sábado, 25 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13800: Bom ou mau tempo na bolanha (72): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (12) (Tony Borié)

Septuagésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Relato do décimo segundo dia de viagem

Foi dos dias mais pacatos, céu azul, bom tempo, só vendo paisagem e sem qualquer sobressalto, o clima polar, a latitude 66° 33’, tinha ficado lá no norte.

No hotel pertencente à tal rede, na cidade Wasilla, que por acaso é a cidade onde vive uma personagem bastante popular, a senhora Sarah Palin, que já foi governadora do estado do Alaska, cuja foto correu mundo. Muitas senhoras a copiaram, com uns óculos de estilo e uma cara simpática, que até o Partido Republicano a nomeou para concorrer às eleições para vice-presidente dos USA. Aqui, continuavam a gostar de nós, pois além de nos fazerem sempre um preço de amigos, serviram-nos um pequeno almoço que era quase um jantar.



Rumo ao sul, já a manhã ia um pouco alta, a cidade de Anchorage, era já ali, parámos na entrada junto da placa que dava as boas-vindas à cidade, tirámos fotos, fomos ver o “Ship Creek”, que é um rio do Alasca que brota das “Montanhas Chugach” em Cook Inlet, ali no porto de Anchorage, na foz do Ship Creek, que deu o seu nome "Knik Anchorage", à cidade de Anchorage que foi crescendo nas suas proximidades, já por lá havia alguns pescadores, todavia disseram-nos que o salmão ainda não tinha subido.


A cidade de Anchorage mostrava bem a presença russa, no centro-sul do Alasca, no século dezanove, quando em 1867 o secretário de estado William Seward intermediou um acordo para a compra do Alasca, ao endividado Império Russo por US$ 7,2 milhões, algo como dois centavos de dólar por acre. O negócio foi muito criticado por políticos e pela população em geral, como a "loucura de Seward", pois ia comprar a "caixa gelada de Seward" e "Walrussia". Todavia em 1888 foi descoberto ouro no “Turnagain Arm”, na região da enseada de “Cook”.


Em 1912, o Alasca tornou-se um território dos USA e Anchorage, ao contrário de todas as outras cidades grandes no Alasca ao sul da Faixa de Brooks, não era nem pesqueira nem um campo de mineração. A área de dezenas de quilómetros de Anchorage é estéril de minerais metálicos economicamente importantes e, não havia, naquele tempo, frota de pesca operando fora de Anchorage.

Foi estabelecida em 1914 como um porto de construção de caminhos-de-ferro para o “Alaska Railroad’, que foi construído entre 1915 e 1923, sendo na área de “Ship Creek Landing” onde se localizava o quartel principal dos caminhos-de-ferro, que rapidamente se tornou uma cidade de tendas. Depois disso, a cidade sofreu uma grande transformação com o desenvolvimento do caminho de ferro, com a chegada de bases militares e, mais tarde, com o tráfrgo no Aeroporto Internacional Ted Stevens, sendo a cidade de Anchorage, incorporada no ano de 1920.

Em 1964, ano em que chegámos à província da Guiné, com aquela farda amarela, servindo a “Muito Digna e Orgulhosa Pátria Amada”, como me dizia o professor Silvério, nos anos cinquenta, no segundo andar da escola fria do Adro, em Águeda, aquela cidade foi atingida pelo Terramoto de “Good Friday” (Semana Santa), ou “Grande Terremoto do Alasca”, com uma magnitude de 9.2, que matou 115 pessoas e provocou um prejuízo de 1.8 bilhões de dólares. O terramoto durou cerca de 5 minutos, e as construções que não cederam nos primeiros tremores, ruíram com os movimentos incessantes. Foi o segundo maior sismo da história mundial e a reconstrução dominou a cidade em meados dos anos 60.

Continuámos visitando a cidade, mas nunca parando, pois com uma caravana atrelada ao Jeep, dentro da cidade era difícil o estacionamento e, pelas informações que tínhamos, existe por aqui algum crime, talvez não seja verdadeiramente crime, é a falta de ocupação dos naturais, por tal motivo não era muito recomendável estacionar, pelo menos nas áreas circundantes da cidade, pois podia-se ver grupos de pessoas, em especial na área da foz do “Ship Creek”, sem qualquer ocupação, dando a entender que viviam por ali, talvez na esperança de alguma oportunidade para enriquecer o seu miserável património.

Mas deixemos esses pormenores, o que os nossos companheiros devem querer saber é o que os nossos olhos viram, em outras palavras, viajar connosco e isso é o que vamos fazer.
Sempre rumo ao sul, seguindo na estrada número 1, o tempo estava bom, o céu azul, com um cenário que podia ser pintado, pois as montanhas de “Chugach” estavam de um lado e a linha do caminho de ferro, quase sobre a água da baía de “Turnagain Arm”, do outro.


Umas horas depois éramos passageiros de um barco que navegava por um pequeno lago, onde uma simpática rapariga, com feições de esquimó, nos explicava alguns pormenores do “Portage Glacier”, que é uma massa de gelo, compactada e cristalizada, que desce da montanha, caindo sobre o lago, na área de “Chugach National Forest”, entre montanhas. A neve que o compõe anda por lá há milhares de anos, tem aproximadamente 14 milhas, (23 quilómetros) de comprimento e está conectado a mais cinco “glacieres”, que se escondem também por entre montanhas.


Quando erguíamos os olhos, avistávamos neve e gelo. À nossa frente a paisagem era de floresta, com árvores verdes a circundarem a estrada que passava por muitos ribeiros e lagos. Agora era rumo ao sul, entrando na província do Kenai, onde existe uma área em que se viaja por mais de 100 milhas sem estações de serviço, mas a estrada é de alcatrão, em muito bom estado.


Continuando sempre na estrada número 1, chamada também “Sterling Highway”, podemos avistar, do outro lado do “Cook Inlet”, onde a baía já é bastante larga, algumas montanhas cobertas de neve com o cume a fumegar, sinal de que são vulcões adormecidos.


Saindo da estrada, aqui e ali, para apreciar a paisagem, passando por algumas pontes, muitas são mesmo obras de arte, vendo pequenas embarcações descarregando e limpando peixe. "Águias de colarinho branco”, aproximavam-se enquanto se limpava o peixe.


Assim, fomos seguindo até à cidade Homer onde, antes de procurar um parque de campismo, vendo um cenário de mar e montanha, logo à saída de Cook Inlet, em Kachemak Bay, existe um complexo de 7 vivendas, casas em madeira de troncos, com dois andares, simples, com todas as facilidades incluídas, a parte de trás tem um pequena área coberta, com cadeiras, onde se pode presenciar um cenário de mar e montanha mais lindo e completo, que em toda a nossa vida, que já é um pouco longa, vimos. São alugadas ao dia ou à semana e, como já eram quase onze horas da noite, embora ainda fosse dia, por curiosidade, perguntámos qual o preço do seu aluguer, a pessoa responsável, uma senhora, sorrindo, com aquele sorriso gaiato de esquimó, nos disse que ainda tinha uma vaga, dado ao adiantado da hora nos fazia um preço especial, para aquela noite, que era maior do que uma normal família, talvez com dois filhos, podia gastar para viver razoavelmente durante duas ou três semanas.

Dormimos próximo, num parque de campismo do estado, cozinhando a nossa refeição, ocupando um espaço com uma vista privilegiada, quase igual à das casas, em troncos em madeira, por apenas $10.00, que colocámos num apropriado envelope, oferecendo de ajuda, para a manutenção do parque.

Neste dia, esquecendo o miserável dia anterior, pois por aqui, já é “sul do Alaska”, percorremos apenas 297 milhas, num cenário de floresta, montanhas, glaciares, lagos, alguns ribeiros, mar, zonas piscatórias, alguns animais e aves selvagens, o céu quase sempre azul, com o preço da gasolina variando entre $4.22 e $4.37 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13754: Bom ou mau tempo na bolanha (70): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (11) (Tony Borié)

1 comentário:

José Botelho Colaço disse...

Gostei de ler mais esta tua crónica recheada de dados históricos da Florida ao Alasca.
Um abraço.