Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Depois da caçada há que preparar o bicho, tal qual uma matança de porco numa das nossas aldeias".
Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "É hora de levantar cada um a sua parte e comer em família, cada um em sua tabanca [morança]".
Fotos e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados
1. Mais um poema do dia (e duas fotos) do nosso José Manuel (ou José Manuel Lopes), ex-Fur Mil Op Esp, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74 (1), que espero vir a conhecer pessoalmente no nosso III Encontro Nacional, no próximo sábado, dia 17...
Não consigo dormir
recordo
os companheiros de escola
que a guerra separou
o Tá está em Angola
o Miguel em Moçambique
o Guto esse não sei
nem do Pinto ou do Miranda
nem sequer do Manuel
relembro
as nossas venturas
tão diferentes destas aventuras
os jogos da bola
no largo da Igreja
no campo da Legião
das corridas por Medreiros
das surtidas pelas quintas
em operações
pela fruta madura
e o sono chega
nessa altura.
Mampatá 1973
Josema
________
Notas de L.G.
(1) Vd. postes anteriores:
3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...
Pior
que o inimigo
é a rotina
quando os olhos já não veem
quando o corpo já não sente (...)
9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?
Uma vida quanto vale?
na mira da minha arma
só há vultos
sem sentido
corpos sem alma
consciências amordaçadas
na outra mira
estou eu? (...)
O nascer de um bruto
Já não sei rezar
já não acredito
já não sei amar
só sei que grito (...)
13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!
Estradas amarelas
corpos cobertos de pó
pica na mão à procura delas
o polegar ferrado no pau
tac, tac, tac, tac, tac, tac (...)
Tenho saudades
do amor que não se compra
daquele que se sente
o tal
que vem de dentro (...)
19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?
A escuridão
pode não ser o fim
se após a noite
vier o dia (...)
Pensar que amar é dor
é não amaramar
é dominar
a violência
que há em nós (...)
-Sabes?
Sonhei
que as coisas boas
não acabaram (...)
Seria bom pronunciar
numa doce ilusão
um até sempre (...)
Quero sonhar
e não consigo
viver um mundo
que não tenho
nem encontro (...)
Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra (...)
Olhos semi cerrados
querendo ver
para além das árvores (...)
28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)
Calor, cansaço, suor
saudades de tudo
e de um rio... (...)
Ouve-se um violão
numa noite de luar
tocado pelo Gastão
p'ra algo comemorar
cantigas de Zeca Afonso
(...)
As brincadeiras loucas
acabam por ter sentido
se as alegrias são poucas
neste cantinho perdido (...)
Guernica!
pintura
visão, mensagem, recado?
para quem e porquê? (...)
Quantas batalhas e
pela ambição? (...)
O calor húmido nos envolve
abraça-nos a escuridão
e a noite se faz dia
c’o ribombar do trovão (...)
Neste imenso sofrer
pensar Nele ajuda
mas Ele parece não ouvir (...)
Um ruído vem do céu
e há cabeças no ar
hoje é dia de correio
há novas para chegar (...)
Quero ir
mas não sei onde
tudo me parece um delírio
sem sentido nem razão
neste mundo desumano (...)
5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?
10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...
(...)Recuso dizer uma oração
ao Deus que te abandonou
não sei se é do nó
que me aperta a garganta
ou da revolta que brota do meu peito
só sei que não consigo
desculpa... (...)
Escuta mãe
espero como nunca um conselho
mas não consigo ouvir a tua voz
aguardo um aviso
um sussurro de alguém
e só me responde o silêncio
como é duro estar só (...)
Este pó que nos seca a garganta
este calor húmido que sufoca
esta terra vermelha
que se cola ao corpo
estes estranhos odores (...)
Não quero os dias todos iguais
nem águas da mesma cor
pois a vida não é sóalegrias e beleza
e ainda muito menos
só a dor e a tristeza (...)
Como eram belas
as miúdas que conheci
as amigas as amantesas
de amores realizados (...)
´
27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)
19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra
24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973
2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata
9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...
Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "É hora de levantar cada um a sua parte e comer em família, cada um em sua tabanca [morança]".
Fotos e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados
1. Mais um poema do dia (e duas fotos) do nosso José Manuel (ou José Manuel Lopes), ex-Fur Mil Op Esp, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74 (1), que espero vir a conhecer pessoalmente no nosso III Encontro Nacional, no próximo sábado, dia 17...
Não consigo dormir
recordo
os companheiros de escola
que a guerra separou
o Tá está em Angola
o Miguel em Moçambique
o Guto esse não sei
nem do Pinto ou do Miranda
nem sequer do Manuel
relembro
as nossas venturas
tão diferentes destas aventuras
os jogos da bola
no largo da Igreja
no campo da Legião
das corridas por Medreiros
das surtidas pelas quintas
em operações
pela fruta madura
e o sono chega
nessa altura.
Mampatá 1973
Josema
________
Notas de L.G.
(1) Vd. postes anteriores:
3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...
Pior
que o inimigo
é a rotina
quando os olhos já não veem
quando o corpo já não sente (...)
9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?
Uma vida quanto vale?
na mira da minha arma
só há vultos
sem sentido
corpos sem alma
consciências amordaçadas
na outra mira
estou eu? (...)
O nascer de um bruto
Já não sei rezar
já não acredito
já não sei amar
só sei que grito (...)
13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!
Estradas amarelas
corpos cobertos de pó
pica na mão à procura delas
o polegar ferrado no pau
tac, tac, tac, tac, tac, tac (...)
Tenho saudades
do amor que não se compra
daquele que se sente
o tal
que vem de dentro (...)
19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?
A escuridão
pode não ser o fim
se após a noite
vier o dia (...)
Pensar que amar é dor
é não amaramar
é dominar
a violência
que há em nós (...)
-Sabes?
Sonhei
que as coisas boas
não acabaram (...)
Seria bom pronunciar
numa doce ilusão
um até sempre (...)
Quero sonhar
e não consigo
viver um mundo
que não tenho
nem encontro (...)
Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra (...)
Olhos semi cerrados
querendo ver
para além das árvores (...)
28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)
Calor, cansaço, suor
saudades de tudo
e de um rio... (...)
Ouve-se um violão
numa noite de luar
tocado pelo Gastão
p'ra algo comemorar
cantigas de Zeca Afonso
(...)
As brincadeiras loucas
acabam por ter sentido
se as alegrias são poucas
neste cantinho perdido (...)
Guernica!
pintura
visão, mensagem, recado?
para quem e porquê? (...)
Quantas batalhas e
pela ambição? (...)
O calor húmido nos envolve
abraça-nos a escuridão
e a noite se faz dia
c’o ribombar do trovão (...)
Neste imenso sofrer
pensar Nele ajuda
mas Ele parece não ouvir (...)
Um ruído vem do céu
e há cabeças no ar
hoje é dia de correio
há novas para chegar (...)
Quero ir
mas não sei onde
tudo me parece um delírio
sem sentido nem razão
neste mundo desumano (...)
5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?
10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...
(...)Recuso dizer uma oração
ao Deus que te abandonou
não sei se é do nó
que me aperta a garganta
ou da revolta que brota do meu peito
só sei que não consigo
desculpa... (...)
Escuta mãe
espero como nunca um conselho
mas não consigo ouvir a tua voz
aguardo um aviso
um sussurro de alguém
e só me responde o silêncio
como é duro estar só (...)
Este pó que nos seca a garganta
este calor húmido que sufoca
esta terra vermelha
que se cola ao corpo
estes estranhos odores (...)
Não quero os dias todos iguais
nem águas da mesma cor
pois a vida não é sóalegrias e beleza
e ainda muito menos
só a dor e a tristeza (...)
Como eram belas
as miúdas que conheci
as amigas as amantesas
de amores realizados (...)
´
27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)
19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra
24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973
2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata
9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...
1 comentário:
foi bom o Luís Graça ter postado poesia para de manhã abrir ler e agora reler esquecer tanta desgraça e questionar como no meio do caos se consegue fazer poema sentido no meio daquele vazio...surge o protesto a manutenção da sanidade mental em poesia brotada em dia ou noite de tristeza acumulada...e vou lendo e relendo esperando pela continuação...TM
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