sábado, 28 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23304: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (52): Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 1 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Março de 2022:

Queridos amigos,
Desta feita incursão é aos jardins do Palácio Nacional de Queluz, os restauros e as intervenções neste espaço merecem calorosas salvas de palma, sustiveram-se escandalosas ruínas nos azulejos, era uma degradação deplorável, atentatória de um espaço inserido num monumento nacional, os jardins reavivam-se, tal como as estufas, mas ainda há muito para fazer. Aproveita-se a oportunidade para uma referência de apresentação daquele que é o mais importante exemplar de arquitetura palaciana portuguesa associado à vida cortesã, que marcou a segunda metade do século XVIII. Só se vai bisbilhotar a Sala do Trono e Sala da Música, a visita ao palácio fica para mais tarde, é uma magnificência que merece ser vista com bastante cuidado, basta pensar na Sala dos Embaixadores, na Sala das Merendas, no Quarto D.Quixote, nos aposentos régios, inclusive no Pavilhão D. Maria. Por ora, confina-se a viagem aos jardins superiores, as surpresas sucedem-se em catadupa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (52):
Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 1

Mário Beja Santos

Para chegar aos belos jardins de Queluz, há que entrar em espaço palatino, um bilhete de apresentação não vem a despropósito. Palácio e jardins estão situados a 12 km de Lisboa e a 15 do centro histórico de Sintra, o edifício é um exemplo notável da arquitetura portuguesa de Setecentos, aqui viveu a Corte, sobretudo no período estival, nenhum visitante ficará insensível às salas de aparato do que foi uma residência real. Aqui se pode ficar com uma bela perspetiva sobre a coleção de artes decorativas portuguesas e europeias. E saindo do edifício é nos jardins que encontramos um cenário entre o fantasioso e o sofisticado, aqui se realizaram festas e passatempos com um enquadramento fora de série, marcado pela Fachada de Cerimónias, a Cascata Grande, o Pavilhão Robillion e o Canal de Azulejos. Como escreve Isabel Cordeiro num livro de divulgação sobre este palácio, da autoria de Margarida de Magalhães Ramalho, “Passeando nos jardins de aparato, ou por entre as alamedas de buxo e bosquetes, encontramos temas galantes e da mitologia clássica que a estatuária italiana e as esculturas de John Cheere retratam; o Canal de Azulejos remete-nos para um passeio por paisagens campestres e portos de mar; os lagos e fontes surpreendem-nos com a delicada harmonia dos jogos de água”. Entra-se, pois, no palácio, percorremos algumas divisões de acolhimento onde não faltam frescos magníficos e chega-se à Sala do Trono, merece contemplação demorada.


De todas as salas do palácio, é a de maior aparato, mesmo desprovida de mobiliário. Foi concebida para o casamento de D. Pedro com a futura rainha D. Maria I, é um amplo salão que abre diretamente sobre os jardins, tudo desenhos de Jean-Baptiste Robillion, espelha a imponente sala o gosto regência-rococó, que se desenvolveu em França nos reinados de Luís XIV e Luís XV. Deve-se esta magnificência aos aspetos decorativos, ali prepondera a talha dourada. Há logo a perceção de que a decoração é leve, desenvolvendo-se delicadamente ao longo das paredes, portas e pilastras. Nos quatro cantos, elegantes Atlantes dourados como que suportam o teto. O teto é de fundo branco com pinturas e harmoniosos desenhos em dourado.
Aqui já se espreita a Sala de Música, uma das que se manteve praticamente inalterada até hoje. A dinastia dos Bragança teve melómanos exigentes, e até músicos e compositores, caso de D. João IV e D. Luís. A sala é decorada a talha dourada com motivos alusivos à função, é também conhecida por Sala das Serenatas, já que aqui se realizavam, quando a Corte estava presente, concertos e serões musicais.
Estamos agora nos jardins superiores, e vale a pena tecer alguns comentários. A Quinta Real de Queluz tinha três tipos de espaços verdes: a zona agrícola, o parque e os jardins superiores. É o que estamos a ver logo na primeira imagem. Foram desenhados por Jean-Baptiste Robillion e funcionaram como prolongamento dos salões do palácio. Foram palco de inúmeras festas, de danças, teatros, concertos, jogos e espetáculos de pirotécnica. São dois os jardins superiores, o de Malta e o Pênsil. Também conhecido por jardim Neptuno, este último desenvolve-se a partir da Fachada de Cerimónias.
Os jardins do Palácio Nacional de Queluz possuem o maior acervo de estátuas de John Cheere (1709-1787) fora de Inglaterra. Entre 1755 e 1756 o futuro rei D. Pedro III encomendou ao escultor inglês estatuária de chumbo para decorar os jardins do seu palácio. Muito utilizado em Inglaterra para decorações de exterior, quer de fachadas quer de jardins, este tipo de estátuas tinha larga vantagem sobre as de bronze e/ou de pedra. Eram de fácil reprodução, tinham acabamentos excelentes e eram muito mais baratas. A escolha do futuro monarca irá refletir o gosto da época: um melting pot onde se podiam encontrar figuras da mitologia clássica, animais exóticos, figuras da Commedia dell’Arte e personagens do quotidiano real. As figuras mitológicas eram pintadas a branco imitando ou mármore ou o dourado. Em 2003, por iniciativa do World Monuments Fund, uma organização internacional vocacionada para a preservação do património a nível mundial, concretizou-se o restauro das esculturas de John Cheere.
Lago de Neptuno, no Jardim Pênsil

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23281: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (51): A região de Sintra numa exposição de Alfredo Keil (Mário Beja Santos)

5 comentários:

Valdemar Silva disse...

O Palácio Nacional de Queluz visto de fora tem uma fachada simplória e feiota, em relação a todo o seu magnifico espaço interior.
Em estilo rococó chamavam-lhe o pequeno Versailles, evidentemente um muito pequeno Versailles.
Dizem, pelo facto de ser um pequeno Palácio, Portugal não foi divido em três partes por altura (1801-1807) das invasões francesas.
A ideia de Napoleão era dividir Portugal: Reino da Lusitânia (entre Douro e Minho) para uma rainha italiana da Etrúria; Principado dos Algarves (Alentejo e Algarve) para um ministro de Carlos IV de Espanha; a terceira parte, a maior parte, desde Trás-os-Montes e do Douro até ao Tejo ainda sem estar definido no Tratado de Fontainebleau.
O problema foi o Palácio de Queluz ser um palácio "pobrezinho" para receber o imperador Napoleão e este não ter vindo a Portugal, e, por isso, não se verificar a divisão do nosso país.
(deveria ter sido interessante as pessoas do norte com o seu sotaque incluir conversas em italiano 'b(v)affanculo moço'.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Queluz é a Versailles portuguesa, Braga é a Roma portuguesa, Aveiro é a Veneza portuguesa, Coimbra é a Lusa Atenas e até a aldeia de Sistelo, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, é o Tibete português...

Eu atrevo-me a contestar a ideia de que o Palácio de Queluz pretendesse ser uma cópia do de Versailles, mas que falhou nesse propósito por causa da pobreza do país, comparativamente com a de França. Que o povo português era pobre, não há dúvida nenhuma, mas a Coroa Portuguesa era riquíssima, graças ao ouro do Brasil e não só!!! Se houvesse o propósito de competir com Versailles ou com Schönbrunn, em Viena, a Coroa tinha meios de sobra para o fazer!

Pois foi em Schönbrunn que Napoleão se instalou, não tanto por causa da sua monumentalidade, mas sobretudo porque estava no centro da Europa, continente que ele pretendia dominar na totalidade, desde Portugal até à Rússia. Se tivesse vindo para Queluz, teria tido muito maiores dificuldades em cumprir este propósito.

Quanto ao marechal Junot, ele deixou obra no Palácio de Queluz, mas não ficou lá. Instalou-se no palácio do conde de Ega, à Junqueira, em Lisboa, onde agora está o Arquivo Histórico Ultramarino. Junot tomou-se de amores pela condessa de Ega e, quando foi expulso de Lisboa, teve que fugir. Fugiu Junot, fugiu a condessa e fugiu o conde com a cabeça ornamentada por um lindo par de palitos, pois não teve outro remédio senão acompanhar quem lhos pôs.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Nasci e vivi perto deste palácio. Quando era miúdo ia à missa à sua capela.
O Palácio é o que é e tem história. Merece ser estudado e mais nada.
Para mim, que tive um avô que lá foi jardineiro e hortelão tem significado especial. Imaginem que o Rei D. Manuel passeava - segundo me disseram que eu não vi - naquela alameda comprida que vem sair ao portão junto do IC 19 e conversava com o meu avô... Ganda pinta!
Estudei o Palacete Almeida Araújo que fica do outro lado da praça e que contem alguns elementos decorativos replicados do Palácio.

Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Nos jardins do Palacete Almeida Araújo, deveria ter sido em 1964/65, e junto a uma piscina, almocei mais um colega com um conde (?) Almeida Araújo, que era vendedor de automóveis também nosso colega.
Na época era hábito "pagar" um favor com um 'depois vamos almoçar', e assim aconteceu termos sido convidados para almoçar. Eu e o meu colega estávamos ligados ao sector de vendas da empresa, ele no tratamento de relatórios e eu no processamento dos contratos de venda. O favor era para apressar as démarches da conclusão da venda para o vendedor receber a comissão.
Julgo que aqueles jardins passaram, depois, para um organismo ligado do Ministério da Agricultura.
E lá marchou um belo bacalhau cozido com todos e tintol do bom.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada

Estive no Quartel em 1970. Nessa altura a JAE detinha uma grande parte de propriedade militar e usava-a para serviços seus, nomeadamente para viveiro de plantas que, depois era transplantadas para a beira das estradas. Havia funcionários que ali viviam.
O Bairro Chinelo ainda hoje tem muita graça com as suas casinhas antigas. A mais bela é a Vila Maria. Visitei-a e posso dizer que é um espectáculo.
O Palacete foi construído à ordem do filho do Marquês de Pombal, que foi para o Brasil com o Rei e lá morreu depois, talvez por compra passou à posse do comerciante Almeida Araújo. depois Conde que o vendeu pouco depois à Casa Palmela.
Em 1994(?) a JAE desistiu da quinta e como era apenas foreira passou imediatamente à posse do Exército, aliás o contrato de cedência previa a saída da Junta num curtíssimo prazo se o Exército "necessitasse".

Um Ab.
António J. P. Costa