1. Em mensagem do dia 9 de Outubro de 2014, o nosso amigo guineense, Nelson Herbert(*), que vive nos EUA,
onde trabalha na VOA - Voice of America, Voz da América, enviou-nos este seu texto que intitulou de:
Aqui prós meus botões
Ainda na fase de digitalização de alguns documentos do meu espolio pessoal de todos estes anos de jornalismo, alguns bem confidenciais, outros nem tanto, e num misto de perspicácia e de curiosidade, não é que a mente fugaz impele-me para uma tentativa de desconstrução de um recalcitrado "sofisma" que por sinal tem servido de argumento uno e justificativo aos males vividos nas casernas militares bissau-guineenses?
Refiro-me pois a natureza não republicana das Forças Armadas e aos efeitos do Narcotráfico!
E explico-me!
Da análise de alguns dos OGE (Orçamento Geral do Estado) das ultimas décadas, ressalta à vista desarmada o quão substancial foi sendo, com a independência do país, o incremento da dotação orçamental, destinada às Forcas Armadas e às Forcas de Segurança, isto sem que para o efeito, tal investimento resultasse na modernização de 'pora" alguma nos dois sectores siameses! E estamos aqui a falar de um país que se limitou durante todos estes anos, a investir numa tropa que se entretinha, guerreando-se consigo próprio!
Folheio o folder" de documentos e os olhos se me arregalam perante os montantes em causa!
Compenetro-me na análise de alguns relatórios e documentos da Dinfomil, a contra-inteligência militar guineense, e deparo-me com um cortejo de casos flagrantes de corrupção, detectados, investigados, submetidos à consideração das tutelas e dos governos, denúncias que entretanto resultaram impunes.
Dos contratos de compra e venda da sucata militar, a munições obsoletas ou simplesmente condenadas à caducidade, para que delas rendessem "trocos", a carga de implicação de tais práticas na oneração das finanças públicas e no próprio desguarnecimento dos paióis militares, experiência de má memória - entenda-se pelo caso do tráfico de armas para os rebeldes independentistas do Casamance, qual rastilho para a Guerra Civil de 1998/99, a surripiada de bens e géneros alimentícios das cantinas militares, aos contratos fictícios de fornecimento aos quartéis, com a intendência militar a provar o seu primor na arte da "contabilidade criativa".
Enfim, a "sorte" das inspeções e relatórios produzidos a propósito, foi caindo invariavelmente num "balaio furado", por promíscuas conveniências de uns tantos governantes, com destaque para alguns dos ministros do sector (por sinal bem identificados) ou de chefias militares superiores e intermédias, useiros e vezeiros na arte da rapinagem.
Enfim um historial de "camuflagem" e de impunidade face ao antro de corrupção em que se transformara as instituições castrenses bissau-guineenses, com reflexos na anarquia que lhe é hoje peculiar, maleitas que entretanto para gáudio da impunidade, o Narcotráfico nas casernas e a natureza não republicana das FAA em boa hora prontificaram a perfilhar!
Nelson Herbert
USA
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13762: Viajando numa estrada em guerra (Nelson Herbert, VOA - Voice of America)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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