sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19482: Ser solidário (222): O nosso camarada Luís Mourato Oliveira parte dia 2 de março para Bissau, para fazer voluntariado durante 3 meses, através da organização sem fins lucrativos "ParaOnde"... E qualquer ajuda humanitária adicional pode ser encaminhada para (e seguir por conta de) a loja "Paris em Lisboa", no Chiado


Excerto do sítio da organização sem fins lucrativos ParaOnde, fundada em novembro de 2014.


"Uma experiência de voluntariado poderá realmente transformar a tua vida e, por consequência, muitas outras.

"Encaramos a nossa missão como uma cadeia de boas ações e queremos que te juntes a ela. Trabalhamos para promover a consciencialização, a transformação social e a entreajuda, de forma a ativar e consolidar a empatia e a valorização da diversidade. Que tal fazeres voluntariado em conjunto com pessoas de todo o Mundo para reconstruir casas no Nepal? Ou aproveitares os teus conhecimentos para dares apoio escolar a crianças e jovens de contextos sociais vulneráveis em Lisboa?

"O mundo, fora de Portugal ou ao lado de casa, não é só aquilo que conheces e há muito para explorar, tanto para conhecer e muito para dar. Entra neste movimento, ficamos felizes de te ter a bordo."



1. Mensagem do Luis Mourato Oliveiranosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último  comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): 

Data: sexta, 25/01, 16:32

Assunto: Voluntariado na Guiné Bissau


Caro Luís,

Na sequência da nossa conversação de hoje, venho tentar dar mais alguma informação sobre a missão de voluntariado em que participarei a partir de 2 de Março próximo e durante três meses. (*)

A organização que me vai enviar designa-se ParaOnde e podes conhecê-la melhor no FaceBook. É gente muito jovem,  cheia de iniciativa,  e já conheço dois elementos que estarão durante parte do período da minha missão, podiam ser minhas netas, mas acho giro.

A missão é numa escola num bairro com grandes problemas e muita pobreza em Bissau e, sendo as minhas competências na área do ensino limitadas, vou ser aproveitado na motricidade e desporto dado ter sido jogador e treinador de andebol com formação obtida na Federação Portuguesa de Andebol.

Aproveito para levar para a organização, para que seja disponibilizada aos beneficiários desta algumas coisas. Um amigo meu com uma loja muito prestigiada em Lisboa, "Paris em Lisboa", não faz saldos e vai oferecer produtos da loja que se encarregará de expedir para a Guiné.

A estes vou juntar algum material desportivo que espero obter da Associação de Andebol de Lisboa com quem já falei na pessoa de presidente e, caso a nossa gente queira de algum modo contribuir, como calculas, estou de braços abertos.

Na formação que tive na organização ParaOnde, foi-me transmitida alguma desconfiança nas remessas, pois para além de ser um problema no desalfandegar, há riscos de exigirem "refresco" ou mesmo de cobrarem taxas. O que te pedia era informação que alguns nossos camaradas devem ter nestes processos, pois sei que regularmente fazem ofertas para lá, nomeadamente a "Tabanca de Matosinhos".

O coordenador em Bissau da missão é Humbongo Braima Sambu, que talvez seja conhecido por alguns de nós e está no FB podendo também no futuro ser contactado pela nossa malta. (**)
Fico a aguardar as tuas notícias e disponível para qualquer dúvida que seja levantada

Um abraço e bom fim de semana


Luís Oliveira




Lisboa > Chiado > Loja "Paris em Lisboa" (Foto da página do Facebook) (com a devida vénia...)


2. Nova mensagem do Luís Mourato Oliveira:

Data: quarta, 6/02/2019 à(s) 13:27

Assunto: Voluntariado em Bissau

 Olá,  Luis


Só agora te dou notícias porque também até hoje estive a aguardar informação do coordenador da escola em Bissau, mas nada de estranhar dado o país e cultura que bem conheces.

Como te disse há dias, vou partir dia 2 de Março e regresso no final de Maio, a organização que me vai enviar é ParaOnde.org e poderás conhecê-la melhor no FaceBook e a escola onde que irei trabalhar na área da motricidade e desporto é a Escola Particular Humberto Braima Sambu em Bissau- Bairro Pack 1. (**)

Qualquer informação ou remessa para esta instituição deve ser dirigida para:

Escola Particular Humberto Braima Sambú
A/C Mamadu Djassi C.P. 200
Bissau
Guiné Bissau




Guiné-Bissau > Bissau > Escola Privada Humberto Braima Sambu > 21 de novembro de 2018 > Alunos e alunos com o novo uniforme... A Escola foi fundada em maio de 1992  (Foto da págima do Facebook, com a devida vénia...)

Tenho estado a tentar arranjar alguma coisa que seja útil para aquela pobre gente e um amigo meu proprietário da loja "Paris em Lisboa", no Chiado e que nunca faz saldos, já me prometeu enviar texteis (Turcos, atoalhados, lençois etc.) e encarrega-se de todo o expediente inclusivamente do transitário e transporte. 

Caso alguns camaradas (a Tabanca de Matosinhos costuma ter algumas iniciativas, tal como a ONGD "Ajuda Amiga") queiram aproveitar a boa vontade do meu amigo Zé Carlos e tenham algo com que colaborar, poderiam juntar o material a expedir na loja e seguia tudo por conta da "Paris em Lisboa" que por sinal tem meios para o fazer.

Por hoje já vai alguma informação e fico a aguardar tuas noticias e alguma questão que queiras colocar.

Um abraço

Luís
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 10 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19389: Ser solidário (221): A "ONGD - Afectos com Letras" precisa de material para tratamento de queimaduras para dar resposta a uma solicitação do Hospital Simão Mendes de Bissau

(**) Vd.poste de  3 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13568: Ser solidário (163): Escola Humberto Braima Sambu, precisa de ajuda

Guiné 61/74 - P19481: Notas de leitura (1148): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (72) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
A franqueza, por vezes brutal, o completo desassombro, o rigor dos números e das propostas, deixam-nos estupefactos. Estes apontamentos que Castro Fernandes, figura lídima do Estado Novo, envia à governação do BNU em 1957, não poderá deixar insensíveis os estudiosos da História da Guiné.
Castro Fernandes não mascara as situações de conflito, os enredos e as intrigas, o que pensa sobre o funcionalismo e os comerciantes, o que há de bom e de mau na exploração dos recursos económicos. Salta à vista que está muitíssimo bem documentado e veremos que quando refletir sobre os problemas que interessam diretamente ao BNU, tem soluções na manga. Não se conhece, ao tempo, documento mais importante sobre o que era a Guiné e os remédios para a desenvolver, numa perspetiva colonial.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (72)

Beja Santos

Os apontamentos elaborados pelo Administrador António Júlio de Castro Fernandes depois da sua viagem à Guiné, que ocorreu entre março e abril de 1957, trazem uma outra iluminação sobre conceitos coloniais, instituições, pessoas, potencialidades económicas e até o sistema financeiro. É, não vale a pena iludir, um relevantíssimo documento que abre também caminho a sabermos mais sobre as propriedades do BNU na Guiné e o que era esperado por este Banco quanto à Sociedade Comercial Ultramarina.

Falou largamente sobre o contencioso do Perfeito Apostólico com o novo Governador, Álvaro da Silva Tavares, não descurando a observação de que, fruto da intensa islamização, não era o mais acertado recorrer às escolas das missões, mas sim às escolas laicas para incrementar a alfabetização.
E esboça um retrato do atual Governador:
“Foi Delegado do Procurador da República na Guiné durante quatro anos, Juiz no Bié e em Luanda, Procurador da República junto da Relação de Goa, Secretário-geral do Estado da Índia. É um homem novo, de 42 anos, bastante culto, com uma boa leitura, e manifestamente inteligente. Conhece a Guiné e os seus problemas. É muito trabalhador. Pareceu-me, apenas, hesitante ao passar do pensamento à acção – tem talvez o defeito de examinar as soluções por todos os lados de forma que encontra sempre razões para ter receio de as adoptar…
Não é fácil a sua tarefa: actua num meio extremamente complicado, não tem colaboradores, tem de se mover numa orgânica que, a meu ver, não corresponde hoje às necessidades das Províncias Ultramarinas”.

Tenho para mim que alguns dos parágrafos mais elucidativos sobre a vida colonial guineense saíram do punho de Castro Fernandes quando ele fala do meio social. Recorda que a população civilizada da Guiné é constituída por 1500 metropolitanos, 1700 cabo-verdianos, 4000 guineenses e uns 500 libaneses, núcleo de cidadãos concentrados nas cidades e vilas.
São todos ou comerciantes ou funcionários:
“Os comerciantes são, acima de tudo, traficantes – o indígena é, dizem, a principal riqueza da Guiné. O comércio tem por missão explorar esta riqueza. De resto, o indígena já o sabe e tanto que o Balanta diz para o branco ‘furta me ma piquinino’.
Os funcionários são, de uma forma geral, do pior que há. Só vão para a Guiné ou os castigados ou os que não têm classificação para serem colocados noutra Província ou como ponto de passagem para outro lado. Como nível cultural, não vão além do Reader’s Digest, como nível social está pouco acima, se está, do possidonismo da pequena burguesia das nossas vilórias. Claro que há excepções e que talvez eu exagere um pouco a caricatura – assim, fiquei espantado ao saber que os discos de música clássica se esgotavam logo que eram postos à venda; encontrei algumas pessoas com certo interesse e até com boas maneiras, mesmo no Interior.

A intriga é, além do consumo do whiskey por parte dos homens e da canasta por parte das senhoras, o entretenimento favorito dos cidadãos e cidadãs de Bissau. Serve de pretexto desde os negócios sentimentais até ao corte dos vestidos.
A vida – apesar de os ordenados dos funcionários serem pequenos – é contudo agradável no aspecto da comunidade. Um Chefe de Posto, que é evidentemente pessoa modesta, geralmente de extracção social modestíssima, vive confortavelmente: tem uma boa casa, a geleira repleta de boas coisas (com conservas de frutas, sumos, fiambres, etc.), sipaios para todos os serviços de casa, etc. Os Chefes de Circunscrição são principezinhos. Tanto uns como outros são presenteados largamente – quer pelos indígenas, quer pelos comerciantes – e conseguem fazer economias que geralmente estoiram durante as licenças graciosas passadas em Lisboa.

Em Bissau vive-se bem. Como as exigências não vão muito além da boa mesa, têm-na farta. E todos têm automóvel. E bons aparelhos de telefonia com gira-discos moderníssimos. E fatos de bons tecidos. E vestidos janotas. E perfumes e águas-de-colónia. E casas agradáveis… embora de péssimo gosto.
De resto, sem este mínimo de conforto, a vida seria impossível – dada a hostilidade do clima.
Este quadro, apenas esboçado, dá ideia das dificuldades de encontrar pessoas capazes de levarem a cabo uma obra de grande envergadura.
Os vícios inerentes a um meio como este não podem facilitar uma acção que pretenda sanear a vida económica e política da Província, criando maior riqueza ou preservando a que existe.
Salvo o devido respeito – que é muito – pelos que conhecem profundamente os problemas ultramarinos, afigura-se-me que o principal drama da Guiné (como de Cabo Verde), no aspecto da categoria dos funcionários técnicos, reside principalmente na existência dos dois quadros, o metropolitano e o ultramarino.

Examinemos, por exemplo, os serviços da agricultura. Do Instituto Superior de Agronomia sai todos os anos uma fornada de agrónomos. Todos procuram ingressar nos quadros do Ministério da Economia, onde são colocados como agrónomos de terceira classe com ordenado modesto de entrada, mas onde lhes é possível exercer outras actividades ligadas à profissão. Vão para o Ministério do Ultramar, normalmente, os que ou não tiveram possibilidade de ficar por lá ou os que têm necessidade, logo de entrada, de um ordenado maior. Destes, os que podem vão para Angola ou Moçambique, os outros, pobres deles, vão parar com os ossos à Guiné ou a Cabo Verde. E, então, sucede que o Director dos Serviços Agrícolas, por exemplo, da Guiné ou não tem categoria para o lugar, porque é fraco profissionalmente, ou porque não teve a prática necessária para desempenhar eficazmente tal cargo.
A meu ver, a Guiné, como Cabo Verde, como provavelmente São Tomé (limito-me às Províncias do meu pelouro) só terão resolvido o seu problema de pessoal técnico quando os funcionários, todos do mesmo quadro, forem destacados em comissão durante um certo período (refiro-me, já se vê, ao pessoal dirigente). No estado actual das coisas, não me admira que o Engenheiro-Agrónomo Director dos Serviços Agrícolas da Guiné vá pedir ao Agrónomo-Chefe de Ziguinchor que lhe dite um relatório sobre a mancarra…
Quanto aos quadros – a sua exiguidade é perfeitamente lancinante. Basta dizer que à Repartição dos Serviços de Agricultura e Veterinária está consignada, no orçamento deste ano, a verba de 2 mil contos”.

E desloca a sua análise para outro estrato social, os comerciantes:
“Os comerciantes, à parte os quatro grandes – de que me ocuparei na devida altura – ou são libaneses ou gente sem nível e sem preparação.
Não existe um comércio diferenciado, constituído por indivíduos com iniciativa, recursos, capacidade.
Na Guiné desagua o aventureiro ou o desiludido. Sujeitos que para ali foram tentar a vida e que se limitam, com maior ou menor êxito, a explorar o indígena, comprando-lhe os produtos que vendem aos grandes, e vendendo-lhes o que podem. Mais pormenorizadamente me ocuparei adiante da forma como o comércio é exercido. Neste capítulo, limito-me a denunciar o baixo nível social desta classe”. E conclui: 
“De modo que, o meio social da Guiné Portuguesa é constituído pelo funcionalismo – de uma forma geral mau, embora se devam apontar algumas excepções (e honrosíssimas), sobretudo no pessoal das missões encarregadas da execução do Plano de Fomento, no quadro clínico da Missão do Sono, na Missão Geoidrográfica, etc. – e pelo comércio cujo nível já se denunciou. O restante são empregados onde predominam os cabo-verdianos”.

Seguir-se-á um apanhado detalhado sobre recursos económicos. Logo o amendoim ou a mancarra. Constitui o principal produto de exportação da Guiné, a produção é da ordem das 35 mil toneladas e a exportação de sementes de amendoim para a Metrópole em 1952, foi também de 35 mil toneladas. A produção tem vindo a aumentar de ano para ano, tendo passado para o dobro desde 1926/30 a 1946/50. A Guiné Portuguesa é o quarto exportador do continente africano e o principal abastecedor da Metrópole. A cultura da mancarra é feita inteiramente pelos indígenas em regime de rotação. A área de maior produção coincide com a circunscrição de Farim e parte norte de Bafatá a Gabu. O aumento da produção não deve fazer-se à custa do actual equilíbrio do meio natural, isto é, o aumento da produção pelo incremento da destruição vegetal e pelo encurtamento dos pousios conduzirá à senegalização dos solos. Este aumento, que pode crescer consideravelmente, tem de ser feito pela progressiva melhoria das sementes, pela sua distribuição ao indígena, pela armazenagem do produto, pela adaptação de técnicas culturais mais perfeitas.

O amendoim é quase todo embarcado para o exterior por descascar. A casca representa em peso 25% da semente. Só a Casa Gouveia possui um descasque no Ilhéu do Rei. A Sociedade Comercial Ultramarina é a única que possui uma instalação para produzir óleo de amendoim. Esta situação da exportação da mancarra em casca é hoje única em toda a África. A exportação da ginguba (mancarra descascada) teria como vantagens óbvias uma considerável economia no transporte, uma melhor selecção do produto, mão-de-obra que ficava na Província. Tem sido preconizado que o indígena fosse obrigado a apresentar ao comércio o produto sem casca, ou que o descasque se efectuasse em pequenas máquinas instaladas nos centros de compra mais afastados dos pontos de exportação.
O problema da selecção de sementes e da construção de celeiros para o seu armazenamento começa agora a ser encarado.
O comércio da mancarra obedece aos princípios em que assenta todo o comércio da Guiné: exploração do indígena, corrupção de funcionários, concorrência desenfreada.

Existem na Guiné quatro grandes casas exportadoras – Casa Gouveia, Sociedade Comercial Ultramarina, Barbosas, Nosoco – logo seguidas por Aly Suleiman, que é um pequeno exportador e, ao mesmo tempo, vendedor à Casa Gouveia, além de mais umas seis firmas. As grandes firmas operam, essencialmente, por duas formas: através das suas operações ou lojas estabelecidas no interior, pela compra do produto aos intermediários, pequenos comerciantes independentes espalhados pela Província. A compra ao indígena faz-se por dois processos: ou vão directamente às tabancas ou o indígena vem às lojas vender o produto (na generalidade, os pequenos e médios comerciantes queixam-se da faculdade que a todos é concedida de comprarem a mancarra nas tabancas; argumentam que se o indígena fosse obrigado a vender a mancarra nas lojas, compraria panos, contas, etc. e que, assim, recebem o dinheiro e, pago o imposto, gastam o resto em aguardente; além de que tal prática facilita a concorrência”.

O relator refere os preços de compra ao indígena em várias localidades da Guiné e observa igualmente que o negócio consiste sobretudo em cada um assegurar-se da maior quantidade possível de produto.

E esta análise de recursos económicos irá continuar com o coconote, arroz, produtos têxteis, e muito mais.

(Continua)

Imagem de uma Festa da Luta Felupe (Eran-ai), tirada em Sucujaque, em 8 e 9 de Abril de 2012, enquanto em Bissau decorria o golpe de Estado. 
Fotografia cedida por Lúcia Bayan, investigadora do povo Felupe, a quem agradecemos a gentileza.

Aeroporto de Bissalanca, anos 1950

Imagem de uma guineense, retirada de um postal à venda no eBay.
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Notas do editor

Poste anterior de1 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19459: Notas de leitura (1146): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (71) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 4 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19469: Notas de leitura (1147): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19480: Parabéns a você (1572): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19472: Parabéns a você (1571): Ana Duarte, Amiga Grã-Tabanqueira; Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74); Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 e CCAÇ 6 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19479: Agenda Cultural (672): "Amores pós-coloniais", pelo grupo de teatro Hotel Europa... De 7 a 24 de fevereiro de 2019, no Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa


Cartaz do espetáculo "Amores pós-coloniais", Teatro D, Maria, de 7 a 24 de fevereiro de 2019 (Reproduzido com a devida vénia...)



1. Teatro: "Amores pós-coloniais"
Companhia: Hotel Europa
Data: de 7 fevereiro a 24 fevereiro 2019
Horário: qua: 19h30; qui: 21h30; sex: 21h30; sáb: 19h30; dom: 16h30
Local: Teatro Nacional D. Maria II

Praça Dom Pedro IV
Telef 213 250 800
http://www.teatro-dmaria.pt


Sinopse:

(...) Amores Pós-Coloniais inicia um novo capítulo de investigação na companhia Hotel Europa, estendendo o ciclo de investigação do colonialismo ao tema do amor.

“Este espetáculo de teatro documental pretende refletir sobre o amor enquanto espaço político e utópico, discutindo o que significava amar no espaço colonial e pós-colonial.

Este trabalho irá utilizar como metodologia um cruzamento entre a pesquisa de arquivo e a recolha de testemunhos reais. Pretendemos retratar com este espetáculo as políticas do amor no espaço colonial e perceber como a violência do colonialismo condicionava as relações amorosas. 


Iremos recolher testemunhos com antigos soldados Portugueses que tiverem filhos com mulheres África no tempo da guerra, mulheres de origem Portuguesa que se apaixonaram por homens negros pertencentes aos movimentos de Libertação, e também as relações que saíram da relação entre os países Africanos e os países da Europa de Leste. Este trabalho irá também entrevistar os filhos que saíram dessas relações, tentando fazer o escrutínio do que era o amor durante o período Colonial e Pós-Colonial.” (...) 

Sessão com interpretação em Língua Gestual Portuguesa a 24 de fevereiro.

Ficha técnica:

Hotel Europa. André Amálio, criação; Tereza Havlíčková, cocriação e movimento; André Amálio, Júlio Mesquita, Laurinda Chiungue, Pedro Salvador, Romi Anauel e Tereza Havlíčková, interpretação.

Preço: 11 €  (ver descontos)

Fonte: Agenda Cultural de Lisboa, fevereiro de 2019



Capa da Agenda Cultural de Lisboa, fevereiro de 2019, e reprodução da p. 40, com o anúnico da peça de teatro "Amores Pós-Colonais"


2. Nota do editor Luís Graça:

O sítio "Agenda Cultural de Lisboa", propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, Pelouro da Cultura, Divisão de Promoção e Comunicação Cultural, utilizou indevidamente, duarnte alguns dias ou algumas horas, uma imagem do nosso blogue, da autoria do nosso camarada Virgílio Teixeira, sem qualquer referências à fonte e aos créditos fotográficos. Escusado será lembrar que uma das 10 regras de ouro do nosso blogue  é justamente o "respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor".


Depois de apresentado o devido protesto, o Virgílio Teixeira, que foi alertado por nós e que ficou deveras incomodado, recebeu a seguinte mensagem da produtora do espetáculo "Amores Pós-Coloniais", Joana Santos, com pedido de desculpas:


Data: Mon, 4 Feb 2019 12:35:05 +0000
De: Hotel Europa
Assunto: Uso da imagem: pedido de desculpa
Para: Virgílio Teixeira

Boa tarde caro Virgílio Teixeira,

O meu nome é Joana Santos e sou a produtora do espectáculo Amores Pós-Coloniais da companhia de teatro Hotel Europa, com a autoria de André Amálio & Tereza Havlíčková, que vai estar em cena no Teatro Nacional D. Maria II.

Escrevo pois foi-nos comunicado que é o senhor que está representado na fotografia que chegou a ser usada para a divulgação do espectáculo.

Em nome da companhia Hotel Europa queremos pedir desculpa pela utilização da fotografia neste contexto sem a sua autorização.

A imagem foi usada durante muito pouco tempo pois como não tínhamos informação sobre autoria e créditos decidimos deixar de a usar e substituí-la. O departamento de comunicação do Teatro divulgou muito pouco a imagem e já tinha feito um pedido para que fosse substituída mas vai agora reforçar por pedido nosso. Já identificámos os sítios na internet que têm de substituir e o pedido já foi feito. Na agenda impressa essa alteração já não pode ser feita.

Mais uma vez, pedimos imensa desculpa pelo incómodo desta situação, não foi de todo intencional da nossa parte.

Muito obrigada pela atenção.
Com os melhores cumprimentos
Joana Santos (...)

André Amálio & Tereza Havlíčková (...)
Hotel Europa
Performance.Theatre.Dance

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Nota do editor

Guiné 61/74 - P19478: (In)citações (126): o facto de ter havido alguém, como o Ramiro Elias da Silva, a ter a ideia de um convívio do batalhão em Angola, por volta de 1980, à semelhança dos que fazemos em Portugal, é altamente significativo do espírito que animou os seus militares, o que muito me orgulha (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte de Zadi, 1972/74)




Angola > Dembos > Zemba > CCAÇ 3535 / BCAÇ 3830 (1972/74 ) > O aquartelamento de Zemba


Angola > Maquela do Zombo  > Ponte de Zádi > CCAÇ 3535 / BCAÇ 3830 (1972/74 ) > O aquartelamento de Ponte de Zádi


Fotos (e legendas): © Jorge Madureira (2014) [,ex-fur mil mec, CCAÇ 3535, Zemba e Ponte de Zádi, 1972/74]. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (com a devida vénia...)


Comentário do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74), com data de 2 do corrente (*):




1. Quem ler isto poderá perguntar-se como é que eu sei o que se passou com os angolanos da companhia (pelo menos com os que eram do Huambo) depois do fim da comissão. 

Eu explico. Aí por volta de 1986 ou 1987, apareceu num convívio do meu batalhão, cá em Portugal, um angolano que tinha sido do meu pelotão: o Ramiro Elias da Silva. Embora fosse natural de Benguela, o Ramiro casou-se com uma rapariga do Huambo (antiga Nova Lisboa) e foi viver para lá. 

Em 1984, a situação militar no Huambo estava a tornar-se insuportável. A cidade estava em poder da UNITA, mas sofria cada vez mais com os bombardeamentos da artilharia do MPLA, até que toda a população da cidade fugiu. O Ramiro fugiu também. A cidade do Huambo tornou-se uma cidade-fantasma, à mercê dos encarniçados combates entre a UNITA e o MPLA, com sul-africanos e cubanos à mistura. Em 1986, o Ramiro veio para Portugal, e logo a seguir compareceu a alguns convívios do batalhão.

Tudo o que eu sei sobre o que aconteceu aos meus antigos companheiros angolanos depois do fim da comissão, portanto, devo-o ao Ramiro. Foi ele que me contou o que se passou entre o Domingos Jonas e o Mário Sessendje. Contou-me ainda que, por volta de 1980, houve uma tentativa de organizar em Luanda um convívio entre os angolanos do batalhão. Este convívio não se pôde realizar, porque a guerra estava no seu apogeu, o paradeiro de muitos camaradas tinha-se perdido, as comunicações por terra estavam completamente cortadas (as deslocações entre as cidades apenas se faziam por avião, o que era caríssimo), em Luanda praticamente não havia restaurantes e os géneros alimentícios estavam fortemente racionados. 

Mas o facto de ter havido alguém que tenha tido a ideia de um convívio do batalhão em Angola, à semelhança dos que fazemos em Portugal, é altamente significativo do espírito que animou os seus militares, o que muito me orgulha.

Após ter participado em alguns convívios do batalhão cá em Portugal, o Ramiro Elias da Silva deixou de comparecer. Provavelmente terá regressado a Angola. Se ainda estiver vivo (espero que esteja), desejo-lhe as maiores felicidades, que bem merece.


2. A minha companhia, CCAÇ 3535, esteve em Zemba, na região dos Dembos (um ano), e em Ponte do Rio Zádi, muito perto da fronteira norte de Angola (o outro ano). 

Na dependência da companhia do Zádi havia dois destacamentos, ambos situados a cerca de duzentos metros da linha de fronteira, chamados Banza Sosso e Malele. A palavra Zádi (em quicongo Nzadi) significa "rio" e não faz muito sentido, por isso, falar em Ponte do Rio Zádi, porque isso significaria falar em "Ponte do Rio Rio"... Nós chamávamos ao quartel "Ponte do Zádi" ou apenas "Zádi". O Zádi era único rio digno desse nome existente em toda a região de Maquela do Zombo, com crocodilos e tudo.

O comandante do meu batalhão, BCAÇ 3880, era Armando Duarte de Azevedo (**), que teve o posto de tenente-coronel durante o primeiro ano de comissão (em Zemba, portanto), mas foi promovido a coronel no início do segundo ano. Mesmo quando já tinha a patente de coronel, ele manteve-se no comando do batalhão até ao fim.

Um abraço,

Fernando de Sousa Ribeiro

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(**)  Passou pela Guiné, esteve a comandar o BCAÇ 2845:

(...) "O BCAÇ 2845 foi mobilizado pelo GACA 2. Partiu para a Guiné em 1/5/1868 e regressou a 3/4/1970. Esteve em Teixeira Pinto e teve três comandantes: Ten Cor Inf José Martiniano Moreno Gonçalves; Ten Cor Inf Aristides Américo de Araújo Pinheiro (...) ; e Ten Cor Inf Armando Duarte de Azevedo." (...) 

Guiné 61/74 - P19477: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (5): 3 - Os Pelotões de Artilharia que estiveram em Gadamael (Continuação)




 1. Continuação da publicação do trabalho sobre os Pelotões Independentes que estacionaram em Gadamael, da autoria do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67).








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Nota do editor

Poste anterior de 24 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19432: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (4): 3 - Os Pelotões de Artilharia que estiveram em Gadamael (Continuação)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19476: Recortes de imprensa (101): o desastre do Cheche, no rio Corubal, ocorrido na manhã de 6/2/1969 (Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1)






Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1




Citação:
(1969), "Diário de Lisboa", nº 16573, Ano 48, Sábado, 8 de Fevereiro de 1969, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_7148 (2019-2-6)



Fonte: Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 06597.135.23237 | Título: Diário de Lisboa | Número: 16573 | Ano: 48 | Data: Sábado, 8 de Fevereiro de 1969 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Edição: 2ª edição | Observações: Inclui supl. "Diário de Lisboa Magazine". | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos | Tipo Documental: Imprensa.

(Com a devida vénia...)


1. A notícia chegou tarde às redações dos jornais. O "Diário de Lisboa", que se publicava à tarde,  deu-a em título de caixa alta só na 2ª edição, dia 8 de fevereiro de 1969,  que era um sábado. Fez ainda uma 3ª edição. (*)

De qualquer modo, o jornal limitava-se a transcrecever a notícia dada pela agência oficiosa L [Lusitânia], com proveniência de Bissau e com data de 8 de fevereiro... As autoridades da província (leia-se: o general Spínola) levaram dois dias a recolher e a tratar a informação...

Omite-se, por certo intencionalmente, por razões de segurança militar, os seguintes elementos factuais:

(i) o "acidente" ocorreu na manhã de 5ª feira, dia 6 de fevereiro de 1969;

(ii) no  final da Op Mabecos Bravios, ou na seja, na sequência da retirada do aquartelamento de Madina do Boé e do destacamento de Cheche..

Os jovens de hoje não sabem o que era isso, mas  os jornais (o "Diário de Lisboa" e os outros) eram "visados pela censura": havia uns senhores todo poderosos, em geral militares, coronéis do exército ou equivalentes,  que tinham um "lápis azul", e que passavam a pente fino, previamente (ou seja, antes da publicação), todas as notícias que saiam na imprensa escrita. 

A grande maioria dos portugueses na época, e nomeadamente os da nossa geração, nascera já no Estado Novo, o regime de Salazar (e depois Caetano),  pelo que não sabia o que era a  liberdade de imprensa, escrita e falada...

O título de caixa alta,  "Desastre na Guiné", da responsabilidade do editor do jornal, era suscetível de causar alarme e consternação, nomeadamente entre as famílias dos militares que estavam então no TO da Guiné: 47 mortos (militares, em rigor 46 militares e 1 civil guineense) era o balanço do "trágico acidente".

Eu estva em Castelo Branco, no BC 6, a dar instrução militra, como 1º cabo miliciano, e em véspera de ser mobilizado. A  notícia deste desastre mexeu comigo... A notícia da minha mobilização chega a 27 desse mês...Na noite seguinte, às 3h41 ocorre o violento sismo de magnitude 8 na escala de Richter (, o maior depois de 1755), com epicentro no mar, a sudoeste do cabo de S. Vicente, na planície da Ferradura, se fez sentir em Portugal, Espanha e Marrocos. Eu nessa noite dormia o "sono dos justos"..

Mas, voltando à notícia da agência Lusitânia:  houve logo a preocupação, pelo menos, por parte do "governo da província da Guiné", de dar o núnero exato de mortos e desaparecidos (não se faz a distinção, fala-se em "vítimas") e listar os seus nomes

O balanço era, de facto, trágico: na lista das 47 vítimas, por afogamento (, parte das quais nunca chegarão a ser encontradas), constavam: 

(i) 2 furriéis milicianos; 

(ii) 7 primeiros cabos; 

e (iii) 38 soldados (na realidade, um dos nomes era de um civil). 

Mas os termos da notícia eram lacónicos, secos, quase telegráficos, como  de resto era habitual nos comunicados oficiais ou oficiosos em assuntos "melindrosos" como este:

"Na passagem do rio Corubal, na estrada para Nova Lamego, afundou-se a jangada que transportava uma força militar, havendo a lamentar, em consequência deste acidente, a morte, por afogamento, de 47 militares".

E a notícia ficou por ali: não se voltou a falar do "trágico acidente", nas edições seguintes, nem muito menos o jornal se podia dar ao uso de, por sua conta e risco, mandar à Guiné uma equipa de reportagem para aprofundar o assunto... Voltou-se à rotina da atualidade nacional e internacional, e os nossos valorosos camaradas que estavam na Guiné lá continuaram a "aguentar o barco" por mais cinco anos...

Para não dar azo, entretanto,  a perigosas  especulações, o ministro do Exércitofoi nomeou (e mandou de imediato para o CTIG) o cor cav Fernando Cavaleiro, um militar prestigiado,  o "herói da ilha do Como" (1964), infelizmente já falecido,  a fim de instruir localmente o processo de averiguações. Não sabemos quanto tempo levou a instrução do processo, mas temos um resumo das conclusões preliminares do cor cav Fernando Cavaleiro, publicado no jornal "Província de Angola", em data desconhecida, conforme recorte que nos foi enviado pelo nosso camarada José Teixeira, e que já aqui publicámos em poste de 25 de julho de 2015 (**).

Cinquenta anos depois, ainda não tivemos acesso ao relatório original (, nem sabemos se existe cópia no Arquivo Histórico-Militar), mas tudo indica que há nele erros factuais graves, permitindo ytirar conclusões enviesadas que acabam por escmotear, ignorar ou branquear a responsabilidade do 2º comandante da operação, que ultrapassou o oficial de segurança, o alf mil Diniz. 

Hoje sabemos que, na última e trágica viagem, em vez de 2 pelotões, a jangada levou o dobro, contrariamente as regras estabelecidas pelo alf mil Diniz... Mas este era o "elo mais fraco" da cadeia hierárquica e acabou por ser ele o "bode expiatório" de toda esta história que ainda continua mal contada...

2. Hoje comemoram-se os 50 anos deste trágico evento... E muita água ainda há-de ainda passar sob as pontes do rio Corubal até que se saiba a verdade ou toda a verdade sobre esta tragédia que ensombrou o primeiro ano do consulado do Spínola. 

Ainda está por realizar o prometido encontro do nosso editor Luís Graça com o ex-alf mil José Luís Dumas Diniz (, da CART 2338), responsável pela segurança da jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, aquando da retirada de Madina do Boé. Uma peça fundamental neste feliz encontro foi (e vai ser) o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). Foi o Fernando Calado que me pôs em contacto com o José Luís Dumas Diniz.Dificuldades de agenda, de parte a parte, ainda não nos permitiram fazer o encontro a três.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19447: Recortes de inprensa (100): para a história da luta dos deficientes das Forças Armadas: a manifestação em Lisboa, de 20 de setembro de 1975 (Diário de Lisboa, 22/9/1975)

Guiné 61/74 - P19475: Historiografia da presença portuguesa em África (149): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
Há razões seguras para dar muita atenção a este documento elaborado pelo médico Damasceno Isaac da Costa. Estamos no início da Província Autónoma da Guiné, está aqui um retrato fiel da presença portuguesa, a descrição das viagens entre Bissau e Geba não são propriamente uma novidade mas não conta a pirataria praticada, aliás o Governador Oliveira Muzanty teve que pedir a Lisboa uma operação como nunca até então se realizara para liquidar rebeliões, neste caso a do régulo Infali Soncó, que também impedia a circulação do Geba, nos moldes em que Damasceno Isaac Costa descreve neste seu precioso relatório.
E vamos conhecer os grandes problemas de saúde e de higiene do território.

Um abraço do
Mário


Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (1)

Beja Santos

Este relatório consta dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa e foi oferecido pelo seu filho Pedro Isaac da Costa ao antigo Administrador de Bissau, António Pereira Cardoso, autor de um conjunto apreciável de documentos, muitos deles de leitura indispensável para conhecer a vida administrativa da Guiné, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1950.

Este relatório, como se verifica pelo seu fecho, foi copiado pelo filho do autor. E diz-se que é de estranhar que tendo sido escrito em 1884 se refere a factos de 1888. É um documento minucioso, começa pela descrição do Conselho de Bissau, com sede em Bissau e compreendendo a vila de S. José, o presídio de Geba, Fá e S. Belchior. Situa a ilha de Bissau e diz que o rio Impernal a separa do território ocupado pelos Balantas. A ilha, diz o médico, era constituída por gentes de dez tribos, e os régulos ou chefes tinham as denominações, entre outras, de Antim ou Intim, Bandim, Amura, Prábis, Safim, Torre, Biombo e Quixete. Faz uma história dos régulos, refere-se à importância que teve a Companhia de Grão-Pará e Maranhão que obteve licença do rei de Intim para a construção da fortaleza. A povoação, no final do século XVII, tinha duzentas cubatas e cinco casas cobertas a telhas, habitadas por negociantes portugueses e comissários das casas inglesas da Gâmbia e franceses da Goreia e também pelos grumetes; havia também uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição e um hospício para missionários.

Falando do itinerário de Bissau a Geba, escreve o médico:

“Durante a estação de inverno, durante esses meses em que as chuvas são constantes e torrenciais, as águas transbordando os vastos pântanos e superfícies pantanosas situadas em diferentes pontas na proximidade do rio, formam regatos que vão desaguar no mesmo rio, o qual, por sua vez, não tarda a transbordar em muito pouco tempo, em consequência da sua estreiteza e pouca profundidade. 

Nesse período de tempo, a água correndo constantemente e com violência para desaguar no oceano faz desaparecer o fenómeno de praia-mar. É devido à ‘mantuana’ que as embarcações que navegam de Bissau a Geba gastam muitas vezes 30 a 40 dias, pois que é necessário arrastá-las contra a corrente das águas com auxílio de cordas amarradas às árvores que orlam as margens do rio.

Um outro fenómeno que dificulta a navegação tornando-a perigosa especialmente na ocasião da lua cheia, é conhecido no país com a denominação de macaréu. É imponente e majestoso este fenómeno. Quando começa a praia-mar, ouvem-se ao longe grandes rugidos, semelhantes aos de uma tempestade, mas de curta duração. De súbito, vê-se encapelarem-se as vagas umas após as outras, as quais impetuosas levam diante de si tudo quanto se opõe ao seu curso vertiginoso. Este fenómeno só se vê nos rios Geba e Corubal.

Os Beafadas que outrora ocupavam as margens do rio Geba fechavam a navegação deste quando lhes parecesse, especialmente em ocasiões de guerra que travavam com os Fulas e exigiam avultadas indemnizações às embarcações que com grandes dispêndios e importantes carregamentos transitavam no rio. Em 1847, o governador de Cabo Verde ordenou que se suprimisse a verba vexatória que a título de presentes era abonada a esses piratas e desde essa época poucas vezes se repetiram casos de semelhante natureza.

Para levarem a efeito esses actos de pirataria, os Beafadas amarravam uma corda na árvore de uma margem que passando pela superfície da água ia terminar regularmente noutra árvore na margem oposta. Os extremos da corda traziam duas campainhas que anunciavam a chegada de qualquer embarcação. Os Fulas-Pretos atacavam esses piratas e acabaram os saques”.

É um documento não só de leitura aliciante como é um registo das condições de vida na colónia nos finais do século XIX.

(Continua)


Carta da Guiné, século XVIII, por amável deferência da Sociedade de Geografia de Lisboa.


Câmara Municipal de Bolama, fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19457: Historiografia da presença portuguesa em África (147): O padrão, no Gabu, comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946)

Guiné 61/74 - P19474: Efemérides (298): A minha homenagem às 47 vítimas da tragédia do Cheche, há 50 anos, os mortos da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 e os mortos da CCAÇ 1790, do meu batalhão, BCAÇ 1933: que Deus e a Pátria jamais os esqueçam (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Foto Nº 8  > A História da Unidade – BCAÇ 1933 – devidamente encadernada e guardada há 50 anos



Foto nº 7  > Reprodução da capa da História da Unidade, tendo por fundo o território da Guiné, e por cima, um soldado anónimo, não se sabendo quem é o autor do desenho.


Foto nº  1 > Relação dos mortos da CCaç 1790 / BCAÇ 1933

1. Mensagem de Virgílio Teixeira, com data de segunda-feira, 4/2/2019, 12:38 

Assunto - Tema 202 - Homenagem dos 50 anos da tragédia do Cheche no CTIG

Caro amigo Luís,

Aqui te envio o meu singelo texto e alguns recortes da HU relativos à tragédia do Cheche, e às vitimas da CCaç 1790 e CCaç 2405, e outros que desconheço. É uma homenagem e uma lembrança, que faço pela primeira e última vez, é um tema que fica gravado no coração,

Tinha outras ideias para melhorar esta minha homenagem, pois trata-se em parte de militares que fizeram parte do meu Batalhão, o BCAÇ 1933, e de outros que, não tendo dados,  não os menciono, mas estão incluídos na mesma dor.

Aliás este acontecimento foi aquele que definitivamente me marcou e deixou feridas, mesmo que não estivesse presente nessa altura da tragédia.

 Abraço,
Virgílio Teixeira

Seguem em dois mails separados, pois não cabem num só, e não quero enviar por Transfer


2. CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:


T202 – O DESASTRE DO CHECHE – 50 ANOS DEPOIS

A TRAVESSIA EM JANGADAS DO RIO CORUBAL

COMPANHIA DE CAÇADORES 1790 - BATALHÃO DE CAÇADORES 1933
COMPANHIA DE CAÇADORES 2405 - BATALHÃO DE CAÇADORES 2852


HOMENAGEM SENTIDA ÀS VITIMAS DA TRAGÉDIA DO CHECHE E ÀS SUAS FAMILIAS ENLUTADAS, PASSADOS ESTES 50 ANOS.

QUE DEUS E A PÁTRIA JAMAIS OS ESQUEÇAM


I - Anotações e Introdução ao tema:

Porque se passaram 50 anos sobre o nefasto acontecimento, na travessia do Rio Corubal, entre as margens do Cheche e Canjadude, é dever pelo menos assinalar semelhante perda de homens-militares ao serviço da Pátria em acções de combate.

Este tema refere-se a um acontecimento no qual perderam a vida cerca de 50 militares, quando a jangada em que seguiam se virou a meio do Rio Corubal, provocando a queda de todo o pessoal e material que transportava, arrastando rio abaixo dezenas de militares.

O General António Spínola, comandante em chefe das Forças Armadas do CTIG, deu ordens para que fossem evacuados 2 aquartelamentos que eram fustigados diariamente com ataques do IN, flagelações que duravam tempos indeterminados, obrigando as NT a uma permanente vivência em abrigos, quase soterrados, estamos a falar de Madina do Boe e um destacamento em Beli, e seguidamente o Cheche.

Na zona onde alegadamente não havia condições humanas para uma sobrevivência, nem alguma hipótese de erradicar o IN daquela zona, muito martirizada.

São questões táctico-militares, estratégias e opções de combate, que não são por agora aqui chamadas. Era assim, tinha de ser feita a evacuação daqueles dois quartéis, e foi dada a ordem da sua evacuação, para a qual foram movimentados meios materiais e humanos de uma envergadura nunca antes utilizada.

O objectivo era «abandonar» os quartéis, levar todo o material utilizável, e destruir tudo o que não fosse possível levar, para não cair nas mãos do IN.

Ocupava nesse tempo, a CCAÇ 1790 com 3 pelotões em Madina do Boé, e um pelotão de cerca de 30 homens num destacamento localizado mais para Leste, situado como se costuma dizer no «cu de Judas» onde Jesus Cristo nunca lá tinha passado, assim reza a história.

A CCAÇ 1790 esteve lá desde inícios de Fevereiro de 1968, tendo ido render a CCAÇ 1589, e por ali ficaram mais de um ano, sofrendo um total de mais de 400 flagelações do IN.

Segundo parece seria um inferno a vida naqueles dois aquartelamentos, e militarmente não era exequível lá continuar, salvo com muito mais pessoal militar o que humanamente não era possível, por falta de efectivos.

O que me leva a fazer esta homenagem, porque esta Companhia pertencia ao meu batalhão, o BCAÇ 1933, eu conhecia muito pessoal, estivemos juntos algum tempo a formar Batalhão em Santa Margarida, depois convivemos algum tempo em Nova Lamego, e daí partiram para aquelas paragens do fim do mundo. É uma questão pessoal que me diz muito.

Fizeram parte da operação diversas unidades, infantaria, cavalaria, artilharia, carros de combate e outros pelotões, além dos meios aéreos – HELI, T6, Avionetas.

Uma delas,  a CCAÇ 2405, que pertencia ao Batalhão Caçadores 2852, mas estava adido ao BCAÇ 2835, Nova Lamego, que foi render o BCAÇ 1933, em finais de Fevereiro de 1968.


Foto nº 4 >  Relação dos elementos da CCAÇ 1790, apenas a 1ª página, com Comando da Companhia e Graduados. 



Foto nº 3 > Reprodução do Apreço e Reconhecimento à CCAÇ 1790, pelos serviços prestados em Madina do Boé, subscrito pelo Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, General António de Spínola, em 17 de Julho de 1968. 


A História já está bem contada em muitos e variados artigos, Blogues, comunicação social, arquivo nacional e nas cabeças de tanta gente que sofreu na pele este sinistro caso.

Quando se procedia aos últimos transportes entre as margens, a jangada que seria fatal estava demasiado sobrecarregada, e por razões que são várias, adornou, e a maior parte dos militares, carregados com todo o armamento, caíram ao rio, alguns conseguiram saltar novamente para a jangada, e a maior parte desapareceu, nunca mais foram encontrados, fala-se que teriam perecido junto com os crocodilos que infestavam a zona.

Foram várias as tentativas de encontrar os 45 militares que ali ficaram, sendo 25 da CCAÇ 1790 e os restantes da CCAÇ 2405, tropa africana e um civil.

Nunca foram encontrados, e já após 40 anos têm sido procurados vestígios no local, mas nada se encontrou.



Foto nº 6  >  Mapa desenhado do Sector L3 de Nova Lamego, região de Gabu, que ocupava 1/5 do território do CTIG, na zona Leste da Guiné, onde se localizam os aquartelamentos abandonados de Madina do Boé, e destacamentos de Béli e Cheche.


ASSIM E PASSADOS ESTES ANOS TODOS, DEIXO AQUI A MINHA SINGELA HOMENAGEM ÀQUELES BRAVOS E INFELIZES HOMENS QUE PERDERAM A SUA VIDA, COM 19-20-21 ANOS OU MAIS, EM SITUAÇÕES AINDA POR ESCLARECER, E QUE LHES SEJA RECONHECIDO O DIREITO DE SEREM MÁRTIRES CAIDOS EM COMBATE, AO SERVIÇO DA SUA PÁTRIA.

II – As Legendas das fotos:


Estas imagens de documentos retirados da História da Unidade, são as únicas lembranças que tenho, não há fotos de militares nenhuns.

Conheci o Comandante da Companhia, o Capitão José Aparício, mais tarde no Comando da PSP de Lisboa como Coronel, e algumas vezes voltamos a ver-nos em almoços do Batalhão.

Sei que ele voltou ao local da tragédia, muitos anos depois, décadas, com intuito de voltar a ver o local de tanta dor, e também ver as possibilidades de encontrar vestígios dos seus homens da Companhia, e não esquecendo os outros de outras unidades, pois fazem parte de um todo, indiviso.

Conheci pessoalmente o meu camarada ex-alferes José Loureiro, e mais tarde em múltiplos encontros de almoços do batalhão, os primeiros ainda levava consigo o nosso Comandante.

Conheci, também o ex-alferes Gustavo Pimenta, depois da partida para Madina nunca mais o cheguei a ver, só aqui no Blogue li algumas notas da visão dele da tragédia.

Conheci também o outro ex-alferes, o Eurélio Amorim, que viajou comigo e com o comando do batalhão, no avião militar DC6 da Douglas ao serviço da FAP, no dia 20 de setembro de 1967. Depois não o vi mais na Guiné, nem nunca foi a nenhum almoço do batalhão, que eu saiba, porque não fui a todos. Vi-o uma vez, talvez uns 25 anos depois, em Vila do Conde, aqui perto do parque da cidade. Lembramos alguns momentos do passado.

Conheci também no avião, o 2º Sargento Carlos de Oliveira, da CCAÇ 1790, e depois nunca mais o cheguei a ver.

Falta aqui um alferes miliciano, para perfazer os 4, mas não me lembro de mais nenhum.

Vamos aos documentos que junto:

Foto nº 1  > Capitulo III – Página 6 da História da Unidade (HU)  > Relação dos Mortos ao serviço da Pátria, da CCAÇ1790. Não disponho de dados da CCAÇ 2405, porque pertencia a outro Batalhão.

Foto nº 2   > Capitulo dos Louvores inserto na HU > Reprodução do Pesar e Reconhecimento à CCAÇ 1790, subscrito pelo Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, General António de Spínola, em 11 de Fevereiro de 1969.

Foto nº 3  > Capitulo dos Louvores inserto na HU.  > Reprodução do Apreço e Reconhecimento à CCAÇ1790, pelos serviços prestados em Madina do Boé, subscrito pelo Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, General António de Spínola, em 17 de Julho de 1968.

Foto nº 4  > Capitulo I – Página 7 da História da Unidade (HU)  > Relação dos elementos da CCAÇ 1790, apenas a 1ª página, com Comando da Companhia e Graduados.

Foto nº 5  > Capitulo I – Página 3 da História da Unidade (HU)  - Relação dos elementos do BCAÇ 1933 que seguiram por via aérea para o CTIG em 20 de Setembro de 1967, entre eles o Comando do Batalhão e elementos da CCAÇ1790 e CC1791.

Foto nº 6  > Capítulo da descrição do Sector e operações desenvolvidas, inserto na HU > Mapa desenhado do Sector L3 de Nova Lamego – Gabu – que ocupava 1/5 do território do CTIG, na zona Leste da Guiné, onde se localizam os aquartelamentos abandonados de Madina do Boé, e destacamentos de Béli e Cheche.

Foto nº 7  > Reprodução da capa de um desenho, com a História da Unidade, tendo por fundo o território da Guiné, e por cima, um soldado anónimo, não se sabendo quem é o autor.

Foto Nº 8  > A História da Unidade – BCAÇ1933 – devidamente encadernada e guardada há 50 anos.

Tenho o privilégio de ter um dos poucos Originais do livro, mas a qualidade de algumas folhas e descrições é fraca, mas é o que tenho.

"Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».


NOTA FINAL DO AUTOR:

#As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.#

Legendas actualizadas hoje,
Em, 2019-02-04
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19473: Efemérides (297): Tragédia do Che-Che, dia 6 de Fevereiro de 1969 - 47 miúdos pereceram nas águas do Rio Corubal (José Martins)

Guiné 61/74 - P19473: Efemérides (297): Tragédia do Che-Che, dia 6 de Fevereiro de 1969 - 47 miúdos pereceram nas águas do Rio Corubal (José Martins)


Guiné - Zona Leste - Sobreviventes da tragédia de Cheche, no Rio Corubal, na retirada de Madina do Boé

Foto (e legenda): © Paulo Raposo (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em mensagem do dia 6 de Janeiro de 2019, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70), lembra o dia 6 de Fevereiro do já longínquo mas inesquecível ano de 1969, como ele próprio diz, uma data indelével para os combatentes da Guiné e familiares dos militares que sucumbiram na catástrofe durante a travessia do rio Corubal.


No cinquentenário da Passagem do Corubal

Todos temos uma, ou mais, datas que são indeléveis. Para mim, e para muitos que estavam nas imediações do destacamento do Che-Che, junto ao rio que divide a zona sul de Nova Lamego e o Boé, é o dia 6 de Fevereiro do ano de 1969.

Foi nessa fatídica tarde que, quando se cumpria a parte mais difícil da retirada das tropas que ocupavam Madina do Boé e o destacamento do Ché-Che, se deu um dos maiores desastres militares da guerra que ocupou mais de um décimo da população portuguesa.

Passados 50 anos, ainda não há consenso sobre o que aconteceu, nem será agora que iremos tecer teorias para encontrar a causa: essa é a que consta, se constar, dos relatórios da "Operação Mabecos Bravios”.

Foram 47 “miúdos” que sucumbiram nas águas do Corubal, que, vindo da Guiné Conacri, atravessa toda a zona do Boé, para casar com o Geba, que vem do norte, das terras do Senegal, e entrarem, de braço dado, no Atlântico depois de banharem Bissau.

O mais velho tinha 28 anos e os 3 seguintes tinham, 27, 26 e 25 anos, sendo naturais da então província e já com alguns anos de guerra. Com 24 anos pereceram 4 militares, com 23 anos foram 25, e os mais novos, com 22 anos, 14 militares.

Passados estes anos, meio século, já “perderam” a patente; “perderam” o número de identificação, “perderam” o direito a pertencer a uma Unidade Militar. Agora são HERÓIS NACIONAIS e pertencem ao BATALHÃO CELESTIAL DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, que conta, cada vez mais, com novos membros que, terminada a sua comissão de serviço regressaram às suas terras, e foram por sua vez partindo.

Os seus nomes permanecerão escritos, em letras de ouro, na Galeria dos Heróis. 
São de militares de origem europeia ou guineense e soldados milícias africanos:

Adul Embalo 
Adulai Silva 
Alberto da Silva Mendes 
Alfa Jau 
Alfredo António Rocha Guedes 
Américo Alberto Dias Saraiva 
Aníbal Jorge da Costa 
António de Jesus Silva
António Domingos Nascimento 
António dos Santos Lobo 
António dos Santos Marques 
António Marques Faria 
António Martins de Oliveira
Augusto Caril Correia 
Augusto Maria Gamito 
Avelino Madail de Almeida 
Carlos Augusto da Rocha 
Celestino Gonçalves Sousa 
David Pacheco de Sousa 
Francisco da Cruz 
Francisco de Jesus Gonçalves Ferreira 
Gregório dos Santos Corvelo Rebelo 
Indique Embuque 
Joaquim Nunes Alcobia 
Joaquim Rita Coutinho 
Joel Santos Silva 
José Antunes Claudino 
José da Silva Coelho 
José da Silva Góis 
José da Silva Marques 
José de Almeida Mateus 
José Fernando Alves Gomes 
José Ferreira Martins 
José Loureiro 
José Maria Leal de Barros 
José Pereira Simão 
José Simões Correia de Araújo 
Laurentino Anjos Pessoa
Luís Francisco da Conceição Jóia 
Manuel António Cunha Fernandes 
Manuel Conceição Silva Ferreira
Manuel da Silva Pereira 
Octávio Augusto Barreira 
Ricardo Pereira da Silva 
Tijane Jaló 
Valentim Pinto Faria 
Victor Manuel Oliveira Neto.

Foram estes os nomes que foram escritos no impresso de mensagem e apresentados ao Comandante da Unidade, que assim autorizava o seu envio para o batalhão e deste, para o Comando-Chefe.

Pouco tempo depois, foram enviados pelo radiotelefonista que, após cada nome parava. Não apenas para respirar, mas sobretudo para limpar mais uma lágrima que não conseguia reprimir.

6 de Janeiro de 2019
José Marcelino Martins
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19203: Efemérides (296): No 1º centenário da Grande Guerra: fomos revisitar o Diário de Lisboa, de 5 de abril de 1924: a mediatização do herói. o Soldado Milhões