terça-feira, 31 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23314: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro) Parte IX (Penúltima)

1. Continuação da publicação do texto de memórias "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra", de António Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (BissauBuba e Pelundo, 1969/71)


A MINHA PASSAGEM PELA GUINÉ-BISSAU EM TEMPO DE GUERRA

António Sebastião Figuinha
Ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
CCS/BCAÇ 2884
1969/1970/1971
Parte IX

Durante a minha permanência em Có tive alguns casos de saúde muito complicados que me obrigaram a puxar pela minha cabeça e pedir a Deus ajuda e inspiração.

Um deles aconteceu pelo Natal de 1970. Um dos militares tinha recebido nesse dia uma encomenda da família onde vinham enchidos. Acontece, que devido ao tempo da demora da chegada e principalmente com as diferenças de temperaturas, estes enchidos já não chegaram em bom estado de qualidade.

Aproximou-se a noite e, eis que aquele militar, juntamente com alguns amigos, veio ao meu encontro gritando de desespero tal eram as dores de cabeça sentidas e o aumento de volume desta. Fiquei impressionado com o que estava observando. Pensei primeiro, em procurar um contacto Médico via rádio, mas o desespero do militar fez com que eu me concentrasse e arriscasse um primeiro tratamento que sabia mal não lhe faria. Deste modo, ordenei ao Enfermeiro que naquele dia tinha como ajudante ao Posto Médico, aplicar-lhe uma injeção indo-venosa para combater a alergia e, logo de seguida, uma injeção anti palúdica. Entretanto e finalmente, dirigi-me ao posto de rádio para que me localizassem um Médico.

Finalmente um Médico entrou em linha comigo a quem relatei o acontecido bem como as medidas que já havia tomado. Do outro lado da linha a voz do Médico deixou-me tranquilo e de certo modo feliz, por ouvir que melhor ele não teria feito. Na verdade, fui encontrar o paciente mais calmo. Disse-lhe para se ir deitar e, acaso as coisas se complicassem, para rapidamente me chamarem. Respirei fundo e ouvi palavras carinhosas do capitão da Companhia que, com um abraço me agradeceu por me encontrar com eles naquela unidade.

Um outro caso que também já mais esquecerei, aconteceu com uma criança de tenra idade já que apenas tinha cerca ano e meio.

Eram já cerca das dez horas da noite quando ao meu quarto o Capitão me foi chamar preocupado com a criança que estaria a morrer e, com mãe, que desesperada, com a criança nos braços, chorava.

Vesti-me rapidamente dirigindo-me ao Posto Médico para observar a criança. Fora deste, muitos militares se juntaram mais alguns civis da aldeia de Có.

Deitado já na maca, verifiquei que a criança vinha gelada e com os membros apresentando rigidez. Da sua boquita brotava espuma que lhe dificultava a respiração que, por sinal, já não se sentia. Pedi ao Enfermeiro que naquele momento tinha para me ajudar que lhe sugasse a expetoração enquanto eu com uma agulha fui picando a base dos seus pezinhos tentando ver se tinham recção. Nada! A criança tinha entrado em coma. Como já não se podia evacuar a criança para o Hospital em Bissau por via aérea, dado o avançado da noite, aos choros agonizantes da jovem mãe, concentrei-me e mentalmente pedindo ajuda ao Criador, mandei preparar meia injeção de Coramina ao mesmo tempo que comecei a fazer-lhe massagem cardíaca e respiração boca a boca. Todo eu já transpirando eis que, de repente, vi mexer uma pestana e dei um grito de alegria dizendo “já temos homem!”. Continuei fazendo massagem cardíaca até que a criança abriu os olhos e começou a chorar. Em pensamento agradeci a Deus que me inspirou. Recebi um abraço forte da jovem mãe. Todos os companheiros militares se encontravam comovidos. O Capitão deu-me um grande abraço e pediu ajuda para que de Bula onde se encontrava uma Companhia de Cavalaria, visse das possibilidades de transportarem se possível, a criança mesmo de noite para Bissau juntamente com a mãe, a fim de poder ser bem observada no Hospital. É a principal e gratificante recordação do meu trabalho na saúde que trouxe da Guiné.

Um outro acontecimento que acompanhei em Có foi quando um dia já noite, o quartel ficou em polvorosa com o aparecimento junto ao comando de um homem fisicamente bem constituído e com a saliva a escorrer-lhe da boca tal a raiva que trazia dentro dele ou, como suspeitei, a quantidade de droga que teria ingerido para vir preso à capela por populares da aldeia. Vinha preso com uma corda pela cinta com duas pontas da corda soltas onde, três de cada lado desta, controlavam o avanço de ataque para cada um dos lados. Os populares que o traziam amarrado, cheios de medo diziam que o dito já tinha matado um homem à dentada na aldeia e gritava que vinha para matar o Capitão China.

O Capitão Rodrigues, natural de Macau e de origem chinesa, ficou assustado com a convicção do prisioneiro que mesmo ali manietado, continuava lançando ameaças. O Capitão, voltando-se para mim solicitou-me que, com medicação, conseguisse dominar a fera de modo a ser possível ficar em prisão durante a noite de modo a poder ser enviado para Bissau no dia seguinte. Naquela noite, fiquei já com poucas dúvidas, da utilização de drogas por parte do PAIGC em ações suicidas levadas a cabo por parte da guerrilha. A quantidade de saliva que escorria da boca do homem mais o seu olhar de fera enjaulada, tiraram-me qualquer dúvida. Foi um fim de dia atribulado.

Recordo-me do último Natal que passei na Guiné (Natal de 1970) em Có. Estas datas eram muito atribuladas porque por norma, a guerrilha adorava flagelar os nossos quartéis. Um ambiente carregado e melancólico se fazia sentir porque, tínhamos os nossos militares patrulhando a zona, e deste modo, termos a garantia de segurança. A ceia só seria servida com todos já regressados do mato.

Enquanto esperávamos pelo regresso dos nossos militares ausentes, recordo o Capitão Rodrigues sentado ao balcão do pequeno bar que lá possuíamos, bebendo cerveja acompanhada de camarão. A quantidade de camarão era considerável e, como tal, convidou-me para me sentar junto a ele. A nossa conversa foi sobre os momentos que estávamos vivendo e da ansiedade sentida principalmente naquele dia. Era já de madrugada quando nos foi servida a ceia de Natal. Três dias depois festejei ali o meu vigésimo quinto aniversário.

Durante a minha permanência neste aquartelamento, desloquei-me uma única vez ao Pelundo. Aqui ia ser inaugurado um novo Posto Médico com condições de trabalho melhoradas bem como tendo anexada uma pequena enfermaria.
Para este novo Posto Médico, tinha sido eu encargado, antes de ser transferido para Có, de requisitar tudo o que fosse necessário para que o mesmo funcionasse em pleno. Sucede que ao chegar ao Pelundo, verifiquei que muito do material faltava, principalmente as camas na enfermaria.

Como era habitual nos Comandantes dos Batalhões, pelo menos no meu, foi convidado o Comandante-chefe General Spínola para a dita inauguração. O General, ao entrar e verificar as falhas que se notavam, gritou ao meu Comandante dizendo que palhaçada era aquela, ser convidado para inaugurar paredes! Eis que o meu Comandante de Batalhão, tremendo como varas verdes, chamou-me para dar explicações ao General. Coube-me então a mim, que já há mais de dois meses me encontrava afastado noutro local, explicar ao General que tudo o que ali faltava, a tempo e horas eu tinha requisitado aos serviços competentes em Bissau. O General chamou o seu Ajudante de Campo, que era o Capitão Ramos, dizendo-lhe que fosse imediatamente a Bissau tratar daquelas falhas junto dos Serviços de Material de Saúde e das razões do não envio atempado. Deste modo não ouve inauguração nenhuma e o General deu meia volta e apanhou o helicóptero de regresso a Bissau.

Ao fim do dia regressei também a Có, não sem antes passar pelo Posto de Saúde ao qual pertencia e tinha a meu cargo, confraternizar uns instantes com o pessoal.

Encontrei aqui nesse dia a jovem que sempre tinha cuidado da minha roupa, com um ar adoentado. O Médico ao ver-me, aproveitou para a provocar dizendo-me que era eu o culpado pelo estado de saúde que a moça apresentava.
Tentei animá-la dizendo que brevemente estaria de volta. Na verdade, o seu aspeto tinha pouco de saudável. Sobre esta jovem, dedicarei a parte final das minhas memórias de Tempos de Guerra.

Regressado a Có, continuei com o meu trabalho de zelar pela saúde dos nossos militares bem como da população que dos mesmos cuidados necessitava.

Chegou-se ao dia de preparar a transferência de funções e de material a quem me vinha substituir ou seja, a Companhia que nos vinha render naquele lugar e, permitir o meu regresso ao Pelundo e assim poder ajudar lá também nos preparativos da passagem de testemunho àqueles que nos iriam render.
Porém, antes tive que verificar em Có o material existente e as falhas mais importantes a repor para que o novo Furriel Enfermeiro encontrasse as condições possíveis para poder desempenhar as suas funções.

Com uma campanha desgastante, tive a necessidade de me deslocar a Bissau e aos Serviços de Material de Saúde requisitar agulhas e outro material de consumo corrente. Aqui vim encontrar os responsáveis destes serviços tremendamente aborrecidos para com a minha pessoa por tudo o que tinha acontecido com a não inauguração do novo Posto Médico do Quartel do Pelundo. Pelo que vim a ser informado, o General provocou um reboliço enorme com aquela gente que se viram forçados a tirar três camas do Hospital e enviá-las para o Pelundo. Respondi-lhes que apenas me tinha limitado a informar o General do que a tempo e horas eu tinha feito todas as requisições.
Zangados, fartaram-se de chamar de “Macaco Fula” ao General. Sempre notei que o pessoal de Bissau não gostava do General porque lhes apertava os calos várias vezes.

Antes de fazer o trespasse de funções ao Furriel que me iria render, fiz um levantamento exaustivo de todo o material já que o Primeiro-sargento me havia dito querer ser ele a fazer o dito trespasse. Durante os meses que ali permaneci, poucas vezes a este Primeiro-sargento lhe dirigi palavra.
Desde o primeiro dia que ali cheguei, as guerras foram uma constante entre nós os dois. Eu era bem diferente daquele outro que fui render. O Lemos, por motivos que não vou aqui descrever, foi preso e enviado para outro local como já foi por mim referido anteriormente.
Mandei chamar então o Primeiro-sargento ao Posto Médico para lhe mostrar todo o material de uso corrente como agulhas, seringas, tesouras, caixas de enfermeiro, etc.
Verificou que havia umas agulhas que sobravam do lote obrigatório a entregar e pediu que, acaso eu não me importasse, poder levar umas seis para oferecer a uma Enfermeira da terra dele. Respondi-lhe que podia oferecer à dita senhora o que quisesse porque sempre me tinha dito, que no fundo, quem mandava ali era ele. Ficou corado de atrapalhação com mais uma ferroadela que lhe dava.
Regressei no dia seguinte à minha unidade, CCS do Batalhão 2884 no Pelundo.
Aqui já se encontrava a Companhia que nos ia render bem como a Companhia operacional que acompanhava a CCS.
Encontrei o Quartel remodelado. Com Posto Médico novo, quartos dos Sargentos novos, enfim, vim encontrar outras condições habitacionais bem melhores do que aquelas que durante tantos meses tive.

Liberto de funções, embora tivesse que orientar o novo Furriel Enfermeiro e Médico sobre como a população estava habituada a ser tratada, como deveriam continuar a lidar com ela e, a pedido do Médico, fui mostrar a este a aldeia e fornecer-lhe as orientações necessárias que eu achava por convenientes. Este Médico tinha estado preso em Penamacor por razões políticas.
Achei esquisito ter-me pedido para que o informasse das casas onde viviam prostitutas. Não contei nada a ninguém mas vi logo que era tentar passar e receber informações do outro lado. Sei que não regressou com os seus ao Continente porque ficou creio a viver lá com a professora. O Mundo é pequeno e, na FNPT em Lisboa, onde comecei a trabalhar, encontrava-se também e no mesmo departamento, o compadre do dito cujo Médico. Este companheiro de trabalho de vez em quando dava-me informações do seu compadre.

Comecei então a despedir-me das pessoas da população com quem mais lidei de perto e de todos que por mim passavam e me cumprimentavam apertando-me as mãos de agradecimento pela forma como tinha lidado com todos eles. Como surpresa, um grupo de mulheres veio ter comigo implorando para que eu não regressasse ao Continente e ficasse a tomar conta da saúde deles no Posto Médico Civil que o General tinha lá mandado construir. A custo e deveras emocionado, respondi-lhes que estava cheio de saudades da minha família mas que lhes agradecia do fundo do coração o carinho que me tinham e que eu nunca iria esquecer.

Estes últimos dias no Quartel no Pelundo foram passados no quase descanso total.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23303: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro) Parte VIII

Guiné 61/74 - P23313: Parabéns a você (2071): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23309: Parabéns a você (2070): Fernando Andrade Sousa, ex-1.º Cabo Aux. Enf. da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3398/BCAÇ 3852 e CCAÇ 6 (Buba e Bedanda, 1971/73)

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23312: (In)citações (208): Uma tarde maravilhosa, na cidadela de Cascais, vendo com pessoas amigas a exposição "Portugal e Luxemburgo: países de esperança em tempos difíceis" e recordando o nosso Aristides Sousa Mendes (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Cascais > Palácio da Cidadela de Cascais > Exposição "Portugal e Luxemburgo – Países de Esperança em Tempos Difíceis” > 27 de maio de 2022 > João Crisóstomo, Vilma e amigas


Na 1ª foto, da esquerda para a direita:

(i) Luísa da Rocha, presidente da Aqualink: 
(ii)  Mrs Fischer, cuja mãe recebeu um visto de Aristides Sousa Mendes;
(iii)  eu, João Crisóstomo ; 
(iv) Mariana Abrantes, da "Sousa Mendes Foundation US”;
(v) Vilma, segurando uma medalha de ASMendes que na altura fizeram o favor de me oferecer; 
(vi) e a arquiteta Luísa Maria Pacheco, museóloga desta exposição, como o foi/é doutras grandes exposições como a do Museu e exposição de Vilar Formoso, da exposição "Portugal the Last hope” nos Estados Unidos, etc.

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excerto de mensagem do João Crisóstomo, com data de 28 do corrente, 00h22:

(...) Luís, quando me telefonaste ontem, estava a caminho de Cascais onde fomos ver a exposição "Portugal e Luxemburgo – Países de Esperança em Tempos Difíceis” (*). Para o caso de ainda não teres lido sobre ela, envio-te no fim deste, um pequeno mas elucidativo artigo que tirei da internet. (*)

Foi um dia maravilhoso em muitos aspectos. Parece-me que a melhor maneira de te dizer o que foi,  é copiar um E-mail que acabo de enviar a várias pessoas amigas que estiveram comigo nesta visita. Aqui vai (**):

My very very dear friends,

Lembrando uma tarde maravilhosa… Onde a Luísa Pacheco e a Mariana Abrantes põem as mãos é sempre assim.

Que grande exposição! Eu, que pensava "estar por dentro" de alguns assuntos relacionados com a Segunda Guerra Mundial  e o Holocausto, não me cansava de aprender/descobrir coisas até então desconhecidas para mim. Mas com a Luísa Pacheco como docente e guia tinha de ser mesmo assim.

Obrigado pela companhia de todos, especialmente das queridas Luísa Pacheco e Mariana Abrantes e da “my darling wife” Vilma que torna sempre ainda melhores as coisas já boas por si.

Muito gratificante também foi conhecer a Luísa da Rocha. Depois do que logo constatei e aprendi a seu respeito, pergunto-me como é possível não a ter conhecido mais cedo. Mea culpa, mea culpa , I guess. E ter tido finalmente a oportunidade de encontrar em pessoa a Mrs Schiffer (ou Fischer ?) (desculpem, mas não sei mesmo como é o primeiro nome, apesar de ter ouvido várias vezes um carinhoso apelido) personagem de quem tantas vezes tenho ouvido e lido.

Não posso deixar de manifestar a minha gratidão à Sousa Mendes Foundation US, pelo inesperado reconhecimento e bonita medalha de Aristides de Sousa Mendes com que me generosamente presentearam. Bem hajam.

Na esperança de muitos encontros como este,
Um abraço com carinho e gratidão pela vossa amizade.

João Crisóstomo
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Notas do editor:

(*)  30 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23311: Agenda cultural (812): Exposição no Palácio da Cidadela de Cascais, de 13 de maio a 28 de agosto de 2022: "Portugal e Luxemburgo: países de esperança em tempos difíceis"

Guiné 61/74 - P23311: Agenda cultural (812): Exposição no Palácio da Cidadela de Cascais, de 13 de maio a 28 de agosto de 2022: "Portugal e Luxemburgo: países de esperança em tempos difíceis"

 

Cartazes da exposição

1. Informação que nos chega por via do nosso amigo e camarada João Crisóstomo (Nova Iorque) que está em Portugal há mais de um mês, devendo partir no domingo para  a Eslovénia, terra da sua esposa Vilma. Visitou esta exposição, no dia 27 do corrente, na companhia de amigos, adorou e recomenda aos nossos leitores.


Portugal e Luxemburgo – Países de Esperança em Tempos Difíceis


A exposição Portugal e Luxemburgo – Países de Esperança em Tempos Difíceis, com curadoria de Margarida de Magalhães Ramalho e Claude Marx, e que foi criada em 2020 para o Centre Culturel de Rencontre Abbaye de Neumünster na cidade do Luxemburgo, abre amanhã, 13 de Maio, no Palácio da Cidadela de Cascais.

Focada no papel de Portugal durante a II Guerra Mundial como porto de abrigo de refugiados luxemburgueses e de como o Luxemburgo, décadas mais tarde, se tornou o destino de muitos portugueses que fugiam da ditadura e/ou da miséria, a escolha da vila de Cascais prendeu-se com o facto de ter sido na Casa de Santa Maria, fronteira ao Palácio da Cidadela que, no início do seu exílio em 1940, a Grã duquesa Charlotte e a sua família viveram durante alguns meses.

A mostra está subdividida em várias secções relativas ao conflito mundial, que vão desde as razões da ascensão do nazismo e o desencadear da guerra na Europa até ao destino dos que fugiam. Relata também as dificuldades encontradas pelos refugiados na sua rota de fuga e o papel de Aristides de Sousa Mendes no salvamento de milhares de pessoas. 

Aborda ainda a política de neutralidade de Portugal e a passagem de milhares de refugiados por terras lusas, incluindo a estada da família Grã-ducal em Cascais. Por fim, debruça-se sobre a evolução do Luxemburgo no contexto europeu do pós-guerra e a ditadura repressiva portuguesa, que ditou o atraso económico do país e que obrigou muitos a partirem.

Em Cascais, a exposição foi ainda enriquecida com conteúdos contemporâneos ligados a artistas luso-luxemburgueses, como a instalação Memória Episodika do artista plástico Edmond Oliveira, baseada na experiência de vida do seu pai, um dos primeiros emigrantes a chegar ao Luxemburgo; ou as fotografias de Paulo Lobo, que refletem o impacto da presença portuguesa na paisagem luxemburguesa.

O design é da dupla Sara e Pedro Gonçalves e a museografia de Luísa Pacheco Marques. A reposição da exposição em Portugal foi possível graças aos apoios da Câmara Municipal de de Cascais, da Câmara Municipal de Almeida, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Europeus do Luxemburgo, do Ministério da Cultura do Luxemburgo, do Centro Nacional de Audiovisual e das empresas luxemburguesas POST, WEALINS et LOSCH Digital Lab.


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Nota do editor:

Último poste da série > 8 DE MAIO DE 2022  Guiné 61/74 - P23245: Agenda cultural (811): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, 11 de junho de 2022, sábado, 11h00: Luís Graça apresenta o livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul"

Guiné 61/74 - P23310: Notas de leitura (1450): “Viagens”, de Luís de Cadamosto, introdução e notas de Augusto Reis Machado, na Biblioteca das Grandes Viagens, Portugália Editora, sem data (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Dispomos felizmente de uma riquíssima literatura de viagens em torno da chegada à Senegâmbia onde relevam nomes como Lemos Coelho, Duarte Pacheco Pereira, André Alvares d'Almada, André Donelha, Valentim Fernandes, entre outros, a que se podem adicionar leituras adicionais como a "Crónica da Guiné" de Zurara. Cadamosto não esconde ao que vem, quer fazer fortuna, procura ouro e comércio lucrativo. Põe-se ao serviço do Infante D. Henrique e aceita o mote de ir mais avante. Mas a sua narrativa é colorida, vivacíssima, revela um homem experiente e não só nas coisas do marear e comerciar. Sabe ver e comentar, é extremamente feliz nos retratos que nos deixa dos homens pardos e dos homens negros. Os historiadores apontam-lhe lacunas e incorreções, o que parece ser verdade, mas não desmerece do perfil das gentes, da sua economia, práticas religiosas. Sabe que está numa das fronteiras do império do Mali e que aqueles soberanos africanos são profundamente déspotas, tratam-se como semideuses. Todos temos a ganhar em conhecer as navegações deste veneziano que depois da morte do Infante ainda se coroou de êxitos entre Veneza, a Dalmácia e Alexandria.

Um abraço do
Mário


Viagens de Luís de Cadamosto e Pedro de Sintra:
Relatos incontornáveis e de alto nível da literatura de viagens (2)


Beja Santos

De Cadamosto e Pedro de Sintra já aqui se fez larga referência ao trabalho do professor Damião Peres na Academia das Ciências, em 1948. Procura-se agora cotejar alguns aspetos essenciais de uma obra de divulgação que estranhamente não se reeditou, intitulada “Viagens”, de Luís de Cadamosto, introdução e notas de Augusto Reis Machado, na Biblioteca das Grandes Viagens, Portugália Editora, sem data. Esta obra de divulgação foi extraída da Coleção de Notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas que vivem nos Domínios Portugueses, tomo organizado pelo académico Sebastião Francisco de Mendo Trigoso (1773-1821). Figura nas anteriores edições com o título de “Navegações”.

Estamos ainda na primeira viagem, passou-se o Cabo Branco, foram referenciados os Azenegues e chegou-se ao Senegal, cujas caraterísticas de produção Cadamosto comenta do seguinte modo: “Neste reino do Senegal, e dele para diante, em terra nenhuma da negraria, nasce trigo, nem centeio, nem cevada, nem aveia, nem uvas, e isto porque o país é tão quente que não tem chuvas nove meses do ano; e por causa deste grande calor não se pode dar o trigo, tendo experimentado semeá-lo daquele que nós os cristãos lhe temos levado, porque o trigo quer terra temperada e muitas vezes chuva; e assim o seu pão é feito de milho de diversas castas, têm favas e feijões que nascem e se criam os mais belos e grandes do mundo; o feijão é grosso como uma avelã grande das nossas cultivadas. A fava é larga, chata e vermelha, de uma cor viva. Lavram as terras, semeiam e colhem no tempo de três meses. São péssimos lavradores e homens que se não querem cansar a semear, senão quando lhes basta para comer todo o ano escassamente”.

É largo nos elogios aos prodígios da natureza: “Têm frutos de diversas qualidades semelhantes aos nossos, e ainda que não sejam cultivados como aqueles, são bons; e eles os comem sendo de floresta, isto é: silvestres e não fechados em pomares; penso, porém que se os tratassem como nós fazemos e cultivassem, criariam frutos bons e perfeitos, porque a qualidade do ar e do terreno é boa, sendo todo o país de campina capaz para produzir. Há bons pastos com infinitas árvores grandes e belíssimas, mas por nós não conhecidas, e também muitos lagos de água doce, não muito grandes mas profundíssimos”. Cadamosto é um observador atentíssimo, sente-se atraído pela fauna e deixa-nos um relato admirável sobre os elefantes, mas não esquece as aves, veio para fazer negócio e tece comentários sobre o funcionamento dos mercados, nunca deixando de referir que o ouro é pouco, que tudo se permuta, dinheiro é coisa que não existe.

Um dos pontos altos desta literatura de viagens é vê-lo a descrever os seres humanos:
“As mulheres deste país são muito jucundas e alegres, cantam e bailam de bom grado, principalmente as moças, mas não bailam senão à noite à claridade da lua. De muitas das nossas coisas se maravilham estes negros, principalmente do modo de ferir das nossas bestas e ainda mais das bombardas, porque alguns negros vieram ao navio e fazendo-lhes eu disparar uma bombarda podia matar mais de cem homens de uma vez, com o que se maravilharam dizendo que era coisa do diabo. Também se maravilhavam do som de uma dessas gaitas de foles que eu fiz tocar ao marinheiro meu, e vendo-a vestida de cores e com franjas à roda pensavam que era algum animal vivo que assim cantava com diversas vozes (…). Também se admiravam de ver arder de noite uma vela sobre um castiçal, pois naquele país não sabem fazer outra luz senão a do fogo ordinário e vendo uma vela acesa lhes pareceu uma invenção bela, e porque aqui se acha mel, e por conseguinte cera, logo que têm o dito mel o chupam com a boca e deitam a cera fora. Pelo que tendo eu comprado a um deles uns poucos favos lhes ensinei como se extraía o mel da cera; e depois lhes perguntei se sabiam que coisa era aquela que restava do favo, ao que me responderam que era coisa que não valia nada. Então na sua presença lhes fiz algumas velas e lhas acendi, vendo o que ficaram muito admirados, dizendo que todo o saber das coisas estava em nós, os cristãos. Neste país não se usam instrumentos músicos senão de duas qualidades, uns são atabales mouriscos, os outros uma espécie de violetas, daquelas que nós tocamos com arco, mas não têm senão duas cordas e tocam-na com um dedo de um modo simples grosseiro e que nada vale”.

Cadamosto relata o seu encontro com António de Nola, genovês, pois despediu-se do Sr. Budomel, passou cabo Verde, queria descobrir países novos e provar a sua ventura, dirigiu-se ao reino da Gâmbia, constava-lhe que havia ali grande quantidade de ouro. É em pleno mar que se encontra com António de Nola e com outra embarcação com alguns escudeiros do infante D. Henrique. E dá-nos um pequeno relato deste cabo Verde:
“Chamava-se assim porque os primeiros que o descobriram, que foram portugueses, em 1445, o acharam todo verde pelas grandes árvores que ali se conservam viçosas; por todo o ano, e por esta causa, lhe foi posto o sobredito nome assim como o de cabo Branco àquele de que antes falámos, que foi achado todo arenoso e branco. Este cabo é muito belo e tem sobre a ponta duas lombadas, isto é, dois montículos, e mete-se bastante pelo mar dentro; sobre ele e à roda estão muitas habitações de negros e casas de palha todas juntas à marinha e à vista dos que passam; e estes negros são ainda do sobredito reino do Senegal”.

E não menos interessante é o que ele nos vai descrever sobre os negros Barbacinos e Serreres, negros mas não sujeitos ao rei do Senegal. Aqui a hierarquia social é outra, não querem ter rei e especula: “talvez para que não lhes sejam tiradas as mulheres e filhos e vendidos por escravos, como fazem os reis e senhores dos outros países negros”. E dá-nos um retrato detalhado: “São grandes idólatras, não têm religião alguma e são homens cruelíssimos. Usam de arco com frechas, mais do que nenhuma outra arma, e atiram com elas envenenadas de modo que, tocando a carne, logo que fazem sangue, morre o ferido imediatamente. São negríssimos e bem encorpados; o seu país é muito cheio de bosques e abundante de lagos e de água; por isso se têm por muito seguros porque nele se não pode entrar senão por paços estreitos, e assim não temem nenhum senhor circunvizinho”. E partem para a Gâmbia, veremos a seguir o que ele nos narra até regressar a Lisboa, teremos depois a segunda viagem.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23299: Notas de leitura (1449): “Viagens”, de Luís de Cadamosto, introdução e notas de Augusto Reis Machado, na Biblioteca das Grandes Viagens, Portugália Editora, sem data (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23309: Parabéns a você (2070): Fernando Andrade Sousa, ex-1.º Cabo Aux. Enf. da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3398/BCAÇ 3852 e CCAÇ 6 (Buba e Bedanda, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23302: Parabéns a você (2069): António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (Bula e Binar, 1973/74)

domingo, 29 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23308: Convívios (931): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - III (e última) Parte: no total, 69 participantes, dos quais um terço eram "piras"

 

Foto nº 24 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Nas pontas o Celestino Ferreira, à nossa esquerda; e António M. Silva, à nossa direita. Carlos Fortunato ao centro, o presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga.


Foto nº 25 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Ten. Cor. António Andrade (aniversariante no passado dia 28) e Daniel Gonçalves


Foto nº 26 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Todos já ident. Ant. Varanda, e os amigos do Fitas


Foto nº 27 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Não sei o nome, Manuel Saraiva Costa e Celestino Ferreira (já identificados)

Foto nº 28 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  José Mota Pereira, Duque Marques e Celestino Ferreira (este dois  já identificados)



Foto nº 29 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 
>Ten Cor José Robalo Borrego (velhinho nestas andanças), à direita ainda tenho dúvidas.


Foto nº 30 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >
Joaquim Anjos Lourenço e João Rebelo



Foto nº 31 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Da esquerda para a direita, João Botelha ("pira"), Mário Fitas e Manuel Amaro.


Foto nº 32 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >José de Sousa, António Anjos (irmão do Joaquim Anjos) e Cor Armando Marques Ramos


Foto nº 33 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >– Alpoim Almeida Ribeiro, Carvalho Guerra (já identificado), José Manuel Lúcio Inácio (já identificado)



Foto nº 34 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > António Ramalho e Joaquim da Cruz Coelho ("pira").


Foto nº 35 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Da direita para a esquerda, Diniz de Sousa e Faro (merece o prémio de assiduidade), José Estrela Soares, António Belo e António Duque Marques.


Foto nº 36 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  Da esquerda para a direita, Diniz e Faro, Domingos Robalo e,d e casmira amarela, o António Casquilho Alves (o tal não reconhecido da foto de capa do álbum que mandei).



Foto nº 37 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Augusto Silva Santos e Fernando A. Serrano


Foto nº 38 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Joaquim Anjos e António Anjos (já identificado)



Foto nº 39 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > António Varanda (já identificado)


Foto nº 40 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > O Braima Baldé e o  Hugo Moura Ferreira.


Foto nº 41 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >
António Casquilho Alves (já identificado).


Foto nº 42 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >
Este camarada ainda não reconheci. Mais uns telelonemas e talvez consiga.



Foto nº 43 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  Ten cor d FAP, 
António Mota, do Barreiro, que é a primeira vez que vem, falei muito com ele antes, adorou e é o Presidente da AOFA - Associação de Oficiais das Forças Armadas.

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Terceira (e última) parte da publicação de um seleção de fotos da reportagem feita pelo Manuel Resende (*).

Segundo informação colhida junto do fotógrafo (e régulo) da Tabanca da Linha, participaram neste 48º convívio (que não se realizava há dois anos por causa da pandemia de Covid-19) sessenta e nove (69) camaradas e amigos, dos quais 22 eram "piras (19 camaradas e 3 companheiras). O que é um valor muito bom tendo em conta a nova vaga de Covid, a sexta, que na última semana afastou muitos inscritos,

Obviamente, faltam aqui as caras de muitos "históricso" da Tabanca da Linha... Por uma razão ou outra, desta vez falharam. (**)

Em mail posterior, mandou-me o Manuel Resende dizer o seguinte: "
Amigo Luis, devias acrescentar uma foto especial que mando em anexo. É do Ten Cor Força Aérea, creio que não esteve na Guiné, pediu para aderir ao nosso grupo e cá está (excepções há sempre) António Mota, do Barreiro, que é a primeira vez que vem, falei muito com ele antes, adorou e é o Presidente da AOFA - Associação de Oficiais das Forças Armadas."

___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série de: 


26 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23296: Convívios (928): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - Parte I: os "bandalhos" que se estão a tornar clientes...

Guiné 61/74 - P23307: Blogpoesia (767): Eu não sou poeta, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

1. Em mensagem do dia 23 de Maio de 2022, o nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho em verso, agora dizendo que não é Poeta. Mas nós sabemos que é, genuíno, à sua maneira, e nós gostamos de o ler. 


Eu não sou Poeta

Por Albino Silva

Camaradas aqui da Tabanca
que vão lendo o que tenho feito
para todos os Tertulianos
que muito admiro e respeito.

Por tudo que vou escrevendo
eu só vos quero dizer
que vou escrevendo em versos
pois só isto me dá prazer.

Eu sei que vou fazendo
muita escrita como esta
mas a todos quero dizer
que não sou nenhum poeta.

Até mal sei escrever
Vocês isto tem notado
ao lerem estes meus versos
em erros que tenho dado.

Não eu não sou poeta
mas minha escrita é assim
em versos para os camaradas
e sempre feitos por mim.

Só tenho a Quarta Classe
mas adoro aqui contar
tenha erros ou não tenha
eu nunca irei parar.

Já bem todos repararam
que de tudo vou escrevendo
pois são apenas verdades
o que aqui vou dizendo.

Por aqui nesta Tabanca
sem ser poeta vou escrevendo
lá vou lembrando a Guiné
e os Camaradas vão lendo.

Aprecio os comentários
mas insisto em dizer
que eu nunca fui poeta
só por isto eu escrever.

História do Bat Caç 2845
um Livro que é muito bom
inclui meus Camaradas
que eram do meu Batalhão.

Todos lá tem seu nome
Oficiais Sargentos e Praças
e de muitos guineenses
e de todas aquelas raças.

Mas eu não sou um poeta
escreva eu o que escrever
envio para a Tabanca
sempre com muito prazer.

Sou só o Albino Silva
que lá pela Guiné andei
fui armado para a Paz
e jamais um tiro eu dei.

Fui apenas bom Soldado
e por lá muito escrevia
eram aerogramas e cartas
que a Madrinha recebia.

Minhas Madrinhas de Guerra
chamavam-me de bom menino
até mesmo muitas Senhoras
do Movimento Nacional Feminino.

Era eu assim Soldado
naquele tempo então
longe de minha família
mas defendendo a Nação.

Camaradas da Tabanca
antes de vos deixar
Parabéns ao Luís Graça
pela Tabanca fundar.

Parabéns aos que se esforçam
e que nela participam
aos que lêem minha escrita
minha amizade conquistam.

Voltando ao tema da escrita
e antes de terminar
aceitarei vossas críticas
sem nunca as contestar.

Então como não sou poeta
a todos vos desejo paz
Camaradas Tertulianos
Abraços cá do rapaz.

Fui Soldado fui Maqueiro
só ppoeta isso é que não
em rajadas dou abraços
do fundo do coração.

Vou disparar a G3
Rajadas vou enviando
Abraços para a Tabanca
assim eu vou disparando.

Um obrigado ao Vinhal
só por tanto me aturar
por tudo que vou enviando
e o Carlos a publicar.

Albino Silva sou eu
Camarada e amigo
mesmo que não te conheça
estarei sempre contigo.

Voltarei a escrever
pois é isso minha meta
em versos na minha escrita
mas sem nunca ser poeta.


FIM
Albino Silva, 01100467

____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23300: Blogpoesia (766): O Canchungo e Avenida, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

sábado, 28 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23306: (In)citações (207): Tal como a Fénix Renascida, a Tabanca da Lapónia afinal não morreu: continua lá no seu sítio, "de neve e gelo" e com "pão e vinho sobre a mesa" para os amigos, e os cães (e as renas) atrelados ao trenó (José Belo, régulo vitalício)



1. Mensagem de Joseph Belo

José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, (i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida; (ii) foi  nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida (*); (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem cerca de 220 referências no nosso blogue.

Data - sexta, 27/05/2022, 18:23 
Assunto - Subjetividades

Caro Luís

Espero que os problemas de saúde estejam todos sob controle.

Tive a oportunidade de efectuar mais uma leitura atenta aos textos de Francisco Baptista publicados no blogue. Leitura que “obrigou” a escrever algumas linhas sobre as descrições e valores tradicionais que d’elas,com tanta genuinidade , emanam.

Vou enviar-te uma carta aberta ao Escritor que aprendi a admirar. 
Um abraço do J. Belo (**)


PS - Tive a oportunidade de, literalmente no minuto antes das zero,  anular a venda da casa da Lapónia. Mais uma vez (!) tive que me render ao facto de as vivências, recordações e exotismos serem demasiado importantes para um tal encerrar de capítulo.

Daí, continuar a Tabanca da Lapónia,  não “de pedra e cal” mas de neve e gelo Árctico como anteriormente. Os passeios em trenó de cães, ou de renas, continuam à disposição dos Amigos que por lá apareçam, assim como o “pão e vinho sobre a mesa “.

Os mais friorentos encontrarão “daiquiris sobre a mesa” em Key West/Florida.
Bem Vindos!
__________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


(**) Último poste da série > 18 de maio de2022 > Guiné 61/74 - P23275: (In)citações (206): Maria Ivone Reis (1940-2022), a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci, em 1967, no Porto (Rosa Serra)

Guiné 61/74 - P23305: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (93): Projecto “Querido Pai”, que tem como objectivo investigar e dar a conhecer o modo como os militares mobilizados em África mantiveram uma relação com os filhos que ficaram na Metrópole (Joana Ponte e Ana Vargas)

“Querido Pai”

Um projecto para investigar e dar a conhecer o modo como os militares mobilizados em África mantiveram uma relação com os filhos que ficaram na Metrópole

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1. Mensagem de Ana Vargas enviada ao nosso Blogue em 5 de Maio de 2022:

Boa tarde
Sou filha, neta e sobrinha de militares. Perdi o meu tio mais novo na Guiné, para onde pouco tempo depois partiu o meu pai, para o que seria já a sua terceira comissão.
Os meus irmãos e eu recebemos postais e aerogramas desse período, dado que, pela primeira vez, não o acompanhámos. Receando que uma parte importante da nossa memória desaparecesse com o decurso do tempo, fui sensibilizando amigos e familiares para que fossem preservando os aerogramas e outros testemunhos da guerra colonial.

Em conjunto com a Investigadora Joana Pontes, autora do livro Sinais de Vida, estou neste momento envolvida num projeto de recolha de depoimentos e documentos que testemunhem a relação pais/filhos vivida à distância, quando os pais partiam para a guerra. Leio com frequência este blogue e nele encontrei já referências a esta correspondência, contada por uma neta.
Gostava de saber se seria possível facultarem o contacto de Albano Mendes de Matos para o podermos recolher o depoimento dele, bem como da filha e, ainda, saber da possibilidade de divulgarmos este projeto no vosso blogue.

Antecipadamente grata
Ana Margarida Serpa Soares Menino Vargas

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2. Depois de algumas trocas de mensagens com a Dra. Ana Margarida Serpa Soares Menino Vargas, aqui fica a publicação do texto com a apresentação do seu projecto a levar a cabo com a investigadora Joana Pontes:

Somos Joana Pontes (joanatomaspontes@gmail.com) e Ana Vargas (amssmvargas@gmail.com), autoras de um projecto que nomeámos “Querido Pai” que tem como objectivo investigar e dar a conhecer o modo como os militares mobilizados em África mantiveram uma relação com os filhos que ficaram na Metrópole. Para o efeito, pretendemos recolher depoimentos, aerogramas, desenhos, fotografias ou pequenos vídeos (filmes) que testemunhem essa relação.

O propósito final será a realização de um documentário, a publicação de um livro e a salvaguarda das memórias que nos têm sido confiadas pelos militares e famílias que, muito generosamente, têm falado connosco.
O projeto foi apresentado ao ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual, no âmbito do programa de apoio ao audiovisual e multimédia. Entre mais de 90 candidaturas apenas 7 foram elegíveis, incluindo esta.

Joana Pontes - investigadora e realizadora, autora de Sinais de Vida, correspondência da guerra, 1961-1974, Edição Tinta da China (tese de doutoramento)
e
Ana Vargas - jurista, filha, sobrinha e neta de militares do Quadro Permanente.

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22773: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (92): O nosso camarada Serra Vaz quer fazer um estudo de toda a simbologia das Unidades Militares mobilizadas para as Campanhas de África (Mário Beja Santos / Serra Vaz)

Guiné 61/74 - P23304: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (52): Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 1 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Março de 2022:

Queridos amigos,
Desta feita incursão é aos jardins do Palácio Nacional de Queluz, os restauros e as intervenções neste espaço merecem calorosas salvas de palma, sustiveram-se escandalosas ruínas nos azulejos, era uma degradação deplorável, atentatória de um espaço inserido num monumento nacional, os jardins reavivam-se, tal como as estufas, mas ainda há muito para fazer. Aproveita-se a oportunidade para uma referência de apresentação daquele que é o mais importante exemplar de arquitetura palaciana portuguesa associado à vida cortesã, que marcou a segunda metade do século XVIII. Só se vai bisbilhotar a Sala do Trono e Sala da Música, a visita ao palácio fica para mais tarde, é uma magnificência que merece ser vista com bastante cuidado, basta pensar na Sala dos Embaixadores, na Sala das Merendas, no Quarto D.Quixote, nos aposentos régios, inclusive no Pavilhão D. Maria. Por ora, confina-se a viagem aos jardins superiores, as surpresas sucedem-se em catadupa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (52):
Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 1

Mário Beja Santos

Para chegar aos belos jardins de Queluz, há que entrar em espaço palatino, um bilhete de apresentação não vem a despropósito. Palácio e jardins estão situados a 12 km de Lisboa e a 15 do centro histórico de Sintra, o edifício é um exemplo notável da arquitetura portuguesa de Setecentos, aqui viveu a Corte, sobretudo no período estival, nenhum visitante ficará insensível às salas de aparato do que foi uma residência real. Aqui se pode ficar com uma bela perspetiva sobre a coleção de artes decorativas portuguesas e europeias. E saindo do edifício é nos jardins que encontramos um cenário entre o fantasioso e o sofisticado, aqui se realizaram festas e passatempos com um enquadramento fora de série, marcado pela Fachada de Cerimónias, a Cascata Grande, o Pavilhão Robillion e o Canal de Azulejos. Como escreve Isabel Cordeiro num livro de divulgação sobre este palácio, da autoria de Margarida de Magalhães Ramalho, “Passeando nos jardins de aparato, ou por entre as alamedas de buxo e bosquetes, encontramos temas galantes e da mitologia clássica que a estatuária italiana e as esculturas de John Cheere retratam; o Canal de Azulejos remete-nos para um passeio por paisagens campestres e portos de mar; os lagos e fontes surpreendem-nos com a delicada harmonia dos jogos de água”. Entra-se, pois, no palácio, percorremos algumas divisões de acolhimento onde não faltam frescos magníficos e chega-se à Sala do Trono, merece contemplação demorada.


De todas as salas do palácio, é a de maior aparato, mesmo desprovida de mobiliário. Foi concebida para o casamento de D. Pedro com a futura rainha D. Maria I, é um amplo salão que abre diretamente sobre os jardins, tudo desenhos de Jean-Baptiste Robillion, espelha a imponente sala o gosto regência-rococó, que se desenvolveu em França nos reinados de Luís XIV e Luís XV. Deve-se esta magnificência aos aspetos decorativos, ali prepondera a talha dourada. Há logo a perceção de que a decoração é leve, desenvolvendo-se delicadamente ao longo das paredes, portas e pilastras. Nos quatro cantos, elegantes Atlantes dourados como que suportam o teto. O teto é de fundo branco com pinturas e harmoniosos desenhos em dourado.
Aqui já se espreita a Sala de Música, uma das que se manteve praticamente inalterada até hoje. A dinastia dos Bragança teve melómanos exigentes, e até músicos e compositores, caso de D. João IV e D. Luís. A sala é decorada a talha dourada com motivos alusivos à função, é também conhecida por Sala das Serenatas, já que aqui se realizavam, quando a Corte estava presente, concertos e serões musicais.
Estamos agora nos jardins superiores, e vale a pena tecer alguns comentários. A Quinta Real de Queluz tinha três tipos de espaços verdes: a zona agrícola, o parque e os jardins superiores. É o que estamos a ver logo na primeira imagem. Foram desenhados por Jean-Baptiste Robillion e funcionaram como prolongamento dos salões do palácio. Foram palco de inúmeras festas, de danças, teatros, concertos, jogos e espetáculos de pirotécnica. São dois os jardins superiores, o de Malta e o Pênsil. Também conhecido por jardim Neptuno, este último desenvolve-se a partir da Fachada de Cerimónias.
Os jardins do Palácio Nacional de Queluz possuem o maior acervo de estátuas de John Cheere (1709-1787) fora de Inglaterra. Entre 1755 e 1756 o futuro rei D. Pedro III encomendou ao escultor inglês estatuária de chumbo para decorar os jardins do seu palácio. Muito utilizado em Inglaterra para decorações de exterior, quer de fachadas quer de jardins, este tipo de estátuas tinha larga vantagem sobre as de bronze e/ou de pedra. Eram de fácil reprodução, tinham acabamentos excelentes e eram muito mais baratas. A escolha do futuro monarca irá refletir o gosto da época: um melting pot onde se podiam encontrar figuras da mitologia clássica, animais exóticos, figuras da Commedia dell’Arte e personagens do quotidiano real. As figuras mitológicas eram pintadas a branco imitando ou mármore ou o dourado. Em 2003, por iniciativa do World Monuments Fund, uma organização internacional vocacionada para a preservação do património a nível mundial, concretizou-se o restauro das esculturas de John Cheere.
Lago de Neptuno, no Jardim Pênsil

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23281: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (51): A região de Sintra numa exposição de Alfredo Keil (Mário Beja Santos)