Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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domingo, 16 de novembro de 2025
Guiné 61/74 - P27432: Parabéns a você (2434): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1972/74) e TCoronel Art Ref José Francisco Robalo Borrego, ex-Fur Art do 9.º Pel Art (Bissau e Bajocunda, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27419: Parabéns a você (2433): César Dias, ex-Fur Mil Sapador Inf da CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Sold At Inf da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883 (Piche e Camajabá, 1972/74) e Maria Arminda Santos, ex-Ten Enfermeira Paraquedista (Angola, Guiné e Moçambique, 1961/1970)
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
Guiné 61/74 - P27419: Parabéns a você (2433): César Dias, ex-Fur Mil Sapador Inf da CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Sold At Inf da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883 (Piche e Camajabá, 1972/74) e Maria Arminda Santos, ex-Ten Enfermeira Paraquedista (Angola, Guiné e Moçambique, 1961/1970)
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Nota do editor
Último post da série de 13 de Novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27415: Parabéns a você (2432): José Manuel Lopes, ex-Fur Mil da CART 6250/72 (Mampatá e Colibuia, 1972/74)
sábado, 23 de agosto de 2025
Guiné 61/74 - P27146: Os nossos seres, saberes e lazeres (697): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (218): Um novo e belo museu regional, de visita obrigatória, o do Bombarral - 1 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A minha casota situa-se a escassos quilómetros do concelho do Bombarral, ainda no distrito de Lisboa, freguesia de Reguengo Grande. Aproveito as passeatas à Roliça, Columbeira, há depois divagações em direção à lagoa de Óbidos, Olho Marinho e quejandos, não esquecendo as Caldas da Rainha. Apanho muitas vezes um autocarro no Bombarral aos domingos à tarde, em menos de 50 minutos estou no Campo Grande. Intrigou-me durante anos aquele casarão perto do edifício camarário, no posto de turismo descansado, em breve íamos ter museu. Foi um em breve longo, mas revelou-se proveitoso, como aqui se conta. Daqui saindo com a alma lavada, o homem de Neandertal terá andado por aqui, há vestígios de caçadores coletores, quem gosta da pintura de Josefa de Óbidos tem aqui um magnífico quadro, vou contar-vos de seguida o que gostei de ver da produção artística no Bombarral de cerâmica e num espaço que designam por Sala Palavras o que aqui encontrei de uma das figuras mais eloquentes do concelho, Júlio César Machado. Logo que possam, venham a este impressivo espaço patrimonial. Espero que venham a desenvolver a história desta agricultura onde prima uma fecunda fruticultura, é dos mais belos espetáculos paisagísticos que conheço, ver estes quilómetros de macieiras, pereiras e vinhedos.
Um abraço do
Mário
Um novo e belo museu regional, de visita obrigatória, o do Bombarral - 1
Mário Beja Santos
Num trabalho elaborado em 2021, Nuno Ferreira, técnico do setor de Cultura e Turismo, da Câmara Municipal do Bombarral, acerca da história do Palácio Gorjão, referiu os antecedentes próximos do edifício que abriu ao público em 29 de junho de 2025 e que se intitula Museu do Bombarral Vasco Pereira da Conceição e Maria Barreira:
“Em 29 de Junho de 1990 foi inaugurado neste palácio o Museu Municipal ‘Vasco Pereira da Conceição e Maria Barreira’ na sequência da doação de importante parte do acervo destes dois escultores, bem como o posto de turismo.
O Museu possui acervo de arqueologia, escultura (dos autores que deram o nome ao mesmo), de obras de Jorge de Almeida Monteiro, espólio do escritor Júlio César Machado, espaço dedicado ao poeta Anrique da Mota, etnografia, epigrafia e heráldica, medalhística e espólio do fotógrafo Fernando Neves, bem como coleções de jornais locais e uma biblioteca de cariz técnico.”
Quando li a história do Palácio Gorjão, os seus tempos de fausto e depois de uma ocupação estranhíssima, veio-me à mente a vida do Convento de Cristo, que meteu quartel, paiol, escola de missionários laicos e muito mais, tudo peripécias da extinção das ordens religiosas, o que não é o caso do Palácio Gorjão, o que houve aqui foi uma rematada decadência. No trabalho elaborado por Nuno Ferreira, que ele teve a gentileza de me oferecer, as imagens do passado são eloquentes, para o mais vistoso e mais tristonho. Este novo museu tem um look com uma certa imponência, nele entrando vê-se que houve perícia na museologia e na museografia. Aproveitou-se tudo o que Nuno Ferreira refere para o museu de 1990, mas com novidades.
Entra-se no museu do Bombarral e logo nos impressiona a chamada Sala Origens, temos aqui um percurso pela história mais remota do concelho, há peças arqueológicas com milénios e até testemunhos de presença pré-humana: há neste espaço fósseis de formas de vida primitiva e de dinossauros; ferramentas em pedra do Paleolítico; um vaso cerâmico do Neolítico e pequenas esculturas; e temos igualmente a presença das idades do Cobre e do Bronze; assim chegamos a uma lucerna em cerâmica da época romana e vestígios medievais encontrados neste edifício e na Capela de São Brás.
Quando percorremos este museu, é patente o orgulho pelo seu património arqueológico, lê-se mesmo um painel onde se descreve com alguma minúcia o elevado grau de intervenções dos especialistas:
“A riqueza arqueológica do concelho do Bombarral motivou desde finais do séc. XIX até aos nossos dias o interesse de gerações de investigadores e arqueólogos.
Nas décadas de 60 e 70 do séc. XX, Octávio da Veiga Ferreira trouxe para o concelho a preciosa colaboração de Jean Roche, da Missão Arqueológica Francesa, a que se juntaram cidadãos bombarralenses como Antero Furtado, Vasco Côrtes, Jorge de Almeida Monteiro e António Maurício. Seguiram-se novas gerações de arqueólogos, que continuaram a tradição de pesquisa e atividade, contribuindo significativamente para o conhecimento histórico-arqueológico da região.
Durante os trabalhos arqueológicos associados às obras de requalificação do Palácio Gorjão, foram encontrados vestígios do final da Idade Média.”
São Brás, séc. XV, pedra calcária policromada, proveniente da Igreja de Nossa Senhora da Purificação, Roliça. São Brás foi martirizado no século IV. É aqui representado como bispo, tendo aos seus pés a criança que salvou de ser engasgada com uma espinha de peixe. O seu culto ficou mundialmente associado à proteção das doenças da garganta.
Painel de Santa Justa e Santa Rufina, por Josefa de Óbidos, séc. XVII (entre 1650-1660), pintura a óleo sobre madeira de carvalho, Capela do Senhor Jesus da Boa Hora, Columbeira
O retábulo é uma estrutura colocada nos altares das igrejas que apresenta episódios bíblicos ou de santos. Esta peça vem da Capela de São Brás, do Bombarral, um templo do séc. XV. Em baixo, estão representados três momentos da vida de São Brás: à esquerda, a cura da criança enferma, ao centro o santo visitado na prisão e à direita São Brás em glória. Ao centro, as representações dos seus martírios: a flagelação e a degolação. No nicho central, encontra-se a imagem do padroeiro. Em cima, São Bento e São Bernardo ladeiam a pintura mais significativa deste retábulo, o repouso na fuga para o Egito.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 16 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27124: Os nossos seres, saberes e lazeres (696): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (217): Nenhum museu tem tanta História de Portugal como este – 2 (Mário Beja Santos)
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Guiné 61/74 - P27112: Notas de leitura (1828): "Histórias de Amor em Tempo de Guerra, Guiné 1963-1974", por Rui Sérgio; 5livros.pt, 2017 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Julho de 2024:Queridos amigos,
Tem sido graças ao bom acolhimento que me dá a Biblioteca da Liga dos Combatentes que vou lendo as investidas do médico Rui Sérgio pelas suas memórias da Guiné. Não resiste a falar de Galomaro, nem dos Bijagós nem da região de Pitche e Nova Lamego, por ali andou ele e gente do seu batalhão. Compõe agora quatro histórias que gizou como um guião para um filme: a mulher de um oficial de informações precisa de ter um filho que o marido não lhe pode dar e daí os encontros libidinosos com um furriel paraquedista; o Neco de Leixões, encaminhador para casas de alterne na vida civil e que passou a apresentar-se como percussionista e vocalista no Chez Toi, já na idade avançada o Neco acha que todas aquelas meninas deveriam ter sido condecoradas com a Medalha de Mérito Militar; Tomaz e Bárbara também têm como pano de fundo o Chez Toi, até o médico Dr. Rui Sérgio aparece como salva-vidas, Bárbara e Tomaz casarão na catedral de Bissau; e como o amor redime sempre, um grupo de quatro marinheiros frequenta na estrada de Bor um espaço onde atuam moças cabo-verdianas, também tudo acabará em casamento e o autor dá como comprovada a capacidade dos tugas em espalharem a sua bondade e poder de miscigenação já que a genética da portugalidade tem muito que se diga.
Um abraço do
Mário
Sim, o amor não nos deixa em descanso em tempos de guerra
Mário Beja Santos
O alferes miliciano médico Rui Sérgio, que cirandou entre Galomaro, Gabu e Bijagós, mostra fervor pela Guiné, dedicou-lhe um acervo de livros, chegou a vez de falarmos de Histórias de Amor em Tempo de Guerra, Guiné 1963-1974, 5livros.pt, 2017. Apresenta quatro histórias como um guião para um filme, despede-se com um poema onde se revela taciturno, diz-se contentar em viver só, com ilusões e sentimentos que jamais realidade serão.
Primeira história, um furriel paraquedista, vindo de uma operação no Morés, tenta nos CTT de Bissau uma ligação para a metrópole. Rui Sérgio não esconde que é médico e que tem que dar explicações, neste caso falando do intertrigo, a propósito de virilhas empapadas, gretadas e cheias de micose. Enquanto espera pela chamada, mete conversa com uma metropolitana, esta diz ser mulher de um oficial de informações no Quartel-General e professora de liceu. O furriel, que aspira chegar a Lisboa para terminar o sétimo ano, pergunta se ela lhe pode dar explicações de matemática, biologia e físico-química.
Um dia, lá em casa, e na ausência do marido que está em missão em Nova Lamego, irrompem os ardores libidinosos. O furriel não se sente muito bem pela sua consciência, passados uns tempos o casal partiu para Lisboa. Há depois uma terrível operação em Guidaje, ele é ferido, e foi evacuado de Bissau para Lisboa. Acontece o 25 de Abril, o furriel casa-se e tem uma filha, um acidente de viação leva-lhe a mulher. Um dia, numa esplanada do Príncipe Real reencontra aquele amor de ocasião de Bissau na companhia de uma filha. Mais tarde o furriel recebe um telefonema da mulher do oficial de informações, ela conta-lhe a seguinte história:
“Espero que não te zangues comigo e não aches que te usei, mas a verdade é que antes de irmos para a Guiné, e após exames analíticos, pois não engravidava, soube que o meu marido tinha azoospermia e que não podia ser pai. Ocultei tal facto para não ferir a virilidade e o desejo de ser pai, dizendo-lhe que a culpa seria minha. O facto de termos caído nos braços um do outro levou-me a engravidar. A minha gravidez e a minha vinda coincidiram com o facto de seres ferido em combate. Nunca mais te vi, agradecia todos os dias a Deus o ter-te posto no meu caminho e teres me dado a nossa filha que salvou o meu casamento.” Choraram abraçados um ao outro com a certeza de que a guerra da Guiné não fora assim tão má.
A segunda história envolve o Neco de Leixões, tinha historial de barman em estabelecimentos noturnos, após a recruta e especialidade foi colocado como criado de mesa na messe de oficiais do RASP, daqui foi mobilizado para a Guiné, deixou imensas saudades, era bom angariador de prostitutas, encaminhando embarcadiços para as casas de alterne. Partiu para a Guiné numa companhia de comandos e serviços como amanuense. Rui Sérgio usa indiferenciadamente a sua narrativa na primeira e na terceira pessoa do singular, umas vezes para descrever o contexto outras para pôr a personagem a falar. Em Bissau encontra um tenente-coronel com quem passara borgas e noitadas nos bares de Matosinhos, nos tempos em que ele era capitão, ele passa a impedido deste oficial superior, um dia encontra o Pinto, filho do dono da casa de câmbios mais famosa de Valença, a Casa Condessa, que atuava como guitarrista no Chez Toi, também conhecido como o Gato Negro, Rui Sérgio descreve ao pormenor. Agora, na velhice, o Neca de Leixões acha que todas aquelas meninas que trabalhavam naquele espaço lúdico de Bissau deveriam ser condecoradas com a Medalha de Mérito Militar.
A terceira história intitula-se Tomaz e Bárbara. Tomaz era tenente do Quadro Especial de Oficiais. Tirara o curso em Mafra, como aspirante fora colocado em Tancos, onde concluiu a especialidade de sapador. Mobilizado para a Guiné, cumpriu a primeira comissão no batalhão de Tite, trabalhou na desminagem da picada para Nova Sintra. É numa ida para Bissau que passou a ingressar no Quadro Especial de Oficiais, viu a sua comissão encurtada, veio até à Academia Militar, está agora em estágio no batalhão em Pitche, participa novamente nas atividades de desminagem, desbravava-se a picada de Nova Lamego até Pirada, um pelotão de Paúnca fazia a proteção à picada, as colunas deslocavam-se com uma GMC à frente, quando a coluna chegava a Nova Lamego um pelotão da CCS protegia-os até Pitche.
Aqui começa verdadeiramente a história. No trajeto para Canquelifá, a coluna é emboscada, causou dois feridos graves, um dos quais um alferes amigo de Tomaz. Este não descansou enquanto não foi a Bissau para visitar o amigo. Depois de jantar foi ver as moças no Gato Negro, aí conhece Bárbara nascida no Largo da Rua Chã, menina de 18 anos, católica temente, batizada na Sé Patriarcal do Porto. Rapidamente teremos derriço entre Bárbara e Tomaz. Este está de volta à região de Pitche, mal chega há um grande ataque do PAIGC a Copá, Pirada e Buruntuma, toda a zona Leste ficou em estado de sítio, tiveram que vir os comandos africanos e o grupo de Marcelino da Mata. A população de Copá fugiu, tiveram que vir os paraquedistas. O pelotão de Tomaz tem um comportamento formidável na desminagem da picada para Copá. Entretanto chega a notícia de que Bárbara tinha sido internada no Hospital Civil de Bissau com uma crise palúdica severa.
O autor não resiste a autorretratar-se, pois Tomaz é apresentado como médico do batalhão de Galomaro que tinha ido a Bissau acompanhar a evacuação de feridos e prestava assistência itinerante nos Bijagós (era esta a situação de Rui Sérgio). E temos novamente o médico Rui Sérgio em ação, ficamos a saber como Bárbara foi tratada:
“O médico mandou aplicar soro Ionosteril-G (Soro Polieletrolítico com glicose a 5%) com um fluxo rápido de 90 gotas por minutos, para uma hidratação adequada. Resochina 500 mg em infusão endovenosa de 8 em 8 horas. Aplicou-lhe intramuscularmente uma injeção de Fenobarbital para a agitação e Dolviran em supositório para a temperatura.”
Bárbara recupera. Tomaz chega ao fim do estágio, Bárbara e Tomaz casam na catedral de Bissau. Até na Guiné Jesus faz milagres.
A última história intitula-se Amor em tempo de guerra. Jorge oferece-se como voluntário para a Marinha, tem uma compleição física notável e uma musculatura bem desenvolvida. Ligado desde os 11 anos à mecânica e eletricidade, foi-lhe destinada a especialidade de Armas Pesadas. No início de 1972 é mobilizado e colocado nos Serviços de Reparação Naval da Armada. Viaja de avião com gente fixe, trabalha na manutenção de armamento das Lanchas de Fiscalização sediadas na base. Teremos seguidamente uma descrição de armas, fuzileiros, vias fluviais, formou-se uma dupla entre o Jorge e o José Russo, frequentam o Gato Negro, juntam-se mais dois, o Zé Bófia e o César Red River, passam a frequentar uma casa de cabo-verdianas nas estrada de Bor, os quatro amigos vão-se afeiçoando a quatro meninas do sítio, depois de muitas peripécias, numa refrega Jorge é ferido, por atos de bravura será condecorado com a Cruz de Guerra de 1.ª Classe, tudo acabará em bem, o quarteto marcou o dia de casamento na catedral de Bissau com as meninas de Bor.
“O amor também venceu a guerra e a capacidade dos tugas de espalharem a sua bondade, a sua capacidade de miscigenação, a sua entrega de amor e a alma lusófona, que espalha constantemente a sua portugalidade que geneticamente é uma mistura amerinda, africana, árabe, luso-galaica.”
Aqui finda o guião para um filme.
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Nota do editor
Último post da série de 8 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27100: Notas de leitura (1827): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 5 (Mário Beja Santos)
quarta-feira, 2 de julho de 2025
Guiné 61/74 - P26977: O segredo de... (50): uma recordação que ainda hoje me persegue: fiquei com fama de ter agredido um 1º cabo, "branco" da CCAÇ 2701 (e para mais meu conterrâneo de Águeda) para defender a honra de uma "preta" (mulher de um soldado meu, do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72) (Paulo Santiago)

1. Mensagem do Paulo Santiago, ex-alf mil inf, cmdt Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1971/73) (é um histórico da nossa Tabanca Grande, tem já cercad 2 centenas de referências desde 22/6/2006).
Data - quarta, 2 de julho de 2025, 18:22
Luis,
Estes últimos textos sobre os "filhos do vento" vieram acordar uma mágoa com 54 anos.
Foi em julho de 1971, viria de férias em agosto,encontrava-me no bar após o jantar quando o meu soldado Mamadú Baldé entra transtornado.
- Alferes, o nosso cabo Manuel C... tentou abusar da minha mulher, agrediu-a.
Fiquei de cabeça perdida, ficaria sempre aqui com a agravante de o Manuel C... ser meu conterrâneo, da mesma freguesia.
Procurei o abusador e, quando o encontrei, dei-lhe uma carga de pancada.
Escapou-se para o abrigo onde foi buscar a G3. Teve azar,entretanto vieram outros elementos do Pel Caç Nat 53, detiraram-lhe a arma e levou mais uns murros.
O Manuel C... desapareceu nessa noite em direcção desconhecida. Apareceu passados três dias.
O Cap inf Carlos T. Clemente, cmdt da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72), mandou formar a companhia e disse ao cabo Manuel C... para dizer onde tinha andado e qual fora a intenção ao fugir.
Fugira com intenção de ir para a República da Guiné mas tivera receio de cair nalguma armadilha ou mina, e não se tinha afastado muito do quartel e do rio Corubal. Comera umas folhas e bebera água do rio.
Este cabo, da CCAÇ 2701, tinha a especialidade de atirador mas não saía para o mato,estava na arrecadação de material de guerra com um 2º sargento.
Quando chegou ao fim da explicação dos três dias de ausência,diz o Clemente:
- O alferes Santiago vai decidir qual a punição a dar-te.
Fiquei lixado. Eu, conterrâneo do abusador, que também estava para vir de férias, é que ia decidir a punição.
Claro que o Manuel C... ficou sem o castigo merecido.
Apesar da ausência de punição, fiquei, à data, com a fama de ter agredido um conterrâneo para defender uma preta.
Acrescento: o tipo está num país da América do Sul, e os familiares "rezam" para que ele não venha a Portugal porque da única vez que veio, houve graves problemas.
O Manuel C... devia ter levado uma "porrada", não levou, e ainda hoje, quando me lembro, fico incomodado.
Paulo Santiago
PS - Luís, fica ao teu critério, publicar ou não.
2. Comentário do editor LG:
Paulo, obrigado pela confiança que depositas no blogue, na pessoa do seu editor, e teu velho amigo e camarada. Decidi partilhar o teu "segredo", por uma mão cheia de razões:
(i) não éramos meninos de coro;
(ii) este caso e o seu desfecho são exemplares e merecem ser conhecidos;
(iii) que fique claro: houve casos de violação (ou de tentativa de violação) de mulheres da população civil (e também de prisioneiras) no TO da Guiné; muitos ou poucos, não sabemos, não há estatísticas; houve casos, como em todas as guerras;
(iv) na guerra não vale tudo, e o exército português tinha princípios e valores;
(iv) este caso envolveu um graduado (1º cabo) d CCAÇ 2701, " branco" (e por sinal teu conterrâneo) e a mulher de um teu soldado, do recrutamento local, do Pel Caç Nat 53;
(v) houve violência (física), não chegou a haver violação; o que não atenua a gravidade do comportamento do teu subordinado;
(vi) tu eras comandante operacional de um subunidade, adida ao CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72);
(vii) com estrito respeito pela hierarquia, o cap inf Carlos T. Clemente (hoje cor ref), não quis fazer o "by pass", isto é, quebrar a unidade comando-controlo;
(viii) não podias deixar de agir, sob pena de perderes a autoridade e o respeito dos teus homens;
(ix) e agiste à boa maneira da malta de cavalaria e dos paraquedistas: uns bons murros valiam mais, naquele contexto, do que uma "porrada" averbada na caderneta militar (não faço juízos de valor nem discuto se, face ao RDM, tinhas outras alternativas);
(x) podia ter ficado cara a tua atitude lúcida e corajosa: o cabo "abusador" foi buscar a G3 com intenções malévolas (talvez de "vingança"); foi felizmente desarmado e, em desespero de causa, decidiu desertar; cobardolas e arrependido, voltou para o quartel ao 3º dia;
(xi) a lição que tu lhe deste, não sabemos se ficou para a vida; mas 1º cabo Manuel C... deveria ter-te ficado agradecido por não quereres vê-lo embrulhado numa folha de papel selado; se o caso chegasse ao com-chefe, o gen Spínola, o teu homem nem saberia de que terra era;
(xii) o caso foi público e notório (agressão a um elemento civil, insucordinação e tentativa de deserção), mas mesmo assim omiste o seu apelido, como de resto mandam as nossas regras editoriais;
(xiii) espero que ele, algures, na América Latina, ainda te possa ler, e mostrar, memso que tardiamente, arrependimento e gratidão (neste caso, pelo teu sentido de justiça);
(xiv) e, por fim e não menos importante, deves sentir orgulho, mesmo ao fim destes 54 anos (!), de não teres cedido à tentação do "nacional-porreirismo" e teres sabido defender a honra de uma mulher (para mais, mulher de um soldado teu), de acordo com o nosso código de ética como militares;
(xv) mais do que "oficial e cavalheiro", soubeste respeitar a tua consciência e honrar a tua farda!
Nota do editor:
Último poste da série > 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26430: O segredo de... (49): António Medina (1939-2025) - Parte V: Comentários (2014): (I) Vasco Pires / Luís Graça / Manuel Carvalho / António Graça de Abreu / Joaquim Luís Fernandes / Júlio Costa Abreu / Manuel Luís Lomba / António Rosinha / António Medina / César Dias / Carlos Pinheiro / João Lemos
sábado, 14 de junho de 2025
Guiné 61/74 - P26919: Tabanca Grande (576): Jacinto Rodrigues, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 57 (Cutia e Mansabá, 1969/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 906
Caro Luis Graça,
Largos anos passados desde a minha "estadia" na Guiné, entre Setembro de 1969 e Setembro de 1971, onde comandei o Pelotão de Caçadores Nativos 57, no Destacamento de Cutia e em Mansabá, aqui estou a candidatar-me a “tabanqueiro”, apadrinhado pelo Carlos Vinhal, meu “escrivão”, segundo ele diz, pois coadjuvava-me na elaboração dos autos de procedimento disciplinar, quando os havia.
Estive a comandar o Pelotão de Caçadores Nativos 57, entre Setembro de 1969 e Setembro de 1971, em Cutia, um pequeno destacamento, a meio caminho (15 kms) entre Mansoa e Mansabá, e, depois, em Mansabá, aquando da construção da estrada entre Bironque (a 5/6 kms a norte de Mansabá) e Farim.
Tal como tu, certamente, vivi momentos difíceis e complicados, agravados pelo facto de ter comigo apenas meia dúzia de camaradas metropolitanos, pois os soldados do pelotão eram todos eles naturais da Guiné, de diversas etnias e viviam na tabanca cá com a respectiva família.
Apesar de tudo, foram dois anos que jamais poderei esquecer e que lembro todos os dias. E nessas memórias estão os camaradas com quem convivi e de quem tenho as melhores recordações.
Tal como me referiste no teu mail, remeto uma foto desses tempos da Guiné e uma actual.
Será um privilégio fazer parte deste grupo de combatentes.
Um abraço, Camarada,
Jacinto Rodrigues
ex-alferes miliciano
Mansabá > Uma equipa de futebol, onde o editor reconhce o Alf Mil Art Jacinto Rodrigues, na fila da frente, à direira. O Alf Mil Cav Ernestino Caniço é o terceiro, a partir da esquerda, na fila de trás.
Infogravura: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (Carta da Província da Guiné - Escala 1:500.000)
Arganil > Encontro de 2025 do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Jacinto Rodrigues e Ernestino Caniço
Caríssimo camarada Jacinto Rodrigues, está apresentado oficialmente à tertúlia. Terá ao seu dispor o lugar estatístico 906 debaixo do nosso poilão, mas "sentar-se-á" onde muito bem entender.
Dizem as nossas normas, "muito rígidas" (ver aqui), que na tertúlia nos tratamos por tu e não distinguimos os antigos e actuais postos militares; profissões; habilitações académicas e outras possíveis distinções sociais.
O editor Luís Graça delegou em mim a missão de receber o ex-alferes Rodrigues, meu contemporanêo em Mansabá, um camarada cordial no trato. É uma honra e um gosto fazê-lo, tratando-se de quem se trata.
Lembro-me de entrar na secretaria da CART 2732 e, dirigindo-se a mim, dizia algo parecido como: "nosso furriel, tem disponibilidade para me escrever aí à máquina umas notas para eu enviar para Bissau?" Segundo me dizia, era preciso manter activos os autos de que era responsável, pelo que de vez em quando havia que mandar papelada para a Secção de Justiça e Disciplina.
Quando há uns bons meses o camarada Rodrigues me contactou por me ter encontrado na net, foi um desfilar de lembranças daqueles tempos que, sendo maus, são vivências da nossa juventude, irrepetíveis, que jamais se apagarão da nossa memória de velhos combatentes.
Neste blogue temos a oportunidade de deixar escrito o que ainda retemos daqueles dois difíceis anos da nossa vida, pelo que convidamos o "alferes" Rodrigues a contribuir para esta feitura de memórias.
Que retém do comportamento dos seus militares guineenses enquanto combatentes ao lado dos portugueses? Que experiência lhe trouxe para a vida o contacto tão próximo com pessoas que tinham um modo de pensar e de viver tão diferentes dos nossos? A história, filosofia de vida e religião daquele povo, apesar dos nossos estúpidos preconceitos, mantinham-se praticamente intactos, resistindo a séculos de evangelização.
Caro Jacinto Rodrigues, está apresentado. Não termino sem antes de lhe deixar o habitual abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, com a certeza de que estaremos aqui ao dispor para o que nos achar úteis.
Se quiser que lhe façamos um postalinho de aniversário, só tem que nos indicar o dia e o mês em que nasceu, o resto é connosco.
Os meus votos de boa saúde
Um abraço a título pessoal do furriel escrivão
Carlos Vinhal, por acaso, também coeditor deste Blogue.
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Nota do editor
Último post da série de 25 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26845: Tabanca Grande (575): Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 905
terça-feira, 27 de maio de 2025
Guiné 61/74 - P26851: Convívios (1033): Rescaldo do Encontro do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), levado a efeito no passado dia 24 de Maio de 2025, em Arganil (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav)
Caros amigos
Votos de ótima saúde.
Realizou-se um convívio de camaradas do BCAÇ 2885, que esteve sediado em Mansoa.
Anexo algumas fotografias para publicitação no blogue se assim o entenderem.
O evento ocorreu junto ao Santuário do Mont´Alto no concelho de Arganil, distrito de Coimbra.
O Santuário (mariano) culmina numa capela situada a 615 metros de altitude (no mais alto do cômoro), onde os peregrinos se dirigiam (outrora único caminho) em romaria e devoção, passando por 6 Ermidas dedicadas a vários Santos. As Ermidas servem como descanso e alívio, em virtude de ser caminho comprido e escabroso por o monte ser muito alto.
O santuário assume-se também, como um miradouro privilegiado, proporcionando vistas deslumbrantes sobre o rio Alva, a serra do Açor e os campos circundantes.
Um grande abraço
Ernestino Caniço
Fotos enviadas e legendadas por Ernestino Caniço. Editadas por CV
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Nota do editor
Último post da série de 26 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26848: Convívios (1032): No rescaldo do nosso encontro (Famílias Crisóstomo & Crispim + amigos), Torres Vedras, Convento do Varatojo, 25/5/2025 (João Crisóstomo, Nova Iorque)
quinta-feira, 8 de maio de 2025
Guiné 61/74 - P26778: Diálogos com a IA (Inteligência Artificial) (2): camarada Arsénio Chaves Puim, o que o "Big Brother" sabe sobre ti!... Nada, entretanto, que gente não soubesse já... Afinal, a tua vida é um livro aberto (Luís Graça, Abílio Machado e Gemini IA/Google)
Arsénio Puim(n. 8 de maio de 1936): ilhéu, açoriano, sacerdote católico, capelão militar, cidadão do mundo, autarca, enfermeiro, jornalista, escritor, pai, avô, amigo
1. O nosso "padre-capilom", como lhe chamavam as lavadeiras de Bambadinca, em 1970/71, faz hoje anos: 89 e, para o ano, 90, se Deus quiser... (*)
Ele tem, por mérito próprio, uma auréola de santo e sobretudo a fama e o proveito de grande ser humano. Em dia de Santo Arsénio Puim, os seus antigos camaradas da Guiné e os muitos amigos que foi fazendo ao longo da vida (alguns, membros da nossa Tabanca Grande), querem saber como vão as moléstias e bizarrias...
Sobre isso, o nosso "Big Brother" não sabe de nada e ainda bem. Notícias mais recentes sobre o Puim, deu-nos o Abílio Machado, que aqui deixou um frase de antologia: "Há amizades que são maiores que a vida" (**).
Vale a pena transcrever o essencial que o Machadinho nos contou no passado dia 10 de março de 2025:
(...) (Eis) algumas notícias de como está o nosso ex-capelão: de facto, cheguei há dias da visita aos Açores e de cumprir um velho desejo: dar um abraço ao nosso velho amigo.
O Puim, com os achaques que a vida sempre nos presenteia - digamo-lo nós também - está para a sua idade em boa forma física e mental.
Foi um encontro muito emotivo em que, inevitável, relembramos muitos dos momentos vividos na Guiné.
O Miguel esteve presente pois estava em S. Miguel, em teletrabalho.
Tive a oportunidade conhecer a Leonor - esposa, mãe, avó, artista, de um afecto e uma energia transbordantes, o Puim não podia ter escolhido melhor nem ela a ele. Também o Pedro e a esposa e filhos: os netos do Puim.
Que bela família e como fomos recebidos!
Foram dias cheios, de facto há amizades que são maiores que a vida. (...) (**)
(...) "Meu caro amigo Luís Graça que bom saber que o Arsénio celebra 89 anos! Uma vida rica e cheia de feitos, desde a tropa em Bambadinca até ao cuidado da sua comunidade em São Miguel. Que percurso inspirador!
Por favor, transmite-lhe os meus mais sinceros parabéns. Que o seu dia seja repleto de alegria, rodeado pelo carinho da família e dos amigos. Que continue a partilhar a sua sabedoria e a sua paixão pela escrita e pela sua terra por muitos e longos anos. Um abraço fraterno para o teu camarada Arsénio Chaves Puim!" (...)
Arsénio Chaves Puim emerge como uma figura de relevo na história portuguesa do século XX, com uma trajetória de vida que atravessa momentos cruciais como a Guerra Colonial e a evolução sociocultural dos Açores. As suas experiências como antigo capelão militar na Guiné, enfermeiro, jornalista e escritor conferem-lhe uma perspetiva singular sobre diversas facetas da sociedade portuguesa. A sua ligação intrínseca aos Açores, tanto como local de nascimento como cenário da sua vida após o serviço militar, constitui um fio condutor que permeia as suas diversas atividades e interesses. Este relatório visa apresentar uma biografia abrangente de Arsénio Chaves Puim, com base na informação disponível, explorando as suas experiências e contribuições em diferentes domínios.
2. Primeiros Anos e Formação:
Arsénio Chaves Puim nasceu em 1936 na ilha de Santa Maria, nos Açores, mais precisamente no lugar da Calheta, na freguesia de Santo Espírito (1). Santo Espírito é um local de particular importância histórica e cultural na ilha, sendo conhecido por albergar o porto baleeiro do Castelo (1).
A sua formação inicial ocorreu na freguesia onde nasceu (1). Prosseguiu os seus estudos no Seminário de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, onde completou o curso de Teologia (1). Após a conclusão dos seus estudos teológicos, dedicou-se ao ministério sacerdotal até ao ano de 1976 (1).
3. Capelão na Guerra Colonial (1970-1972):
No decurso da Guerra Colonial, Arsénio Chaves Puim serviu como capelão militar na Guiné (4) . Foi integrado no Batalhão de Artilharia 2917 (BART 2917) , prestando serviço em Bambadinca entre os anos de 1970 e 1972 (4).
Informações adicionais sobre o ambiente operacional em que Puim se inseriu podem ser encontradas em (9), que mencionam a participação do BART 2917 na "Op Mar verde" e o reforço temporário de guarnições fronteiriças.
Contudo, a sua missão como capelão foi interrompida, sendo expulso do exército em meados de 1971, considerado pelas autoridades militares como "persona non grata" no território (4). O documento (6) revela que a sua expulsão foi precedida pela sua prisão pela PIDE/DGS (a polícia secreta portuguesa) no Dia Mundial da Paz, 1 de janeiro de 1971, sendo posteriormente levado para Bissau.
4. Transição para a Vida Civil e Carreira na Enfermagem:
Após a sua expulsão do exército, Arsénio Chaves Puim regressou aos Açores (4). Em 1976, concluiu o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada (12).
5. Envolvimento no Jornalismo:
Arsénio Chaves Puim desempenhou um papel ativo no panorama mediático da ilha de Santa Maria como cofundador do jornal "O Baluarte de Santa Maria" (2). Exerceu também o cargo de primeiro diretor desta publicação (2).
O documento (14) lista Arsénio de Chaves Puim com a morada do "O Baluarte de Santa Maria" em Vila do Porto, confirmando a sua ligação contínua à publicação. Indica também que se trata de uma publicação regional em papel, lançada a 05/12/2011, o que poderá referir-se a um registo ou iteração posterior.
6. Contributos Literários:
Desde 2001, Arsénio Puim publicou quatro livros dedicados à história e etnografia dos Açores, com um foco particular na ilha de Santa Maria (2).
Outra obra relevante é "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências" (20). O documento (21) descreve a segunda edição revista e aumentada, publicada em 2021. Enfatiza o foco do livro na etnografia e na linguagem de Santa Maria, destacando o objetivo do autor de preservar a herança moral, cultural e linguística da ilha, inspirado pelo conhecimento do dialeto local por parte do seu pai. Este livro demonstra o seu interesse mais vasto pelo tecido cultural de Santa Maria, para além da baleação, revelando o seu compromisso em documentar a vida quotidiana, a linguagem e as tradições do seu povo.
O documento (22) apresenta um registo bibliográfico na Biblioteca Nacional de Portugal em seu nome, sugerindo a existência de outras publicações ou contribuições. No entanto, a informação limitada (ISBD, NP405) impede a obtenção de mais detalhes. O documento (23) da Novagráfica menciona "150.º LIVRO – 29540.ª PÁGINA", o que poderá referir-se a uma entrada de catálogo ou ao seu envolvimento num projeto literário mais amplo relacionado com autores ou publicações açorianas. Seria necessário mais contexto para interpretar esta informação. O documento (24) lista um livro intitulado "São João da Vila : uma viagem pela noite mais alegre do ano..." onde Arsénio Chaves Puim é creditado pela revisão do texto. Isto indica o seu envolvimento na comunidade literária dos Açores, oferecendo a sua experiência a outros autores.
Tabela 2: Publicações de Arsénio Chaves Puim
Título | Ano | Editora
- A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria | 2001 | useu de Santa Maria
- O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências (1ª ed.) | 2008 | Câmara Municipal de Vila do Porto
- O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências (2ª ed.) | 2021 | Câmara Municipal de Vila do Porto
- A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores |! 2024 |Letras Lavadas Edições
- Contribuição (Revisão de Texto) - São João da Vila | 2010 | [Vila Franca do Campo : s.n.] (Nova Gráfica)
7. Vida nos Açores:
Após o seu regresso, Arsénio Chaves Puim estabeleceu-se nos Açores (4). Desde 1982, reside em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel (1). O documento (26) menciona Vila Franca do Campo como uma subdivisão geográfica relacionada com o seu trabalho como revisor de texto, confirmando a sua ligação a esta localidade.
Após a sua mudança para Vila Franca do Campo, continuou a sua participação cívica, integrando diversos órgãos autárquicos e exercendo funções como Mesário da Santa Casa, uma instituição de beneficência (2). O documento (27) contém um aviso oficial da Câmara Municipal de Vila do Porto, datado de 1982 e assinado pelo Presidente da Câmara, Arsénio Chaves Puim, confirmando o seu papel no governo local de Santa Maria nessa época.
8. Reconhecimento e Legado:
Arsénio Chaves Puim foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo em 2009 (1). Esta distinção assinala o elevado apreço que a comunidade lhe dedica pelas suas longas e diversas contribuições.
9. Conclusão:
A vida de Arsénio Chaves Puim representa uma jornada através de diversas experiências, desde os seus primeiros anos em Santa Maria e o seu caminho para o sacerdócio, passando pelo seu serviço controverso como capelão durante a Guerra Colonial e a sua subsequente expulsão, até às suas bem-sucedidas carreiras na enfermagem e no jornalismo, e às suas significativas contribuições como autor e líder cívico nos Açores.
Tabela 1: Cronologia da Vida de Arsénio Chaves Puim
Evento | Ano(s)
Nascimento | 1936
Período como Capelão na Guiné ! 1970-1971/72
Expulsão do Exército | 1971
Conclusão do Curso de Enfermagem | 1976
Anos de Prática na Enfermagem | 1976-1995
Cofundação de "O Baluarte de Santa Maria" | 1977
Residência em Vila Franca do Campo | desde 1982
Publicação de "A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria" | 2001
Publicação de "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências" | 2008, 2021
Atribuição da Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal | 2009
Publicação de "A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" | 2024
(1) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores - Letras Lavadas, acesso a maio 8, 2025, https://www.letraslavadas.pt/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria/
(2) Arsénio Chaves Puim - Bertrand Livreiros - livraria Online, acesso a maio 8, 2025, https://www.bertrand.pt/autor/arsenio-chaves-puim/1908227
(3) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores de Arsénio Chaves Puim - Livro - Wook, acesso a maio 8, 2025, https://www.wook.pt/livro/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores-arsenio-chaves-puim/30523866
(4) Arsénio Puim - Luís Graça & Camaradas da Guiné, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Ars%C3%A9nio%20Puim
(5) Toda a história do capelão contra a Guerra Colonial que desafiou o regime - Expresso, acesso a maio 8, 2025, https://expresso.pt/revista/2023-05-14-Toda-a-historia-do-capelao-contra-a-Guerra-Colonial-que-desafiou-o-regime-4f8b16fe
(6) Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72), acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/05/guine-6374-p4378-arsenio-puim-o.html
(7) Guiné 63/74 - P9021: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (1): Resumo dos factos e feitos mais importantes, por João Polidoro Monteiro, Ten Cor Inf (Benjamim Durães), acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/11/guine-6374-p9021-historia-do-bart-2917.html
(8) Guiné 63/74 - P9322: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (2): "P'la Guiné e suas gentes": a alocução patriótica do comandante, em Viana do Castelo, a 8/4/1970, antes da partida (Benjamim Durães) - Luís Graça & Camaradas da Guiné, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9322-historia-do-bart-2917.html
(9) Armamento apreendido a dirigente da Frente Nacional - ForumDefesa.com, acesso a maio 8, 2025, https://www.forumdefesa.com/forum/index.php?topic=3916.45
(10) ACTIVIDADE DA CART 3494 DO BART 3873 NO TEATRO DE O. P. GUINÉ (1) - Terraweb.biz, acesso a maio 8, 2025, https://ultramar.terraweb.biz/Imagens/Guine/SousadeCastro/CArt3494_actividade_01_02.pdf
(11) Guerra do Ultramar: Angola, Guiné e Moçambique, acesso a maio 8, 2025, https://ultramar.terraweb.biz/Memoriais_concelhos_Setubal_EscolaSebastiaodaGama.htm
(12) O capelão expulso por querer descalçar os dois sapatos à guerra | Sete Margens, acesso a maio 8, 2025, https://setemargens.com/o-capelao-expulso-por-querer-descalcar-os-dois-sapatos-a-guerra/
(13) O Baluarte de Santa Maria – Wikipédia, a enciclopédia livre, acesso a maio 8, 2025, https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Baluarte_de_Santa_Maria
(14) Liliana Assunção de Paulo Carona - Estudo Geral, acesso a maio 8, 2025, https://estudogeral.uc.pt/retrieve/271804/TESE-AFEMINIZA%C3%87%C3%83ODOJORNALISMOREGIONALEMCONTEXTOPORTUGU%C3%8ASOCASODOSJORNAISCENTEN%C3%81RIOS-LilianaCarona.pdf
(15) Câmara Municipal de Vila do Porto, acesso a maio 8, 2025, https://www.cm-viladoporto.pt/SITE/projectos/ver.php?id=2972
(16) Escritor mariense lançou livro "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", acesso a maio 8, 2025, https://acores.rtp.pt/cultura/escritor-mariense-lancou-livro-a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores/
(17) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores, Arsénio Chaves Puim - Livro - Bertrand, acesso a maio 8, 2025, https://www.bertrand.pt/livro/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores-arsenio-chaves-puim/30523866
(18) Etiquetas - Letras Lavadas, acesso a maio 8, 2025, https://www.letraslavadas.pt/produto-etiqueta/arsenio-chaves-puim/
(19) A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria - Arsénio Chaves Puim - Google Books, acesso a maio 8, 2025, https://books.google.com/books/about/A_pesca_%C3%A0_baleia_na_Ilha_de_Santa_Maria.html?id=FOC_HAAACAAJ
(20) O povo de Santa Maria seu falar e suas vivências / Arsénio Chaves Puim - Rede de Bibliotecas de Braga catálogo, acesso a maio 8, 2025, https://opac.rbb.blcs.pt/bib/232522
(21) Guiné 61/74 - P22819: Notas de leitura (1399): "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências", 2ª edição revista e acrescentada (2021), por Arsénio Chaves Puim, um caso de grande sensibilidade sociocultural e de amor às suas raízes (Luís Graça ) - Parte I, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/12/guine6174-p22818-notas-de-leitura-1399.html
(22) Arsénio Chaves Puim - BNP - Bibliografia Nacional Portuguesa, acesso a maio 8, 2025, https://bibliografia.bnportugal.gov.pt/bnp/bnp.exe/q?mfn=127577&qf_AU==PUIM%2C%20ARSENIO%20CHAVES
(23) A Açorianidade no Tempo - PT - Nova Gráfica, acesso a maio 8, 2025, https://www.novagrafica.pt/a-acorianidade-no-tempo-pt/
(24) Resultado de pesquisa - BNP - Bibliografia Nacional Portuguesa, acesso a maio 8, 2025, https://bibliografia.bnportugal.gov.pt/bnp/bnp.exe/q?mfn=192188&qf_CDU==394.2(469.9)
(25) Guiné 63/74 - P5338: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (4): O pacto de Deus... com os 'turras', acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/11/guine-6374-p5338-memorias-de-um-alferes.html
(26) MARC details for record no. 7026 › Biblioteca da Lagoa catalog, acesso a maio 8, 2025, https://biblioteca.lagoa-acores.pt/cgi-bin/koha/opac-MARCdetail.pl?biblionumber=7026
(27) Quinta-feira 17 de Junho de 1982 - Diário da República, acesso a maio 8, 2025, https://files.diariodarepublica.pt/gratuitos/3s/1982/06/1982d137s000.pdf
(28) Relatório Anual sobre a aplicação do Decreto Legislativo Regional n.º 20/2010/A, de 31 de maio, alterado e republicado pelo - Portal (azores.gov.pt), acesso a maio 8, 2025, https://portal.azores.gov.pt/documents/36258/8b3b8e21-9eaf-10b9-48e0-c9a799393889
Fonte: Gemini IA / Google (com Luís Graça, na revisão / fixaçãpo de texto)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 8 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26777: Parabéns a você (2374): Arsénio Puim, ex-Alferes Graduado Capelão da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/71)
(**) Vd. poste de 10 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26568: (In)citações (262): de visita ao nosso ex-capelão Arsénio Puim, que vive em São Miguel, Açores: há amizades que são maiores que a vida (Abílio Machado, ex-alf mil. CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
(***) Vd. 8 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24299: O nosso blogue por descritores (7): Arsénio Puim, com mais de 6 dezenas de referências... Foi alferes graduado capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), tendo sido expulso em maio de 1971








































