à sombra de gigantesco poilão, grande parte daqueles que, da Guiné, guardam tantas boas e más recordações.

Para descrever as minhas, diria que só num livro de muitas páginas. Basta referir que "por lá andei", durante 9 (nove) anos, de 1967 a 1976. Granjeei amigos de todas as etnias e credos, admiradores ouvintes do PFA. e agradecimentos pelo bem-fazer, na minha condição de Delegado de Propaganda Médica, após abandono voluntário do Exército.

Sucintamente, apenas contrariado pelo clima adverso (que todos conhecemos), diria que me senti "em casa", embora bem longe dela.

Alguns utentes da "Tabanca Grande" já ouviram falar de mim, mercê da atitude louvável do Furriel Mil Garcez da Costa, que ao "Pifas" deu voz (considera que fui o seu paizinho) e deu a conhecer a minha existência. Lhe agradeço por isso e pela possibilidade futura de conviver convosco.

Na plenitude da minha velhice, estou dedicado à poesia. Prometo divulgar o que escrevo e relativo à "nossa Guiné". Para consulta, o blogue, Poeta Todos os Dias.

Não vos prometo maçar mais. Há manga de chuvas para podermos dialogar. Até lá e até sempre, firme e hirto, a minha continência à virtual bandeira da Tabanca Grande. na presença do seu "Comandante Luís Graça"!

Ex-camarada e presente amigo, Silvério Dias.


2. Comentário de L.G.:

Camarada, mandam as boas regras do blogue, tratarmo-nos por tu, como camaradas de armas que fomos!... Além disso, pertencemos à mesma geração, e recusamos desaparecer sem deixar rasto. Este é um blogue, como sabes, de partilha de memórias e de afetos, seja em prosa em verso.  És bem aparecido e bem vindo e serás seguramente acarinhado por todos os amigos e camaradas da Guiné.

Com nove anos de Guiné (que conheceste bem, antes e depois da independência, mais a Índia e a Moçambique), não te faltam histórias e fotos para publicar. Para já, instala-te e senta-te confortavelmente à somba do nosso mágico, fraterno, centenário e protetor poilão. Estás mais do que "arregimentado". És o grã-tabanqueiro nº 651 (**). Um alfabravo para ti e para a "senhora tenente". Muita saúde e longa vida, deseja-te o nosso bom irã, acocorado lá no alto do poilão!


PS1 - Silvério, devo arescentar que és o único representante, até à data, da CART 1802, "Pioneiros de Nova Sintra", que andou pela região de Quínara (Nova Sintra, Fulacunda, Jabadá, S.João, 1967/69). Julgo que na altura eras 2º srgt. E daí terás ido para o PFA - Programa das Forças Armadas, onde trabalhaste com, entre outros, o então cap inf António Ramalho Eanes. Confere ?

Da tua CART 1802, composta por rapaziada alentejana, fizeste um breve historial em verso. Tens fotos desse tempo ? Tens a história da unidade ? Vocês costumam reunir-se em convívio anual ?  O nosso crítico litérário, o Mário Beja Santos, já aqui em tempos fez a recensão de uma brochura. da autoria de  um camarada que esteve em Moçambique, Manuel Pedro Dias, que conta a história da tua companhia. Ora vê clica aqui (***)... Como vês, e como costumamos dizer, o Mundo É Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. E, a propósito, também também temos uma página, mais aberta e mais ligeira, no Facebook > Tabanca Grande Luís Graça,

PS2 - Sobre a CART 1802, independente: Mobilizada pelo RAL 3, partiu para o TO da Guiné em 28/10/1967 e regressou a 23/8/1969. Esteve em Farim, Bissau, S. João, Nova Sintra, Bissau, Teixeira Pinto, Pelundo e Bula. Comandantes: (i) cap mil art António Nunes Augusto;  cap art Luís Fernando Machadoo de Sousa Vicente;  e (iii) cap mil art  Emílio Moreira Franco.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de março de 2014 >  Guiné 63/74 - P12870: Agenda cultural (295): O camarada "pifaniano" Silvério Dias, ex-1º srgt, locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, e "poeta todos os dias", convida os poetas da Tabanca Grande para a sessão de hoje, "Há Poesia no CASO", ou seja, no Centro Acção Social de Oeiras, às 17h00

(...) Comentário de L.G.: (...) Silvério, agora me dei conta que o meu amigo e camarada ainda não tem lugar cativo, na Tabanca Grande, à sombra do nosso poilão!...

Mas isso imperdoável! E a falta só pode ser minha!.. Uma foto do tempo do PIFAS já temos, falta uma atual... E o resto é simples: é um paleio do género, a enviar por email:

(... "Apresenta-se o camarada tal que, deslumbrado com este ponto de encontro virtual dos amigos e camaradas da Guiné, também bate a pala e pede licença para entrar e contar, em prosa ou em verso, algumas das suas andanças e peripécias por aquela terra verde e rubra a que ainda hoje chamamos a nossa Guiné, sem falsos paternalismos nem muito menos com inconfessáveis intenções neocolonistas, enfim, de cara lavada e coração limpo" (...) Blá- blá, blá-blá...

Um alfabravo. Luís Graça

PS - Não se aceitam negas...O nº 651 está vago... mas por pouco tempo! (...) 


(...) Manuel Pedro Dias, que prestou serviço militar em Moçambique fez amizade com Manuel Balhau (proprietário da Gráfica 2000) e que prestou serviço militar na Guiné. Manuel Pedro Dias deitou mãos ao trabalho, consultou no Arquivo Histórico-Militar a história da CART 1802, e fez-se brochura.

É um exemplo para muitos. Temos aqui um documento sóbrio, destacando as principais andanças, não descurando o In Memoriam e mostrando até os guiões dos outros batalhões com quem os “Pioneiros da Nova Sintra” tiveram articulação. Coisa bonita.

A CART 1802 andou por Teixeira Pinto, Binar, Pelundo, Farim, S. João, Nova Sintra e Jabadá, ou seja percorreram o Sul, Centro e Norte. Tiveram ainda pelotões destacados em Enxudé e ilha de Jeta.

Foram mobilizados pelo Regimento de Artilharia 3 (Évora), a sua divisa era “Honra e Glória”. Uma comissão que se estendeu de Outubro de 1967 a Agosto de 1969. Mal desembarcados, seguiram para Farim; depois de treino operacional participaram numa operação na Ponta do Inglês e noutra em Binar, em ambas tiveram mortos e feridos.

Estavam de intervenção ao Comando-Chefe. Começaram o ano de 1968 numa operação em Binar e depois partiram para S. João, aqui construíram abrigos, patrulharam e limparam itinerários com vista à criação do subsector de Nova Sintra na zona de acção do BART 1914. 


É um período de intensa actividade operacional. Em Outubro vão para Jabadá dois pelotões, um outro fica em S. João e mais outro em Enxudé. Em Março, uma parte da companhia chega a Teixeira Pinto, vão para a ilha de Jeta e para o Pelundo. A partir daqui, apoiam trabalho de desmatação na estrada Teixeira Pinto – Bachile, bem como na estrada Pelundo – Có. 

Em Agosto de 1969, a 1802 recolhe a Bula, seguindo depois para Bissau. (...) 

Guiné 63/74 - P12893: Parabéns a você (707): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12880: Parabéns a você (706): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense do BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)

domingo, 23 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12892: Convívios (572): 31.º Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447, a realizar no próximo dia 17 de Maio de 2014 na Tornada, Caldas da Rainha

1. A pedido do nosso camarada Lima Ferreira, ex-Fur Mil do BENG 447 (Brá), leva-se ao conhecimento dos possíveis interessados a realização do 31.º Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças daquele BENG, a realizar no próximo dia 17 de Maio de 2014, na Tornada, Caldas da Rainha.



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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12889: Convívios (571): Encontro do pessoal da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, dia 26 de Abril de 2014, em Chaves

Guiné 63/74 - P12891: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (24): Um longo percurso que começou em Vendas Novas, passando por Cascais, Torres Novas, Queluz, Lisboa, acabando em Mafra (Jorge Picado)

2. Mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 18 de Março de 2014:

Amigo Carlos

Um passarinho me segredou que andavas sem "trabalho". Ora isso não é bom para a saúde.

Pegando num escrito que tinha feito, do género "para memória pós-morte", os meus sucessores, que já são muitos (só netos já formam uma equipa de futebol mista) saberem o que eram aqueles tempos do antigamente, a que chamei " Pedaços de Vida - Quatro Anos e 159 dias Fardado de Militar", extraí uns parágrafos e arranjei uma composição que tavez possa ser enquadrada em "A Cidade ou Vila que eu mais amei ou odiei no meu tempo de Tropa".
Se não tens mais nada para fazer aí vai.

Grande abraço para Vós do
Jorge


A Cidade ou Vila que eu mais amei ou odiei no meu tempo de Tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG

Se bem que as terras ou cidades que detinham estabelecimentos militares, onde se cumpria o tempo obrigatório do serviço militar, não fossem as culpadas pelos “sofrimentos” que por ventura viessem a ocorrer, a verdade é que muitos os “descarregavam” sobre as localidades, chegando mesmo a criar aversão a tais terras.
Pela minha parte, tendo conhecido várias dessas localidades, algumas mais “pobres” e, outras até mais desenvolvidas e evoluídas, também ocorreu algo de semelhante como a tantos.

De Vendas Novas, onde assentei praça em pleno verão do tão longínquo ano de 1959, 31AGO, muito mais pequena e menos desenvolvida do que actualmente e mal servida de meios de comunicação, não guardo más recordações.

Não obstante as deficiências resultantes por exemplo: da falta de água em época de tanta canícula, obrigando-nos algumas vezes a dormir todos enfarruscados, após instruções noturnas, sem pinga de água nas canalizações para um banho na chegada ao quartel; ou a dificuldade em ligações de transporte para quem queria vir passar um fim de semana ao Norte; ou mesmo a relativa falta de meios de passatempo, sempre encarei a situação como provisória e fazendo parte duma etapa a que não me podia furtar.

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Foto 1 – No início do COM em Vendas Novas.


Foto 2 – Em OUT59 nas escadas para o “galho”. Onze mancebos do COM 1/59/A. 1- Emanuel Maranha das Neves; 2- Carvalho, do Porto; 3- Este escriba.


Foto 3 – Junto de uma “relíquia da 1.ª Guerra Mundial”, parece que estou chegando “fogo à peça”, que não é peça.


Foto 4 – Ensaios para o “Juramento de Bandeira”. 1- Belmiro de Azevedo; 2- Carvalho, do Porto; 3- Eu; 4- Maranha das Neves.


Foto 5 – Juramento de Bandeira. Com a seta verde Eu; 1- Maranha das Neves.


Seguidamente rumei a Cascais para a especialidade e aí, após a secura alentejana, sobreveio a água a mais, já que se seguiu um outono-inverno bem molhado.

No entanto havia a compensação de que os “ares” eram outros. Mais cosmopolitas, melhores “vistas”, cafés mais “acolhedores”, apesar da triste figura que por vezes nos obrigavam a fazer quando “tocavam a capotes” e lá tínhamos de sair com aqueles “sobretudos” feitos para outros corpos, nunca correspondentes ao nosso número. Mesmo assim, já se podia até ir a uma sessão de cinema.

E Lisboa ali tão perto para fins de semana, sempre com estadia garantida na morada onde sempre aquartelei durante a frequência, e não só, do ISA. Era uma casa particular com vários quartos e camas em maior número, “sui generis”, praticamente de Ilhavenses, homens do mar, onde eu destoava por ser “de terra” e quase o único que estudava. Como “imagem de marca”, mesmo para aqueles que já andavam embarcados, havia sempre lugar para dormida mesmo quando os navios chegavam a altas horas da madrugada. Quase “uma República Coimbrã”.

De Cascais portanto nada de mal a dizer e, quanto às tropas, sempre de vento em poupa, tudo na desportiva como é costume dizer-se e a caminho duma “Muito Boa” classificação, ao mesmo tempo que limpava a “cadeira de Hidráulica Agrícola” que tinha deixado para fazer em Dezembro.

No final da especialidade, 2.º classificado em AAA com 16,59, preparava-me para seguir rumo a Queluz, convencido que a Instituição Militar era o paradigma dos valores éticos que apregoava.


Foto 6 – Na última semana de JAN60 (se não erro) nos exercícios finais nas matas do Guincho. Fila para o “tacho” (comida, não para aquilo que os “boys” agora fazem). 1- Barroco (Algarvio e colega de curso no ISA); 2- Carvalho, do Porto; 3- Barreto (Moçambique, colega do ISA mas Silvicultura); 4- Julgo ser o que ficou em 1.º em AA; 5- Eu; 6- Gil.


Foto 7 – 2.ª Secção a efectuar “fogo de barragem” com a peça de 9,4 cm. Reparem nos “supositórios”. Depois do tiro, com o recuo, era cá cada salto que os apontadores davam nos assentos que se não apertassem bem os capacetes eles voavam. A 1.ª Secção, sob o meu (seta vermelha) comando estava “em descanso com o pessoal fora dos postos a ver”.


Foi então que surgiu a primeira de muitas decepções e aparece uma localidade que “comeu” por tabela com o “meu ódio”.

A malfadada Torres Novas onde se acolitava o GACA 2 (Grupo de Artilharia Contra Aeronaves 2).

De facto, no final do COM e antes de nos mandarem para “casa” a aguardar colocação, tivemos de preencher os “inquéritos” com a ordem de preferência na colocação. Em função da minha classificação, e de acordo com o que era normal, escolhi o RAAF – Queluz como 1.ª e única prioridade, pois permitia-me, como acontecia com todos os meus colegas de Agronomia, proximidade ao ISA e a realização ali de alguns trabalhos.

Deixei Cascais descansado, até porque sabia que o 1.º não ia para lá, mas antes tinha solicitado, como aconteceu, colocação no Serviço Cartográfico do Exército, já que ainda não tinha concluído o curso de Matemáticas, acabando por aí permanecer vários anos.

A desilusão não podia ser maior ao receber como prémio, poucos dias depois, a Nota de colocação naquele aquartelamento para onde eram remetidos, género de castigo, os últimos classificados do curso. Antes de levantar a guia de marcha apresentei um requerimento devidamente formulado e instruído, dirigido a SEXA o Ministro do Exército, reclamando de tal colocação. Porém, enquanto não fosse emitida a decisão de SEXA, tinha de seguir caminho e, nestas coisas de “cunhas”, “quem vai ao mar perde o lugar” como se diz na minha terra. E quem “o ganhou” por Queluz se repimpou.

Desde o “barrete” que os distintos Serviços Militares enfiaram a 2 ou 3, já não recordo quantos éramos, ingénuos Aspirantes, passando-nos guias de transporte de Caminho de Ferro de Lisboa para Torres Novas, que nos fizeram desembarcar de uma composição ronceira, recordo que estávamos em FEV60, no dito apeadeiro de Torres Novas, onde o respectivo Chefe, muito admirado nos avisou que o nosso destino ficava a não sei quantos quilómetros e dali não havia carreiras de camioneta! Até conseguirmos um carro de aluguer, requisitado via telefone a uma praça da dita Vila ou já seria Cidade (?), pago logicamente por nós e não pelo Exército, muitos nomes bonitos fomos endereçando a quem nos pregou tal partida. O trajecto correcto, viemos a saber por esse Chefe da CP, seria transporte da CP até Entroncamento e depois de Camioneta até Torres Novas, pois daí, sim, havia carreiras regulares.

Mais uma achega para o aumento do mau relacionamento com esta terra. Mas outras se seguiram.

O “inimigo” que arranjei, logo na apresentação oficial na Unidade. Sem qualquer diplomacia da minha parte, quando o Comandante admirado verifica o meu “currículo militar” e exclama para os restantes oficiais que finalmente eram premiados, julgando-me talvez um “militarão”, lhe respondi que estava enganado, já que o que acontecia era um tremendo erro, para não dizer outra coisa, uma vez que o meu lugar, por direito era no RAAF e, aguardava que tal erro fosse corrigido por quem de direito, após análise do recurso.

Isso é que era bom, julgava eu, pois não conhecia a “têmpera” e “o posicionamento político” desse Comandante. Mesmo depois da resposta afirmativa de SEXA de que o meu lugar era em Queluz para onde deveria voltar, tive de “gramar” com uma recruta naquela Unidade e com a “vigilância pidesca” do IN, que era exercida unicamente nos meus serviços à Unidade, que eram examinados a “pente fino”. Só de lá saí depois de terminada a recruta que ministrei, ocupando o lugar de direito no RAAF apenas em Setembro-Outubro. Torres Novas foi pois um lugar a esquecer.


Foto 8 – Em Torre Novas, com “atavios” cedidos.


Foto 9 – Almoço no GACA 2. Três Asp a Of [1- “O mais guapo”; 2- Trancas de Carvalho (colega do ISA); 3-Almada Negreiros] e Alf QP (4).


Foto 10 – O “meu Pelotão de instruendos”.


Foto 11 – Praia de S. Pedro de Muel, durante a semana de exercícios finais dos recrutas. 1- Cap Art QP Cmdt da Companhia de Instrução praticando tiro ao alvo com bazooka; 2- Eu que também fiz gosto ao dedo.

Seguir-se-ia Queluz por pouco tempo. Um ou dois meses, já que para “embolsarem umas massas”, mandavam de licença registada (?) quem quisesse, até terminar o tempo e antes da promoção a Alferes. Mas aqui eram só os serviços à Unidade e ver passar o tempo, muitas vezes com dispensas alegando “afazeres” no ISA, uma vez que tinha concluído as cadeiras, mas faltava o estágio obrigatório para a obtenção do “canudo”.

Esta era uma Unidade “chave” para os “astros” do Sporting e Benfica, pelo menos, que por ali “passavam” quais “Senhores”, apenas para “assinar o ponto” como se dizia. Pouco faltava para serem os Oficiais a fazerem-lhes continência e não o inverso!

Queluz, além de muito para ver, era quase Lisboa. Logo nada de mau.

Mais tarde, 30AGO61 voltei e, apesar de ser para Lisboa, Santa Apolónia, já não gostei.

A Capital não tinha culpa, mas a forma como fui apanhado e os transtornos que me causaram provocaram-me “azia”. Ainda para cúmulo o serviço podia traduzir-se em “encanar a perna à rã”. E eu com tanto que fazer para realizar o estágio!

Durou este “fadário” até 05FEV62, mas não chegou para mudar a minha opinião sobre Lisboa, que “habitava” desde OUT54.

Se não tinha gostado desta “pseudo brincadeira”, fiquei “pior que uma barata” por ter de voltar a Queluz e entrar novamente no RAAF, de 18AGO62 a 17OUT62, para ministrar nova recruta, sem se importarem pelos transtornos e prejuízos que profissionalmente me causaram.

Oeiras-Queluz e volta ainda que distância relativamente pequena, mas feita diariamente deixavam-me fulo. Valia-me possuir já meio auto próprio, mas já não havia encanto nas belezas de Queluz. Devo acrescentar que já tinha a primeira filha bébé e a minha mulher de férias até quase ao fim de Setembro, passava esses dias comigo em Oeiras e nos dias em que estava de Serviço na Unidade lá ia de camioneta e com a alcofa e o bébé fazer-me companhia durante as tardes.

Finalmente, não contando claro com todas aquelas localidades que conheci na Guiné, colocaram-me, não uma “cereja em cima do bolo”, formado pelas terras que me obrigaram a percorrer, mas um “limão” bem amargo.

Em 24AGO69 “desterram-me” para Mafra. Escusado será dizer que por tudo que essa convocatória significou, a Cidade berço da Escola Prática de Infantaria e aquele Convento de Mafra foi a pior Cidade por onde passei e da qual guardo as piores recordações.


Diploma de Curso.

JPicado
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12821: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (24): Caldas da Rainha, com o meu amigo Zé Tito, para uma aventura que havia de ligar-nos por três anos, até Janeiro de 72, quando passámos à peluda (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P12890: Facebook...ando (35): Mais fotos do CISMI, Tavira... Salinas, Ilha de Tavira e depois, em outubro de 1972, BC 8, Elvas, como 1º cabo miliciano (António Alves da Cruz)


Foto nº 1 >  Tavira, CISMI >   Maio de 1972 >  O instruendo António Alves da  Cruz nas salinas de Tavira



Foto nº 2 >   Tavira, CISMI  > c. maio/junho de 1972 >  "Fim de semana cortado, ilha de Tavira com eles"...



Foto nº 3 >  Tavira, CISMI > c. maio / junho 1972 >  Ilha de Tavira > O instruendo António Alves da Cruz ao centro: "À minha direita, o MachadoL à esquerda, não me recordo o nome"...


Foto nº 4  >  Elvas , BC 8  >  Outubro de 1972 > Findo o 2º ciclo do CSM, o 1º cabo miliciano António Alves da Cruz foi dar instrução a recrutas... Em março de 1973,parte para a Guiné.

Fotos do António Alves da Cruz publicados na página do Facebook da Tabanaca Grande.


1. Continuamos sem saber a undidade a que o nosso camaradas pertenceu no CTIG... E aguardamos a sua resposta ao nosso convite para integrar, de pleno direito, o nosso blogue, embora ele já seja "nosso amigo" no Facebook... Sabemos que o nosso camarada António Alves da Cruz trabalha ana Autoeuropa.

Convirá esclarecer que ser "amigo no Facebook" não dá direito automático a ver o nome inscrito, como camarada da Guiné na lista, de A a Z, dos membros do blogue...As regras que continuam, aqui, em vigor, são: pedido de ingresso, com envio de 2 fotos tipo passe (um antiga e outra atual)  + 1 história...



Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2014) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]

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Nota do editor:

Último poste da série> 18 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12853: Facebok...ando (34): I want you, António Alves da Cruz!... Conta-nos a tua história, das salinas tavirenses (CISMI, 1972) às picadas de Buba-Aldeia Formosa (CTIG, 1973/74)...

Guiné 63/74 - P12889: Convívios (571): Encontro do pessoal da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, dia 26 de Abril de 2014, em Chaves

1. Mensagem do nosso camarada António Nobre (ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969/70), com data de 20 de Março de 2014:

Olá Carlos
Como habitualmente aqui vai o folheto que identifica mais um almoço da minha Companhia.
Peço, pois, insiras no nosso blogue.
Obrigado

Um abraço
António Nobre


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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12852: Convívios (570): CCAÇ 3549 (Fajonquito, 1972/74): 29 de março, Sezures, Penalva do Castelo... Notícias, boas, por outro lado, do Cherno Baldé, o "Chico de Fajonquito", que está a trabalhar, em Bissau, num projeto do PNUD - Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento

Guiné 63/74 - P12888: Blogoterapia (251): O programa com um vírus que não consigo apagar, remover ou formatar (José Colaço)

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 19 de Março de 2014:


O programa com um vírus que não consigo apagar, remover ou formatar

Alguns dados sobre o tema em questão, ou é o povo, os amigos, a família, ou o sistema

Dois exemplos:

Começo pelo primeiro, dado como é do conhecimento público, a ponte sobre o Tejo já teve pelo menos dois nomes no seu registo: "Ponte Salazar" e "Ponte 25 de Abril", mas grande parte da população da minha geração que acompanhou o nascimento desta ponte foi e será a "Ponte sobre o Tejo".

"Ponte Marechal Óscar Carmona". Pergunta: Onde fica?
E uma grande percentagem das respostas é desconhecerem pura e simplesmente, mas o mais hilariante é que alguns, devido à sua vida profissional, a usam quase diariamente.
Mas se a pergunta for: "Ponte de Vila Franca", o nome com que o povo a baptizou, qualquer leigo responde acertadamente.

Guerra da Guiné.
A maioria das Companhias adoptou o seu nome de guerra, desde os Laças de Cufar aos Gringos ou Piratas de Guilege, etc.

Na Companhia de Caçadores 557 nenhum dos seus elementos teve a ideia de criar um nome para a Unidade, talvez por nenhum dos seus graduados ter pertencido ou ter instrução ranger, a não ser o Comandante. Além disso o 2.º Comandante de Companhia era, e é, um anti-guerra colonial.

Mas como referi no início desta narrativa, os amigos ou o povo, neste caso até pode ter sido o inimigo, encarregaram-se de cognominar ou baptizar a CCaç 557. Não é que quando saímos dos dez meses e uma semana do isolamento do Cachil, a 557 começou a ser, sem nós nos apercebermos, conhecida, respeitada, e porque não dizê-lo, temida, pela "Companhia do Como", o que para nós era motivo, me desculpem o termo, de uma certa “vaidade”.

Também aqui o nosso desconhecimento de quem terá sido o incógnito padrinho. Terminada a comissão, regresso a casa, penso que a julgar por mim a 557 diluiu-se e os seus elementos, na sua grande maioria, quiseram enterrar o machado de guerra e tentar esquecer aqueles dois anos de guerra, recomeçar as suas vidas que tinham interrompido.

Como eu e muitos outros ex-combatentes dizem, a guerra além de tudo o que tem de mau, tem uma coisa em que é superior e se distingue, cria e faz amizades que duram e perduram. Não é que passados vinte e dois anos do nosso regresso da guerra, o nosso ex-1.º Cabo João Casimiro Coelho tem a ideia brilhante de reunir na parada civil a 557?

Recorre a todos os seus conhecimentos e contactos, conseguindo reunir em Leiria parte da 557 num almoço de convívio, onde, se a palavra "Como" foi pronunciada, deve ter sido no sentido verbal da mesma, pois do Encontro faziam parte umas entradas, um fabuloso almoço, e a terminar, um óptimo lanche.

Foi dado o mote, e a partir daí, todos os anos a família da 557 se reúne em almoço de convívio, o próximo será o vigésimo sétimo.
Só uma coisa há a lamentar, os ex-combatentes da CCaç 557 são cada vez menos, mas aqui nada há a fazer, é o movimento da roda da vida que não pára.

Para terminar, devido às novas tecnologias e à minha participação no blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, tenho conhecido nestes últimos anos vários camaradas (ou camarigos como dizemos no blogue) que andaram na guerra da Guiné em várias Companhias. Não é que quando um camarigo me quer apresentar a outro diz: tens aqui o homem da companhia do Como.
Por este motivo o titulo desta crónica: o vírus ou a doença crónica que não há antivírus que o proteja, ou formato que o remova.

OBS:
Camarigo - Contracção das palavras camarada e amigo.

Um abraço
Colaço
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12800: Blogoterapia (250): Assim, com muita honra, sou um "tabanqueiro", e só tenho pena de a falta de tempo me impedir de participar com mais assiduidade (Adriano Lima, Cor Inf Ref)

Guiné 63/74 - P12887: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (17): O Asdrúbal do Cu da Serra e os seus amores tardios

1. Em mensagem do dia 17 de Março de 2014, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), reaparece com mais uma das suas ficções, quem sabe, baseadas em factos reais, para a sua série Ouras memórias da minha guerra:


Outras memórias da minha guerra

17 - O Asdrúbal do Cu da Serra e os seus amores tardios

Na tropa dizia que era do Porto. E como o apanharam em falso, garantia que era de Ermesinde. Porém, quando um “conterrâneo” lhe perguntou de que lugar ou rua, ele começou a gaguejar e jamais alguém acreditou na sua aludida naturalidade. Por isso, por sugestão do Massarelos, ficou baptizado como o Asdrúbal do Cu da Serra. Efectivamente, ele esteve em Ermesinde, no Seminário, uns quatro ou cinco anos, de onde saiu, por “aconselhamento” do guia espiritual, que não via nele a vocação que tanto prometera. A sua franqueza no confessionário terá causado a decisão do padre superior...

Serra de Valongo

Cada vez que o Asdrúbal ia a casa regressava com o saco cheio de pecados contra a castidade e causados por... maus pensamentos. Na origem estava uma bela rapariga, vizinha, que expunha facilmente as suas apetitosas carnes e os seus contagiantes calores. Tinham brincado juntos em crianças, mas, ela, mais velha uns dois anitos, desenvolveu-se rapidamente quer fisicamente quer em experiências amorosas. Aliás, com esses predicados mor(t)ais e liberta muito cedo dos estudos e de quaisquer compromissos, a “Toura”, como viria a ser conhecida, não demorou muito a iniciar uma grande carreira no negócio das carnes. Desadaptado do seu ambiente juvenil, decepcionado e desgostoso com esta paixoneta, o Asdrúbal ansiava a chegada dos 18 anos para incorporar, voluntariamente, uma unidade militar. Esteve na guerra no norte de Angola.

- Ora viva! Já lá vão uns anitos que não nos encontrávamos – disse o Alfredo, à saída do IPO do Porto.
- Sim, desde o funeral do nosso camarada de armas, o saudoso Zé Nogueira – respondeu o Asdrúbal, que acrescentou: - Que andas por aqui a fazer?
- Tive um cancro na bexiga e, como consegui curar-me, resolvi dedicar-me voluntariamente no apoio aos doentes deste hospital. - Respondeu o Alfredo, que continuou: - Enviuvei aqui, onde a minha mulher faleceu com 52 anos. Além dos conhecimentos que eu tinha na área da bioquímica, procurei e pesquisei tudo o que pude para resolver o meu problema e agora sinto-me na obrigação de transmitir o que sei e, ao mesmo tempo, pagar esta promessa até ao fim dos meus dias.
- Tiveste sorte, dá graças a Deus. Pois eu ando para aqui a correr, para fazer companhia à minha mulher que conseguiu juntar três cancros. Durmo cá todas as noites. Vou agora para casa fazer umas coisas e descansar um bocado. A minha filha foi lá para Lisboa, apaixonou-se por um mouro e quase não quer saber de nós. Isto não é vida, mas que hei-de fazer? – Observou o Asdrúbal.


O tempo ia correndo e nada se alterava. Apenas a colaboração do Alfredo se foi salientando, quer no apoio à doente, quer na moralização do camarada Asdrúbal.

Entretanto, o Alfredo foi falando da sua intensa actividade solidária, também através de um grupo de ex-combatentes. O Asdrúbal sentiu-se atraído por esse grupo bastante activo nas redes sociais, especialmente através do Facebook. Pouco depois já vinha matando o tempo nesse e noutros grupos similares que proliferam pela internete.

Grande parte dos facebookianos mostram, apenas, as fotos que mais os favorecem, o que é natural. Porém, entre os ex-combatentes (já sexagenários), abundam as fotos do tempo em que serviam a Pátria, nos seus quadros de guerra. Ora esses mocetões de peitos salientes e peludos, mesmo fardados, são uma atracção para as mulheres mais maduras. Viúvas, divorciadas, solteironas e mal-casadas aparecem a colar e a mostrar também as suas imagens mais favorecidas. Talvez seja por isso que existem tantos relacionamentos amistosos, mesmo que a maior parte das vezes, se considerem, essencialmente, virtuais. Desta forma, o amor paira no ar através do monitor do computador, quer no relacionamento via teclado, quer no contacto falado e visual através do Skype. E, daqui a umas sessões privadas de striptease (via monitor), é um pequeno passo.

É neste contexto social que vêm aparecendo casos e mais casos de uniões matrimoniais e de facto, merecedoras das mais belas páginas de amor.

O Asdrúbal foi sempre um homem avantajado. Já desde o tempo em que saiu do seminário ostenta um corpanzil de mais de 1,80m. Outrora bastante magricela, mas, agora, revestido com mais de 100Kgs. Visto de frente, sem que a sua exuberante barriga seja perceptível e vestido de tropa especial, carregado de insígnias e outros adornos militares, ele parece um General dos Marine dos USA. Por outro lado, o seu aspecto triste que, para nós, não é nada agradável, talvez esteja na origem de uma melosa paixão vinda do outro lado do Atlântico. Ela, a Donaida (Naidinha), uma brasa carioca de 42 anos, logo que soube da viuvez do Asdrúbal, arriscou tudo para vir consumar essa grande paixão.
Entusiasmado e crente, o Asdrúbal nem parecia o mesmo. Os últimos três anos de sofrimento junto da mulher hospitalizada e condenada, acentuaram o seu aspecto melancólico. Todavia, em pouco tempo, revitalizou-se milagrosamente.

Num dos convívios de ex-combatentes, o Asdrúbal falou-nos da sua felicidade e da sua determinação em mandar vir a sua Naidinha. O Silva, sempre na borga, pôs-lhe a mão nos cantos da testa, esfregou e perguntou:
- Ó morcão, tu queres mesmo ser corno, aos 70 anos? Vê lá no que te vais meter.
- Lá estás tu com as tuas brincadeiras. Olha que isto é mesmo sério – respondeu o Asdrúbal, perante a gargalhada geral.

De seguida, querendo justificar-se, acrescentou:
- A minha reforma é baixa. Não tenho nada a perder. Ela é muito independente. É especialista em massagens e depilações. Até tem uma sociedade com uma amiga. É muito conhecida na sua cidade, onde foi candidata a Deputada pelo partido do Piririca.

Então o Silva colocou-se a seu lado e pediu ao Maia que lhes tirasse uma foto “antes de…”.

O certo é que uns dias depois, o Asdrúbal confidenciava com o Alfredo:
- A Naidinha vem brevemente e eu ando preocupado porque já não desenferrujo o prego há mais de 3 anos. Nem sei se terei tesão para ela.

O Alfredo animou-o e disse:
- Como ela é boa e bastante experiente, não vais ter dificuldade nessa matéria. E continuou: - Olha, eu é que estive bastante mal nesse aspecto. Parei de f...r e como fiz medicação muito forte contra o cancro da bexiga, tive dificuldades em recuperar. Até a p… encolheu. O que me valeu foi um tratamento especial, feito na Clínica, onde duas enfermeiras me esticavam o material por processo mecânico e por massagens locais. Chegou uma altura em que a p… crescia só a pensar nessas massagens. Quando chegava à Clinica já ia armado. Elas aconselharam-me a iniciar os treinos junto de uma amiga. Hoje ainda tenho essa relação que me recuperou imenso.
- Oh lá, lá! Voici le padrecô da Fonte Velha! – observou uma senhora, dentro do Supermercado, apontando para o Asdrúbal.

Bastante surpreendido, até corou com as palavras da sua Belinha, outrora conhecida pela Toura da Ponte Nova. Como ficou embasbacado com a investida, ela acrescentou, num esforçado português destreinado e meio afrancesado:
- Talvez tu já ne me conais pas. Eu estou en France depois longos tempos. Casei e maintenant sou viúva mais de trois ans. Há muito tempo eu gostar de falar com o Asdrúbal. Lembrar tempo crianças. Sempre lembro tu a regarder moi, espreitar-me no campo. Eu rapidement dire que tu padre jamais.
- Belos tempos. Era novito e nem sabia o que fazer. Hoje reconheço que fui um morcom. Quando vou lá à aldeia recordo sempre a nossa meninice.
Agora mais à vontade, acrescentou:
- Vim às compras porque vivo sozinho. Também fiquei viúvo há cerca de meio ano. A minha mulher era muito doente. A vida não foi nada fácil.

À saída, a Senhora Isabel ofereceu-se para o levar na sua potente viatura BMW, ao que o Asdrúbal não se escusou. Durante esta curta viagem em que lhe correu um grande filme, ainda teve tempo para analisar as potencialidades da Toura colaborar num treino sexual, caso lhe sentisse alguma abertura. Mandou parar o carro e disse:
- É aqui que eu vivo. Hoje já não saio. Vou fazer umas coisitas e mais tarde vou fritar os jaquinzinhos. Vai ser uma barrigada.
-Moi ne sais pas que fazer. Mais o que gostava même era de manger jaquinzinhos. Tu donne-moi alguns? – Perguntou a Belinha. - Se quiseres, até os podes vir cá comer. – convidou o Asdrúbal.

Mal a Belinha seguiu, o Asdrúbal preocupou-se em ir procurar comprimidos azuis (ou brancos) para não ficar mal nos possíveis e desejados treinos.
A Belinha já acusa o peso dos seus 72 anos e o cansaço de quem sofreu muito na estrada da vida. Porém, a forma como se prepara, salientando as partes que julga serem-lhe mais favoráveis: olhos escuros, lábios carnudos, peitos salientes, traseiro arredondado e pernas torneadas, fazem dela um petisco ainda “comestível”.

Enquanto ultimavam a mesa com alguns aperitivos e os respectivos jaquinzinhos, eles iam falando das suas vidas, com especial destaque, no facto do falecido Pierre ter deixado bem a Madame Izabel Duval. Dizia ela:
- O Pierre era um cavalheiro. Toujours il me amou e respeitou. Tinha 82 anos quando morreu souvent. Senti beaucoup a sua falta. Foi para mim um pai e um marido sérieux. Il m’a fait sentir uma madame “à maneira”. Se hoje sou uma senhora, devo-o a ele. De resto, les autres hommes que j’ai connu seullement queriam este meu corpinho que Deus me deu e plus rien.
- Eu compreendo-te perfeitamente, dizia o Asdrúbal, que concluiu: - Não é para admirar, porque mandaste sempre um cabedal de primeira.

Conversados, bem comidos e bebidos, a Belinha pediu para ficar a ver a telenovela portuguesa que, na sua opinião:
- Aquilo é só putedo e paneleiragem. Copiaram dos brasileiros. Mas eu até acho engraçado ces histoires.

Logo que o Asdrúbal se apercebeu de que a Belinha estaria disposta a outro tipo de peixe, foi tomar meio comprimido de viagra. Quando acabou a telenovela, já estavam encostados um ao outro, sentados no sofá. Ele como não sentia o efeito do viagra, levantou-se e foi tomar um comprimido inteiro. Não queria perder esta oportunidade. Quando regressou, ela, abanando com as mãos a blusa desabotoada, atirou-lhe:
- Ui, que chaleur! Não sei se foi do vinho. Agora que te vejo a olhar para moi, fazes-me lembrar a cara de esfomeado, quando ias para o quintal caçar grilos.
- Podia não caçar muitos grilos mas não era por falta de gaiolas – respondeu-lhe.

De repente criou-se uma empatia tal em que o Asdrúbal assumiu o papel do engatatão que, em tempos, tanto lhe faltara.

Sobrado - Valongo

Três dias depois, no “Encontro de ex-combatentes”, o Asdrúbal respirava confiança e satisfação. Nem parecia o mesmo. O Alfredo interrogou-o logo mesmo na frente do Silva:
- Então, já fizeste os treinos? Sempre vais mandar vir a brasileira?
- Digo-vos uma coisa: não sei se foi da dose do viagra e meio que tomei ou se foi da limpeza dos tubos enferrujados. Só sei que tive uma noite de trabalho intenso e nem deixei a Toura dormir. Aquilo foi sempre a aviar. Andava a sonhar com ela pr’aí há sessenta anos! Tantas f...s que perdemos!

O Asdrúbal contou a coincidência do encontro que deu azo a ter-se saciado com a mulher que mais desejou em toda a sua vida.
- E ela aguentou? - Perguntou o Silva.

Ao que ele respondeu:
- Claro. É muito sabidona. Sabiam que aquela era a tal gaja da minha infância? Quando regressava ao Seminário via-a em todo o lado, até dentro da capela. Deu em puta selecta. Ela disse-me agora que o culpado foi um tio que lhe tirou os três aos quinze anos. Hoje é uma senhora viúva de um francês que já lerpou. O velho deixou-lhe umas massas e ela veio cá passar uns dias. Ficou apaixonada por mim e quer que eu vá para França. E logo agora que vou receber a minha boneca.
E continuou:
- Estais a rir de quê? Olhai que ela já nem queria ir para casa. E sabem o que ela me disse? - Já comi muitos quilómetros de p… mas nunca fiquei tão satisfeita!
- Já mandei vir a Donaida, Chega no dia 10. Vou buscá-la a Lisboa.

O Alfredo alertou-o:
- Tem cuidado com isso. Olha que o Zé Ribatejano contou que um amigo dele, que tinha uma reforma de luxo, entrou-lhe pelo Banco dentro a chorar e desorientado porque não sabia o que fazer. Andava todo entusiasmado com uma brasileira que lhe chupou tudo, ficou hipotecado sem saber e acabou por descobrir que ela trouxera do Brasil um gajo que estava hospedado em Santarém, de onde a ia orientando.
- Mas eu conheço o caso do Fonseca de Penafiel que leva uma vida feliz com a brasileira que arranjou. A minha Naidinha parece porreira e gosto dela – respondeu o Asdrúbal.
- Se assim é, não quero travar a mínima coisa – justificou o Silva, que continuou: - Em questões do amor, não quero interferir em nada porque já tive experiências muito desagradáveis. Se isto é realmente uma questão de amor, embora mantenha as minhas reservas, podes contar com todo o meu apoio. Aliás, deixarei de brincar com o assunto.

Foram quinze dias de lua-de-mel. Todos os contactos do Asdrúbal irradiavam felicidade. Ao mesmo tempo ia informando que era relacionamento sério e que era para casar. Aliás, a Naidinha não aceitava outro tipo de relacionamento.
- Meu bem, gostaria de ir Domingo a Guimarães, visitar minha prima Tété e passarmos pela Trofa, para levar connosco a sua filha Dédé – pediu a Naidinha.
- Tudo bem, meu amor, mas olha que temos gasto muito dinheiro e eu não tenho possibilidades para mais – respondeu o Asdrúbal, assumindo a posição de chefe de família bem controlada.

Em Guimarães, durante o almoço com as primas, onde se juntou o Julinho e a Nair, o Asdrúbal afastou-se, para ir dar uma mija. Como o WC era próximo, elas não se apercebiam de que, com o entusiasmo que estavam, dava para ouvir a sua conversa:
- Nós estamos a ganhar bem; eu por aqui e a minha Dédé lá nos arredores do Porto. Você vai ver que, com o corpinho que tem, não vão faltar clientes. Tem que casar rapidamente com o velho para poder ficar em Portugal, porque da outra forma, pelo turismo, não há possibilidades.

O Julinho também encheu de elogios a Naidinha, encorajando-a a integrar o “grupo de trabalho”.

Durante o regresso, o Asdrúbal nem sabia o que dizer. Limitou-se a pensar e repensar que, afinal, estava mesmo metido com putedo de primeira. Antes pensava muito nas carícias e nas palavras amorosas da Naidinha mas, agora, até lhe vinha à cabeça a sua recusa em fazer sexo oral e anal. No primeiro caso, ela alegava falta de ar e no segundo porque prometera à Santa do Caravágio manter a virgindade na bunda até ao casamento católico.

Já só via uma saída: mandá-la de regresso para o Brasil e, entretanto, aproveitar para lhe dar mais umas f…. valentes, como pagamento parcial do seu oneroso investimento.
Durante a noite, ele tentou cobrar o máximo mas, além de não sentir a potência necessária, a Donaida desculpou-se com o cansaço do dia agitado. Foi para o sofá, onde passou a noite.

Logo de manhã, passou pela Agência de Viagens, tratou da passagem de regresso da Naidinha, que encontrou ainda na cama.
- Naidinha, por favor vem sentar aqui no sofá, porque precisamos falar.
- Meu bem, que se passa, gosto não di vê você assim tão sério?
- Depois da viagem de ontem, verifiquei que tu pertences a outro mundo e eu não gosto dele. Não gostei nada de te ver amiga daquela gente.
- Mas, meu bem, elas são minhas primas. Você não vai condená-las por serem profissionais do sexo e ao Julinho que é o seu protetor. São todos boa gentche. Tchjura.

E acrescentou:
Nois não temos nada com isso, vamos casá e levá uma vida diferentche. Uma vida de amorrr e de paíssz.
- Já aqui tens a passagem. Podes estar comigo estes dias sem qualquer problema. Ficas à vontade, tenho aí outro quarto.

A Naidinha nem queria acreditar no que se estava a passar. Agarrou-se a ele, fez-lhe juras de amor e de fidelidade.
- Meu bem, eu amo você, nasci pra você e quero vivê só com você, toda sua vida. Eu lhe vou fazê uma massage para você relaxá e afastá o mau astral.

Acariciou-o tanto que ele começou a sentir-se arrependido pela decisão que havia tomado.
- Ok, então vais lá tratar dos assuntos que deixaste pendentes e voltas.

Logo no início da tarde, o Asdrúbal foi procurar reabastecer-se de material excitante e contactou o Zé Maia, que lhe arranjou “um verniz especial para endurecer madeira”.

Dois meses depois, o Asdrúbal queixava-se de que já lhe havia enviado dinheiro três vezes e ela ainda não via oportunidade de voltar. Precisava sempre de mais dinheiro. No entanto, ela não parava de lhe telefonar, mantendo-o amorosamente preso pelo beicinho.
- Ouve lá, ó morcom - interpelava-o o Silva no “Encontro” de Janeiro:
- Como é possível continuares a acreditar nessa mulher?

Ele respondeu:
- Tens razão, ela é uma putéfia de primeira, mas eu gostava muito dela. Ela era tão doce, tão meiga e tão boa que eu até me passava. Agora que vejo que vai ser difícil ela voltar, confesso-te uma coisa: - Com uma bunda daquelas, tenho pena de não a ter enrabado. É que ela era mesmo virgem e não parava de me falar no seu juramento à Santa do treinador Scolari. E continuou: - Estás a rir de quê? Disso percebo eu. Desde pequenino.

(Nota final: Há mais de quinze dias que o Asdrúbal não dá sinais de vida.
A última informação colhida foi que “estava a pensar emigrar para França”).

Silva da Cart 1689
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11273: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (16): É guerra é guerra... (será?)

Guiné 63/74 - P12886: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte X): Quando a corte dos Lacraus chegou a Canquelifá...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz, a fumar, com o filho de um soldado da companhia
 


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova  Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz,  de sargento de dia (1)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz,  de sargento de dia (2).. [Meados de 1969, tempo das chuvas. LG]

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição. L.G.]



1. Mensagem, de hoje, 1h50, do Valdemar Queiroz:

Boa noite, Luís Graça;

Chego atrasado, no Dia Mundial da Poesia... E tenho pena de não saber de cor o poema "D. João VI e a mulat", completo...

Quando a corte de D. João VI
Chegou a Paquetá,
Tudo servia de pretexto
P’ra censurar, p’ra criticar
Certa mulata que havia lá!...


Quem sabe esta pérola completa, que mete perninhas de frango nos bolsos de D. João VI, é o ex-fur mil Aurélio Duarte, da nossa CART 11, que é de Coimbra, e que, depois de uns estrondosos, eferreás, declamava esta poesia em que o D. João VI respondia aos inimigos da mulata nestes termos:

Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má
Porque eu decreto que a mulata é boa...


Hoje faz 44 anos que estvémos juntos em Canquelifá!...

Tivemos um desentendimento a jogar matraquilhso na rua.principal, num fim de tarde. Já bem bebidos, resolvemos jogar matraquilhos, mas de cócoras, sem ver o recinto de jogo  (Ganda bezana!)... As bolas entravam de um lado e do outro e o Aurélio perdeu.

Ele não gostou e embrulhámos os dois à tareia, sozinhos, sem ninguém para nos separar. O Duarte com o seu metro e oitenta e  e eu com o meu metro e sessenta e sete... . Eu, com mais agilidade, deixei-me cair e o Duarte foi projetado, estatelando-se. Partiu um braço e, assim, andou, num grande sofrimento uns meses.

Ainda hoje ele me diz. "Ò Queiroz, aquele teu golpe de judo em Canquelifá!"...

Um abraço, Queiroz.


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Foto. : © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição. L.G.]

2. Comentário de L.G.:

Em tua homenagem e ao teu amigo e camarada Aurélio Duarte, e aos demais Lacraus,  recordando os bons velhos tempos de Paquetá, quero eu dizer, Canquelifá, ai vai a letra completa, recuperada da Net... Um alfabravo. Luis
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“D. João VI e a mulata”

Música; Armando Rodrigues
Letra: R Calado
Disponível no You Tube
Cortesia de Manuel Casimiro de Lopes Lopes

Canto de Villaret da Côrte de D. João VI e a Mulata de Paquetá,
gravado no Teatro Boa Vista,
em Lisboa no ano de 1954.

Quando a corte de D. João VI
Chegou a Paquetá,
Tudo servia de pretexto
P’ra censurar, p’ra criticar
Certa mulata que havia lá.

Diziam que ela era um perigo,
Que ela era uma tentação,
E que um marquês de nome antigo
Desdenhava o rei, não cumpria a lei,
P’ra ser só dela o cortesão.

Mas, quando alguém o censurasse,
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha,
De frango ou de galinha,
E sempre respondia:
–  Já lhes disse que, aqui em Paquetá,
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má,
Porque eu decreto que a mulata é boa.

Certa noite muito escura,
A moça se assustou,
Vendo surgir uma figura,
Gorda, a ofegar,
Que, sem falar,
Nos gordos braços logo a apertou,
Ela sentiu-se muito aflita,
Como a dizer que não,
Até na treva era bonita,
E lá fez de conta, que ficava tonta,
Sem saber que era o seu D. João.

Mas,  quando alguém o censurasse,
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha,
De frango ou de galinha,
E sempre respondia:
Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa, 
E não me digam que a mulata é má
Porque eu já sei como a mulata é boa.

[Letra disponível aqui... Por Linhas  Tortas > 17 de março de 2008 > D. João VI...Reproduzida com a  a devida vénia] [Revisão / fixação de texto: LG]

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