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terça-feira, 24 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26951: O Cancioneiro da Nossa Guerra (26): "Quero Ir para Lisboa", paródia cantada pela malta do BCP 12, em Cacine, em junho de 1973, ao tempo da CCAÇ 3520 (Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74),




Crachá da madeirense CCAÇ 3520, disponibilizado em formato digital pelo nosso grão-tabanqueiro Juvenal Candeias, ex-alf mil.

Foto: © 
 Juvenal Candeias (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há 13 anos atrás o  Abílio Magro (ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74), na sua série "Um Amanuense em Terras de Kako Baldé" (*), escerevia, bem humorado:



(,,,) Decorria o mês de junho de 1973. Eu ainda era muito "pira", não tinha completado ainda 3 meses de Guiné. Vinha do "ar condicionado" e encontrava-me em Cacine, no meio de grande confusão, tropas páraquedistas, fuzileiros, Marcelino da Mata, etc.

Felizmente em Cacine não faltava nada. Não faltava cerveja morna, não faltava uma pedra de gelo, por cabeça, às refeições, não faltava o arroz de "rolhas" (arroz com muito colorau e meia dúzia de rodelas de salsicha), etc., etc..

A CCAÇ 3520  [ "Estrelas do Sul", ou "Os Homeopáticos Cacine´", mobilzados pelo BI 17, Funchal, dez 71 / mar 74, com pelotões destacados em Cameconde, Guileje. Cacine, 1971/74 ] era um companhia farta. Farta de ali estar, farta de comer arroz de "rolhas", farta de esperar pela rendição. Julgo que não cheguei a completar 4 semanas de "férias" naquela "estância balnear", mas foi o suficiente para imaginar uma estadia de 23 meses!

Tenho ideia de só ter comido arroz de "rolhas" durante aquele período. Posso estar enganado. Comecei a dar mais valor ao "pessoal do mato". Antes 527 serviços de Sargento da Guarda!

O major Leal de Almeida  
 [ comandnate do COP 5 ?]  lá continuava a fazer incursões por Gadamael e levava habitualmente consigo o outro furriel. O major, além de me ter pedido, no início, para lhe dar um jeito no "estaminé", pouco mais me pediu para fazer. Apenas um ou outro "mail" para Bissau.

E eu... andava por ali a ver as "bajudas"! (...) Entretanto, eu ia jogando a "lerpa", bebendo umas "bejecas" mornas e convivendo com os sargentos paraquedistas (ah gente do "catano"!).

Recordo-me bem de um convívio noturno na "messe" de sargentos. Houve de tudo! Aguardente, fados, poesia, etc., tudo a roçar o "hard-core", claro! Gente espetacular, camaradagem excelente e com uma disciplina extraordinária, nomeadamente com o armamento.

Guardei na memória alguns versos de um fado cantado pelos "páras" com música do hino académico "Amores de Estudante" e que, salvo erro, rezavam assim:

Quero, quero ir para Lisboa,
Ai, ai, eu quero,
Nem que seja de canoa,
Eu quero ir
P'ra terra santa querida,
Dizer adeus a esta merda
P'ro resto da minha vida.

Pára-quedistas, homens nobres,
Tanto ricos como pobres,
Avançando pela mata (...)

(e de mais não me recordo)




Crachá do BCP 12. Cortesia da página do Facebook Álbuns de  


2.  Ao fim destes anos todos (!), sem qualquer "feedback" da malta do BCP 12, conseguimos recuperar o resto da letra, graças à ajuda do assistente de IA / Perplexity...


(...) Sim, reconheço a canção a que te referes! Trata-se de uma canção popular entre militares portugueses, especialmente associada aos paraquedistas. Muitas vezes é conhecida simplesmente como "Quero ir para Lisboa" ou "Canção dos Paraquedistas". A letra que apresentaste é uma das versões que circulam oralmente, sobretudo entre antigos militares que serviram nas guerras coloniais portuguesas.(...)

Letra Completa (Versão Tradicional)  (embora haja variantes);

Quero, quero ir para Lisboa,
Ai, ai, eu quero,
Nem que seja de canoa,
Eu quero ir
P’ra terra santa querida,
Dizer adeus a esta merda
P’ro resto da minha vida.

Paraquedistas, homens nobres,
Tanto ricos como pobres,
Avançando pela mata,

Com a espingarda na mão,
Sempre prontos para a luta,

Com coragem e devoção.

O assistente de IA / Perplexity deu-nos duas fontes cujos URL, segundo confirmámos, já foram descontinuados. Devem ter tido vida efémera. Nem no Arquivo.pt conseguimos recuperá-los, mas aqui fica o seu registo:
 

https://www.paraquedistas.com/forum/.

Blog "Os Paraquedistas"

https://osparaquedistas.blogspot.com/


3. A letra aqui parodiada pelos páras (de uma das 3 companhias do BCP 12, não sabemos exatamenmete qual, talvez a CCP 122 ou CCP 123) passa a  fazer  parte integrante do Cancioneiro da Nossa Guerra (**),

A autoria da letra é mais provável que seja dos páras (envolvidos na batalha dos 3 G, e que aguentaram Gadamel). A CCAÇ 3520 era madeirense, e era a unidade de quadrícula de Cacine.

De qualquer modo, a letra pdoer ser vista como uma homenagem aos bravos do BCP 12 ("sempre prontos para a luta / com coragem e devoção"), mas também diz muito sobre o "estado de espírito" e o "moral" das NT no terrível período dos três G (Guileje, Gadamael, Guidaje), em maio/junho de 1973. 

Tanto a letra como a música nada têm a ver com os "hinos guerreiros" que podemos encontrar noutras fontes da Net sobre os nossos camaradas paraquedistas...e com os quais reforçam o seu "espírito de corpo".

Eles, o BCP 12, tal como nós, "tropa-macaca" ou (ou do "arre-nacho"), todos estavávamos fartos daquela... "merda" (sic), não se vendo, em meados de 1973,  qualquer luzinha no fim do túnel.. O general Spínola vai "bater com a porta"  na cara de Marcelo Caetano...

Implícita há uma mensagem: o poder político, na altura, usou e abusou da extraordinária capacidade de sofrimento, abnegação, coragem e patriotismo do soldado português. E não esteve decididamente à altura da história!...

O BCP 12, não é preciso recordá-lo,  tem um  brilhante historial no CTIG... Cite-se, pro exemplo,  o sítio dos Boinas Verdes

(...) A competência e eficiência com que os Paraquedistas cumpriram na Guiné as missões atribuídas, de 1961 a 1974, foi paga com a morte em combate de 56 paraquedistas (47 praças, 6 sargentos e 3 oficiais). (...)


4. A letra que reproduzimos acima é uma paródia (e, afinal, não mais do que isso), que se cantarolava enter dois copos e duas saídas para o mato...


(...) Quero, ficar sempre estudante,
P'ra eternizar
A ilusão de um instante.
E sendo assim,
O meu sonho de Amor
Será sempre rezado,
Baixinho dentro de mim. (...)


(Revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Notas do editor LGF:


(**) Último poste da série > 30 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25582: O Cancioneiro da Nossa Guerra (25): Os Gandembéis - Canto IV, Estrofes de I a XI (Fim) (CAÇ 2317, Gandembel, Ponte Balana e Nova Lamego, 1968/69)

sábado, 31 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26867: Convívios (1035): Fotorreportagem do 61º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 29 de maio de 2025 (Manuel Resende / Luís Graça ) - Parte I

 

Foto nº 1 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 >  O régulo Manuel Resende visivelmente bem disposto por tudo ter corrido bem: ds 87 inscritos faltaram 4, por razões de força maior... 

E neste convívio tinhamos um "magnífico" que veio de longe: o João Crisóstomo, nosso camarada, que vive em Nova Iorque. 

Na foto, de pé à esquerda, o Luís Graça  (Lourinhã) e à direita,a sentado, o Joaquim Pinto de Carvalho (Cadaval) (fez ntem anos, uma capicua, 77...). Quatro régulos, ao fim e ao cabo: da Tabanca Grande, da Tabanca da Diáspora Lusófona, da Tabanca da Linha e, por último, da Tabanca do Atira-te ao Mar e Não Tenhas... Medo!

Foto nº 2 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 >  Aspeto parcial do 2º (e último) piso do restaurante que estava cheio (11 meses de 8 convivas)... Já há muito, desde antes da pandemia, que não se atingia praticamente a lotação máxima.


Foto nº 3 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > As "nossas mulheres grandes" (sempre "bajudas"!) desta vez responderam à chamada do nosso régulo: a sala estava muito bem composta... 

Aqui o António Duque Marques, com a esposa... O casal viva na Amadora. ("António, como é que ? És "magnífico" desde  18 de maio de 2017, mas ainda não és membro da Tabanca Grande ? Ainda por cima, meu vizinho!... Temos estado distraídos os dois, tu e eu!... Estás 'convocado' para te sentares à sombra do nosso poilão, no lugar nº 906!")... 


Foto nº 4 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Outro casal amoroso, simpatiquíssimo, fotogénico, apanhado pelo nosso fotógrafo com um sorriso lindo: o José Diniz Souza Faro e a esposa (S. Domingos de Rana, Cascais)... (Foi fur mil art, 7.º Pel Art / BAC , Cameconde, Piche, Pelundo e Binar, 1968/70, tem 14 referências no nosso blogue, e é membro da nossa Tabanca Grande desde 23/05: é "magnífico" desde 15/5/2015).


Foto nº 5 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Outro "menino da Linha", o Mário Fitas, com a sua Helena.

 É um dos "pais-fundadores" da Tabanca da Linha, em 2010 (está no livro de baptismo com a data de 19/2/2015, o que não bate certo). Ofereceu-nos, com uma bela dedicatória, o seu ultimo  livro (Mário Vicente - "Do Alentejo à Guiné: Putos, Gandulos e Guerra", ed. autor, maio de 2025, 162 pp.)



Foto nº 6 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Já não nos víamos há muito tempo, desde os bons tempos antes da pandemia!... Teve um grande susto, quase a patinar, disse-me ele...Refiro-me ao António Alves Alves (Carregado, Alenquer), que é "magnífico"  desde 15/11/2015...(Também não és "grão-tabanqueiro", temos de ver isso, camarada!)


Foto nº 7 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Manuel Gonçalves e Tucha, mais dois meninos (Carcavelos, Cascais)... São transmontanos de Bragança... O Manuel Gonçalves, ex-alf mil Manutenção,  CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73),  é "magnífico há "dois anos"... E "grão.tabanqueiro" desde 2 de agosto de 2018 (nº 776); foi alunos dos Pupilos do Exército...


Foto nº 8 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Foi uma grande alegria para todos nós (e para mim e a Alice, em especial) poder abraçar o Manuel Joaquim e a esposa... Problemas de saúde (do foro oftalmológico) tem-no impedido, há muito, de comparecer aos nossos convívios. Tem 110 referências no nosso blogue.

É autor, como se lembram, de uma das mais belas histórias, com fim feliz, contadas no nosso blogue.  Foi fur mil armas pesadas inf da CCAÇ 1419 (Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), hoje professor do ensino básico reformado: trouxe para a sua casa e educou, como padrinho, o "nosso minino Adilan", o Zé Manel, o José Manuel Sarrico Cunté...

Falámos do Adilan, à mesa, com muita emoção (!)... Agora já avô, e feliz por viver em Portugal, o Zé Manel!... Camaradas: é um grande lição de portuguesismo e de humanidade, a do Manuel Joaquim e do Adilan, aliás, Zé Manel, dois membros da Tabanca Grande (onde raça, etnia, cor de pele, religião, partido, clube, classe social, etc., ficam lá fora).. Dois grandes seres humanos que muito nos honram e a quem desejemos o melhor da vida...


Foto nº 9 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Mais dois meninos (e uma menina) da Linha... Não precisam de apresentação... São veteraníssimos nestas andanças!... São "magníficos" da primeira hora e também membros da Tabanca Grande: António Marques e Gina (Cascais) e Armando Pires (Oeiras)...

Fotos: © Manuel Resende (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Escreveu o Manuel Resende na página do Facebook da Magnífica Tabanca da Linha, quinta feira, 29 de maio, às 21:56:


Mais um convívio se realizou hoje no Restaurante Caravela de Ouro, foi o nº 61. As cadeiras ocupadas foram 83. Creio que fizemos uma boa manifestação de gratidão ao nosso camarada João Crisóstomo, que vive em Nova Iorque  e que fizemos coincidir com as suas férias cá. Quem não souber quem é o Crisóstomo vá ao Blog Luis Graça e procure. Está lá tudo.

Como de costume, e para que fique registado, tirei algumas fotos que junto, clicando neste link.

2. Vamos selecionar algumas das mais de 6 dezenas de fotos do Manuel Resende, editá-las e legendá-las. Este é o primeiro poste.  

Fica aqui também a minha / nossa gratidão ao "magnífico-mor". 

Foi mais um almoço-convívio cuja organização esteve impecável e foi do agrado geral. 

Sempre discreto, o Manuel Resende está em "todas" as funções que cabem a um "régulo":  depois de ter convocado as "tropas", sempre com música suave ao ouvido (não precisa de berrar, vai atualizando o Facebook...), e de ter orientado as coisas com o restaurante,  lá esteve ele, de novo,  para nos nos receber,  dar as boas vindas aos "piras" (7 desta vez vez!), receber a "guita", fazer as contas, pagar,  etc. 

Nunca tem tempo, coitado, para provar os aperitivos e come à pressa... Lá pega na máquina fotográfica e percorre as 11 mesas, tirando 61 chapas... em tempo recorde... E ainda por cima posando, com calma e pachorra, para os "telemóveis" que querem ficar com uma "selfie"...

Tudo começa antes das 12h30 para acabar mais ou menos às 15h00... Vamos ter saudades do nosso "régulo" quando ele se reformar (mas, felizmente, ainda falta muito...). Deus lhe dê muita saúde e longa vida,  que ele merece as duas coisas... (LG)

__________________

Nota do editor:

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26832: Facebok...ando (78): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte I: Fichas de unidade: BCAÇ 2834 e CCAÇ 2314

1. Temos apenas 7 referências à CCAÇ 2314 (e nenhum representante na Tabanca Grande, até agora, mas  o ex-fur mil Joaquim Caldeira já aceitou ser o primeiro, o que muitos nos honra, a todos nós amigos e camaradas da Guiné: vai sentar-se no lugar nº 904, à sombra do nosso poilão).

Por sua vez, há uma página do Facebook CCAÇ 2314 - Age Quod Agis (o lema da companhia que, em latim, quer dizer "faz o que tens a fazer", ou "faz bem o que fazes").

Foi nesta página que li uma série de postagens sobre a história (trágica) de Bissássema, da autoria do cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo (que esteve na CCAÇ 2314, como alf mil at inf),

Um poste recente, do nosso camarada Aníbal Silva chamou-nos a atenção para esta CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, a que pertenceu o fur mil Joaquim Caldeira (*). E o Aníbal trouxe-nos o Joaquim, uma grande história de camaradagem e amizade.

2. Para já vamos conhecer as fichas de unidade do BCAÇ 2834 e da CCAÇ 2314:

Ficha de unidade > Batalhão de Caçadores nº 2834

Identificação: BCaç 2834

Unidade Mob: RI 15 - Tomar

Cmdt: TCor Inf Carlos Barroso Hipólito | 2.0 Cmdt: Maj Inf Rui Barbosa Mexia Leitão | OInfOp/ Adj: Maj Inf Albino Simões Teixeira Lino

Cmdts Comp: CCS: Cap SGE António Freitas Novais | Cap Mil Art António Dias Lopes | Cap Inf Eugénio Baptista Neves
CCaç 2312: Cap Mil Inf Júlio Máximo Teixeira Trigo
CCaç 2313: Cap Inf Carlos Alberto Oliveira Penim
CCaç 2314: Cap Inf Joaquim de Jesus das Neves

Divisa: "Juntos Venceremos" - "Para vencer, convencer"

Partida: embarque em 10Jan68; desembarque em 15Jan68 | Regresso: embarque em 23Nov69 

Síntese da atividade operacional

(i) em 16Jan68, rendendo o BArt 1904, assumiu a responsabilidade do sector de
Bissau, com a sede em Bissau e abrangendo os subsectores de Brá, Nhacra e
Quinhámel, comandando e coordenando a actividade das subunidades ali estacionadas, por forma a garantir a segurança e defesa das instalações e populações da área; as suas subunidades foram então atribuídas a outros sectores;

(ii) em 24Jun68, foi substituído no sector de Bissau pelo BCaç 1911 e assumiu
em 25Jun68 a responsabilidade do Sector S2, com sede em Buba e abrangendo
os subsectores de Sangonhá, que viria a ser extinto em 29Ju168, Gadamael,
Cameconde, que desde 28Dez68, passou a subsector de Cacine, Guileje,
Gandembel e Buba, onde rendeu o BArt 1896;

(iii) de 20Ag068 a 07Dez68, a sua zona de acção foi reduzida dos subsectores
de Guileje e Gandembel, que foram atribuídos temporariamente ao COP 2;

(iv) em 15Jan69, a sua sede foi transferida para Aldeia Formosa, onde substituíu
COP1 e sendo então o subsector de Aldeia Formosa, incluído na sua zona de
acção;

(v) em 29Jan69, o subsector de Gandembel foi extinto e em 19Jan69, o
subsector de Buba foi atribuído ao COP 4, então criado;

(vi) em 10Ju169, por transferência da sede do COP 4 para Aldeia Formosa, o batalhão deslocou a sua sede para Gadamael, abrangendo nesta altura os subsectores de Guileje, Cacine e Gadamael;

(vi) desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, emboscadas e segurança e controlo dos itinerários, bem como operações e acções sobre as linhas de infiltração e bases inimigas, orientada para a desarticulação dos grupos inimigos que procuravam fixar-se na sua zona de acção e ainda para a segurança e protecção dos trabalhos da estrada Buba-Aldeia Formosa;

(vi) dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 2 pistolas-metralhadoras, 1 espingarda, 115 granadas de armas pesadas, 20 cunhetes de munições de armas ligeiras e 92 minas anticarro e antipessoal, destas, parte detectada e levantada nos itinerários;

(vii) em 30Set69, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso,
sendo a sua zona de acção integrada no Sector S3, então sob responsabilidade
do BArt 2865.
 
Ficha de unidade > CCAÇ 2314

(i) a CCaç 2314 seguiu em 15Jan68 para Tite, a fim de efectuar a adaptação operacional sob orientação do BArt 1914 e seguidamente reforçar este batalhão,  depois o BCav 2867, como subunidade de intervenção e reserva do sector, tendo realizado patrulhamentos e acções ofensivas nas regiões de Jufá, Bissilão e Nova intra, entre outras e guarnecendo, temporariamente, a povoação de Bissássema, de 03Fev68 a 03Mar68, na sequência de frequentes ataques inimigos;

(ii) em 06Ag068, rendendo a CCaç 1624, assumiu a responsabilidade do subsector de Fulacunda, no mesmo sector, vindo a ser substituída mais tarde na
intervenção pela CArt 2414;

(iii) entretanto, pelotões seus colaboraram ainda em operações efectuadas noutras regiões, ou em reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente em Bedanda, Xitole, Nova Sintra e Jabadá e também na organização das autodefesas de Cansonco e Chumael, de princípios de Jan69 a 24Fev69, no sector do BCaç 2852;

(iv) em 30Jun69, por troca com a CCav 2482, voltou a Tite, onde assumiu a
responsabilidade do respectivo subsector;

(v) em 290ut69, iniciou o deslocamento por fracções, para Bissau, sendo substituída em Tite por três pelotões da CCav 2484, até à chegada da CCav 2443, após o que se manteve aguardando o embarque de regresso.
____________

Observações - O BCAÇ 2834 tem História da Unidade (Caixa nº 71 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM). As CCaç 2312, CCaç 2313 e CCaç 2314 têm História da Unidade (Caixa n.º 76 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM). 

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, 
pp. 104-106.

3. Desta subunidade fazia parte o hoje cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo. 

Natural de Meda, onde nasceu em julho de 1945, foi alf mil at inf da CCAÇ 2314. Enveredou depois pela carreira mitar, primeiro no Exército e depois na GNR, onde se reformou com o posto de coroenl, em 2008. Atualmente, na situação de reforma, vive na cidade de Gouveia, desde 1984. É o Presidente do Núcleo de Meda da Liga dos Combatentes. Tem hoje como centros  de interesse a rádio, a investigação histórica e a fotografia. 

(Fonte: Correio da Guarda, 02.06.21)

Em próximo poste apresentaremos um apontamento do Pais Trabulo sobre "a tragédia de Bissássema", da qual ainda sabemos pouco...

Sobre o o topónimo "Bissássema" temos apenas 14 referências. Os camaradas que lá lutaram, sofreram, morreram e, por fim, venceram (o PAIGC), merecem mais! A começar pelos prisioneiros que o PAIGC fez, em 3 de fevereiro de 1968, todos da CCAÇ 1743, estacionada em Tite, e só libertados na sequência da Op Mar Verde, em 22 de novembro de 1970:

  • António Júlio Rosa, ex-alf mil inf (Mangualde, 1946- Lisboa, 2019);
  • Geraldino Marques Contino, , ex-1º cabo nº 093526/66,
  • Victor Manuel de Jesus Capítulo, ex-sold nº 034660/66, 
(**) Último poste da série >14 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26797: Facebook...ando (77): 24º encontro anual da 26ª CCmds (Brá, 1970/72), na Quinta do Paúl, Ortigosa, Leiria ... Homenagem poética à "Geração Afro" (Angelino Santos Silva)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26532: In Memoriam (535): Leite Rodrigues (1945-2025), cap ref da GNR, cavaleiro olímpico, ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), voltou, em abril de 2017, aquela "terra verde-rubra" que continuou a amar, apesar de lá ter sido ferido gravemente em combate, em outubro de 1967 (Fotos: José Manuel Cancela)


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Zona Oeste >  Hotel Rural de Uaque, próximo de Mansoa > Abril de 2017 > O Leite Rodrigues e a sua "pileca" guineense...  Um cavaleiro olímpico mostra o saber-ser, o saber-estar,  o saber-fazer e o saber-montar-em-toda-a-sela... em qualquer parte do mundo!


 Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Bafatá > 4 de abril de 2017 > O Leite Rodrigues com a Célia e o João Dinis (1941-2021), donos do restaurante "Ponto de Encontro", porto de abrigo de muitos portugueses que voltam à Guiné em viagem de saudade... 

O João Dinis, nosso grão-tabanqueiro, era também dono da escola de condução automóvel de Bafatá. Era um militar português, da CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65), integrada no BCAÇ 513 (com sede em Buba)... Vivia na Guiné desde 1963. Natural de Alvorninha, Caldas da Rainha (conterrâneo do cardeal José Policarpo, 1936-2014), casou em janeiro de 1972, aos 31 anos, com a Célia, de 18 anos de idade. O casal teve 3 filhos (um rapaz, falecido aos 25 anos, e duas raparigas mais velhas a viver em Portugal). Infelizmente, morreu de Covid-19, durante a pandemia.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Bafatá > 4 de abril de 2017 >  No restaurante "Ponto de Encontro". O Leite Rodrigues ao fundo da mesa, do lado direito, tendo á sua esquerda o Antônio  Barbosa, também nosso grão- tabanqueiro.


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Cache > São Domingos, a caminho da praia de Varela, com paragem em Susana  >  Abril de 2017 >  Parte do grupo vendo possivelmente um desafio de futebol na TV... O Leite Rodrigues, ao centro.



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > s/l > Abril de 2017 > s/ legenda


Foto nº 10 > Guiné-Bissau >  Zona Oeste >  Hotel Rural de Uaque, próximo de Mansoa > Abril de 2017 >  


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > s/l > Abril de 2017 > O grupo (que parece estar completo) com um líder político ou  religioso (?)... Talvez o PR da Guiné. A foto deve ter sido tirada por um dos 2 motoristas.


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > s/l >  Abril de 2017  > O Zé Cancela


Foto nº 13 > Guiné-Bissau >  s/l >  Abril de 2017  > O Zé Cancela.


Foto nº 14 > Guiné-Bissau > Bissau >  Ponte Amílcar Cabral sobre o Rio Mansoa >  Abril de 2017  > O Zé Cancela.


Foto nº 15 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu  >  Abril de 2017  > O Zé Cancela, de pé, encontados ao monumento que parece ser um antigo "padrão dos Descobrimentos", eventualmente transformado em monumento às vítimas da escravatura e trafico negreiro: o brasão de armas de Portugal terá sido picado, aproveitou-se a pedra... À esquerda, de costas, está o Leite Rodrigues e o Vitorino.


Fotos (e legendas): © José Cancela (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada Leite Rodrigues (1945-2025), que passou a integrar a Tabanca Grande a título póstumo, sob o nº 899,  voltou à Guiné-Bissau em abril de 2017, com mais camaradas da Tabanca de Matosinhos: o José Manuel Cancela, o  João Rebola (1945-2018) (ex-fur mil,  CCAÇ 2444, Bula, Có, Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), o António Barbosa, o Angelino Silva, o José Manuel Samouco, o Eduardo Moutinho, o Rodrigo Teixeira e o Monteiro...

 Penso que ficaram instalados no Hotel Coimbra, alugaram dois jipes, e percorreram parte da Guiné (Bissau, Zona Oeste e Zona Leste). Não temos aqui â mão o percurso. Foi na época seca, abril de 2017.
 
O Zé  Cancela teve a gentileza, a meu pedido, de me mandar algumas fotos desta viagem. Já publicámos algumas no poste P26527 (*). 

 Recorde-se que o Leite Rodrigues foi ferido com gravidade  em outubro  de 1967,  no decurso da Op Invicta II  na região de Caresse, a  caminho de Sinchã Jobel no subsetor  de Geba, sector L2 (Bafatá),  quando a sua CCAV 1748 estava aquartelada em Contuboel...  (Foi evacuado para o HM 241 e depois para o HMP, já não tendo regressado à Guiné.) 

Seria interessante que um ou mais dos seus companheiros de viagem pudessem partilhar aqui, connosco, as reações do nosso camarada recentemente falecido. Seguramente partilhou nessa altura (e depois na Tabanca de Matosinho) as suas emoções com o grupo.  (**)

PS1 - O José Manuel Cancela foi ex-Soldado Apontador de Metralhadora, CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70). Tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue.

PS2 - Afinal o grupo que foi à Guiné-Bissau, de 30 de março a 7 de abril de 2017, era maior: "13 elementos, que englobavam os colegas Moutinho, Vitorino, Rebola, Ferreira, Marques Barbosa, Leite Rodrigues, Isidro, Monteiro, Cancela, Rodrigo, Angelino, Samouco (que embarcou em Lisboa) e eu próprio" (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, cmdt da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74): o nosso camarada, membro da Tabanca Grande, fez a reportagem completa desta viagem, em 11 postes, publicados em setembro e outubro de 2017.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26527: Tabanca Grande (568): Homenagem ao capitão e cavaleiro Leite Rodrigues (Aveiro, 1945 - Matosinhos, 2025), ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), membro da Tabanca de Matosinhos: passa a sentar-se, simbolicamente, no lugar n.º 899, sob o nosso poilão, a título póstumo

(**) Último poste da série > 24 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26523: In Memoriam (534): O Alberto Leite Rodrigues que eu conheci (José Teixeira/Tabanca de Matosinhos)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26272: Notas de leitura (1755): "Lavar dos Cestos, Liturgia de Vinhas e de Guerra", por José Brás; Chiado Books, 2024 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
O José Brás/Filipe Bento volta a vindimar com a sua escrita assombrosa, creio que traz recados e avisos solenes de que isto de fazer a vindima vai até o lavar dos cestos, ou seja, que nós combatentes não fiquemos no belo recato de ler o que os outros escrevem atirando para trás das costas as tais memórias da guerra colonial que não se apagam. É um livro comprometedor, a arquitetura vem dos tempos do seu belíssimo romance Vindimas no Capim, mas o que agora nos oferece é mais o sinal dos tempos, constrói-se pelo poder da memória, revisitam-se lugares, gentes, pesadelos e solidariedades e posso-vos dizer que dentro deste processo de escrita onde se fala em termos litúrgicos, como antífona, a oração sobre as oblatas, a oração dos fiéis, despede-se de nós com um solene aviso: compete-nos também o registo de deixar para os outros aquilo que sentimos não foi em vão que por ali andámos a penar para tudo cair no esquecimento.

Um abraço do
Mário



Filipe Bento volta a fazer vindima e diz-nos que do capim há memórias que não se apagam (1)

Mário Beja Santos

A década de 1980 revelou que a literatura da guerra colonial estava a dar um salto qualitativo, entrara-se num período de acalmia e o pulsar da memória levedou numa quase inesperada ficção, podia aqui citar um conjunto de influentes romances, até ensaios, obras de historiografia, poesia, alguma investida memorial, mas fixo-me num surpreendente romance, justamente premiado pela Associação Portuguesa de Escritores, "Vindimas no Capim", de José Brás, então um autor desconhecido. Tratava-se de um romance de formulação invulgar, uma permanente conversa com o leitor, como se estive a acirrá-lo com perguntas, dando ele próprio respostas exclamativas, uma autobiografia de alguém que passara a sua juventude em meios agrícolas, e depois no Sul da Guiné, aqui as vindimas foram outras, havia Guileje, Mejo, Gandembel, lá ao fundo, sempre próximo do Corredor da Morte, havia Cacoca, Sangonhá e Cameconde, lá em cima Balana e, claro está, Aldeia Formosa, Filipe Bento estacionará em Mejo e noutros lugares de permanente sobressalto, confessará as suas dores e amargores, escreverá de forma inequívoca aquilo que muitos de nós já sabíamos e que se veio a comprovar: há memórias da guerra colonial que não se apagam. Mas nas "Vindimas no Capim" sentia-se aquela onda de calor em comunicar a quem quer que seja que aqueles jovens saídos de terras pobres, ordenados numa vida áspera, tinham sido lançados na defesa de uma parcela colonial, acoitados nuns fortins improvisados, a experimentar as penas do inferno. E Filipe Bento perguntava vezes sem fim porque é que tinha andado naquela vindima de pesadelo e porquê tudo por que passara estava agora tão esquecido, quem iria ganhar com o desmemoriamento de tanta luta inglória.


É nisto que o octogenário José Brás salta do esquecimento em que caiu tanta vindima e nos vem alertar do seguinte modo: “Na liturgia das vinhas a vindima seria o seu último salmo. Todavia, na voz do povo se diz que não acaba a missa no corte do último cacho; na derradeira lagarada; no bago que fecha o tonel, e que muita vindima há ainda por fazer até ao lavar dos cestos. Nas courelas que restaram deste anacrónico império, depois da colheita, quantos cestos continuam melados com o mosto das repisadas uvas brancas e tintas?” Presumo que aquilo que ele nos quer dizer é que temos todos a obrigação de fazermos a nossa vindima até ao lavar dos cestos, é assim o dever de memória para que as novas gerações guardem na sua identidade um sofrimento inaudito dos seus ancestrais, participantes num desastre anunciado.

Temos agora o "Lavar dos Cestos", José Brás e Chiado Books, 2024, Filipe Bento regressa ao Sul da Guiné, quartel de Guileje, estão a ouvir-se estrondos em Gandembel, quem aqui está vive o pesadelo, um quotidiano de infortúnio, fez-se um octógono que até parece inexpugnável, ali no Corredor da Morte, o PAIGC não se intimida com aquele fortim solitário, espicaça quem lá vive com tormentosas flagelações, Filipe acordou arrelampado com tanto estrondo, reflete em voz alta:
“Mejo e Guileje, buracos abertos na mata subtropical do Sul da chamada província ultramarina da Guiné, quadrados de cem, cento e poucos metros de lado, paliçada a todo o perímetro construída por duas paredes de cibes, rijíssimas árvores cortadas a propósito e sobrepondo-se, tronco deitado sobre tronco, deitado até uma altura de um homem baixo, separadas as ditas paredes por cerca de um meio metro de vazio que seria cheio de terra, finalmente, quando não mesmo, muitas vezes ainda, e com isso, nesses casos, lá fica desasada a palavra finalmente, muitas vezes ainda, volto a dizer, cosida exteriormente a chapa dos dois lados, lata recuperada dos bidões de duzentos litros da gasolina que alimentava as viaturas, unimogs, jipes e GMC’s, e o gerador elétrico do local destas praças militares portuguesas intervaladas por postos e aquartelamentos do inimigo a escassas distâncias, quatro, cinco, sete quilómetros de mata densa e alta.”

Pode parecer absurdo um inimigo, feroz e destemido, altamente motivado, estar posicionado a tão curta distância, mas as coisas passaram-se assim, aquele corredor da morte era um cordão umbilical para abastecimentos do PAIGC, de gentes, armamento, coisas de hospital e farmácia e mantimentos para a boca. E Filipe Bento já sonha com a passagem para Bolama, mas para ali chegar há que percorrer uma boa distância até Gadamael-Porto, e então, por lancha ou batelão e rio abaixo até Bolama. Mas, ó gente, vamo-nos preparar porque Filipe Bento tem histórias passadas para contar, fez recruta e especialidade, passou pela Carregueira, vai-nos contar ao pormenor e com palavreado da caserna, tudo quanto ali viveu, nas Caldas da Rainha ou em Tavira, entra em cena o major Leiria, associado àquele território onde ele passou a juventude, o pessoal das vinhas. O segredo desta vibração da escrita passa pela recuperação da arquitetura que o José Brás já utilizara em "Vindimas no Capim", a interpelação que tanto desassossega o leitor, ora estamos no quartel ora na taberna, e até se aproveita a circunstância para se dar ensinamento ao leitor urbano:
“Se vocês pensavam que uma enxada era assim uma coisa tão simples, só uma enxada, sem mais nada, a bendizer só a palavra, desenganem-se!
Enxada de dois ferros, um pouco mais curta na chapa, a fim de realizar uma cava mais funda com duas enxadadas no mesmo exato lugar. Enxada de um ferro, mais compridita para cavar num só golpe, não tão fundo, mas envolvendo uma amplitude maior de terra. Enxada de dois bicos que, como o nome indicia, alongava a meia-lua nos bicos, mais grossa e pesada, com um cabo direito para cavar terra seca e amontoar levas atrás do cavador a fim de facilitar a entrada da luz do Sol até mais fundo.”


Umas vezes estamos lá na terra das vindimas, outras vezes nas Caldas, em Tavira ou em Caçadores de Infantaria. Mas importa que se saiba onde vivia Filipe Bento antes de pegar em armas:
“A aldeia é pequena. Apesar de ser sede de Freguesia, de ter igreja paroquial, procissão dos passos anualmente, duas mercearias, festas de verão, escola de rapazes e raparigas, tem apenas a rua principal que sobe desde o cemitério, mesmo ao pé das abegoarias do Manel, outro Manel, Cortador, dono do talho, perto também da forja do Tóino Ferreiro, e passa pela farmácia, à esquerda, sempre a subir e do mesmo lado, a loja debaixo, o casarão apalaçado do Zé Fernandes, os Figueiras com a padaria.” E a descrição vai até ao largo, ficamos também a saber que o caminho que nos levaria à Seteirinha se à Seteirinha quiséssemos ir, tínhamos duas casas grandes do lado direito de quem entra, subindo como vínhamos subindo, olhando as fachadas, tentando perceber a gente que atrás delas vive. No canto direito do limite do largo, a loja de cima que fica por baixo da escola dos rapazes.

E depois, o Filipe Bento vai-nos falar de vinhas e enxertias e até de podas, prepare-se o leitor para uma exaltação das magnificências do que se extrai da terra, que beleza de escrita.
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Aspecto geral da Sala
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Intervenção do Coronel Carlos Matos Gomes
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Intervenção do nosso camarada Mário Beja Santos


Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro Lavar dos Cestos, por José Brás > Actuação do Grupo Coral Fora D'Oras

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 8 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26125: Agenda cultural (865): Convite para o lançamento do livro "Lavar dos Cestos - Liturgia de Vinhas e de Guerra", da autoria de José Brás, a levar a efeito no próximo dia 1 de Dezembro, pelas 15h00, na Casa do Alentejo, Rua das Portas de S. Antão, 58 - Lisboa. Com a participação do Coronel Carlos Matos Gomes, representante da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e do Grupo Coral Fora D'Oras (Cante)

“LAVAR DOS CESTOS - Liturgia de Vinhas e de Guerra” pode ser adquirido na rede de livrarias independentes espalhadas por todo o país;
É também comercializado Online na seguinte rede:
- AtlanticBookshop.pt
- Fnac.pt
- Bertrand.pt
- Wook.pt
- e ainda a pedido via mensagem na página Facebook do autor ou e-mail jasbras1@sapo.pt e enviado via correio CTT.

Último post da série de 13 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26263: Notas de leitura (1754): Ex-combatentes açorianos da Guiné falam das suas tatuagens (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26175: Para bom observador, meia palavra basta (6): O fortim de Cabedu

 


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Península de Cubucaré, Cantanhez > Cabedu >  Restos (arqueológicos...) do antigo destacamento de Cabedu... O fortim.... 

Por aqui passaram, em 1963/56, os valorosos e esforçados militares portugueses da CCAÇ 555, comandados pelo cap inf António Ritto  (de seu nome completo, António José Brites Leitão Rito) e de que fazia parte o fur mil at inf Norberto Gomes da Costa, hoje mestre em história,  e membro da nossa Tabanca Grande.  (Vd. livro "Missão na Guiné, Cabedu, 1963-1965”, por António José Ritto e Norberto Gomes da Costa, com a colaboração de José Colaço. Linda-a-Vela, DG Edições, 2018) (*)

A CCAÇ 555, em 28dez63assumiu a responsabilidade do subsector de Cabedu, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 356 e depois do BCaç 619; d20 a 22set64, tomou parte na Op Tornado, a região do Cantanhez. Em 25set65, foi rendida pela CCaç 1427, por troca, recolhendo por escalões, até 11out65, a Bissau.

Foto (e legenda): © José Teixeira  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e lehendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > c. 1966 > Foto do álbum do Tony Grilo, (Canadá): artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)-

A CCAÇ 1426, de 25set65 a 11out65, rendeu por troca, a CCaç 555, assumindo então a
responsabilidade do subsector de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 619 e depois do BCaç 1858, tendo tomado parte em diversas operações realizadas naquela área. Em 31mar67, foi rendida no subsector de Cabedú pela CArt 1614 e
recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
 
Foto (e legenda): © Tony Grilo (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e lehendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

 Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > Vista aérea do aquartelamento e pista de aviação. Foto do ãlbum do Manuel José Janes,  "O Violas", membro da Tabanca Grande.

Em substituição da CCaç 1427, foi deslocada para Cabedú, em 30mar67, a CART 1614, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, e ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 1913. Em 6jan68, foi substituída, transitoriamente, pela CArt 1689 até à chegada  da CCaç 1788.

Fotos (e legendas): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > c. 1966 >  Vista aérea do aquartelameento e parte da pista que atravessava a tabanca ao meio.


A CArt 2476 / BART 2865  seguiu em 16fev69 para Catió a fim de render a CCaç 1788, assumindo, em 17fev69, a responsabilidade do respectivo subsector, com dois pelotões no destacamento de Cabedu e, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.
Em 6dez70, foi rendida no subsector de Catió pela CCaç 2792.

Esta útima assumiu, nessa data,  a responsabilidade do subsector de Catió, com dois pelotões no destacamento de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2865 e depois do BCaç 2930, tendo sofrido várias flagelações aos aquartelamentos e executado patrulhamentos, emboscadas e contactos com as populações. Em 21go72, foi rendida no subsector de Catió pela CArt 6251/72, tendo-se deslocado por fracções, em 13ago72 e 23ago72, para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
 
Fotos (e legendas): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


1. Não se sabe ao certo quando e por quem foi construído o fortim de Cabedu...Talvez pela a primeira companhia de quadrícula, a CCAÇ 555. Ou das seguintes:  CCAÇ 1427, CART 1614, CCAÇ 1788, CCAÇ 2792...

Temos que reler as memórias de Cabedu, do Norberto Gomes Costa. O Orlando Pinela,  que esteve lá, na CART 1614 (1966/68), não se lembra do fortim... Nem dos três espaldões dos obuses...

Será que a construção do fortim é data posterior a estas  primeiras três companhias ?

Mas o fortim ainda lá está ou estava, em 2008, quando o Zé Teixeira o fotografou, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, em março desse ano. Foi expressamente a Cabedu, mais o nosso saudoso Pepito (e outros camaradas como o Zé Carioca), para inaugurar o fontenário (**).

Em 1971, quando o cap art, cmdt da CCAÇ 2696 (Gadamael, 1970/72), Morais da Silva, sobrevoou de avioneta Cabedu, a caminho de Catió, o fortim já lá estava, como o atesta a foto aérea que ele tirou, mas sem até hoje ter a certeza que estava a fotografar Cabedu (destacamento da CCAÇ 2792, com sede em Catió, cujo comandante, seu camarada,  ele ia visitar) (***)... 

Estava  já o fortim ou não estava, caro leitor, tu que és bom observador (****) ?!





Guiné > Região de Tombali > Península de Cubucaré > Cabedu > 1971 > Vista aérea da povoação, pista de aviação e destacamento das NT em finais do ano de 1971 >  O fortim vem assinalado a amarelo.

Foto: © Morais da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor: