segunda-feira, 30 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9835: Notas de leitura (356): As grandes Operações da Guerra Colonial, edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 19 de Março de 2012:

Queridos amigos,
Compreende-se como as brochuras sobre a Guiné “As grandes operações da guerra colonial”, distribuídas com os fascículos de “Os anos da guerra colonial” foram alvo de contestação no tocante às ilustrações, à toponímia, arrumação de assuntos, etc.
É matéria de divulgação, algumas das brochuras trataram com ligeireza os assuntos e têm até omissões gritantes. Mas é o que há, temos que as deixar repertoriadas no grande acervo para consulta de interessados, investigadores ou historiadores.
Peço a gentileza a quem possui as brochuras IX (A morte dos majores), XIV (O terror dos mísseis), XV (O corredor da morte) e XVI (Comandos libertam Guidage) que me façam o grande favor de mas deixar consultar, prontamente as devolverei.

Um abraço do
Mário


As grandes operações da guerra colonial, edição do Correio da Manhã

Beja Santos

“As grandes operações da guerra colonial”, textos de Manuel Catarino, eram distribuídas num encarte com os diferentes volumes dos “Anos da Guerra”, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes. Foram publicadas 16 brochuras e um número expressivo delas prendia-se diretamente com operações ocorridas na Guiné. Houve grande alvoroço, crítica e mesmo indignação à volta desta iniciativa: uso descarado e sem qualquer referência ao proprietário de imagens em muitos casos desadequadas ao teatro de operações em referência; erros grosseiros em topónimos, datas e até cronologia; reticências quanto à seleção das grandes operações por grau de importância, tratamento conjugado de operações diferenciadas na mesma brochura, repetições e recapitulações excessivas, etc. O que cabe aqui registar foi o que se escreveu, em ordem em que no futuro cada investigador ou pesquisador saiba com o que pode contar.

A primeira brochura com interesse tem a ver com a operação “Tridente”. O autor dá-nos o cenário, a cronologia dos factos, as operações de desembarque com os respetivos quatro agrupamentos, carateriza os combates, lista os louvados, os abastecimentos, o material gasto na operação, as baixas e o texto intercetado de Nino a pedir reforços. A operação é classificada como inútil, como escreve: “Em 24 de Março, ao fim de 71 dias de campanha, o tenente-coronel Fernando Cavaleiro dá o assunto por encerrado, quatro dias antes, à noite, passeara triunfante com o grupo de comandos e o pelotão de paraquedistas pelas matas de Cauane, de Cassaca e de Cachil. Os guerrilheiros, incapazes de travar os ataques portugueses, estão em fuga".
Os combates custaram às nossas tropas 9 mortos e 47 feridos – além de 193 combatentes evacuados por doença. O tenente-coronel Fernando Cavaleiro escreveu no relatório final: “Mais uma vez se verificaram as extraordinárias qualidades dos nossos soldados. Apesar de pessimamente instalados em abrigos, vigilantes dia e noite, de terem tomado parte em inúmeras operações, de durante 23 dias se alimentarem exclusivamente da mesma ementa de ração de combate à base de conserva, de durante os restantes 48 dias apenas terem comido uma refeição quente, apesar da falta de água para beber – a tudo resistiram, mostrando assim um verdadeiro e inigualável poder de adaptação e espírito de sacrifício”. A operação “Tridente” foi das mais ingratas de toda a guerra colonial – um sacrifício inútil. Os guerrilheiros foram expulsos da região, mas o comandante-chefe que veio a seguir, general Arnaldo Schulz, retirou a guarnição que lá tinha ficado. Resultado: os guerrilheiros voltaram a ocupar as ilhas”.

A segunda brochura inclui os acontecimentos das operações “Grifo” (Abril de 1966) e “Ciclone II” (Fevereiro de 1968), sob o título “Para-quedistas no inferno de Guileje”. O autor destaca: “A partir de meados de 1964, a guerra sofre um sério agravamento na Guiné. A guerrilha, que tem as bases na vizinha Guiné-Conacri, cava na fronteira do Sul as principais linhas de infiltração. As tropas portuguesas vivem dificuldades crescentes no Sul do território – na zona de Guileje e em toda a península do Cantanhez. É em Guileje que os paraquedistas passam a grande provação. No dia 28 de Abril de 1966, um pelotão onde seguia o capitão Tinoco de Faria leva a cabo a operação “Grifo”. Objetivo: emboscar um grupo de guerrilheiros. O capitão morre em combate. Dois anos depois, em 25 de Fevereiro de 1968, os Páras executam com êxito a operação “Ciclone II”: tomam de assalto uma forte posição da guerrilha em Cafal-Cafine e infligem pesada derrota ao inimigo”. Encontramos na brochura a descrição da operação “Grifo” e o martírio do capitão Tinoco de Faria, bem como o assalto demolidor da “Ciclone II” que assim culmina “Os combates em Cafine, entre a Companhia 121, do capitão Mira Vaz e os guerrilheiros estavam a ser duros. É então que o comandante da operação manda a Companhia 122, comandada pelo capitão Manuel Lopes Morais, voltar a embarcar nos helicópteros em Cafal e seguir para Cafine. A luta é encarniçada. O inimigo acoitado na mata tenta conter a força de assalto. Os Páras enfrentam autênticas paredes de fogo. Mas sabem que não podem ficar ali: têm que correr em ziguezague, alcançar a mata e calar a metralha inimiga. Quando chegam à zona dos abrigos de onde os guerrilheiros disparam, atacam-nos pela retaguarda com granadas de mão. Os combates terminam pelas 3 da tarde. Uma hora depois, os paraquedistas retiram da zona. Sofreram 3 feridos graves e 2 ligeiros, mas dizimaram um bi-grupo do PAIGC e capturaram todo o material de guerra. Quarenta guerrilheiros foram mortos e dezanove foram feitos prisioneiros. A operação “Ciclone II” fora um êxito.

A terceira brochura trata de uma operação que envolveu paraquedistas, a operação “Vulcano”, que se realizou em Março de 1969, e a seguir o texto, sem mais explicações, dá-nos um quadro abrangente do pensamento e ação de Spínola na Guiné. No caso da operação “Vulcano”, o BCP 12 foi encarregado de planear e executar uma ação com o objetivo de destruir o ninho de metralhadoras antiaéreas – as ZPU-4, que atuavam no Cantanhez. Duas companhias de paraquedistas tinham como missão atacar as posições do PAIGC em Cassebeche. Aviões Fiat, no início da operação, bombardearam os objetivos. No terreno, as coisas estão muito difíceis para os paraquedistas, os morteiros do PAIGC não deixam avançar. O comandante da operação manda retirar. Só uma grande capacidade de combate lhes permitiu retirar sem baixas. O texto que segue nada tem a ver com operações, alude ao isolamento diplomático, à caraterização de Spínola como cabo-de-guerra e o modo como procurou a reviravolta no plano político e militar. O texto vai de enfiada até à publicação do livro “Portugal e o futuro”.

A quarta brochura diz respeito à captura do capitão Peralta, em Novembro de 1969, e descreve a operação “Grande Empresa”, referente à ocupação do Cantanhez, em finais de 1972. No que toca ao capitão Peralta, havia a informação extraída a um prisioneiro de que uma importante coluna do PAIGC se preparava para atravessar o corredor de Guileje, nela seguiria Nino Vieira. Coube ao BCP 12 a missão de atacar a coluna, será a companhia 122 que irá emboscar no local. É a operação “Jove”: “Cerca das 10 horas da manhã de 18 de Novembro de 1969, os paraquedistas chegam ao ponto de emboscada – e procuram tomar as melhores posições no terreno. Ainda não estavam preparados, ouvem-se vozes ao longe. A coluna do PAIGC aproxima-se. Os soldados portugueses aguardam as ordens do comandante. Estala então violento tiroteio. Um dos homens da coluna foge para o interior da mata. O capitão João Bessa dá ordens para que o persigam. O fugitivo está ferido. O sargento Regageles corre com meia dúzia de Páras. Seguem o rasto de sangue. Encontram-no caído numa poça de sangue. Tem um braço quase arrancado pelas balas. Está entre a vida e a morte”. Aquele homem não é Nino Vieira, é o capitão do Exército de Cuba, Pedro Rodriguez Peralta. Os guerrilheiros acabam por retirar ao fim de quase meia hora de combate. Peralta receberá uma transfusão de sangue a caminho de Bissau, seguidamente será internado no Hospital Militar, mais tarde foi transferido para o hospital-prisão de Caxias. Será julgado no Tribunal Militar e condenado a 10 anos de cadeia. O episódio termina com um dado curioso: “Não chegou a cumprir a totalidade da pena. O embaixador americano em Lisboa, Frank Carlucci, interessa-se pelo caso. Um agente da CIA, Kirby Hunt, fora apanhado em Cuba e corria o risco de apodrecer numa cadeia de Havana pela acusação de espionagem. Os americanos negoceiam a troca de Peralta por Hunt. Fidel Castro aceita o negócio”.

 (Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9814: Notas de leitura (355): Manuel Pinto de Andrade, Amílcar Cabral e o PAIGC (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9834: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte I: De Mafra (EPI) a Bissau (BAC1)




São Martinho do Porto > s/d > Página do Facebook de João José Alves Martins, foto nº 23/88 do seu álbum sobre São Marinho do Porto (onde tem casa de verão). O João é um apaixonado pela baía de São Martinho do Porto, uma das mais belas do mundo, e pelo mar... ou não fora ele filho de oficial da marinha... Conheci-o há dias, em Lisboa. Com ele temos mais um camarada na Tabanca de São Martinho do Porto - para além dos Schwarz (Pepito e Clara) e do JERO - , tabanca essa que se costuma reunir, solene e festivamente, pelo menos uma vez por ano, em meados do mês de agosto.


Foto: © João Martins (2012). Todos os direitos reservados





Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte I
João Martins  (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) .

[Texto enviado em 19 do corrente; será publicado em várias partes]


Dedico estas minhas memórias ao Jornal “Defesa da Beira”, e muito particularmente a Pinheiro Salvado, seu ilustre colaborador, que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente, mas cujos artigos leio com o maior agrado e reconhecimento.

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ÍNDICE

1 – Curso de Oficiais Milicianos

1.1 – Mafra – Escola Prática de Infantaria

1.2 – Vendas Novas – Escola Prática de Artilharia – Especialidade: PCT (Posto de Controlo de Tiro)

2 – Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2

3 –Viagem para a Guiné (10 de Dezembro de 1967)

4 – Chegada à Bateria de Artilharia de Campanha Nº. 1 (BAC 1) e partida para Bissum

5 – Bissum-Naga

6 – Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)

7 – Piche

8 – Bedanda

9 – Gadamael-Porto

10 – Guilege

11 – Bigene e Ingoré
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1 – Curso de Oficiais Milicianos (COM) e colocação no RAP 3

1.1 – Mafra, EPI



Nos primeiros dias de Janeiro de 1967, entrei na Escola Prática de Infantaria em Mafra, como soldado cadete nº mecanográfico 00325165.

O que recordo desta recruta é o de ter tido um comandante de companhia bastante duro, alguns fins-de-semana sem ter ido a casa por chegar ao refeitório para tomar o pequeno-almoço, em cima da hora, uma subida por um riacho em grande velocidade ultrapassando rapidamente alguns obstáculos e muitos camaradas bem mais lentos, e, pelo frio que apanhei, uma valente gripe que me atirou para a enfermaria. Também me recordo de umas marchas finais no Barril com muita chuva e lama, e de uma noite dormida ao relento num caminho de carros de bois, tal era o cansaço, depois de ter caminhado uns 60 quilómetros.

Não sei se era do capitão ou se fazia parte da instrução, o que recordo é que não me sentia enquadrado no ambiente que caracterizava aquela disciplina militar. Na minha opinião, demasiado rude e autoritária, um tanto na continuação da Mocidade Portuguesa que também não me tinha deixado quaisquer saudades, tal o espírito que a enformava. Tive a oportunidade de constatar que o sentimento que caracterizava aquela instrução também estava impregnado de uma filosofia que atravessava transversalmente todo o Estado Novo, e que me causava tal repugnância que me admirava que muitos camaradas meus não pensassem em desertar. Face ao que sentia, compreendia que vontade não lhes faltaria.

Era também minha opinião que o facto de sentir tal espírito de aversão a todo o ambiente que me envolvia era contrário ao espírito de “união” e de “amor à Pátria” que permitem vencer uma qualquer guerra; portanto, bastava esse facto para concluir que a guerra de guerrilhas que nos era imposta estava perdida. E recordava que, ainda no liceu, no 5º ano, tinha afirmado na prova oral de história, que para se vencer uma guerra, e esta adivinhava-se, era importante não só a conjugação de esforços de toda a Nação, o que incluía, evidentemente, governantes e governados, mas também era fundamental o merecimento da vitória. Na EPI, em Mafra, o que constatávamos era uma total ausência de motivação e de sentimentos de “Unidade Nacional e de patriotismo”.

Esperava-nos uma guerra de guerrilhas, vulgo “terrorismo” ou “guerra de libertação”, enquadrada no confronto mais global entre as duas grandes potências da altura que se digladiavam nos mais diferentes pontos do globo na defesa dos seus interesses, nomeadamente, pelo domínio e controlo das matérias-primas, em particular pelo controlo das áreas petrolíferas, invocando as mais variadas razões, tais como as ideológicas supostamente justificáveis, como seja a conquista da “independência”, da “liberdade” e da “democracia”, confrontação que ficou conhecida por “guerra fria” e que opunha os países do ocidente aos da cortina de ferro, muito particularmente os USA à URSS e que se iniciou imediatamente a seguir à capitulação da Alemanha e dos seus aliados, a Itália e o Japão, que marcou o fim da 2ª Grande Guerra Mundial em 1945.

É muito significativa a invasão pela URSS de países do Leste Europeu, constituindo o bloco do pacto de Varsóvia, completamente dominado a ferro e fogo pela ditadura comunista, e recordo o muro de Berlim, onde muitos cidadãos foram abatidos ao quererem fugir para o ocidente; e até recordo a “Rádio Livre”, emitida de Bucareste para Portugal anunciando a “Terra Prometida”, como se fosse uma oportunidade para um “Mundo melhor” em alternativa ao regime republicano autoritário, com uma polícia política repressiva que pretendia impor respeito, que não consideração, pelas numerosas detenções, muitas vezes sem justa causa.

A história ensina-nos que os povos quando unidos e bem chefiados, enchem-se de força para se expandirem e conquistarem novos territórios; foi assim com os Gregos, os Romanos, os Mouros, os Portugueses e Espanhóis, os Franceses, os Alemães, e não podemos esquecer a forma como a América do Norte foi colonizada, em que muitos índios foram perseguidos, abatidos e espoliados das suas terras.

Quanto à URSS, não ficou atrás dos USA, com milhões dos seus habitantes a serem assassinados por ordem de chefes que se tonaram ídolos para muita gente, e também recordo a “anexação e o domínio” de países europeus com uma história própria muito rica que lhes permitiu cimentar uma identidade específica.

Nos dias de hoje ainda constatamos que há povos que combatem pela independência e pela liberdade relativamente à Rússia e à Turquia, ou, o caso do Tibete relativamente à China que o anexou há relativamente poucos anos sem grande oposição da Comunidade Internacional, mas muitos outros há que conseguiram finalmente adquirir o estatuto de independência e recordo a desintegração da antiga Jugoslávia, nos Balcãs, amálgama de povos com diferentes origens e diferentes especificidades, dominada pelo ditador Marechal Tito. Quanto aos espanhóis, sabemos quão barbaramente trataram os povos da América Central e do Sul, incas, aztecas e outros.

As épocas são diferentes e o que é desculpável numa época já não o será noutra, é por isso que a história deve ser contada tendo em consideração os usos e costumes do período em que ocorrem. O conhecimento da história e particularmente da história económica é particularmente importante para cimentar a cultura de um povo, transmitir-lhe identidade, transmitir-lhe valores, dar-lhe razões para lutar por uma causa, pelo país. Caso contrário, esse povo será facilmente dominado e explorado por outros que se aproveitarão das suas fraquezas e das suas divisões.

Os portugueses, tal como todos os outros povos, têm a sua história, e os factos ocorridos no século XX, foram a continuação dessa história. Mas, para compreendermos o presente temos também que conhecer o passado e raciocinar a partir desse conhecimento. Portugal conheceu a sua Fundação em 5 de Outubro de 1143, graças à vontade de um pequeno grupo de homens e do seu primeiro Rei, D. Afonso Henriques, que enfrentou a oposição da sua mãe cujas tropas teve que derrotar. Portanto, divisões internas, diferentes interesses e opiniões ocorreram desde a Fundação da Nacionalidade, e repetiram-se durante muitos reinados, mas o que caracteriza particularmente a Nação Portuguesa é que ela tem a sua génese na força das armas, em que a componente religiosa assume primordial relevo; com efeito, foi aproveitando a passagem dos cruzados que vindos do Norte da Europa se dirigiam aos lugares santos da Palestina que, com o seu apoio militar, D. Afonso Henriques e os seus sucessores conquistaram Lisboa e muitas outras terras ao sul do Tejo. A presença de combatentes pela implantação e expansão da Fé Cristã, prontos a dar a vida pela mesma, foi crucial na conquista de territórios até ao Algarve. 



Na defesa da Pátria, desde a sua fundação, foi muitas vezes invocado São Jorge, e os artilheiros invocam, em sua proteção, Santa Bárbara. A Fé cristã esteve presente em muitos confrontos não só com os Mouros mas também com Castelhanos. Por exemplo, D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, rezou profundamente antes de enfrentar alguns dos seus próprios irmãos na célebre batalha de Aljubarrota em que o exército castelhano era muito superior ao exército português.

Também o Infante D. Henrique assumiu a missão que Cristo confiou aos Cristãos “Ide e Evangelizai”. E talvez por “inspiração divina”, contribuiu decisivamente para que os portugueses levassem Cristo ao conhecimento de outros povos.

Dá-se assim início à expansão ultramarina com Naus e Caravelas ostentando a Cruz de Cristo. No dizer do poeta, os portugueses propõem-se mais uma vez irem por esses “mares nunca dantes navegados” a “dilatar a Fé e o Império”.

Sabemos que a religião cristã tem como primeiro e fundamental mandamento: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”, e sabemos que os cristãos são chamados à “missão de evangelizar”, transmitindo essa “mensagem” que acreditam ter a sua origem no próprio Deus. É por isso que, além de procurarem desenvolver trocas comerciais numa relação de convivência e de amizade, também tiveram como objetivo, por meio dos missionários, a conversão dos povos autóctones.

Relativamente aos interesses das grandes potências, recordo que já nos finais do século XIX tínhamos tido uma disputa com a Inglaterra porque pretendíamos o domínio de todos os vastos territórios entre Angola e Moçambique. Face ao grande potencial bélico britânico, tivemos que capitular. Esta nossa pretensão ficou conhecida por “Mapa cor-de-rosa” e a nossa derrota é apontada com sendo uma das razões da queda da monarquia.

Nos anos 40 do século passado, o general Norton de Matos, conhecedor das pretensões das grandes potências, tinha pugnado pela transferência da capital do Império para Nova Lisboa, em Angola, mas, Salazar, com receio de se criar um novo Brasil, não concordou e quando teve conhecimento do petróleo existente no ultramar compreendeu que dificilmente o manteríamos. Mandou tropas “para Angola e em força”; era no entanto tarde demais, durante muitos anos tinha evitado a concessão de vistos que permitissem aos portugueses irem para lá; só nos anos sessenta é que permitiu o rápido desenvolvimento e determinou investimentos muito significativos como foi o caso da barragem de Cabora-Bassa em Moçambique e do porto de Sines na Metrópole, porto de águas profundas, destinado a receber grandes petroleiros com ramas de petróleo extraídas no enclave de Cabinda, a partir do qual seguiria a gasolina com destino a toda a Europa. Cabinda que, por sinal, depois de toda a parafernália de vozes vociferando na Organização das Nações Unidas pelo direito dos povos à “autodeterminação e à independência” ainda se encontra à espera das mesmas. Será que foi por esquecimento, ou será que os políticos e a Comunidade Internacional (USA) se fazem de esquecidos porque o que conta verdadeiramente são outros interesses?

E foi nos anos sessenta que este regime político altamente repressivo e com uma política económica de investimento e crescimento com grandes perspetivas mas ainda em estado embrionário para garantir a criação de postos de trabalho para todos, que americanos e soviéticos implementam, fomentam, apoiam e armam os designados “movimentos de libertação”.

Era fundamental explicar ao país a conjuntura política internacional movida por interesses expansionistas das duas grandes potências; em vez disso, a governação salazarista preferiu mantê-lo na ignorância deixando-o à mercê dos imperialismos americano, soviético e chinês (caminho de ferro da Tanzânia), por desconhecimento generalizado de todo o jogo estratégico de interesses pelas matérias-primas a nível mundial. O povo não tomou consciência do perigo que o país corria, e muito menos, do futuro que lhe estaria reservado com a perda de muitas riquezas que o País não soube explorar, nem em seu proveito nem em proveito das populações.

Nos anos 60, o MPLA e a Unita em Angola, e a Frelimo e a Renamo em Moçambique, passam a ser os braços armados dos interesses das três grandes potências, e podemos finalmente entender, não só as circunstâncias, a origem e a natureza da guerra que tínhamos que enfrentar, mas também, quais os nossos verdadeiros inimigos.



Esta é a razão pela qual esta guerra estava perdida desde o seu início, é que, à medida que o tempo passava, nos íamos confrontando com um material de guerra cada vez mais sofisticado. O nosso verdadeiro inimigo eram as grandes potências que conseguiam “virar elementos das populações contra nós” convencendo-os que iriam ter enormes vantagens. É óbvio que a guerra tinha que ser conduzida explicando às tropas e às populações a sua verdadeira razão de ser, e portanto, todo este jogo de interesses.


Era necessário explicar quais os beligerantes, e, muito particularmente, era fundamental obter a adesão de homens como Amílcar Cabral, que escutei muitas vezes e percebi que tinha motivações e um discurso muito semelhante ao do General António de Spínola; ambos estavam firmemente apostados em contribuir para uma “Guiné melhor”, que oferecesse melhores condições de vida às populações.


Quero acreditar que eram ambos pessoas muito bem-intencionadas e que desenvolveram esforços no sentido de entabular conversações e negociações, mas não tiveram o discernimento de o fazer da melhor maneira, pois minimizaram os interesses e a ausência de valores de outros grupos mais enfeudados nos interesses da URSS, sendo a designação de “grupos terroristas” bem mais adequada ao que de facto eram. Aliás, as disputas pelo poder entre cabo-verdianos, as múltiplas etnias e os vários grupos de interesses, com o recurso, inclusivamente ao assassínio, tem sido uma realidade até aos dias de hoje, tal é a natureza das pessoas em causa, e é como diz o ditado “quem com ferros mata com ferros morre”.


1.2 – EPA – Escola Prática de Artilharia em Vendas Novas 


Seguiu-se o curso de Posto de Controlo de Tiro (PCT). Ali a alimentação era melhor, mas a dureza da instrução era uma realidade que não dá para esquecer, penso que se justificava pela dureza de guerra que nos esperava no Ultramar.


Em minha opinião, o tratamento a que éramos sujeitos também nos trazia um sentimento de revolta, absolutamente contrário à compreensão e aceitação da defesa dos interesses da Pátria. 


Lembro-me de ter feito um trabalho sobre geoestratégia, e, para a sua concretização, ter estudado alguns livros do meu Pai que entretanto tinha concluído o Curso Superior Naval de Guerra e tinha sido colocado no Ministério da Defesa Nacional. Nessa altura, contrariamente a muitas opiniões, sobretudo de pessoas de esquerda e ligadas ao partido comunista, não me foi difícil prever a invasão de países do Leste Europeu pela União Soviética.


Relativamente a Vendas Novas, não posso deixar de recordar e prestar homenagem ao meu camarada de nome Resende, que, nas marchas finais, foi colocado a fazer guarda à bateria constituída por três obuses, e que aceitou trocar de posição comigo porque me recusei a ficar à frente das bocas-de-fogo. Aconteceu que, num dos disparos, uma granada rebentou à saída do obus e ele morreu no lugar que me tinham destinado.


2 – Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2


Como Aspirante a Oficial Miliciano, fui colocado no Regimento de Artilharia Pesada Nº 3 (RAP 3), na Figueira da Foz, onde dei instrução a um pelotão de futuros condutores-auto (CICA 2), originários da Madeira, em Julho, Agosto e Setembro, de 1967, pelo que tive a sorte de apanhar o período de verão, o que me permitiu passar alguns fins-de-semana em S. Martinho do Porto e estar com os meus pais e amigos.


Foi no RAP 3, que me deram a notícia de que tinha sido colocado na Província Ultramarina da Guiné. Pensei na altura: “quanto mais depressa me despachar desta vida tanto melhor”, e vim gozar em Lisboa as férias que antecederam a partida para a Guiné.


3 – Viagem para a Guiné


Em 10 de Dezembro de 1967, numa manhã invernosa, embarquei no navio “Alfredo da Silva” com outros dois alferes do meu curso, também idos em rendição individual e com destino à Bateria de Artilharia de Campanha Nº 1, em Bissau. Do navio, disse adeus ao meu pai e pensei na possibilidade de não o tornar a ver nem à ponte Dr. Oliveira Salazar, que, na altura, se nos afigurava como sendo a grande obra do regime.


Embora me considere um homem de mar, durante o jantar, quando o navio saía a barra do Tejo, depois de ter comido a sopa, e porque o navio balouçava fortemente, tive que a deitar fora porque não me assentava no estômago pois andava de um lado para o outro, e, para apanhar ar, subi ao convés, constatei então que, apanhando as ondas de través, estas galgavam a amurada e passavam por cima do navio.


Pensei nos marinheiros de antigamente, alguns, antepassados meus que, em tempos idos em autênticas “cascas de noz” enfrentaram em muito piores condições estes mares e muitos outros bem piores. Realmente, não lhes damos o devido valor e muito dificilmente compreendemos todos os sacrifícios que enfrentaram e o muito que fizeram pelo nosso País.


No dia seguinte, chegámos ao Funchal, demos uma pequena volta, e a partir daí, em termos de navegação, a viagem decorreu com normalidade. Vimos peixes-voadores, o que para mim era uma novidade e lembro-me de uma rapariga, muito bonita, que acompanhava o pai na sua ida para uma comissão na Guiné.


Pareceu-me adoentada, já tinha ido ao médico mas sem grandes resultados, a comida que ingeria não fazia o percurso normal. Ocorreu-me convidá-la para jogarmos ping-pong; ao princípio recusou-se desculpando-se que não se sentia bem, mas, face à minha insistência, anuiu. Jogámos algum tempo, mas depressa teve que se ir embora.Mais tarde, veio agradecer-me, pois lhe tinha salvado a vida na medida em que tinha vomitado a comida que já estava em decomposição no estômago.


Chegámos a Cabo Verde, é um arquipélago em que a população, apesar das dificuldades inerentes à escassez de água, ou para esquecer as dificuldades da vida, dá grande valor à música e à dança. Sem ter quaisquer conhecimentos de música, diria que a saudade que os cabo-verdianos cantam tem alguma semelhança com a saudade que muitas vezes caracteriza o “fado” deste povo da Lusitânia que se lançou, logo que dispôs de naus e de caravelas, à aventura, deixando para trás, pais, mulheres e filhos. Muitos desses homens partiram para nunca mais voltarem.


Os cabo-verdianos possivelmente cantam a saudade que os seus antepassados viveram por terem sido arrancados dos seus locais de nascimento no continente africano, e contra a sua vontade terem sido transportados para o arquipélago de Cabo-Verde.


(Continua)

Guiné 63/74 - P9833: Tabanca Grande (333): Mário José Lopes de Azevedo, que foi Furriel Miliciano de Artilharia da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/72 (Luís Gonçalves Vaz)


1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos a apresentação oficial nesta Tabanca Grande do seu primo Mário José Lopes de Azevedo (foto do lado esquerdo), que foi Furriel  Miliciano de Artilharia da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/72, dividida em duas partes: Nota Biográfica e uma história sobre a “Maçaricagem”. 

Camarigos,

Conforme é da tradição, envio em anexo, uma pequena nota biográfica do meu primo Mário de Azevedo (ex-furriel miliciano de artilharia), para a "sua apresentação no nosso Blogue", bem como uma primeira história por si vivida, logo no início da sua "estadia neste Teatro de Operações", a antiga Província Ultramarina da Guiné Portuguesa. 

Podem publicar, pois a próxima "estória" do nosso amigo Mário de Azevedo já está na "forja".


Grande abraço para todos vós
Luís G. Vaz

1. Nota Biográfica

Mário José Lopes de Azevedo, sou natural da Freguesia de Tenões -BRAGA, nasci em 07/04/1948 (64 anos). Concluí o antigo 7º ano liceal e tenho a frequência do 3º ano do curso de engenharia eletrotécnica e máquinas (Instituto de Engenharia do Porto). Sou casado com Octávia Maria da Fontoura Beleza Braga de Azevedo e temos dois filhos, a Francisca e o Mário. Atualmente moramos na cidade de Barcelos.

Fiz a recruta nas Caldas da Rainha (último turno de 1969). 

Segui para Vendas Novas - especialidade artilharia de campanha (1º turno de 1970). 

Em Abril de 70, fui colocado no RAP (Monte da Virgem - Gaia). 

Em 3 de Maio de 70, fui mobilizado para a Guiné em rendição individual. 

Embarquei em 8 de Junho de 70 no avião da TAP tendo chegado à Guiné 4 horas depois. 

Depois em10Junho70 embarquei numa LDM a caminho de Bedanda, tendo chegado ali 3 dias depois (12Junho1970). Nesta viagem fui com o Furriel Pereira de Tomar (que frequentou o mesmo curso que eu em Vendas Novas).

Na vida civil - Entrei na Caixa de Previdência do Comércio do Porto, tendo seguido a carreira do funcionalismo público, estando atualmente na situação de reformado como “operador principal de sistemas”.

2. Maçaricagem

A primeira história que vos quero contar é precisamente de uma viagem inesquecível, logo no início da minha comissão no TO da Guiné, a de dois maçaricos eu e o furriel Pereira (este furriel miliciano chegou à Guiné no dia 03Junho70, também em avião da TAP, viagem a que eu faltei). 

Mas passarei a contar a história em questão, “maçaricagem” pois a “falta ao avião”, será uma outra que contarei mais tarde. 

No dia da “partida” de Bissau para o meu destino “Bedanda”, o pessoal que nos acompanhou até o cais (não me lembro do posto desses militares) para embarcarmos numa LDM (lancha de desembarque media), depois de questionados por nós onde era o nosso “destino” e que tempo nos levaria a lá chegar, disseram-nos secamente: 

"Os furriéis no fim do dia chegam a Bedanda e para a vossa viagem aqui estão duas rações de combate." 

Os maçaricos acreditam em tudo e como não estávamos habituados a rações de combate e tivemos tempo, fomos comprar  pastas de  chocolate e oferecemos  as rações a miúdos que se encontravam no cais. 

Assim embarcamos, ao fim da tarde pelas 17h00 horas locais e passado algum tempo atracamos num pequeno porto de mar. Julgando ser esse o nosso destino, peguei imediatamente nas minhas malas e ia a sair, quando fui questionado prontamente por um fuzileiro que me disse: 

"Meu Furriel, o senhor não vai para Bedanda?" 

"Sim, por acaso não estamos em Bedanda?" - retorqui eu! 

"Para Bedanda faltam ainda dois dias, isto aqui é Bolama, mas julgo que existe um hotel onde podem tomar banho, comer e dormir algumas horas."


LDM 204 – Guiné
(teria sido nesta lancha, ou outra da mesma classe, que Mário de Azevedo viajou para Bedanda)

Desanimados por nos terem enganado e ao mesmo tempo termos dado as rações de combate, pois as pastas de chocolates já tinham acabado, e não tínhamos comida para a viagem, lá fomos à procura do tal hotel na esperança duma boa refeição, de um bom banho e de um bom sono, em boa cama. Chegados ao dito hotel, logo fomos informados que o mesmo tinha fechado já há dois anos… a esperança de bons momentos acabou mesmo ali… 

A nossa sorte foi que os fuzileiros (militares solidários), no dia seguinte convidaram - nos, com pena de nos verem a passar fome, para fazermos as refeições com eles. Esta é mais uma pequena história de privações, passada no ultramar pelos nossos militares.


 
Tabanca feita pelos militares para a população africana e o obus do Mário de Azevedo

No dia 12Junho70 chegamos finalmente, pelas 16h30 a Bedanda depois de uma viagem atribulada, aí fomos bem recebidos pelos nossos camaradas e logo nesse fim de tarde tivemos o batismo de ataques dos “turras” (o IN), que nos enviaram 5 foguetões (de boas vindas…) que por acaso não caíram no espaço da CCAÇ. 


 Aquele que foi o meu abrigo em Bedanda durante a minha presença

Fiquei dois anos e um mês, adido a esta companhia, tendo vindo duas vezes de férias à metrópole e algumas vezes a Bissau. 

Regressei à metrópole a 28Julho72, tendo sido desmobilizado no RAL5 em Penafiel. 

Vosso amigo
Mário Azevedo
Fur Mil Art da CCAÇ 6
Barcelos, 29 de Abril de 2012
___________
Notas de M.R.: 

Mário, sê bem vindo, em meu nome, e dos demais editores. Senta-te à vontade debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande. Passas a ser o tabanqueiro nº 552. Contamos contigo para refrescar as nossas memórias (boas e más) da Guiné. Um Alfa Bravo para ti e para o Luís Vaz.

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P9832: Tabanca Grande: oito anos a blogar (18): Parabéns (Zé Teixeiro, grã-tabanqueiro desde dezembro de 2005)


1. Mensagem do Zé Teixeira. com data de 25 do corrente:


 Assunto: Oito anos a blogar



Em 15 de Dezembro de 2005 apareci timidamente ao Luís Graça a apresentar-me e pedir licença para entrar apresentando as minhas credenciais: uns escritos elaborados a quente durante a guerra a que abusivamente chamava "O meu diário".


Acolhido como só ele sabe acolher, logo no dia 26 de Dezembro em casa de um seu familiar na Madalena – Gaia [, foto acima, da esquerda para a direita, o Luís, o A. Marques Lopes, eu, o Albano Costa, o Hugo Costa e o Xico Allen,]  logo ali firmamos uma amizade que em crescendo tem vindo a alimentar uma vontade de registar para os vindouros a história da Guerra Colonial na Guiné, contada pelos seus autores e atores- todos nós que vivemos a guerra.


Já nessa altura em que éramos apenas uns cinquenta,  já o Luís escrevia:

No último do ano, ultrapassados os 400 posts em menos de 9 meses, aproveito para mandar um chicoração para todos os amigos e camaradas de tertúlia (desculpem a pieguice de fim-de-ano...). Tenho imenso material para inserir no blogue (e no nosso site, no resto das vinte e tal páginas com as memórias dos lugares, além dos mapas...). Vocês vão ter que ter paciência, a começar pelo Humberto que está na calha, há semanas, com montanhas de mapas pesadíssimos (megas e megas de baites de Guiné, bolanhas, lalas, tabancas, palmeirais), pelo Zé Teixeira (e o seu diário), o Albano (e o seu inesgotável álbum de fotografias), o Ribeiro (e o seu cancioneiro de Mansoa), etc... Mas isto é como o Lisboa-Dakar: está tudo na fila, controlado... Por isso, não fiquem 'apanhados pelo clima'...


Infografia: Miguel Pessoa (2012)




Os desenvolvimentos que se seguiram, deram ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné a dimensão que tem hoje com centenas de animadores a escreverem.  Foi necessário criar uma equipa de generosos colaboradores para corresponder às exigências que cresciam em cada dia que passava e mais "guerrilheiros" se apresentavam na parada.

Pela dimensão que vai tomando, em cada dia que passa, novos desafios se colocam ao blogue. Acredito que ainda há muito que fazer, pois ainda há muitas realidades vividas para contar, muitas ideias para aprofundar e discutir e sobretudo muita camaradagem para alimentar.


Parabéns pelos oito anos de vida.
Zé Teixeira

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9831: Tabanca Grande: oito anos a blogar (17): Pode o blogue esquecer a data, 25 de abril, sem a qual nunca teria existido ? (José Belo)

Guiné 63/74 - P9831: Tabanca Grande: oito anos a blogar (17): Pode o blogue esquecer a data, 25 de abril, sem a qual nunca teria existido ? (José Belo)


1. Mensagem, de 28 do corrente, do nosso camarigo José Belo [, foto à direita]:



De: Joseph Belo [ joseph.sve@gmail.com]

Data: 28 de Abril de 2012 19:24

Assunto: Um comentário frontal no aniversário do blog.


Caro Amigo e Camarada: 



Considerando-me um membro leal, e entusiasta, do nosso blogue, sinto que,  entre camaradas de armas que tanto sofreram em comum,  deverá haver uma frontalidade nas opiniões e na forma aberta de as exprimir.

O nosso blogue tem conseguido navegar,  ao longo dos seus já muitos anos algumas "pequenas-grandes" tempestades, graças à dedicação,entusiasmo e sensibilidade relacional dos seus Editores. Não tem só "navegado" como tem vindo continuamente a crescer, expandir-se, tendo-se tornado num caso único entre pares.


Um caso único pela vasta soma de documentos que dispõe, e não menos, um caso único pelo relacionamento entre a vasta maioria dos seus membros:todas as divergências acabam por ser ultrapassadas, e, a seu modo, vão enriquecendo em diversidade as perspectivas de cada um dos participantes.

Nas nossas idades (que para alguns será igual a ... certezas feitas) este agitar de opiniões servirá para não nos deixar cair em madrice de intelecto. Dentro deste espírito, e como o assunto está inequivocamente relacionado com a guerra da Guiné, mormente o fim da mesma, gostaria de exprimir uma opinião frontal sobre a data do 25 de Abril de 1974 não referida no blogue. 


É uma data que lembra o fim de um longo regime de ditadura,e consequente liberdade para todos os portugueses. E a palavra "todos" será importante. É uma data que comemora o fim das guerras de África.(E porque não lembrá-lo, é uma data que veio permitir a existência deste blogue). 

Misturar, ou recear misturar,  factos de importância histórica com os criminosos "arrivismos" de alguns, pondo agendas partidárias (e pessoais) ao serviço dos mais variados interesses, internos, e não menos externos, será,a meu ver, algo de injusto para o significado de Abril. Ao contrário das grandes potências, desde logo infiltradas no país e que bem souberam defender os seus interesses noutras áreas, interesses nacionais importantes, e não menos valores fundamentais, foram criminalmente, ingenuamente(?), estupidamente, negligenciados. 


No caso concreto dos ex-combatentes da Guiné, não creio serem muitos os que desejariam para os seus filhos e netos o acabarem por ser arrastados para aquela guerra sem soluções que não políticas. Porque, mesmo que nós e os africanos que nos combatiam tivéssemos encontrado uma milagrosa maneira política de reestabelecer a paz, as tais grandes potências internacionais não o teriam permitido. Os interesses eram outros.

Será esta a não divisionária referência a Abril? Porque o resto, espiado de todos os imediatismos, ficará sujeito ao duro julgamento da História, próxima e distante. 

Um abraço. 
José Belo
Estocolmo, 28 Abril 2012. 

PS - Tenho tentado enviar desde outro computador este e-mail, sem resultado. Daí pedir desculpa se me estiver a...repetir.
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Nota do editor:
Último poste da série > 29 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9829: Tabanca Grande: oito anos a blogar (16): Parabéns (Vasco Pires, no interior do Brasil; ex-cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

Guiné 63/74 - P9830: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): Álbuns dos nossos fotógrafos Jorge Canhão, Juvenal Amado, Luís Moreira, Manuel Carmelita, Manuel Lema Santos, Manuel Resende, Miguel Pessoa, Rui Silva e Sousa de Castro


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Almoço-convívio e sessão de lançamento do livro do Idálio Reis > Fotos panorâmicas do Manuel Resende.

Fotos: © Manuel Resende  (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem, de ontem, enviada pelo correio interno da nossa Tabanca Grande:

Caro camaradas e amigos tertulianos
Como vale mais tarde que nunca, aqui estão os endereços do Picasa onde poderão aceder às fotografias do VII Encontro da Tabanca tiradas e disponibilizadas pelos camaradas (ordem ao acaso):

- Luís Moreira: https://picasaweb.google.com/carlos.vinhal/VIIEncontroFotosDeLuisMoreira?authuser=0&authkey=Gv1sRgCJbXv4a07d3_zwE&feat=directlink

- Manuel Lema Santos: https://picasaweb.google.com/carlos.vinhal/VIIEncontroFotosDeManuelLemaSantos02?authuser=0&authkey=Gv1sRgCMvn8fzN1LTTRA&feat=directlink

- Manuel Carmelita: https://picasaweb.google.com/carlos.vinhal/VIIEncontroFotosDeManuelCarmelita02?authuser=0&authkey=Gv1sRgCLbz9ITHj-jBxwE&feat=directlink

- Jorge Canhão: https://picasaweb.google.com/carlos.vinhal/VIIEncontroFotosDeJorgeCanhao02?authuser=0&authkey=Gv1sRgCIPar77UhuT8Rg&feat=directlink

- Juvenal Amado: https://picasaweb.google.com/carlos.vinhal/VIIEncontroFotosDeJuvenalAmado?authuser=0&authkey=Gv1sRgCMbluoTEutbs_gE&feat=directlink

- Rui Silva: https://picasaweb.google.com/carlos.vinhal/VIIEncontroFotosDeRuiSilva?authuser=0&authkey=Gv1sRgCJv9lOaCpd6ufQ&feat=directlink

- Miguel Pessoa: https://picasaweb.google.com/carlos.vinhal/VIIEncontroFotosDeMiguelPessoa?authuser=0&authkey=Gv1sRgCN_Qh5qOjannNg&feat=directlink
e
Manuel Resende: https://picasaweb.google.com/carlos.vinhal/VIIEncontroFotosDeManuelResende?authuser=0&authkey=Gv1sRgCPnGg4aG8KyqugE&feat=directlink
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Nota do editor:

Vd. Último poste da série > 28 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9819: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): Um momento alto: o lançamento do livro do Idálio Reis (Parte II): Mais fotos da sessão de autógrafos

Em tempo: 
Aquando da publicação deste poste verificou-se que os links apresentados não permitiam a visualização das fotos.
Está corrigida a anomalia desde de 1 de Maio.
CV

domingo, 29 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9829: Tabanca Grande: oito anos a blogar (16): Parabéns (Vasco Pires, no interior do Brasil; ex-cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem do nosso leitopr e camarada Vasco Pires [, ex-alf mil art, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72; no foto à direita, um obus 14, em Gadamael, 1973; foto de J. Casimiro Carvalho]

 Data: 27 de Abril de 2012 18:35

Assunto: Parabéns

Caro Luis Graça,

Cordiais saudações.

Em mensagem anterior (*), já falei que logo no mesmo ano que regressei da Guiné saí de Portugal, e que há pouco tempo conheci o blog.


Estou escrevendo, para saudar você e sua equipe de editores, por acasião do 8° Aniversário (**), bem como do VII Encontro Nacional da Tabanca Grande, pelo fantástico trabalho de congregar tantas pessoas, dessa geração tão esquecida. Saúdo em vocês, todos os membros da Tabanca Grande, em particular os os meus amigos de 50 anos, Paulo Santiago e Manuel Augusto Reis.

forte abraço
VP

PS - Ainda me encontro no interior do Brasil, assim que for a São Paulo, procurarei os papéis para ingresso na Tabanca Grande.
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Notas do editor:


(...) Sou um desses milhões da multicentenária diáspora Lusitana. Em 1972 saí de Portugal, e por aí ando até esta data.  Há talvez um ano, tive o primeiro contacto com o blog; quero te parabenizar como a toda a equipe pelo extraordinário trabalho, bem como pelo alto nível da edição do blog, em assuntos tão polémicos e carregados de emoção, com décadadas de distância. (...)

 

(**) Último poste da série > 27 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9817: Tabanca Grande: oito anos a blogar (15): Mensagem do Cherno Baldé, num momento de dor mas também de esperança para o povo guineense

Guiné 63/74 - P9828: Agenda cultural (198): "O Trilho: um cruzar de épocas em gerações transversais – 1950-2050", novo livro de José Saúde


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos um convite para o lançamento do seu novo livro, que é já no próximo dia 10.

 Camaradas, 

Aqui fica o meu convite pessoal dirigido a todos vós, para a apresentação da minha nova obra "O TRILHO", que vai decorrer em 10 de Maio de 2012, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja.

Guiné, território trilhado por Jesus, personagem principal do romance

“O TRILHO” é, meramente, um romance que vagueia por épocas completamente distintas. Trabalho pela rama o virtual, o mundo de memórias utópicas, cruzo gerações, a faina da ficção e fixo-me em 2050 onde a tecnologia impera. Trata-se, no fundo, de um romance onde reinam exequíveis deambulações de uma vida longa, cujo fio condutor nos transporta a 100 anos de existência. 



Claro que Jesus é uma personagem construída. Um ser humano que se depara amiúde com as adversidades que a vida a todos propõe. A sua realidade é semelhante, por certo, ao vulgar companheiro com o qual diariamente nos cruzamos na rua. 



Na imensidão do tempo percorrido, Jesus, tal como o mais vulgar cidadão, depara-se com o serviço militar obrigatório. Os tempos eram outros. Foi ranger e mobilizado para a Guiné. 

Fica aqui sublinhado no blogue Luís Graça & Companheiros da Guiné, uma pequena narrativa dessa passagem da personagem “mítica” por território guineense. 

… “A Guiné, província palmilhada pelo jovem Jesus, apresentava-se como um território substancialmente contraditório às tropas portuguesas. O clima era rude e o terreno propício para as emboscadas do inimigo. A mata fechada escondia o imprevisto. O simples mexer do capim provocava um alvoroço. “Não é nada!”, comentava-se. A palavra passava e o grupo recompunha-se da tremedeira inicial. Nunca acreditar na sorte! “Antes um cobarde vivo que um herói morto”, comentava o soldado desconhecido com um buraco no fundo das costas. As picadas eram caminhos de terra consideradas normalmente como trilhos desconhecidos e de perigo iminente. O mato denso metia respeito. A água das bolanhas apresentava sinais de adversidades. Um pequeno ruído assumia-se como uma precaução imediata. Testava-se o imprevisto, concluía-se a razão do sinal de alerta e, por fim, a malta retomava o andamento ciente de que o falso alarme não passara de uma sombra que o medo momentâneo determinava. 

No mato, substancialmente denso, o pessoal confrontava-se com as mais díspares situações. Os enxames de abelhas e as formigas formavam autênticos esquadrões de linhas de combate. Impunha-se, pois, um cuidado redobrado. 

As noites no mato eram passadas preparando uma emboscada encarada, por norma, como um manto de canseiras. Na época do cacimbo, as horas apresentavam-se dolorosas. Sairmos do quartel às 5 horas da tarde com uma temperatura sufocante acima dos 40 grau e de madrugada o termómetro a acusar uma temperatura quiçá negativa, constituía uma situação adversa para qualquer ser humano. O cacimbo parecia perfurar os ossos. Enroscado a um ponche carregado de buracos, o militar descansava com os olhos bem abertos. 

Na época das chuvas, as intensas trovoadas rompiam o silêncio da noite. Os relâmpagos sucessivos quase transformavam a noite em… dia. As turbulências noturnas pareciam ecos de uma África sem tréguas. Nem os buracos das árvores de grandes portes se assumiam como contemplativas para um jovem que nada pediu para se encontrar naquele lugar. Exclamava-se: “Que mal fiz eu a Deus para vir aqui parar?... “O que faço neste sítio?”… “Isto é deles… não é nosso!”… “Quem me dera estar na metrópole junto dos meus familiares e amigos!”… “E as belas moças para namorar!”… “A malta de Madina está a ser atacada!”...“Ena pá, aquela foi mesmo para aviar”… “Pergunta ao gajo do rádio se há mortos ou feridos!”… “Fala baixo porque isto é perigoso!”... “Não são horas de ir andando para o quartel?”... “Bolas, esta noite foi terrível, o cacimbo atacou em forte!”... “E os mosquitos não deram tréguas!”... “São cinco da manhã!”... “Finalmente a emboscada chegou ao fim!”... “Ainda bem que esta noite não houve chatices!”... Calmamente, a malta retirava-se, consciente de mais um dever cumprido e zurzindo naqueles que, um dia, o mobilizaram para sítios nos quais nunca ousara pensar…” 

Moita Flores, autor do prefácio do livro “O TRILHO”, refere num pequeno conjunto de palavras a globalidade, embora sintética, do conteúdo geral da obra. 

… “a narrativa que o autor nos apresenta numa escrita simples, idílica, cravada de memórias e de utopias, remete-nos para o confronto com os sinais do tempo que marcam a nossa história recente.”… 

Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 – P9827: Convívios (421): XIII Convívio da CCAÇ 3491, dia 26 de Maio de 2012, em Montemor-o Velho (Luís Dias)


1. O nosso Camarada Luís Dias*, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, enviou-nos a seguinte mensagem com o programa da próxima festa da sua Unidade. 

Caríssimos Editores, 

Solicito a colocação no nosso blogue da "Tabanca Grande", do anúncio do Almoço - Convívio da CCAÇ 3491, que anexo, que irá ter lugar no dia 26 de Maio de 2012, na zona de Montemor-o-Velho. 

Gratos pela atenção que possam dar a este pedido. 

Um abraço para todos vós. 

Luís Dias 

13º CONVÍVIO 
 COMPANHIA DE CAÇADORES 3491 
DULOMBI/GALOMARO 
GUINÉ 1971-74 

Caros Camaradas e Amigos 

É com enorme prazer e alegria que venho pela presente convidar-vos para o 13º Convívio, comemorativo do 38º Aniversário da nossa chegada ao país (4 de Abril de 1974) que nos viu partir para a guerra. O convite é também extensivo a todos os familiares e amigos que queiram participar, ajudando a abrilhantar este evento. 

Este ano cabe-me a mim receber-vos pela 2ª vez na minha terra – Montemor-o-Velho – onde, juntos, iremos comemorar e recordar os tempos passados na Guiné, em especial a forte camaradagem existente no seio da nossa companhia, que nunca será esquecida. 

É com este espírito que te espero a ti e quem contigo quiser aparecer, no próximo dia 26 de Maio, pelas 12 horas, no Restaurante Patinhos, no Lugar de Lavariz, Carapinheira, Tentúgal, Montemor-o-Velho (sítio da net: www.patinhos.com.pt), conforme mapa que se anexa. 

O valor do almoço será entre os 25 e os 30 euros e a comida será a tradicional portuguesa, com um prato de peixe e outro de carne, para além das entradas, sobremesas, cafés e digestivos e claro, os nossos vinhos. 

Aguardo pela vossa confirmação até ao dia 12 de Maio de 2012, pela mesma via, ou pelo telefone 239 623 259, Telemóvel nº 918 590 011 (ambos a partir das 20h00). 

Sem outro assunto, um abraço amigo de, 
Eugénio Varela Espírito Santo (Ex-Furriel Milº/Atº de Infª do 2º GC) 
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: