sábado, 23 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5690: Armamento (2): Pistolas, Pistolas-Metralhadoras, Espingardas, Espingardas Automáticas e Metralhadoras Ligeiras (Luís Dias)




1. O nosso Camarada Luís Dias*, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, enviou-nos em 22 de Janeiro de 2010, a segunda mensagem desta série, com a primeira parte desta matéria. No Poste P5682, encontra-se a segunda parte.


Chegastes meninos! Partis Homens!

General António Spínola


O Alf Mil Luís Dias


Dedicado a todos aqueles que como combatentes palmilharam as matas, trilhos, bolanhas, picadas, estradas e rios das terras quentes da Guiné, durante a Guerra Colonial.


E ao II Grupo de Combate da C.CAÇ 3491, os meus dilectos camaradas de armas, de “Alma Forte” - os lenços azuis do Dulombi.


ARMAMENTO E EQUIPAMENTO DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS E DOS GUERRILHEIROS DO PAIGC NA GUERRA COLONIAL


GUINÉ 1971 - 1974

Iª PARTE


1. ARMAMENTO LIGEIRO

1.1 AS PISTOLAS

1.1.1 FORÇAS PORTUGUESAS:

No século XX, o Exército Português, seguindo os padrões ocidentais, trocou o revólver pela pistola, adoptando, primeiramente, em 1908, a pistola Luger, de origem alemã, no calibre 7,65 mm Parabellum e a Marinha, a Luger, no calibre 9 mm Parabellum (ou seja, ao mesmo tempo que foi distribuída ao exército alemão). 

O nosso país volta a adquirir, em 1935, mais pistolas Luger para a GNR, ainda no calibre 7,65 mm Parabellum e, mais tarde, em 1943, volta a comprar, isto em plena II Guerra Mundial, pagando com a exportação de volfrâmio 4 500 pistolas, no calibre 9 mm Parabellum, passando a ser conhecida como: Pistola 9 mm m/943 Luger Parabellum (usualmente chamada apenas de Parabellum), que foi a principal pistola do exército português até aos anos 60.

Durante a I Guerra Mundial, dado estarmos em guerra com a Alemanha e precisarmos de uma pistola para completar o armamento do exército, foi adquirida, em 1915, a pistola m/908, Savage, dos EUA, no calibre 7,65 mm Browning, com o nome de Pistola 7,65 mm m/915 Savage. Esta pistola foi usada em paralelo com a Luger, tendo sido distribuída também à GNR e depois à PSP. Foram retiradas do serviço com a aquisição, em 1961, da pistola Walther P-38 (nalguns teatros de guerra, como Angola, em unidades de cavalaria, continuou a usar-se, em paralelo, a Luger).

As forças portuguesas tinham como pistola regulamentar a PISTOLA WALTHER P-38 (P1).

Walther P-38

A pistola Walther P-38 é uma arma semi-automática, com origem na Alemanha (fábrica Carl Walther), datada originalmente de 1938 e foi a substituta da Luger, como a principal pistola alemã da IIª Guerra Mundial, com provas dadas em diversos teatros de guerra. Em meados dos anos 50, foi seleccionada para equipar o novo Exército da RFA e, com ligeiras alterações, passou a denominar-se P1 e é este modelo que veio para Portugal, passando a ser a pistola das guerras de África.

Características desta arma
  • TIPO: Pistola semiauto
  • PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
  • CALIBRE: 9 mm Parabellum
  • DATA DE FABRICO INICIAL: 1938
  • NÚMERO DE ESTRIAS: 6
  • ALCANCE MÁXIMO: 1 600 m
  • ALCANCE ÚTIL: 50 m
  • ALCANCE PRÁTICO: 5 a 10 m
  • PESO: 0, 867 Kg com carregador com 8 munições
  • MUNIÇÂO: 9x19 mm a 8 g
  • ALIMENTAÇÃO: 8 munições num carregador unifilar metálico, colocado no punho da arma.
  • MECANISMO DE SEGURANÇA: Fecho de segurança lateral com imobilização do percutor e imobilização do desarmador.
  • FUNCIONAMENTO: Arma de tiro semi-automático com curto recuo do cano e de acção dupla.

1.1.2 FORÇAS DO PAIGC

A pistola usada pelas forças de guerrilha do PAIGC era, principalmente, a TOKAREV TT-33.


Tokarev TT-33


A pistola Tula Tokarev TT-33 surgiu na URSS, baseada no desenho da Colt-Browning e foi a pistola das forças da União Soviética durante a IIª Guerra Mundial, vindo posteriormente a ser fabricada pelos países do Pacto de Varsóvia e pela China até ser substituída pela Makarov, no calibre 9 mm Mk.

Características desta arma
  • TIPO: Pistola semiauto
  • PAÌS DE ORIGEM: URSS, países do Pacto de Varsóvia e China
  • CALIBRE: 7,62 mm Type P
  • DATA DE FABRICO INICIAL: 1933
  • ALCANCE ÚTIL: 50 m
  • ALCANCE PRÁTICO: 5 a 10 m
  • PESO: 0,840 kg com carregador com 8 munições
  • MUNIÇÂO: 7,62x25 mm Tokarev
  • ALIMENTAÇÃO: 8 munições num carregador unifilar colocado no punho.
  • SEGURANÇA: A única segurança é feita pelo cão travado (half-cock) a meio de ser armado.
  • FUNCIONAMENTO: Pistola semi-automática, funcionando por recuo do cano e de acção simples. As forças do PAIGC possuíram ainda pistolas CZ, de origem Checoslovaca, nos calibres 6,35 mm e 7,65 mm.
1.1.3 OBSERVAÇÕES

A pistola Walther P-38, é uma arma de grande qualidade, muito robusta, tendo-se mantido ao serviço das forças armadas portuguesas ao longo de todos estes anos, embora se preveja vir a ser substituída em breve. É uma arma excelente para tiro prático, sendo nitidamente superior, quer no tipo de munição utilizada (9 mm Parabellum), quer no seu funcionamento, à Tokarev que, segundo alguns autores, encravava com alguma facilidade devido a problemas com o carregador. A Walther tem ainda a vantagem de funcionar por acção dupla (rapidez de disparo) ao contrário da Tokarev que funciona unicamente por acção simples.

1.2 AS PISTOLAS-METRALHADORAS

1.2.1 FORÇAS PORTUGUESAS

Portugal terá adquirido em 1928 para o Exército e como primeira pistola-metralhadora a Thompson m/928, de origem EUA, no calibre 11,43 mm, em pequenas quantidades e rapidamente retirada de serviço. A segunda PM foi a Bergmann m/929, de origem alemã, no calibre 7,65 mm, que foi entregue ao Exército e também à GNR, mas o seu tempo de utilidade não foi muito. A terceira pistola-metralhadora foi a Steyr, de origem austríaca, nos modelos m/935, no calibre 11,43 mm e m/942, no calibre 9 mm Parabellum. No após IIª GM, com o início do fabrico da nossa FBP, a Steyr foi retirada do serviço. Outra PM utilizada e que veio para Portugal durante o período da IIª Guerra Mundial (1942) foi a Sten Mk II, de origem britânica, no calibre 9 mm Parabellum, englobada na aquisição dos carros de combate Valentine e nas auto-metralhadoras Humber. Foi usada pela cavalaria para guarnecer as tripulações dos carros de combate e de veículos de reconhecimento blindado e terá ainda sido usada em África, no princípio dos anos 60 e na Índia nos anos 50.

Aquando do início da sublevação em Angola, Portugal adquiriu três modelos de pistolas-metralhadoras, a Vigneron m/961, de origem belga, no calibre 9mm Parabellum, a Sterling m/961, de origem britânica, também no calibre 9 mm Parabellum e ainda a UZI, de origem israelita, no calibre 9 mm Parabellum, esta muito utilizada pelos graduados em África, todas elas em pequenas quantidades e que foram usadas ao mesmo tempo que a FBP.

A Fábrica de Braço de Prata desenvolvera no pós-guerra uma PM do Major de Artilharia, Gonçalves Cardoso, a que dá o nome de FBP m/1948, arma baseada na Schmeisser MP 40 alemã e na M3 americana, no calibre 9 mm Parabellum e apenas a funcionar em tiro automático. A partir do modelo de 1961, a mesma já tem selector de tiro, podendo efectuar tiro semi-automático ou de rajada.

A PISTOLA-METRALHADORA FBP M/961 iria ser a PM mais utilizada na guerra de África.



FBP m/961

Características desta arma
  • TIPO: Pistola-metralhadora
  • PAÍS DE ORIGEM: Portugal
  • CALIBRE: 9 mm Parabellum
  • DATA DE FABRICO INICIAL: 1961
  • ALCANCE EFICAZ: 100 m
  • ALCANCE ÚTIL: 25 a 50 mPESO: 4,020 kg com carregador municiado
  • COMPRIMENTO: 805 mm
  • MUNIÇÂO: 9x19 mm Parabellum a 8 g
  • VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 360 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico unifilar com 32 munições
  • SEGURANÇA: Imobilização da culatra
  • FUNCIONAMENTO: Arma de tiro selectivo automático e semi-automático, funcionando por inércia da culatra, na posição aberta
  • CADÊNCIA DE TIRO: 500 tpmA FBP no modelo m/976 já possuía uma manga de refrigeração no cano, tornando-a mais precisa e fácil de controlar no disparo automático.Interessante é dizer-se que a PM FBP possuía uma baioneta, que seria caso único neste tipo de arma.
1.2.2 FORÇAS DO PAIGC

O PAIGC teve vários modelos de pistolas-metralhadoras, de variadas origens, entre elas as PM m/23 e m/25, de origem checa, a Schmeisser MP-38 e MP40, de origem alemã, a Beretta italiana, a Thompson americana, mas aquelas que eram mais utilizados no tempo em apreço eram: a PPSH-41 e a PPS-43.


PPSH-41

“Shpagin”A pistola-metralhadora PPSH-41, concebida por Georgii Shpagin, conhecida pelas nossas forças como a “Costureirinha”, e pelo PAIGC como a “Pachanga”, foi uma das PM mais fabricadas no mundo (mais 6 milhões de exemplares), e largamente utilizada pelo exército soviético na IIª Guerra Mundial. No pós-guerra foi usada nos países satélites, na China, Vietname e nos movimentos de libertação africanos.

Características da arma

  • TIPO: Pistola-metralhadora
  • PAÍS DE ORIGEM: URSS
  • CALIBRE: 7,62 mm Type P
  • DATA DE FABRICO INICIAL: 1941
  • ALCANCE EFICAZ: 200 m
  • ALCANCE PRÁTICO: 25 a 50 m
  • PESO: 5,45 Kg com tambor de 71 munições; 4,30 Kg com carregador de 35 munições
  • COMPRIMENTO: 843 mmMUNIÇÂO: 7,62x25mm Tokarev
  • VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 488 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Tambor de 71 munições ou carregador curvo de 35 munições
  • SEGURANÇA: Através de travamento da culatra na posição recuada ou quando fechada.
  • FUNCIONAMENTO: Arma de disparo selectivo de tiro (auto ou semi-auto), funcionando por inércia da culatra, através da posição aberta
  • CADÊNCIA DE TIRO: 900 tpm
Sudaev PPS-43

A pistola-metralhadora Sudaev foi fabricada na II Guerra Mundial pela URSS, com o desenho de Sudaev, entre 1943 e 1946 (perto de 2 milhões de PM), e era uma arma mais compacta que a sua antecedente, sendo distribuída às unidades blindadas e pára-quedistas. Alguns autores afirmam tratar-se da melhor PM da IIª GM. Após a guerra foi exportada para muitos países e foi muito copiada. Era conhecida pelos guerrilheiros como a “decétrin”.

Características da arma
  • TIPO: Pistola-metralhadora
  • PAÍS DE ORIGEM: URSS
  • CALIBRE: 7,62 mm Type P
  • DATA DE FABRICO INICIAL: 1943
  • ALCANCE EFICAZ: 200 m
  • ALCANCE PRÁTICO: 25 a 50 mPESO: 3,67 Kg com o carregador completo
  • COMPRIMENTO: 831 mm
  • MUNIÇÃO: 7,62X25 mm Tokarev
  • VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 500 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Carregador curvo com 35 projécteis
  • SEGURANÇA: Colocada à frente do guarda mato, travando a culatra
  • FUNCIONAMENTO: Arma de disparo unicamente automático, funcionando por inércia da culatra, partindo da posição recuada/aberta
  • CADÊNCIA DE TIRO: 500 a 600 tpm
1.2.3 OBSERVAÇÕES

A pistola-metralhadora FBP não era uma arma fiável, porque tinha a mola de soltura do carregador numa posição que poderia fazer com que alguém, mais nervoso, empunhando mal a arma, carregasse na mola inadvertidamente, soltando o carregador e se desse ao gatilho não sairia nenhum projéctil. Por outro lado, o sistema de segurança não era famoso, porque em caso de queda da arma, poderia dar-se o disparo da mesma (aconteceu-me no Dulombi, em que a arma caiu no quarto e efectuou um disparo inadvertido que, felizmente, não teve consequências). Por estas razões, esta arma, no período em apreço, não era muito utilizada em termos operacionais.

A célebre “costureirinha” dava fama ao nome devido ao “seu cantar” muito próprio (elevada cadência de disparos). Era uma arma pesada, com uma munição não muito potente e com problemas de falhas no funcionamento, quando utilizava o tambor, tornando-se incómoda no transporte, face à sua configuração e devido à sua elevada cadência, consumia muitas munições, não sendo também muito precisa.

A Sudaev aparecia em poucas quantidades e era tecnicamente superior à Shpagin, embora só produzisse disparo automático, compensando, contudo, por ter uma cadência bem mais baixa.


Munição 7,62x25 mm Type P/Tokarev, utilizada na pistola TT33 e nas Pistolas-metralhadoras PPSH-41 e PPS-43


Munição 9x19 mm Parabellum ou Luger, utilizada na pistola Walther P-38 e nas pistolas-metralhadoras ao serviço das forças armadas portuguesas.

1.3 AS ESPINGARDAS

1.3.1 FORÇAS PORTUGUESAS

Uma das primeiras espingardas de retro carga que Portugal teve, embora em pequena quantidade foi a Martini, de origem inglesa, no calibre 11,43 mm, que chegou ao nosso país em 1879. Em 1883, o Alferes do Exército, Luís Castro Guedes, terá apresentado à comissão nacional uma espingarda de sua concepção, num sistema semelhante à Martini, mas de mecanismo diferente – A espingarda Castro Guedes, no calibre 8 mm. Em 1886, o processo de fabrico desta arma é suspenso, quando já existiam alguns milhares de espingardas na fábrica Steyr na Áustria. Por troca, o nosso país recebeu a espingarda Kropatschek, no calibre de 8 mm e mais tarde a carabina da mesma marca. Esta arma de repetição iria ser importante nas campanhas de Pacificação em África, na década de 1890. No final do século XIX, princípio do século XX, Portugal adquire a espingarda Mannlicher, de origem austríaca, no calibre 6,5 mm, por ser mais rápida no carregamento que a anterior (recurso a lâmina de recarregamento), que virá a transformar em 1946, na Fábrica de Braço de Prata, para o calibre 5,6 mm e serão usadas para instrução de tiro. Em 1904 o capitão Alberto Vergueiro concebe uma culatra de ferrolho, diferente do da Mauser e que foi adaptada a esta arma (Mauser G-1898), com o nome de Mauser-Vergueiro m/904, no calibre 6,5 mm, mais tarde no calibre 7,9 mm e que foi a arma padrão do Exército, na I Guerra Mundial nos teatros africanos (Angola e Moçambique) e no continente e ilhas, sendo que o Corpo Expedicionário Português em França, usou a espingarda inglesa Lee-Enfield m/MK III, no calibre 7,7 mm. Em 1937, Portugal adopta a Mauser 98K, com o cartucho de 7,9 mm, de origem alemã, com a denominação Mauser m/937, de 7,9 mm, que é considerada a melhor espingarda de repetição jamais fabricada. É uma das principais armas que segue para Angola, no início do conflito, mas é rapidamente substituída pela chegada das espingardas automáticas. Foi, no entanto, distribuída até 1974, às unidades de recrutamento nativo e na Guiné ela estava presente nos reordenamentos constituídos em auto-defesa e existiam algumas nas tropas de quadrícula.

Mauser 98k

Características desta arma
  • TIPO: Espingarda de repetição
  • PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
  • CALIBRE: 7,9 mm
  • DATA DE FABRICO INICIAL: 1935
  • NÚMERO DE ESTRIAS: 4
  • ALCANCE MÁXIMO: 4 500 m
  • ALCANCE EFICAZ: 1 500 m
  • PESO: 4 Kg com munições
  • COMPRIMENTO: 1, 10 m
  • MUNIÇÃO: 7,92x35,3 mm Mauser
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 755 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Depósito fixo para 5 munições
  • SEGURANÇA: Imobilização do percutor/cão
  • FUNCIONAMENTO: Arma de retrocarga de tiro de repetição

1.3.2 FORÇAS DO PAIGC

As forças do PAIGC, mantinham ainda em algumas unidades a espingarda de repetição Mosin-Nagant que, nos seus variados modelos (M1891-1910, M1891-1930, M1891-1938 e M1891-1944), já tinha servido em muitas guerras, desde a Guerra Russo/Japonesa, a I Guerra Mundial, passando pela Revolução Soviética, a Guerra Finlo/Russa, IIª Guerra Mundial, Guerra da Coreia e Guerra do Vietname, sendo conhecido por “Vintovka Mosina” (espingarda Mosin), entrando ao serviço do Czar Russo em 1891 e mantendo-se em serviço por mais de 60 anos. Foi inventada pelo Capitão Sergei Mosin e pelo desenhador belga Léon Nagant. O modelo M1891-1930 era muito usado pelos “snipers” russos, em especial os famosos Vasily Grigoryevich Zaitsev e Lyundmila Pavlichenko. Uma das particularidades era a arma possuir uma baioneta retráctil incorporada. Foi fabricada em muitos outros países, como a Finlândia, a ex-Checoslováquia, Polónia, Hungria e China.


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Espingarda Mosin-Nagant

Características da arma
  • TIPO: Espingarda/Carabina de repetição
  • ORIGEM: RússiaDATAS: M1891, M1891-1910, M1891-1930, M1891-1938 e M944
  • CALIBRE: 7,62x54 mm R
  • PESO: 3, 9 Kg
  • COMPRIMENTO: 1020 mm
  • MUNIÇÂO: 7,62x54 mm
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÈCTIL: 800 m/s
  • ALIMENTAÇÂO: Depósito fixo de 5 munições
  • FUNCIONAMENTO: Arma de retrocarga de tiro de repetição


Simonov SKS

A URSS, com a experiência que estava a ter na II Guerra Mundial, tinha chegado à conclusão da necessidade da criação de uma arma mais curta que as espingardas que existiam, que pudesse operar mais rapidamente, com mais capacidade de fogo, mas mantendo a mesma eficácia. Iniciaram com a criação da Simonov AVS-36, depois a Tokarev SVT-38 e SVT-40 e perto do fim da guerra surgiu a Simonov SKS, que ainda foi utilizada contra os alemães, embora só em 1949 tenha sido adoptada oficialmente. A arma foi posteriormente substituída pela Kalashnikov, mas continuou a ser fabricada pelos países do Pacto de Varsóvia, China, Vietname e Coreia do Norte (largamente utilizada na Guerra da Coreia) e mais tarde entregue aos movimentos de libertação que operavam em diversos pontos do globo.

Características desta arma
  • TIPO: Espingarda semiautomática
  • PAÍS DE ORIGEM: URSS
  • CALIBRE: 7,62 mm M43
  • DATA DE FABRICO INICIAL: 1945
  • ALCANCE ÚTIL: 400 m
  • PESO: 3,850 Kg
  • COMPRIMENTO: 1, 021 mm
  • MUNIÇÃO: 7,62x39 mm
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 735 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Carregador interno de 10 munições
  • SEGURANÇA: Através de patilha situada no guarda-matoFUNCIONAMENTO: Espingarda semi-automática operando através de tomada de gases.

1.3.3 OBSERVAÇÕES

A espingarda Mauser, embora sendo uma excelente arma, estava deslocada no tipo de guerra que enfrentávamos em África, podendo, eventualmente, ser utilizada como arma de “sniper”, ou em defesa de aquartelamentos.

A Simonov era uma excelente arma, um pouco mais curta que a Mauser e com a vantagem de ser uma a arma que efectuava tiro a tiro automaticamente e possuía um projéctil mais moderno – o mesmo da AK-47. Alguns autores dizem que sofria interrupções de tiro por problemas com o percutor, mas que os modelos mais modernos, em especial a SKS da antiga Jugoslávia, tinham ultrapassado esse problema. Foi muito utilizada nos movimentos guerrilheiros que combatiam as forças portuguesas, em substituição da espingarda Mosin-Nagant (já eram pouco usadas), mas na Guiné, nos anos a que me refiro, a mesma já não se via tanto nas forças do PAIGC, em virtude do aumento da utilização de vários modelos de Kalashnikov.

Os elementos do PAIGC usavam ainda, entre outras, a espingarda semiautomáticaVz52, ou M52, de origem checa, no calibre 7,62x45 mm ou 7,62x39 mm, que ficou famosa por ser a arma preferida do “Che” Guevara.

1.4 AS ESPINGARDAS AUTOMÁTICAS

1.4.1 FORÇAS PORTUGUESAS

A necessidade de obtenção de uma espingarda automática, mais conhecida internacionalmente pela designação de fuzil (ou espingarda) de assalto, só se sentiu em Portugal com o início da luta armada em África, em 1961. Havia o forte imperativo de substituir a velha Mauser por uma arma que efectuasse fogo automático e selectivo, que eram já um importante progresso em relação às espingardas da II Guerra Mundial, na sua maioria em ferrolho.

Perto do final da guerra os alemães conceberam e desenvolveram a mãe de todos os fuzis de assalto modernos – a Stg 44 “Sturmgewehr”, ou MP44 (espingarda de assalto), no calibre 7,9mm Kurtz, capaz de efectuar, tanto fogo semi-automático (tiro a tiro) como fogo automático (em rajada), actuando por meio de acção de gases, mas só terão conseguido fabricar 420 000 armas. Anteriormente, em 1942, já tinham apresentado uma arma – a FG-42, que seria uma das precursoras dos fuzis de assalto (embora já tivesse havido tentativas de outros países de conceberem uma arma deste tipo – a Cei-Rigotti, de origem italiana, a Federov Avtomat, a Simonov AVS e a Tokarev AVT, todas da URSS, a Browning BAR M1918, dos EUA, a FN M30 da Bélgica, etc.), contudo, embora efectuasse quer tiro semi-automático, quer tiro automático, nesta última situação tinha de partir da posição de culatra aberta, à semelhança das pistolas-metralhadoras de então e das metralhadoras ligeiras Depois da guerra, quer os russos, com a sua AK-47, quer os Belgas, com FN-FAL, a Espanha com a CETME e a República Federal Alemã, com a HK G3 e os americanos com a Colt M16, tornaram o novo conceito de arma individual uma realidade, evoluindo da velha Stg 44.

Das observações e avaliações efectuadas às armas propostas – a FN–FAL, de origem belga e a HK G3, cuja origem era a República Federal Alemã, a opção foi pela G3 (dadas as vantagens económicas que a HK ofereceu para o fabrico em Portugal), mas a urgência deste tipo de armas levou a que se adquirissem um lote de Armalite AR-10, de origem EUA, no calibre, 7,62 mm NATO, na Holanda, cerca de 4 800 FN-FAL, no calibre 7,62 mm NATO à Bélgica e outras 15 000 “emprestadas” pela Alemanha, enquanto não arrancasse a produção das G3, e mais 12 500, também “emprestadas” pela África do Sul. Contudo, assim que se começou a receber a HK G3 em quantidades suficientes, as FN foram devolvidas à Alemanha e à África do Sul. As FN-FAL que ficaram foram, essencialmente, entregues a grupos especiais africanos dependentes da PIDE ou a Milícias dependentes do Exército.

Em 1973, quando comandei a instrução de uma Companhia de Milícias no CIMIL de Bambadinca, e já perto do fim da instrução, fomos surpreendidos com a entrega de espingardas FN-FAL às milícias, quando a instrução estava a ser ministrada com as HK G3, obrigando-nos a dar uma instrução de manuseamento desta arma à pressa, pois ela funcionava com algumas diferenças da G3. Embora as armas apresentassem um “ar” de novas, vimos que as mesmas eram recuperadas de outras “guerras”, nomeadamente de Angola. Recordo-me de ter falado com o Major responsável em Bissau pelo armamento e lhe dizer que algumas das armas tinham interrupções de tiro com frequência, afirmando ele que eram “novas” e eu ter retorquido que eram velhas, tinham é sido pintadas de novo, até porque muitas delas tinham ainda marcas nas coronhas, que eram de madeira, feitas à mão, com os dizeres Angola ano tal e tal….


Espingarda de Assalto FN –FAL M/961

A FN FAL (Fusile Automatique Legére) resultou dos estudos da fábrica FN, iniciados em 1946, para um fuzil de assalto que utilizasse a munição 7,92mm Kurtz alemã, mas mais tarde, redimensionaram a arma para o 7,62X51 mm, a munição da NATO, surgindo assim em 1953 a FN-FAL, adoptada em 1955 pelo Canadá como a C1, em 1956 pela Bélgica, em 1957 pelo Reino Unido, como L1A1 e em 1958 pela Aústria, como Stg 58, surgindo também no Brasil, Turquia, África do Sul e Israel. A própria RFA propôs um acordo à FN, para produzirem no seu país a FN como a G1, mas como a FN não aceitou, a RFA adquiriu os direitos da CETME espanhola e apresentou a HK G3, a maior rival da FN-FAL.

Características desta arma
  • TIPO: Espingarda automática
  • PAÍS DE ORIGEM: Bélgica
  • CALIBRE: 7,62 mm NATO
  • NÚMERO DE ESTRIAS: 4
  • DATA DE FABRICO: 1953
  • ALCANCE MÁXIMO: 2000 m
  • ALCANCE ÚTIL: 300 m
  • ALCANCE PRÁCTICO: 100 a 200 m
  • PESO: 4,700 Kg com o carregador de munições cheio
  • COMPRIMENTO: 1,10 m
  • MUNIÇÃO: 7,62x51 mm
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 840 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico de 20 munições
  • SEGURANÇA: Através da patilha de segurança, por imobilização do gatilho
  • FUNCIONAMENTO: Espingarda automática, de tiro selectivo, com tomada de gases num ponto do cano
  • CADÊNCIA DE TIRO: 600/700 t/m
A espingarda automática HK G3 foi a arma de assalto escolhida por Portugal para servir as Forças Armadas Portuguesas, na Guerra Colonial, a partir de 1961. A arma foi adoptada em 1959, pelo exército da RFA, e teve origem num grupo de engenheiros alemães que, no pós-guerra, foram para Espanha e desenharam a espingarda CETME, que foi adoptada pelo Exército Espanhol. A firma Heckler & Koch foi encarregue pelo governo da RFA (que recentemente tinha sido aceite na NATO), de adquirir os direitos da arma e com algumas alterações apresenta a Espingarda 3 (Gewehr 3/G3), no calibre 7,62x51 mm (NATO). A arma foi um sucesso, rivalizando com a FN-FAL, e sendo adquirida por muitos países ocidentais que não tinham optado pela FN. Ao fim de alguns anos estava a ser usada por 60 países e fabricada sob licença em 13, salientando-se a Turquia, Grécia, Noruega, Arábia Saudita, Paquistão, Irão e Portugal.As primeiras armas adquiridas como HK G3 m/961 eram as G3, em coronha e fuste em madeira e as G3A1 com coronha dobrável. Mais tarde, surgiu o modelo m/963, fabricado sob licença pela Fábrica de Braço de Prata, denominadas G3A3, com novo supressor de chama, mira diópter, coronha e fuste em plástico e a G3A4, com coronha rebatível (pára-quedistas).

Esta arma manteve em serviço no Exército Alemão até 1997 e continua ao serviço do Exército Português, esperando-se para breve a sua substituição. Em 1974, as Forças Armadas Portuguesas detinham 298 000 espingardas G3. O facto de estar ao nosso serviço há mais de 40 anos diz tudo deste belíssima arma.

Em cima a Espingarda de Assalto HK G3A3 e em baixo o modelo HK G3A4

Características desta arma
  • TIPO: Espingarda automática
  • PAÍS DE ORIGEM: RFA
  • CALIBRE: 7,62 mm NATO
  • NÚMERO DE ESTRIAS: 4
  • DATA DE FABRICO: 1958
  • ALCANCE MÁXIMO: 2 000 m
  • ALCANCE ÚTIL: 400 m
  • ALCANCE PRÁTICO: Entre 100 e 200 m
  • PESO: 4, 6 Kg com o carregador de munições cheio
  • COMPRIMENTO: 1, 023 m
  • MUNIÇÃO: 7,62X51 mm
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 800 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico de 20 munições
  • SEGURANÇA: Imobilização do mecanismo de disparar
  • FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, por acção de gases na base da culatra
  • CADÊNCIA DE TIRO: 600/650 t/m
1.4.2 FORÇAS DO PAIGC

As forças do PAIGC tinham como espingarda de assalto a Kalashnikov AK-47, nos vários modelos dos países que integravam o bloco soviético, ainda da China e da Coreia do Norte.

A espingarda automática Kalashnikov foi inventada pelo General Mikhail Kalashnikov (na altura sargento), e aprovada para o projéctil 7,62 mm M43, surgindo com o nome de AK-47, adoptada pela URSS como arma oficial das suas forças armadas, em 1949. Foi modificada posteriormente em 1952, ficando como o modelo AK-47/52. Trata-se, sem sombra de dúvida, da arma mais difundida mundialmente, participando em todos os conflitos importantes do pós- IIª Guerra Mundial, em especial emprestando aos movimentos guerrilheiros uma arma que ficará como símbolo de independência. A Avtomat Kalashnikov foi tendo alterações nomeadamente no início dos anos 60, com a AKM (Avtomat Kalashnikov Modernizirovannyj), em 1974 com a AK-74, com alteração para o calibre 5,45 mm e com um supressor totalmente diferente e em finais dos anos 70 surge a AKS-74U, conhecida por surgir em diversas fotos do Bin Laden.

Essencialmente, o modelo mais visto na Guiné era a AK-47 ou AK-47/52, com origem em diversos países do Leste Europeu e da China.


Espingarda de Assalto Kalashnikov AK-47

Características desta arma
  • TIPO: Espingarda automática
  • PAÍS DE ORIGEM: URSS e países do bloco soviético, China e Coreia do Norte
  • CALIBRE: 7,62 mm M43
  • DATA DE FABRICO: 1947
  • ALCANCE MÁXIMO: 1 500 m
  • ALCANCE ÚTIL: 400 m
  • ALCANCE PRÁTICO: 100 m
  • PESO: 4, 8 Kg com o carregador cheio de munições
  • COMPRIMENTO: 870 mm
  • MUNIÇÃO: 7,62X39 mm
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 700 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Carregadores metálicos com 30 munições
  • SEGURANÇA: Imobilização do mecanismo de disparar
  • FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, funcionando por acção de gases num ponto do cano
  • CADÊNCIA DE TIRO: 600 t/m
1.4.3 OBSERVAÇÕES

No meu ponto de vista e em comparação com a FN-FAL, a HK G3 tinha melhor qualidade, não tendo tantas interrupções de tiro quanto a FN, trabalhando melhor nas condições e tratamento que as nossas tropas lhe davam. Algumas pessoas diziam que a FN era melhor, devido ao sistema do aparelho de pontaria, no tiro de precisão, mas eu, posso dizê-lo, efectuei disparos a distâncias muito consideráveis, tendo sempre atingido o alvo com a G3.

Uma das vantagens da FN era; quando terminavam as munições no carregador inserido na arma, a culatra ficava atrás, como na maioria das pistolas, simplificando a operação de introdução de novo carregador e a posterior ida do bloco à frente, introduzindo um novo projéctil na câmara, o que não se passava com a G3. A AK-47 (Aka ou Cala, como seria conhecida entre os guerrilheiros) é uma arma robusta, simples, barata, trabalhando bem em condições de pouca limpeza (o segredo estará nas folgas do seu mecanismo), mais curta que a G3, com o mesmo peso sensivelmente, com mais capacidade de munições no carregador, não tão fiável no tiro de precisão. Tinha um estampido poderoso e peculiar. Possuía uma ergonomia fantástica, que lhe conferia um aspecto aguerrido, muito do agrado de muitas forças militares.

A nossa G3 era uma arma muito grande para o nosso tipo de guerra, era uma arma cara, devido ao sistema dos roletes, mas funcionava muito bem, mesmo em condições difíceis e de pouca limpeza. Tinha um estampido muito forte, conseguindo sobrepor-se ao da Kalashnkov, o que tranquilizava as nossas tropas quando na nossa resposta a um ataque do IN, passávamos a ouvir o “cantar” da G3. A munição da Kalash, não tendo as capacidades da 7,62 mm NATO, em termos de velocidade inicial e poder de perfuração (perfurava em 80%, numa distância a 550 m, uma chapa de aço de 3,5 mm), o seu projéctil produzia, contudo, ferimentos terríveis, devido ao filamento em aço inserido no núcleo da bala, que a desequilibrava quando atingia o corpo humano. Em termos de fogo automático a G3 era mais equilibrada, conseguindo compactar bastantes projécteis na zona seleccionada, enquanto a Kalashnikov, em fogo automático, dispersava mais os impactos, um problema, segundo alguns autores, derivado do supressor que usava e que foi substancialmente melhorado com a AKM e em especial com a AK-74, que dizem ter um dos melhores supressores existentes, proporcionando um melhor equilíbrio na sua utilização.

Um pormenor importante, que revertia a favor da G3, era a forma silenciosa com que movíamos a patilha de segurança, para a posição de fogo (tiro a tiro ou automático), ao contrário da Kalash que fazia um ligeiro ruído, o que no mato podia fazer toda a diferença.

1.5 AS METRALHADORAS LIGEIRAS

1.5.1 FORÇAS PORTUGUESAS

Em 1917, o Corpo Expedicionário Português que vai combater em França, recebe da Inglaterra, a metralhadora ligeira (ML) Lewis, de origem inglesa (embora inventada por um coronel americano), no calibre 7,7 mm e que será a primeira ML do Exército Português. No regresso o CEP trouxe as Lewis que ainda nos finais dos anos 50 eram as metralhadoras usadas em diversas colónias portuguesas. Em 1930, foram adquiridas metralhadoras Madsen, de origem dinamarquesa, no calibre 7,7 mm, que iriam ser as ML de cavalaria, alteradas em 1939 para o calibre 7,9 mm. Ainda em 1931 são adquiridas a ML Vickers-Berthier, denominadas Vickers-Berthier m/931 e m/936, de origem inglesa, no calibre 7,7 mm, destinadas à infantaria e à GNR. A arma nunca foi muito bem vista e nos anos 50 já não estava ao serviço, ao contrário da Lewis. Também em 1938, Portugal adquire à Alemanha, a Dreyse MG13, com a denominação de ML m/938, no calibre 7,9 mm, que se manterá até 1962, especialmente nas colónias portuguesas. Em plena IIª Guerra Mundial, em virtude do Acordo dos Açores, a Inglaterra fornece a Portugal metralhadoras ligeiras Bren m/943, no calibre 7,7 mm, que nos anos 50 serão entregues a unidades de engenharia, artilharia e administração e serão retiradas da primeira linha nos anos 60, com a chegada do cartucho NATO. Ainda em 1943, no âmbito de contrapartidas da venda de volfrâmio à Alemanha, este país fornece-nos a Borsig MG 34, no calibre 7,9 mm, que será denominada por MG 34 Borsig m/944, que será entregue a unidades da metrópole.

A partir dos anos 60, Portugal pretende adquirir uma metralhadora que use o cartucho NATO isto após a adopção da HK G3 como espingarda do exército, já no calibre 7,62 mm NATO. A escolha recaiu na MG42/59, criada pela Alemanha, no calibre 7,62 mm NATO, que terá a denominação de MG42 m/962.

A MG 42, no calibre, 7,9 mm foi fabricada pela Mauser e é considerada a melhor metralhadora ligeira da IIª Guerra Mundial, sendo conhecida entre os aliados pelo seu som inconfundível, como a “ceifadora de Hitler”. Após a guerra e quando se formou o Exército da RFA, em 1958, a MG42, foi recuperada e convertida para o calibre 7,62mm NATO, tornando-se o modelo MG42/59, conhecido como a MG1 e MG2, consoante são armas novas ou feitas de adaptações, fabricado pela Rheinmetall.

A HK teve bastante sucesso com o lançamento da espingarda automática HK G3 e a partir dos mesmos componentes e do desenho de 1961, lançou diversas metralhadoras ligeiras a HK 11, em 1961, a HK 13, em 1963 e a HK 21, em 1965. O Exército Português, com o rebentar da Guerra Colonial, interessou-se por uma ML, que fosse mais leve que a MG42, para ser atribuída às secções de atiradores e a HK 21, foi a escolhida, por ser uma arma que usava 40% dos elementos que compunham a HK G3, com a qual os militares já se identificavam e ainda pela possibilidade, dada pelos alemães, de a pudermos fabricar em Braço de Prata (INDEP), sob licença, a partir de 1967. Assim, em 1968, a tropa portuguesa começou a receber esta metralhadora que, diga-se de passagem, nunca foi uma arma muito bem acolhida.


Metralhadora ligeira MG 42/59


Características da arma
  • TIPO: Metralhadora ligeira
  • PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
  • CALIBRE: 7,62 mm NATO
  • DATA DE FABRICO: Originalmente em 1942, alterações e modelo novo em 1959
  • ALCANCE MÁXIMO: 4 000 m
  • ALCANCE EFICAZ: 3 500 m
  • ALCANCE PRÁTICO: 1 200 m
  • PESO: 11, 5 Kg, sem fitas
  • COMPRIMENTO: 1, 225 m
  • MUNIÇÃO: 7,62 X51 mm
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 820 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Por fita carregadora
  • SEGURANÇA: Imobilização do armador e manobrador
  • FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, funcionamento por acção de gases, com curto recuo do cano
  • CADÊNCIA DE TIRO: 1 200 t/m

Metralhadora Ligeira HK 21

Características da arma
  • TIPO: Metralhadora ligeira
  • PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
  • CALIBRE: 7,62 mm NATO
  • DATA DE FABRICO: 1965
  • ALCANCE MÁXIMO: 1 200 m
  • PESO: 7, 92 Kg, sem munições
  • COMPRIMENTO: 1, 021 m
  • MUNIÇÃO: 7,62 X 51 mm
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 800 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Por fita carregadora ou por carregador metálico para 20 munições
  • SEGURANÇA: Através da imobilização do armador
  • FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, actuando por acção dos gases.
  • CADÊNCIA DE TIRO: 800 t/m
1.5.2 FORÇAS DO PAIGC

As forças do PAIGC tinham como metralhadoras ligeiras a Degtyarev RPD e a Degtyarev DPM (já menos vista, conhecida no PAIGC como”disco bipé soviético”), produzidas originalmente pela antiga URSS.



Metralhadora ligeira Degtyarev DPM

A metralhadora ligeira Degtyarev DPM teve origem no modelo DP (Degtyarev Pechotny/Degtyarev de Infantaria), desenhada na URSS depois de 1917 e que veio a ser adoptada como ML do Exército Vermelho, em 1927. Em 1943-44 veio a ser modernizada, passando a ser o modelo DPM (modernizirovannyj). Após o fim da IIª Guerra Mundial irá ser substituída, primeiro pela PK-46 e depois pela RPD.

Características desta arma
  • TIPO: Metralhadora ligeira
  • PAÍS DE ORIGEM: URSS
  • CALIBRE: 7,62 mm R
  • DATA DE FABRICO: 1944
  • ALCANCE MÁXIMO:
  • PESO: 11, 3 Kg com o carregador cheio
  • COMPRIMENTO: 1 266 mm
  • MUNIÇÃO: 7,62X54 mm
  • VELOCIDADE INICIALDO PROJÉCTIL:
  • ALIMENTAÇÃO – Carregador circular colocado no topo, com 47 projécteis
  • SEGURANÇA:
  • FUNCIONAMENTO: Arma automática, actuando por gases, com selector de tiro.
  • CADÊNCIA DE TIRO: 600 t/m


Metralhadora Ligeira Degtyarev RPD

A metralhadora ligeira Degtyarev RPD (Ruchnoy Pulemet Degtyarev) foi desenhada a partir de meados dos anos 40, e foi adoptada em 1953 pelo Exército Vermelho, até ser substituída pela Kalashnikov RPK, o que parece ter sido uma má opção, segundo diversos autores. A arma trabalhava unicamente na posição de fogo automático.

Características da arma
  • TIPO: Metralhadora ligeira
  • PAÍS DE ORIGEM: URSS e fabricada também na China
  • CALIBRE: 7,62 mm M43
  • DATA DE FABRICO: 1953
  • PESO: 7, 4 Kg sem munições
  • COMPRIMENTO: 1 037 mm
  • MUNIÇÃO: 7,62X39 mm
  • VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 735 m/s
  • ALIMENTAÇÃO: Tambor com fita no seu interior com 100 projécteis.
  • FUNCIONAMENTO: Arma automática, actuando por meio de recuperação de gases, fazendo unicamente tiro automático.
  • CADÊNCIA DE TIRO: 650 t/m

1.5.3 OBSERVAÇÕES

A ML MG42/59-m/962, era, seguramente, a melhor metralhadora ligeira no teatro operacional da Guiné sendo, contudo, a mais pesada e só as unidades pára-quedistas as usavam em pleno. Estavam instaladas em muitos aquartelamentos, para defesa imediata, em reparos especiais. O seu senão, para além do peso, era a sua elevada cadência de tiro, que obrigava ao uso de muitas fitas alimentadoras, que elevavam o seu peso.

A HK-21 era a arma de apoio da maioria das unidades combatentes e cumpria bem o seu papel, se tivesse a ser alimentada por fitas de elos desintegráveis, pois com as normais fitas de ligação de arame, tinham problemas na alimentação (segundo informação prestada pelo camarada José Câmara da CCAÇ 3327, na sua companhia tinham construído tambores para transporte das fitas, à semelhança da RDP, e, muito possivelmente, no sistema utilizado nas HK-11 e HK-13). Era a única ML que funcionava em automático, na posição de culatra fechada. Tinha a vantagem de operar como a G3, sendo fácil a qualquer elemento manobrar com a arma, caso fosse necessário.

Ambas metralhadoras podiam mudar o cano rapidamente, em caso de sobreaquecimento.

A Degtyarev DPM já se encontrava obsoleta, bem como a sua munição. A RPD (conhecida no PAIGC como “bipé checo, bipé pachanca”), era uma ML bastante leve, embora já não utilizada nos países avançados do bloco soviético, cumpria bem a sua missão. O problema de só fazer fogo automático não nos parece importante, dado que as ML foram criadas para esse fim. Dada a leveza da munição em relação à das nossas metralhadoras, existia uma maior dispersão de impactos, do que nas nossas armas. A colocação da fita alimentadora, que apresentava um tratamento envernizado para melhor correr e evitar o enferrujamento, enrolada num tambor, que se fixava à arma, era importante para impedir a entrada de sujidade no sistema operativo da mesma.

Utilizavam ainda a ML Vz52 ou M52, de origem checa (“bipé caudo ou maquessen”), no calibre 7,62mm.


A munição 7,62x39mm M43, utilizada nas espingardas automáticas Kalashnikov M47 e AKM, semiautomática Simonov e Metralhadora Ligeira Degtyarev RPD.



A munição 7,62x51mm NATO, utilizada nas espingardas automáticas HK G3 e FN FAL e metralhadoras ligeiras MG42/59 m/62 e HK 21.

Nota do autor: Na recolha para este trabalho foram coligidos elementos, material e fotos, com a devida vénia, da Wikipédia/Internet; How stuff Works.com; Infantry Weapons of the World, da Brassens, Editor J.L.H. Owen; Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Edição Diário de Notícias; Moderrn Firearms & Ammunition Encyclopedie; Armamento do Exército Português, Vol. I – Armamento Ligeiro, de António José Telo e Mário Álvares, da Prefácio; Armas de Fogo, seus Componentes, Capacidades e o seu Uso pelas Forças Policiais, de Luís Dias (PJ - Maio de 2004) e apontamentos e fotos diversas do próprio autor. Foto do LGF SNEB obtida do blogue do BCP 12 (com as devidas vénias).


Um abraço,
Luís Dias
Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872
____________
Nota de M.R.:

Vd. o primeiro poste desta série, que contém a segunda parte desta matéria em:


Guiné 63/74 - P5689: Parabéns a você (67): Francisco Godinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753 e José Albino, ex-Fur Mil do Pel Mort 2117 (Editores)

1. Mais dois camaradas que nasceram no dealbar do ano. Neste dia 22 de Janeiro de 2010 estão de parabéns os camaradas Francisco Godinho e José Albino.

Com estes dois camaradas tenho pessoais afinidades.

Com o Francisco que pertencia à açoriana CCAÇ 2753, porque me foi render a Mansabá. Esta Companhia, como a monha (CART 2732) fizeram parte das forças de protecção à construção do troço da estrada Mansoa/Farim, a partir do Bironque até se ver Farim do outro lado do Rio Cacheu. Uma árdua tarefa transformada em vitória, à custa de muito sange e suor, literalmente. Estes nossos irmãos de armas jamais serão esquecidos.

Com o José Albino porque é um velho colega dos tempos de estudante na Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, onde curiosamente ambos tirámos a mesma licenciatura de Montador Electricista. Fazemos parte de uma geração de alunos que deu muitos homens para a guerra, em particular para a Guiné. Assim de memória, lembro que além de nós os dois, ainda fazem parte do nosso Blogue o ex-Fur Mil Cav António da Costa Maria e o ex-1.º Cabo Enf Amaro Munhoz Samúdio, também alunos da mesma Escola, agora chamada Gonçalves Zarco.

Hoje, e desta forma, vem a tertúlia desejar a estes dois camaradas um bem passado dia de aniversário, na companhia dos familiares e amigos mais chegados. Que esta data tenha festejos de igual intensidade por mais uns bons anos, sempre com a nossa atenção virada para eles. Será um prazer, num futuro que se quer longo, lembrar este dia, publicar e enviar-lhes as nossas felicitações.


2. Vamos lembrar a chegada de cada um deles ao nosso convívio.


i. Francisco Godinho*, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, K3 e Mansabá, em mensagem de 14 de Maio de 2008, dizia-nos:

Nome: Francisco Godinho
Posto: Fur Mil
Companhia: CCaç 2753 (Os Barões do K3)
Local / Zonas de Intervenção: Mansabá, Bironque, Madina Fula e K3 (Farim);
Tempo de comissão: 1970/1972;
Local Residência: Vale Milhaços, Seixal;
Meu endereço electrónico: baraok3@hotmail.com
Meu blog: http://www.deserdadosdaguerra.blogspot.com/


ii. José Albino P. Sousa**, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117, Bula e Tite, 1969/71, em mensagem de 30 de Junho de 2009, confiava-nos:

Caro Carlos Vinhal:

A vontade de entrar na Tabanca, já vem de algum tempo atrás, mas agora, e por insistência do António Maria, resolvi avançar.

Entretanto, já elaborei o texto que me parece relatar a minha história na Guiné.

Entretanto te direi que estive em Bula com o Pelotão de Morteiros 2117, Maio, Junho e Julho de 1969, tendo depois sido chamado a Bissau para tirar um curso de obuses, avançando depois para Tite com um Pelotão de guineenses onde passei o resto da comissão.
Ao fim de um ano fui baptisado com os famosos foguetões a que se seguiram mais três ataques.

Abraço do Zé Albino


APRESENTAÇÃO

Nome: José Albino Pereira de Sousa
Nascido em 23.1.1946
Natural do Porto (fui nascer à Maternidade) mas considero-me de Matosinhos.
Casado
Dois filhos e dois netos

Morada: Senhora da Hora
Curso Industrial de Montador Electricista (Matosinhos)
Ex-técnico da Portugal Telecom na Pré-reforma

Ex-Fur Mil Inf

Dois instantâneos de José Albino na Guiné
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2865: Tabanca Grande (68): Francisco Godinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753 (Mansabá, Bironque, Madina Fula e K3/Farim, 1970/72)

(**) Vd. poste de 4 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4640: Tabanca Grande (158): José Albino P. Sousa, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Bula e Tite, 1969/71)

Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5685: Parabéns a você (66): Rogério Freire, ex-Alf Mil da CART 1525 (Editores)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5688: CART 1525, Bissorã, 1966/67: 1/3 do pessoal frequentou as aulas regimentais (Armando Benfeito da Costa / Rogério Freire)

1. Em homenagem ao Rogério Freire, que faz hoje anos, e à sua CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67), publica-se um texto, retirado - com a devida vénia - da sua página, uma das mais antigas, dedicada à história de uma sub-unidade operacional no TO da Guiné.


O pequeno texto que se segue e que gostaria de divulgar foi em tempos enviado ao nosso saudoso coronel Piçarra Mourão, como um pequeníssimo contributo para o seu segundo livro. Nele se refere a acção educativa e de alfabetização levada a cabo pela Companhia durante os 22 meses que permaneceu na Guiné.


GUINÉ 1966/67 > Recordações … contributo para um livro

por Armando Benfeito da Costa, ex-Fur Mil


Da leitura do livro Guiné Sempre - [Testemunho de uma guerra] do mui ilustre coronel Piçarra Mourão, [ Editora Quarteto, 2001,] ressalta toda uma epopeia na qual é descrita a passagem, pela Guiné, da companhia de artilharia 1525, companhia independente adstrita ao Batalhão 1876.

Na resenha histórica, bem documentada naquele livro, o autor descreve histórias pessoais protagonizadas por ele próprio e por outros intervenientes, oficiais, sargentos e praças, ligadas sobretudo aos aspectos de âmbito militar em termos de relevância operacional e pouco mais.

Faltava, porém, algo que completasse essa passagem da companhia 1525 por terras da Guiné [...], o devido destaque e relato de outros eventos que, pelo seu valor e incidência, não deixaram de ser também importantes e marcaram, de uma outra forma, aqueles que estiveram envolvidos num projecto de índole educacional.

Passavam pouco mais de três meses de estada da 1525 na Guiné e já em Bissorã, foi proposto ao comandante de companhia a abertura de aulas regimentais dado que cerca de 1/3 das praças não possuía diploma oficial do ensino primário e, dentre elas, muitos analfabetos.

A proposta foi aceite e as aulas regimentais abriram a 19 de Maio de 1966. Muitos soldados frequentaram essas aulas a partir dessa data, repartindo-se pelas quatro classes que então se formaram, tendo em vista a obtenção do diploma da 3ª ou 4ª classe.

O horário de funcionamento era repartido por dois turnos, 17 às 18H30 e 21 ÀS 22h30, o primeiro dirigido às primeiras classes e o segundo às mais avançadas.

A actividade lectiva desenvolvia-se sempre com normalidade e os "estudantes" procuravam estar atentos e responder às exigências dos cursos que frequentavam. Todo este esforço era muitas vezes interrompido por um outro esforço, muito maior, provocado pelo desgaste físico e moral desenvolvido ao longo das "operações militares".

De qualquer maneira ficou-nos na memória que valeu a pena ter investido num projecto que veio a dar os seus frutos no final do ano lectivo de 1967 quando, após a realização dos exames do 1º e 2º graus (3ª e 4ª classes) os resultados falaram por si:
- Os 44 alunos que haviam frequentado a escola regimental da Companhia de Artilharia 1525, o haviam feito com sucesso, pois tinham obtido aproveitamento (11 da 3ª e 33 da 4ª), conseguindo regressar à metrópole com um diploma que lhes permitia inserir-se muito melhor na sociedade civil e responder melhor às exigências burocráticas dessa mesma sociedade.

Um outro aspecto ligado à influência da Companhia 1525 relaciona-se com a nomeação, por parte dos Serviços de Educação da Guiné, de um furriel miliciano, com o Curso do Magistério Primário, para exercer funções docentes na Escola Primária de Bissorã, onde teve a seu cargo o processo de ensino/aprendizagem das 3ª e 4ª classes, sendo que as duas primeiras classes eram leccionadas por um regente escolar nativo.

Obviamente que a população civil não deixou de reconhecer o facto de a escola primária ter passado a usufruir do trabalho especializado de um professor branco, o que permitiu uma maior procura para a frequência daquele estabelecimento de ensino.

Acresce dizer que, apesar de não ter havido, naquele tempo, qualquer reconhecimento oficial pelo trabalho desenvolvido, foi gratificante ter-se verificado o grau de satisfação dos soldados e alunos autóctones, porque, uns, regressariam à metrópole mais apetrechados e mais aptos; os outros por terem adquirido conhecimentos que lhes permitiu a obtenção de diploma que abria, aos que pudessem, a possibilidade de prosseguirem estudos, em Bissau.

Ainda houve, ligado ao primitivo projecto educacional, um outro sub-projecto que consistia em alguns soldados frequentarem turnos de "explicações" para poderem vir a fazer exame do 2º ano do liceu, sub-projecto esse que não se revelou exequível, mormente por falta de meios.

Importa salientar que todo o trabalho lectivo não prejudicava o esforço de guerra quer ao nível docente como discente, pois na hora da verdade todos eram chamados a cumprir os seus deveres militares operacionais.

Mesmo assim e ainda hoje, passados que foram já 35 anos alguns têm recordado, num misto de saudade e alegria, a sua passagem pela Escola Regimental da Companhia de Artilharia 1525, aquando dos "Encontros" anuais que se vêm concretizando e em boa hora iniciados.

Que este modesto contributo para o novo livro que o coronel Piçarra Mourão pensa escrever sirva para relembrar que a Companhia 1525 não só combateu com valentia no teatro de operações e isso está bem patente no livro "Guiné, Sempre!", mas desenvolveu um outro combate, dirigido ao analfabetismo que grassava no seio da própria Companhia, contribuindo, também, para que um pouco da Língua e Cultura portuguesas fossem divulgadas pelos jovens que então frequentaram a Escola de Bissorã, alguns dos quais conseguiram obter o diploma do ensino primário.

Galifonge, 2002. 12. 03
(Armando Benfeito da Costa)

Imagens: Cortesia de CART 1525 (Bissirã, 1966/67)

Guiné 63/74 - P5687: Notas de leitura (56): Armor Pires Mota (1): Tarrafo e Baga-baga, duas surpresas de um combatente repórter (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Janeiro de 2010:

Queridos amigos,

Trabalho não falta.
Primeiro, ler o Armor Pires Mota de fio a pavio. Aqui está o primeiro diário da Guiné, não percebo a injustiça dos homens, só faltou sepultá-lo vivo, talvez por ter acreditado que a Pátria não se discute, defende-se.
Depois, tenho aqui um calhamaço do Manuel Fialho “Além do Bojador”, uma edição patrocinar pela Câmara de Moura. Na Associação 25 de Abril há também cofres para abrir.
E depois o CIDAC, a Guiné também mais escritos do que muitos supunham. Resta saber o que vamos pedir aos nossos amigos guineenses, eles têm obrigação de abrir os seus cofres. Indo directo ao assunto, é importante que pessoas como o Leopoldo Amado e o Pepito agitem as hostes. O primeiro recado está dado.

Um abraço do
Mário



Armor Pires Mota:
"Tarrafo" e "Baga-Baga", duas surpresas de um combatente repórter


Beja Santos

É incompreensível o manto de silêncio que tem coberto o nome de Armor Pires Mota, nas últimas décadas, como combatente-escritor da Guiné. “Tarrafo” é um livro único: é o primeiro diário de um oficial que escreve no teatro de operações e publica quinzenalmente num órgão da imprensa regional da metrópole. Estamos em 1964, os vigilantes da censura não se apercebem que o repórter revela em directo o que se está a passar na Guiné: que há T6 que bombardeiam os objectivos para onde se dirigem tropas especiais ou unidades em que vai o autor do diário; ele fala de nomes e localidades, data os seus textos, esmiúça o comportamento dos guerrilheiros, fala em santuários como o Morés ou descreve a batalha do Como, dia após dia, semana após semana, mês após mês. Outro valor histórico não tivesse e ficariam parágrafos indesmentíveis, solenes, melancólicos, pensamentos que ocorreram a qualquer um de nós, como se transcreve:

“Escrevo do meu abrigo, onde o dia é longo e a noite dolorosa, quase uma eternidade. No princípio sofria o cacimbo, mas olhava o céu azul, tropical, a lua, as estrelas e um satélite vagabundo riscando os espaços ou mesmo um avião desconhecido, voando alto (15 de Março de 1964, ilha do Como).”

"Jantei. E o tempo correu no rio, no escuro e na vida, com aquela caixa de papelão que deitei fora e agora fugia, carregada de estrelas e azul, não sei para onde. E a noite continuou a divagar nos meus olhos e nos meus ombros, até que acordei ancorado ao largo de Bambadinca, porque a maré estava na vazante. E ergui-me ao sol claro com uma gazela correndo timidamente (24 de Maio de 1964, Bafatá).”

“As prisioneiras, sentadas num tronco de árvore, devoravam a sopa e o pão que os soldados lhe davam. E uma delas, ainda de olhos húmidos, contou a história: ela e a outra (e apontou uma mulher nova, de lábios carnudos, que andava grávida), eram mulheres de um Balanta a quem os terroristas espancaram, obrigando-o a agarrar em armas contra o branco. Ele agora estava doente e tinha ficado com uma menina de três anos. E chorava:

- Mim ter menina... (27 de Maio de 1964, Sitató).”

“A palavra que o podia ter salvo, condenou-o, porque se sentiu cúmplice como tantos outros. Tomado de espanto e ao mesmo tempo de um frio a varar-lhe os ossos, largou a bicicleta, mas os passos iriam tropeçar-lhe no fim do caminho da existência.

- Fogo!

E as balas crivaram-no imediatamente. Caiu como uma pedra. Mas, num estertor febril, ergueu-se. Voltou os olhos para nós, para a vereda. Uns olhos terrivelmente raiados de sangue, negros, por detrás dos quais havia palavras para dizer, mas que não lhe vinham à boca, ligeiramente aberta, e maldições a lançar sobre as nossas cabeças ou, talvez, um grito de perdão.

Eu, como um criminoso, (mas que, de facto, não era), atirei a arma por terra e berrei-lhe:

- Cá fuge! Bó cá fuge! (11 de Junho de 1964, Lamel).”

O combatente repórter segue para Jumbembem, aí vai combater, patrulhar e emboscar. Escreverá o seu diário em localidades como Farincó Mandinga, Canjanbari ou Cuntima. São apontamentos curtos, incisivos, por vezes metálicos, onde não escapa o volteio poético, a descrição brutal, os gemidos, os desalentos, um olhar quase etnógrafo, o anseio por regressar. Em 11 de Junho de 1965, em Jumbembem, regista as suas últimas notas íntimas:

“Mas que é para nós um calendário? Uma estrada monótona de cômoros sem amoras e borboletas; um pedaço de papel que podia não ter existido, um ponto morto. Mas diz-me tanto o calendário cravado na parede! Quadradinhos vermelhos: dias doridos de poentes de sangue; carne anavalhada por estilhaços de morte, enrodilhada de medo, atrás de uma árvore ou nas bermas das picadas, ou montada em gloriosos corcéis de batalha, vencendo tudo e todos; combates ensopados em chuva ou lama para lavar as feridas; minas que desfazem viaturas, levando-as pelo ar com os homens; sangue, muito sangue, morte.

Quadradinhos negros: dias feitos de nada, inúteis, como uma folha que o cacimbo apodreceu; dias impossíveis de construir, em que atiramos a alma para trás das costas, de braços caídos nos braços da cadeira...”.

O poeta que se anunciava neste diário confirmou-se com o livro “Baga-Baga”, galardoado com o prémio Camilo Pessanha. Armor Pires Mota revisita a Guiné, exalta tocadores de Korá, os ritmos de batuque, a beleza da mulher africana, apela a uma reconciliação dos homens, comove-se com as crianças, é tudo um lirismo singelo onde cabem as suas recordações de combatente como o Natal, o batuque dos bombolons, o sentido épico da missão cumprida.

Todos aqueles que versejaram, que rabiscaram as suas odes, sonetos, poemetos e outros arroubos poéticos, sentem como é sincero o entusiasmo do poeta quando regista o que sente o que vê os outros sentir, como em


Sambaro tocador de Korá

Sambaro, à sombra do mangueiro em flor,
torso nu, dedos longos,
canta tristezas no seu Korá

E crianças, de olhos gregos,
cigarras da tarde lenta,
procuram a música branca
que fica do rio manso
na ponte de pedra.

Sambaro, à sombra do mangueiro em flor,
torso nu, dedos longos,
canta tristezas no seu Korá

Quem entende Sambaro, olhar macilento,
cantando não sei quê no seu Korá?

Chora, coração dentro da voz do vento,
terras longe, destino que não há.







Este “Baga-Baga” é de 1968, ano em que publica, também na Editora Pax, “Guiné Sol e Sangue, contos e narrativas”, de que iremos falar a seguir.

Estes livros de Armor Pires Mota passam a ser pertença do blogue.

MBS








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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5657: Notas de leitura (55): No Regresso Vinham Todos, de Vasco Lourenço (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5686: José Corceiro na CCAÇ 5 (1): A cabritinha do mato

1. O nosso Camarada José Corceiro* (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos -, Canjadude, 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 20 de Janeiro de 2010:

Camaradas,

É com imenso prazer que me dirijo a vós, para testemunhar uma historiazinha banal e simples, sem pretensões nenhumas para mim.

Estava como que esquecida, no fundo do meu subconsciente.Depois de 40 anos de silêncio, nos contactos que tenho feito com camaradas que estiveram em Canjadude comigo, há meia dúzia de factos que todos têm vindo a relembrar e a referenciar espontaneamente. Um deles jamais o esqueceram, foi o caso da cabritinha.

Junto fotos dos elementos que faziam parte da secção de transmissões na altura, (foto 4 a 14 inclusive).

Esta história, “A CABRITINHA DO MATO”, com cariz pueril, foi escrita em 1970 inspirada em factos verídicos que aconteceram na secção de transmissões da CCAÇ. 5, em Canjadude, com uma cabra do mato bebé, que um nativo apanhou.

A intenção inicial, quando escrevi, era que a história fosse publicada no jornal da CCAÇ. 5 “O GATO PRETO”. Mas, por atraso na entrega do texto, por minha culpa, ao coordenador dos artigos do jornal, a história não foi publicada. Enquanto estive em Canjadude, só foram editados o nº 1 e 2 do jornal, mas creio que saíram meia dúzia de números, não os tenho todos, mas gostava de tê-los, mesmo digitalizados.

O argumento subjacente, quando escrevi a história, tinha por objectivo transmitir uma imagem puerícia, que enfatizasse o valor excessivo que se dava no teatro de guerra e da solidão, ainda que rodeado de camaradas, a pequenas coisas tais como: - os nervos à flor da pele originando dramatismos, por banalidades, que à luz da razão eram difíceis de compreender e aceitar; - emoções exacerbadas sem causa aparente; - implicações inconsistentes; - crendices; brincadeiras inconsequentes, cujas condutas perigosas, por vezes davam origem a acidentes que podiam ser evitados.

Eram exageros comportamentais face a padrões admissíveis vigentes… (ainda que isto sejam predicados ou defeitos da juventude, no palco de guerra estavam muito amplificados).

A vida, na guerra, devido a carências, tensões e isolamento, era vivida noutra dimensão.Vamos pois à história:

"CABRITINHA DO MATO" mascote da Secção dos cognominados “BARÕES DE TRANSMISSÕES” da CCAÇ. 5

Era uma vez, uma cabritinha que foi encontrada só e abandonada no mato, devido à acção do homem, que a tornou órfã. Por unanimidade, a Secção de Transmissões da CCAÇ. 5 "Os Gatos Pretos", de Canjadude, perfilharam-na.Foi acarinhada, tratada, protegida, alimentada e amada por todos, pois era a sua mascote e artifício de escape para libertar as emoções e tensões nefastas, do dia-a-dia na guerra dos “Barões” da CCAÇ. 5.

Uns, davam-lhe o leite com uma tetina; outros com uma chupeta improvisada, concebida dum garrote tubular de enfermagem. Alguns alimentavam-na com uma seringa, outros adaptaram uma colher para lhe dar a paparoca e outros davam-lhe de beber com um copo.Todos, em aturada competição se desfaziam empenhadamente em carinhos, para ver qual ganhava e cativava a atenção e afeição da cabritinha. O interesse era uníssono, torná-la livre e feliz.

Para mitigar a solidão da infeliz e amenizar as marcas e trauma, deixadas pela perda da mãe, arranjou-se um amiguinho para companhia, o Nicolau, um “macaquinho”, que também precisava de atenções especiais. Envolveram-se, conheceram-se, tornando-se cúmplices e amigos e era vê-los nas suas brincadeiras infantis, que a todos atraiam e fascinavam.

Para gáudio de todos a cabritinha a nenhum singularizava. Preferia todos por igual, olhava-nos e agradecia dando graciosos pulinhos, que mais pareciam passos de ballet.Os Barões ficavam todos babados e enternecidos, com olhar esbugalhado, manifestando admiração e orgulho, por serem brindados com ondulantes movimentos artísticos, delicados, graciosos e com reflexos de coordenação muscular comedida; cuja suavidade, mais parecia magia!Não era raro, ouvir murmúrios de vozes emocionadas a dizer: “Esta baronesa que mais parece princesa tem futuro garantido, pois com este odor almiscarado, esta destreza, elegância harmoniosa e olhar tão cândido, a todos vai enlaçar e conquistar!”

Ai de quem se atrevesse a aproximar dela sem ser com o intuito de a acarinhar ou afagar, era logo corrido à paulada e à pedrada, e, em sua defesa, saltavam todos, mesmo os que nada sabiam sobre as efectivas intenções do intruso, afirmando, se necessário, a pés juntos, como testemunhas abonatórias, que as suas reais intenções não eram mimar nem acarinhar a cabritinha, mas sim abusar, ou tirar proveito, quiçá o seu rapto ou morte!

Cada um contribuía, segundo sabia e podia, pondo em prática o seu jeitinho de dar e tratar não se poupando, se necessário fosse com risco da própria vida, caso alguém ousasse atentar contra a tranquilidade, o sossego e bem-estar da cabritinha.

Os seus idólatras, sempre que havia coluna a Nova Lamego, traziam-lhe uma guloseima ou ”piteuzinho” para ela se deliciar.Paulatinamente, desenvolveu-se e cresceu e, cada dia que passava, ficava mais “atraente” e formosa, o seu pêlo ficava cada vez mais luzidio, o seu olhar mais lânguido e cativante, o seu corpo tomou contornos e formas de adulta, começando a ser cobiçada e querida, sob forma de outras intenções e ambições que foram nascendo e desenvolvendo, no seio dos “Barões de Transmissões”, despoletando zangas e confrontos.

O ano de 1969, estava no auge prestes a findar, e 1970 aprontava-se para entrar e não se adivinhavam nem previam bons augúrios para a melhor integridade física da cabritinha.

Reunidos em assembleia-geral, os tão zelosos e diligentes amantes da cabritinha - “Barões de Transmissões” -, que durante cinco ou seis meses com tanto enlevo e fervor contribuíram para o desenvolvimento gracioso e harmonioso dela, discutiram acaloradamente, cada um explanando a sua opinião, para se decidir o que lhe fazer.

Uns, salivando quais cães de Pavlov, defendiam com unhas e dentes, pois eram as suas pupilas gustativas que os comandam, que já estava na hora do “estorvo” dar o seu contributo à sociedade!

Outros, cujo centro de decisões está localizado no ventre, já arrotavam ao indigesto alho, entendiam ser necessário esperar algum tempo mais, para rentabilizar eficazmente o investimento já feito.

Outros, pensavam com o coração, opinando que se devia deixá-la andar livremente e à vontade, pois a pobre não incomodava ninguém: “Para quê desfazermo-nos dela já?” – Diziam eles.

Outros ainda, sentiam-se embaraçados com o desenrolar dos acontecimentos, sentindo-se feridos na sua dignidade e sensibilidade, por terem de se alhear dos seus sentimentos e afectos mais nobres, raciocinando com os seus neurónios, defendiam que se devia libertar a infeliz, devolvendo-a ao seu habitat natural, de forma que fosse ela a decidir o seu destino e padrão de felicidade, onde pudesse escolher sem “coação” o seu caminho e reencontrar-se com os seus irmãos.

Não havia consenso possível, pois as opiniões e desejos divergiam com tal antagonismo e o diálogo não era possível.Assim, decidiu-se: “Que seja através de voto secreto que se determine o futuro da cabritinha.”Constituiu-se então um juízo, presidido pelo “Barão” mais velho da Secção e procedeu-se à votação. Fez-se a contagem dos votos e a sorte da infeliz estava traçada! O juiz, analisou os votos e, sentenciou, que a baronesa tinha que ser abatida à Secção de Transmissões.

Lavrou-se a sentença e, não havendo direito a recurso, a audiência encerrou.O juiz, em consciência, sentenciou a morte da desgraçada, havia agora que fazer cumprir a sentença e distribuir as tarefas a cada “Barão”, para organizar o altar da imolação, o fausto banquete e definir quais as ilustres personalidades que deviam ser convidadas, para a pomposa cerimónia do sacrifício da transformação. Sim, porque nada se perdeu, tudo se transformou.

Para tanto, definiram-se as seguintes tarefas:
  • Carrascos – Francisco Manuel Pia Loupa e Rogério Fernando Sampaio Carneiro (já faleceu);
  • Preparativos dos géneros – Armando Jorge Ferreira Pinto (já faleceu) e José Natividade Cardoso Silva;
  • Fraccionar as peças alimentícias – Alexandre Franklim Estrela Justino;
  • Tratar da lenha e da imagem – José Manuel Silva Corceiro;
  • Acender o forno e manutenção do mesmo – José Joaquim Teles Coias;
  • Tratar das bebidas – Albino Joaquim Martins da Costa (cripto);Tratar da loiça – João Alberto Dias Graça; Mensageiro e extras – Fernando Manuel Ramos Nora;
  • Assegurar posto de transmissões – José Carlos Freitas;
  • Convidados – Furriel José da Silva Marcelino Martins,Capitão Manuel Ferreira de Oliveira (já faleceu) e Major do Q. G.Para os intervenientes na história já falecidos, o nosso momento de respeito.


1 – Cabritinha do mato, bebé.

2 - Nicolau, o macaquinho.

3 – Alferes Sousa a afagar a cabritinha.

4 - Corceiro no abrigo dos barões.

5 - Loupa e Rogério (já faleceu).

5a - Loupa e Rogério (já faleceu).

6 – Pinto (já faleceu), o Silva e o Coias.

7 – O Alex.

8 – O Corceiro.

9 – O Coias.

10 – O Costa (ao lado direito), o Corceiro (ao centro) e o Enfermeiro “Tó Mané” (lado esquerdo).

11 – O Nora (lado esquerdo) e o Corceiro.

12 – O Graça.

13 – O José Carlos.

14 – O Furriel José da Silva Marcelino Martins.

15 – Em primeiro plano de frente: O Costa, o Alex, o Coias, o Silva, o Corceiro, o José Carlos. Em primeiro plano de costas: o Loupa, o Rogério (já faleceu), o Sr. Major do QG, o Capitão Ferreira de Oliveira (comandante da companhia CCaç. 5 na altura, entretanto já falecido), o Furriel José Martins (na altura chefiava a Secção de Transmissões) e o Graça. Falta nesta foto, para completar a secção de transmissões, o Pinto (já falecido), a quem eu devo ter pedido para tirar esta foto e o Nora.

Um abraço para todos os tertulianos,
José Corceiro
1º Cabo Trms da CCaç 5

Fotos: © José Corceiro (2009). Direitos reservados
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5685: Parabéns a você (66): Rogério Freire, ex-Alf Mil da CART 1525 (Editores)

1. Hoje, dia 22 de Janeiro de 2010, estamos a festejar mais um aniversário. Desta feita homenageamos o nosso camarada Rogério Freire, ex-Alf Mil da CART 1525, que esteve em Bissorã nos idos anos de 1966/67.

Ao Rogério vimos desejar um alegre e festivo dia, na companhia dos seus mais queridos familiares e amigos.

Que some muitos e bons anos à sua ainda jovem vida, sempre tendo por perto quem mais o ama, são os votos de seus amigos e camaradas do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



2. De Rogério Freire e da CART 1525 encontrei estas referências no nosso Blogue.

Fotografia em que Rogério Freire, assinalado pelo círculo, espreita por cima da cabeça do então Alf Mil Giberto Madail.


Página da CART 1525 que pode ser visitada em http://www.cart1525.com/


Poste da I Série de 14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXXIX: CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67)

Postes da II Série de:

21 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P978: Futebol em Bissorã no tempo do Rogério Freire (CART 1525) e do Gilberto Madail
e
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1263: Os Falcões de Bissorã, festejando os 39 anos de regresso a casa (Rogério Freire, CART 1525)

Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5684: Parabéns a você (65): Continua livre e feliz, João Graça! (Os editores)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5684: Parabéns a você (65): Continua livre e feliz, João Graça, agora com 26 aninhos! (Os editores)















Guiné-Bissau > Dezembro de 2009 > O novo membro da nossa Tabanca Grande, João Graça, que faz hoje 26 anos, esteve de férias na Guiné-Bissau, quinze dias, metade dos quais passados em Iemberém onde prestou cuidados médicos à população local, como voluntário.

O resto do tempo quis conhecer um pouco melhor a Guiné: as duas primeiras fotos a contar de cima, por exemplo,  são de Bafatá onde pernoitou em 15 de Dezembro. A mim, mata-me as saudades do Rio Geba e dos seus barqueiros, mas também da magia do entardecer em África... A terceira foto foi tirada na Ilha de Bubaque, no sábado, 12 (regressou a Bissau, no dia seguinte). 

A 4ª foto foi tirada em Bissau, na conhecida e conceituada Residencial Coimbra, sita na Av Amílcar Cabral, em pleno centro: da esquerda para a direita, o João, o Mamadu (músico da tabanca mandinga de Tabatô de onde é natural o Djabaté), o Vitor (cooperante espanhol), a Catarina Meireles (médica, portuguesa, de saúde pública, minha antiga aluna na Escola Nacional de Saúde Pública, natural de Vila Verde, a terra dos lenços namorados)... Os restabtes cinco elementos não sei, de momento, identificá-los.

A 5ª foto foi tirada num bar da Bissau Velha, onde o João  tocou violino com músicos locais. Ao centro, aparece o Antero, o dedicado motorista, balanta, da AD - Acção para o Desenvolvimento, que o acompanhou por todo o lado (Já fora ele que me levara, a mim e ao Nuno Rubim, à Alice e à Júlia, na viagem de visita ao sul da Guiné, de 1 a 3 de Março de 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje). Um grande abraço, Antero, meu e do Nuno!

As duas  últimas fotos são de Iemberém, de 9 de Dezembro: o nosso médico no centro de saúde materno-infantil; e a seguir a Cadi... A Cadi, que se tornara amiga dos casais Nuno/Júlia Rubim  e Luís Graça/Maria Alice, em Março de 2008, viemos depois a saber que tinha dado à luz um menino, a que foi dado o nome de Nuninho. Não sobreviveu ao um ataque de paludismo, aos quatro meses. E a própria Cadi esteve em risco de vida (*). Espantosa coincidência, o João vem descobri-la em Iemberém, novamente grávida. Trabalha agora na estrtutura hoteleira da AD, em Iemberém, servindo à mesa. A família vive em Farim do Cantanhez, onde o João foi uma manhã, muito cedo, com os guias, para observar um dos grupos de daris (chimpanzés) que circulam pelo Parque Nacional do Cantanhez.

O João observou a Cadi como médico, e ganhou um nova amiga. A grávida parecia estar de boa saúde e o bebé também. O João deixou-lhe roupas, dinheiro e um telemóvel. A Cadi acaba de nos telefonar hoje (!) a dizer que pariu uma minina, no domingo passado, a que pôs o nome Maria Alice...

O pai da Cadi é um antigo guerrilheiro do PAIGC ("combatente da liberddade da Pátria"). Vive em Farim do Cantanhez.

O João Graça, músico do grupo Melech Mechaya, e médico interno de psiquiatria no Hospital Fernando da Fonseca (Amadora / Sintra), ficou visivelmente apaixonado pela Guiné e pela sua gente, simples, generosa, afável, hospitaleira e talentosa (para a música, por exemplo). Deixou lá muitos amigos (a começar pelo Pepito, a Isabel, as filhas do casal, o Patrício Ribeiro, o Domingos, o Ali, o Antero...). Promete lá voltar. E promete, um dia destes, publicar aqui alguns notas do seu diário de viagem. Quanto à fotos, agora publicadas, ou já publicadas em postes anteriores (**), têm sido "roubadas" pelo seu pai... com a melhor das intenções do mundo.

Ficam aqui as palavras que o velhote dele lhe escreveu, em 2005, há cinco anos, na toalha de papel do restaurante onde se festejou  o seu 21º aniversário. Essas palavras continuam a ter plena actualidade: é preciso que nós e a geração dos nossos filhos continuemos a lutar pelo direito à liberdade e à felicidade, para eles e para todas as Cadis deste mundo. O João e a Cadi, que são da mesma geração, não tiveram, ao nascer, a mesma igualdade de oportunidades.

Para o João:

Viva quem é um sortudo
por fazer hoje vinte e um anos,
no dia 21 de Janeiro
do ano da graça de 2005!
Mais do que a efeméride,
e a capicua que não se repetirará mais,
tu és um homem privilegiado
por teres um pai e uma mãe
que te amam muito,
que sempre te amaram muito,
uma irmã que te adora,
sem falar do resto:
a tua namorada,
os teus amigos,
o teu curso,
dois violinos,
um computador,
um quarto,
uma casa,
muitos livros,
muitos CD!...
Só não tens um... cão!
Dá graças à vida por seres feliz.
É certo que o mereces
e tens procurado merecê-lo,
mas nunca te esqueças
que tens vivido
na parte habitável do planeta!...
É que quando nasceste,
o ar já era respirável
neste país
e neste recanto do mundo.
Nasceste livre e feliz!
Continua livre e feliz!
E luta sempre
para que os outros também sejam livres e felizes!

O teu velhote.
21/Janeiro/2005

Fotos: © João Graça (2009). Direitos reservados
__________

Notas de L.G.:

(*) Sobre a Cadi:

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3168: Ser solidário (20): Bissau: O triste caso da Cadi e a ajuda extraordinária do Tino, que trabalha na AD (Nuno Rubim)

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5662: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (3): Algumas fotos do João Graça

27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5548: Álbum fotográfico de João Graça (2): O Fatango ou macaco fidalgo (Procolobus badius) do Parque Nacional do Cantanhez

 24 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5531: Álbum fotográfico de João Graça (1): Médico em Iemberém por cinco dias

Guiné 63/74 - P5683: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (8): Seguir o exemplo do meu pai e do seu amor por essa terra (Maria Eugénia Neto)

1.  Comentário de Maria Eugénia Neto, filha de José Neto e Júlua Neto, ao poste de 19 de Janeiro de 2010> Guiné 63/74 - P5677: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (6): Júlia Neto em Bissau, com a família do Dauda Viegas (Pepito)


É com muita emoção que leio o relato do Pepito (perdoe-me a familiaridade) e vejo as fotos da minha mãe  nessa estadia memorável na Guiné [ Foto à esquerda]. Com emoção e uma pontinha de inveja, devo confessar.

Estas experiências, e estes relatos acerca do meu pai (*), saber dele detalhes que não conhecíamos, conhecê-lo através dos olhos dos outros, são de repente muito perturbadores. Perturbadores, mas agradáveis. Contribuem para o contínuo processo de actualização do "retrato" que a nossa memória selectivamente faz daqueles que nos deixaram.


Espero que esta viagem seja a primeira, e que outras se lhe sigam; que possamos lá ir, a mãe e nós, as irmâs, com os filhos. Que encontremos forma de contribuir e cooperar com a AD ou outras entidades, seguindo o exemplo do meu pai e do seu amor por essa terra [ Foto à direita].

Muito obrigada pelo que nos proporcionaram. Até breve,

Maria Eugénia Neto
(segunda filha do Zé Neto)


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Nota de L.G.:

(*) José Neto (1929-2007), que foi 2º Sargento CART 1613 (Guileje, 1967/68); esteve 10 anos em serviço em Macau; passou também pela Guarda Fiscal; reformou-se como Capitão; foi o primeiro membro da nossa tertúlia que a morte nos roubou. Teria sido para ele uma enorme alegria voltar a ver, erguida das cinzas, a sua capela, nessa  terra de fé e de coragem que foi Guileje.