1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 19 de Março de 2012:
Queridos amigos,
Compreende-se como as brochuras sobre a Guiné
“As grandes operações da guerra colonial”, distribuídas com os fascículos de
“Os anos da guerra colonial” foram alvo de contestação no tocante às ilustrações, à toponímia, arrumação de assuntos, etc.
É matéria de divulgação, algumas das brochuras trataram com ligeireza os assuntos e têm até omissões gritantes. Mas é o que há, temos que as deixar repertoriadas no grande acervo para consulta de interessados, investigadores ou historiadores.
Peço a gentileza a quem possui as brochuras IX (A morte dos majores), XIV (O terror dos mísseis), XV (O corredor da morte) e XVI (Comandos libertam Guidage) que me façam o grande favor de mas deixar consultar, prontamente as devolverei.
Um abraço do
Mário
As grandes operações da guerra colonial, edição do Correio da Manhã
Beja Santos
“As grandes operações da guerra colonial”, textos de Manuel Catarino, eram distribuídas num encarte com os diferentes volumes dos
“Anos da Guerra”, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes. Foram publicadas 16 brochuras e um número expressivo delas prendia-se diretamente com operações ocorridas na Guiné. Houve grande alvoroço, crítica e mesmo indignação à volta desta iniciativa: uso descarado e sem qualquer referência ao proprietário de imagens em muitos casos desadequadas ao teatro de operações em referência; erros grosseiros em topónimos, datas e até cronologia; reticências quanto à seleção das grandes operações por grau de importância, tratamento conjugado de operações diferenciadas na mesma brochura, repetições e recapitulações excessivas, etc. O que cabe aqui registar foi o que se escreveu, em ordem em que no futuro cada investigador ou pesquisador saiba com o que pode contar.
A primeira brochura com interesse tem a ver com a operação
“Tridente”. O autor dá-nos o cenário, a cronologia dos factos, as operações de desembarque com os respetivos quatro agrupamentos, carateriza os combates, lista os louvados, os abastecimentos, o material gasto na operação, as baixas e o texto intercetado de Nino a pedir reforços. A operação é classificada como inútil, como escreve: “Em 24 de Março, ao fim de 71 dias de campanha, o tenente-coronel Fernando Cavaleiro dá o assunto por encerrado, quatro dias antes, à noite, passeara triunfante com o grupo de comandos e o pelotão de paraquedistas pelas matas de Cauane, de Cassaca e de Cachil. Os guerrilheiros, incapazes de travar os ataques portugueses, estão em fuga".
Os combates custaram às nossas tropas 9 mortos e 47 feridos – além de 193 combatentes evacuados por doença. O tenente-coronel Fernando Cavaleiro escreveu no relatório final:
“Mais uma vez se verificaram as extraordinárias qualidades dos nossos soldados. Apesar de pessimamente instalados em abrigos, vigilantes dia e noite, de terem tomado parte em inúmeras operações, de durante 23 dias se alimentarem exclusivamente da mesma ementa de ração de combate à base de conserva, de durante os restantes 48 dias apenas terem comido uma refeição quente, apesar da falta de água para beber – a tudo resistiram, mostrando assim um verdadeiro e inigualável poder de adaptação e espírito de sacrifício”. A operação “Tridente” foi das mais ingratas de toda a guerra colonial – um sacrifício inútil. Os guerrilheiros foram expulsos da região, mas o comandante-chefe que veio a seguir, general Arnaldo Schulz, retirou a guarnição que lá tinha ficado. Resultado: os guerrilheiros voltaram a ocupar as ilhas”.
A segunda brochura inclui os acontecimentos das operações “Grifo” (Abril de 1966) e “Ciclone II” (Fevereiro de 1968), sob o título
“Para-quedistas no inferno de Guileje”. O autor destaca: “A partir de meados de 1964, a guerra sofre um sério agravamento na Guiné. A guerrilha, que tem as bases na vizinha Guiné-Conacri, cava na fronteira do Sul as principais linhas de infiltração. As tropas portuguesas vivem dificuldades crescentes no Sul do território – na zona de Guileje e em toda a península do Cantanhez. É em Guileje que os paraquedistas passam a grande provação. No dia 28 de Abril de 1966, um pelotão onde seguia o capitão Tinoco de Faria leva a cabo a operação “Grifo”. Objetivo: emboscar um grupo de guerrilheiros. O capitão morre em combate. Dois anos depois, em 25 de Fevereiro de 1968, os Páras executam com êxito a operação “Ciclone II”: tomam de assalto uma forte posição da guerrilha em Cafal-Cafine e infligem pesada derrota ao inimigo”. Encontramos na brochura a descrição da operação “Grifo” e o martírio do capitão Tinoco de Faria, bem como o assalto demolidor da “Ciclone II” que assim culmina “Os combates em Cafine, entre a Companhia 121, do capitão Mira Vaz e os guerrilheiros estavam a ser duros. É então que o comandante da operação manda a Companhia 122, comandada pelo capitão Manuel Lopes Morais, voltar a embarcar nos helicópteros em Cafal e seguir para Cafine. A luta é encarniçada. O inimigo acoitado na mata tenta conter a força de assalto. Os Páras enfrentam autênticas paredes de fogo. Mas sabem que não podem ficar ali: têm que correr em ziguezague, alcançar a mata e calar a metralha inimiga. Quando chegam à zona dos abrigos de onde os guerrilheiros disparam, atacam-nos pela retaguarda com granadas de mão. Os combates terminam pelas 3 da tarde. Uma hora depois, os paraquedistas retiram da zona. Sofreram 3 feridos graves e 2 ligeiros, mas dizimaram um bi-grupo do PAIGC e capturaram todo o material de guerra. Quarenta guerrilheiros foram mortos e dezanove foram feitos prisioneiros. A operação “Ciclone II” fora um êxito.
A terceira brochura trata de uma operação que envolveu paraquedistas, a operação “Vulcano”, que se realizou em Março de 1969, e a seguir o texto, sem mais explicações, dá-nos um quadro abrangente do pensamento e ação de Spínola na Guiné. No caso da operação “Vulcano”, o BCP 12 foi encarregado de planear e executar uma ação com o objetivo de destruir o ninho de metralhadoras antiaéreas – as ZPU-4, que atuavam no Cantanhez. Duas companhias de paraquedistas tinham como missão atacar as posições do PAIGC em Cassebeche. Aviões Fiat, no início da operação, bombardearam os objetivos. No terreno, as coisas estão muito difíceis para os paraquedistas, os morteiros do PAIGC não deixam avançar. O comandante da operação manda retirar. Só uma grande capacidade de combate lhes permitiu retirar sem baixas. O texto que segue nada tem a ver com operações, alude ao isolamento diplomático, à caraterização de Spínola como cabo-de-guerra e o modo como procurou a reviravolta no plano político e militar. O texto vai de enfiada até à publicação do livro “Portugal e o futuro”.
A quarta brochura diz respeito à captura do capitão Peralta, em Novembro de 1969, e descreve a operação “Grande Empresa”, referente à ocupação do Cantanhez, em finais de 1972. No que toca ao capitão Peralta, havia a informação extraída a um prisioneiro de que uma importante coluna do PAIGC se preparava para atravessar o corredor de Guileje, nela seguiria Nino Vieira. Coube ao BCP 12 a missão de atacar a coluna, será a companhia 122 que irá emboscar no local. É a operação “Jove”: “Cerca das 10 horas da manhã de 18 de Novembro de 1969, os paraquedistas chegam ao ponto de emboscada – e procuram tomar as melhores posições no terreno. Ainda não estavam preparados, ouvem-se vozes ao longe. A coluna do PAIGC aproxima-se. Os soldados portugueses aguardam as ordens do comandante. Estala então violento tiroteio. Um dos homens da coluna foge para o interior da mata. O capitão João Bessa dá ordens para que o persigam. O fugitivo está ferido. O sargento Regageles corre com meia dúzia de Páras. Seguem o rasto de sangue. Encontram-no caído numa poça de sangue. Tem um braço quase arrancado pelas balas. Está entre a vida e a morte”. Aquele homem não é Nino Vieira, é o capitão do Exército de Cuba, Pedro Rodriguez Peralta. Os guerrilheiros acabam por retirar ao fim de quase meia hora de combate. Peralta receberá uma transfusão de sangue a caminho de Bissau, seguidamente será internado no Hospital Militar, mais tarde foi transferido para o hospital-prisão de Caxias. Será julgado no Tribunal Militar e condenado a 10 anos de cadeia. O episódio termina com um dado curioso: “Não chegou a cumprir a totalidade da pena. O embaixador americano em Lisboa, Frank Carlucci, interessa-se pelo caso. Um agente da CIA, Kirby Hunt, fora apanhado em Cuba e corria o risco de apodrecer numa cadeia de Havana pela acusação de espionagem. Os americanos negoceiam a troca de Peralta por Hunt. Fidel Castro aceita o negócio”.
(Continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2012 >
Guiné 63/74 - P9814: Notas de leitura (355): Manuel Pinto de Andrade, Amílcar Cabral e o PAIGC (Mário Beja Santos)