terça-feira, 5 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20946: Os nossos seres, saberes e lazeres (390): No Dia Mundial da Língua Portuguesa, uma prenda do nosso camarada António Graça de Abreu, a sua tradução de dois poemas da poetisa chinesa Li Qingzhao 李清照 (1081-1155)


António Graça de Abreu e a esposa Wang Haiyuan (2020): na ilha da Páscoa, posando junto a um "moai"

Um representação moderna da poetisa Li Qingzhao (1081-1155)

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu  (2020) Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem comlementar: Blogue Lu+is Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu [ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com mais de 250 referências no nosso blogue; poeta, escritor, tradutor, sinólogo; andou recentemente a fazer o MSC - World Cruise, está em casa, depois de ter chegado são e salvo das peripécias da viagem de volta ao mundo, que ficou a meio, devido à pandemia de COVID-19; achámos oportuno publicar hoje a sua tradução, mesmo que ainda provisória, dedois poemas da poetisa chinesa, Li Qingzhao 李清照 (1081-1155), no Dia Mundial da Língua Portuguesa (*)



Data: sexta, 24/04/2020 à(s) 16:14

Assunto: Duas chinesas

Em navegação, Oceano Índico, 10 de Abril  [, a bordo do MSC - Magnifica]

Para esta Volta ao Mundo trouxe comigo duas mulheres chinesas, ambas bonitas, prendadas e inteligentes. A primeira é a Wang Haiyuan, mãe dos meus filhos, esposa há trinta e três anos que, na Austrália, seguiu de Sidney para Xangai, quase há um mês. Escapou a situação extrema de estarmos confinados a viver fechados neste navio de cruzeiros, com a possibilidade de o tenebroso vírus cair no meio de nós mas, tão ou mais importante, foi acompanhar em Xangai o nosso pai Wang Renlun, com 91 anos, muito doente, com as enfermidades do peso dos anos, não com o covid 19. O pai melhorou assim que teve a filha junto de si.
A outra chinesa que me faz companhia chama-se Li Qingzhao 李清, nasceu em 1081 e faleceu em 1155.
É considerada a maior poetisa de toda a poesia chinesa, velha de quarenta séculos. Nascida em Jinan, província de Shandong, numa família de letrados, casou com o mandarim Zhao Mingcheng e partilhou com o marido o gosto pelo sublime encadeamento das palavras, a magnificência da arte poética numa China que, na altura em que Portugal nascia, tinha já atrás de si as figuras imortais de geniais poetas como Tao Yuanming (375-427), Li Bai (701-762), Wang Wei (701-761) ou Du Fu (711-770).
Li Qingzhao,  senhora de uma enorme sensibilidade, cantava o amor, a alegria de viver, a solidão, a dor na sua viuvez quando o marido morreu com tifo, aos 48 anos de idade.
Navegando por estes mares, Pacifico e Índico, tenho-me entretido a mexer nos seus poemas, utilizando a tradução francesa da Gallimard, de 1977, de Liang Paixin, mais a Net, com os muitos caracteres chineses que sempre tenho dificuldade em conhecer, mas no meio dos quais não me costumo perder. Na Net, tenho dialogado com outros tradutores de Li Qingzhao em língua inglesa, como Wang Jiaosheng e Ronald Egan.
Eis dois poemas desta grande mulher, companheira de viagem na Volta ao Mundo, em traduções ainda provisórias para português:

Colher fruta madura

A noite, o vento arrasta a chuva,
apaga o fogo sufocante do sol.
Fui buscar a flauta de bambu,
diante do espelho, retoco o meu rosto.
A minha carne, sob o robe de seda púrpura,
como jade ou neve, liso e perfumado.
Sorrio e digo: "Meu amor, esta noite,
por detrás das cortinas de gaze, a frescura do nosso leito."

采桑子

晚来一阵风兼雨
洗尽炎光
理罢笙簧
却对菱花淡淡妆
 绛绡缕薄冰肌莹
雪腻酥香
笑语檀郎
今夜纱幮枕簟凉

Como um sonho

Recordo o pavilhão junto às águas, ao entardecer,
e nós, embriagados, incapazes de encontrar o caminho de regresso.
longe de tudo, encharcados em prazer, 
remávamos ao acaso. entre tufos de lótus verdes.
Mais depressa, mais depressa...
Na margem, assustadas, garças e gaivotas levantaram voo.

如梦令

常记溪亭日暮
沉醉不知归路
兴尽晚回舟
误入藕花深处
争渡
争渡
惊起一滩鸥鹭
_________________
Nota do editor:

Último poste da série > 5 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20942: Os nossos seres, saberes e lazeres (389): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (5) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

4 comentários:

antonio graça de abreu disse...

A foto com a minha mais importante companheira chinesa de viagem é na ilha da Páscoa,no Oceano Pacífico. O boneco de madeira é um "moái", arte indígena com quatro ou cinco séculos.
Abraço,

António

Anónimo disse...

Maria João Oliveira (em Macau) (via email

6 maio de 2020 08:22


(Excerto)

Olá Luís Graça

Bom teres "chegado" aqui a este lado do mundo!

Obrigada pela partilha dos poemas... que pela sensibilidade me
transportaram à infância... aos afetos e à alegria de viver que o meu
pai tão bem nos soube transmitir! (...)

Juvenal Amado disse...

Poesia desconhecida mas rica e maravilhosa

É bom poder lê-la obrigado Graça Abreu

Um abraço e boa quarentena

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.