sábado, 9 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20956: Os nossos seres, saberes e lazeres (391): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Outubro de 2019:

Queridos amigos,
Antes de passar um dia movimentado em Herculano, tomou-se um comboio até Caserta, escassas dezenas de quilómetros de Nápoles.
Quando acabou o vice-reinado espanhol iniciou-se um tempo de Bourbon, que se irá prolongar até à unificação italiana. O que sobressai deste tempo é que se perdem as ligações ao passado, percorre-se estes aposentos reais e o testemunho tem um único nome: o esplendor do barroco, não há aqui quaisquer vestígios de outros estilos e, como toda a gente sabe, Nápoles tem uma poderosa herança greco-romana, presença bizantina, aragonesa, espanhola, este edifício do palácio real é de um classicismo puro no seu exterior e foi concebido para esmagar o visitante, havia dinheiro a rodos para aqui se ter deixado 1200 quartos.

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (3)

Beja Santos

A visita ao Palácio Real de Caserta, a residência dos Bourbon fora de Nápoles, tinha em mente descobrir se no período faustoso destes reis que aqui governaram até à unificação italiana, com interregnos como aquele que foi imposto pelo período napoleónico, havia o sentimento de herança da outra Nápoles. E não há, estas imagens que se seguirão ilustram um fausto e uma magnificência onde prima o barroco e o academismo. Até então, Nápoles era uma capital de cultura ambivalente, espanhola e oriental, a música anterior ao fausto barroco é elucidativa, ficou-nos um repertório musical de enorme riqueza onde avultam influências francesas, litúrgicas, aragonesas, espanholas. Os Bourbon chegam ao reino de Nápoles em 1734, com Carlos III, ele trazia a ambição de transformar Nápoles numa cidade altamente influente. Reduziu a construção de igrejas e lançou-se nas obras públicas e nas indústrias. Para a edificação de Caserta inspirou-se em Versalhes. Estamos no tempo em que a aristocracia europeia viaja para outros territórios, para conhecer os fundamentos do Humanismo, iniciava-se o Grand Tour, que atraía viajantes e artistas, o romantismo vem a caminho.





O viandante optou pela viagem mais económica, cingiu-se aos apartamentos reiais do século XVIII, deixou para a próxima a visita ao teatro e aos jardins. O que vai sempre intrigar o viandante é que esta pomposidade é de chão, paredes e teto, vinha à espera da exuberância das artes decorativas, da pintura mural. Carlos III era riquíssimo, tinha uma fábrica de porcelana, era protetor das artes, os Bourbon vão estar associados a realizações arquitetónicas de grande distinção, como o Teatro de S. Carlos (o nosso, dizem os entendidos, é uma réplica), não esquecer que Nápoles e Veneza eram consideradas as pátrias da ópera cómica italiana, mas também o Palácio de Capodimonte, para além de outros projetos urbanos. Apaixonado pelas antiguidades, inspirou o colecionismo e a criação do Museu Arqueológico de Nápoles, indiscutivelmente um dos mais importantes do mundo. Pois o que surpreende é esta magnificência nua, houve alguém que levou os tesouros. Fizeram-se perguntas, não se obtiveram respostas.




São salões deslumbrantes, os frescos dos tetos valiosíssimos, como se viu atrás, a Grande Escadaria está posicionada de um lado para não interromper a esplêndida vista da entrada principal para o parque. Escreve-se nos guias que Carlos III sabia o que queria – emular os seus modelos preferidos, o Buen Retiro em Madrid e Versailles em França. O arquiteto Vanvitelli inspirou-se no edifício madrileno e assentou uma estrutura quadrangular. O piso térreo inferior alberga um museu e no andar superior somos confrontados com estes dourados faiscantes. Na imagem seguinte temos berços da época império, Napoleão impôs a Nápoles Carolina Bonaparte e o gosto pelo estilo império continuou mesmo depois da deposição do imperador.




Finda a visita aos apartamentos reais, deparou-se uma exposição intitulada “De Artemísia a Hackert”, a coleção privada de um colecionador-antiquário com escritórios em Londres, intitulada Lampronti Gallery. Cada um tem os seus gostos, não se discute a riqueza da coleção Lampronti, mas o que impressionou o viandante foram as obras de Canaletto, Bellotto e Guardi, o tema Veneza suscita-lhe sempre o gosto pela contemplação, foram grandes mestres na arrumação da tela, no primor dos detalhes, na animação daquela vida quotidiana, génios na captura das cores, tão impressivos que podemos hoje percorrer Veneza e detetamos facilmente o que já vimos nos espantosos trabalhos destes pintores imortais.




À saída de Caserta apanhou-se um teto pintado numa invulgar sobriedade, até parece um tema próprio da cartela de um tapete, cores suaves, contornos lânguidos. À saída alguém declamava entusiasticamente louvores ao parque de Caserta, ao jogo de água a fluir culminando na grande cascata. No que toca ao viandante, fica para a próxima visita, mas é justo que se aguce o apetite a quem gosta de belos jardins, com efeitos incríveis de piscinas e de fontes decoradas. Aqui fica a imagem para entusiasmar os futuros visitantes.



(continua)
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Notas do editor

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Último poste da série de 5 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20942: Os nossos seres, saberes e lazeres (389): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (5) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

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