Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26860: Notas de leitura (1802): "Gil Eanes: o anjo do mar", de João David Batel Marques (Viana do Castelo: Fundação Gil Eanes, 2019, il, 132 pp.) - Parte II: A questão da assistência à frota branca, que atinge o seu auge com o Estado Novo, nos anos 40/50: em 1958 a "faina maior" tinha 77 unidades e 5736 homens (Luís Graça)




"Quanto de "sal, sol, sangue, suor e lágrimas" havia nos 8,8 kg quilos de bacalhau que cada portuguêw comia, em média, nos "anos de ouro" do Estado Novo ?", pergunto eu (LG),

Fotos do livro em recensão, e que ilustram as duras condições de trabalho dos pescadores (foto acima, nos dóris, pp. 18/19: "Os pescadotes afastam-se  do navio-mãe para iniciar um dia de pesca") e da restante tripulação (segunda foto, pág. 59: "O 'Gil Eanes' no meio de perigosos 'growlers' ").

(Reprodução com a devida vénia, ao autor e editor...)


1. Estamos a tirar algumas notas de leitura do livro "Gil Eanes, o anjo do mar", da autoria de João David Batel Marques (Viana do Castelo : Fundação Gil Eanes, 2019,  132 pp,. ed. bilingue em português e inglês) (*)


O livro narra a vida e a morte do último navio-hospital da frota bacalhoeira (1955-1984),  três décadas  em que fez  73 viagens (com ponto de partida em Lisboa e chegada também em Lisboa" (pág. 94).  

O autor é o capitão David João David Batel Marques, ilhavense, nascido em 1953, autor e coautor  de diversos livros sobre a pesca do bacalhau, os seus navios e as suas gentes, alguns deles publicados pela Fundação Gil Eanes (**).

Vida e morte ? Vida, morte e ressurreição, para sermos mais precisos. De facto, graças â Fundação SOS Gil Eanes, foi resgatado "in extremis", em 1997, quando estava atracado em Alhos Vedros à espera de ser desmantelado pelo sucateiro. 

Em 29 de janeiro de 1998, seria assinado o contrato de compra do navio entre a Comissão Pró-Gil Eanes e o sucateiro de Alhos Vedros. Por 50 mil contos (acrescidos do valor dos impostos àquela data.) (A preços de hoje, são c. de 430 mil euros, e não 250 mil, como escreveu o autor, pág. 96; para a conversão utilizámos o simulador de inflação da Pordata).

Para o resgaste do navio teve um papel importante, entre muitas outras personalidades, a par da mobilização do município e do povo de Viana do Castelo,  o prof doutor José Hermano Saraiva, que disse, na RTP (em 29/2/1997, num programa da sua série "Horizontes da Memória III"):

 "Portugal tem uma brilhante história marítima. Mas quem faz a história marítima são os navios. E eu pergunto: onde está o museu dos nossos navios?"

O valor do navio, construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), será,  em 1955,  de 40 mil contos ( o equivalente, a preços de hoje, a cerca de 23 milhões de euros, e não a 200 mil euros, como vem grosseiramente apontado na pág. 39).

2. Como é que se chega  á decisão de construir um navio-hospital, de apoio à frota da pesca do bacalhau, que fosse de desenho e tecnologia nacionais, construído em estaleiros nacionais ?

A frota branca, que se desenvolve a partir de finais do séc. XIX, começa a sentir a necessidade de ter um navio de apoio. A vida dos pescadores e marinheiros sempre foi muito dura.  Os pescadores passavam muitas horas nos dóris a pescar bacalhau à linha (!), em condições climatéricas, físicas e psíquicas de grande exigência. A sua remuneração dependia da qualidade e quantidade do pescado. 

Por outro lado, regressados ao navio-mãe, passavam o resto da jornada diária de trabalho a processar o peixe (escalagem e salga). Era um trabalho extenuante, sujeitos a acidentes e outros riscos (cortes, quedas, exaustão física e emocional, etc.). Para o pescador dos dóris, a jornada começava às 4h00 da manhã e podia terminar só 18 ou até 20 horas depois (!), nos  limites da fisiologia humana.

Até ao início dos anos 20 do século passado,  não havia assistência a bordo. Os franceses, por seu turno, já beneficiavam, desde se1896, de assistência médico-hospitalar nos bancos da Terra Nova.

Em 1922, os franceses dispunham do navio-hospital "Sainte Jeanne d'Arc", que também prestava cuidados às tripulações portuguesas. Era propriedade de uma associação humanitária, a "Societé des Oeuvres de Mer", que teve 7 navios-hospitais, de 1896 a 1939, cada navio com um médico e um capelão.  (A França chegou a ter   11 mil homens, na pesca do bacalhau, na Terra Nova e na Islândia, em finais do séc. XIX, e Portugal teria então uns 800, 40 em media por embarcação)

O médico a bordo no "Sainte Jeanne d' Arc", citado por  João David Batel Marques,  escreve, no seu relatório desse ano de 1922, que tinha hospitalizado 13 doentes portugueses (5 dos quais com  tuberculose pulmonar, doença infetocontagiosa perigosa; vários tinham  hemoptises; e 1 morreu). 

Havia homens, além  disso, com infeções graves, que deviam ser hospitalizados com urgência, mas que se recusavam a tal, ou eram impedidos pelos seus capitães (pág. 12).

Face a esta situação, o Ministério da Marinha é cada vez mais pressionado a mandar um navio-hospital para prestar assistência médica ao pessoal da frota (constituída ainda só por lugres).

O primeiro navio-hospital foi o cruzador "Carvalho Araújo" que levava como chefe dos serviços médicos o segundo-tenente Carlos Augusto Rodrigues Borges (pág, 14). (Nasceu no Porto, em 1897; morreu em 1970,  em Vila Nova de Gaia.)

Escreveu ele:

 "Nunca será possivel  bem ajuizar o que estes infelizes passam e sofrem nessa vida horrorosa de todos os dias, cheia de trabalhos  violentos e e de perigos variadíssimos e quase que permanentes" (pág. 14).

E acrescenta: (...) "A inesperada aparição do 'Carvalho Araújo' provocou,   nessa gente rude, muitas lágrimas de enternecimento e, por vezes,  o entusiasmo deveras significativo!".

Mas  um navio de guerra não podia cumprir as funções especializadas a desempenhar por um navio-hospital. O comandante e o médico do "Carvalho Araújo" deram ideias e sugestões para o desenho e construção desse futuro navio de assistência, que deveria também servir de intermediário no transporte de correio entre Saint John's e Portugal (pág. 20).

O médico, segundo-tenente, Carlos Borges assinala a prevalência, entre as tripulações da frota branca, de:

  • doenças infetocontagiosas;
  • problemas do estômago;
  • problemas pulmonares.

E não era raro haver mortes (que ficavam sepultados nas profundezas do mar).

Só em 1927 a frota bacalhoeira vai ter o seu primeiro "Gil Eanes", o ex-navio alemão "Lahneck", construído em 1914, e apresado pelas autoridades portuguesas no rio Tejo. Sofreu adaptações na Holanda para servir como navio-hospital. Operou como "Gil Eanes" entre 1916 e 1955.

Teve uma atividade irregular, como navio-hospital:

"Entre 1931 e 1936 a atividade do  navio  resumiu-se ao transporte de presos" (pág, 24).

Só em 1942 se faria a sua transferência, da Marinha de Guerra para a Marinha Mercante. A propriedade passou a ser do Grémio dos Armadores  de Navios da Pesca do Bacalhau (GANPB). Teve diversos capitães da marinha mercante e capitães de bandeira (que eram oficiais da Armada) (pág. 27).

A última viagem aos bancos bacalhoeiros foi em 1954. Em 1955 fez-se à agua o novo navio-hospital "Gil Eanes". (**)

O Estado Novo fazia questão, na época, de transformar a "epopeia do bacalhau" (sic) num verdadeiro estandarte do "ressurgimento económico do país" (pág. 30). Veja-se, por exemplo,  como a frota vai crescer de 1935 a 1961, para um total de 91 unidades e quase 6 mil  homens:

  • 22 lugres de madeira;
  • 4 lugres de aço;
  • 41 navios a motor (de madeira, 19; e de aço, 22);
  • 24 arrastões clássicos.

"Em 1958 , foi à pesca a melhor frota de sempre, composta por 77 navios e, e tripulada por 5736 homens" (pág, 30). 

Mas era já o princípio do fim.

(Continua)  (**)

3. Pedi ao assistente do Gemini IA / Google, que me apresentasse os principais factos e datas do génese e desenvolvimento da  nossa frota bacalhoeira. Aqui vão:


A frota bacalhoeira portuguesa tem uma história longa e complexa, com raízes na Idade Média e um desenvolvimento significativo a partir do século XIX, culminando no auge durante o Estado Novo.


Inícios e Primeiros Registos:

  • Século XIV:  há registos de acordos de pesca entre Portugal e Inglaterra (em 1353, entre D. Pedro I e Eduardo II), o que indica que a pesca do bacalhau já era uma atividade relevante para os portugueses; Portugal trocava sal por bacalhau com a Inglaterra.

  • Final do Século XV / Início do Século XVI: com os "Descobrimentos", a necessidade de alimentos não perecíveis para as longas viagens impulsionou a procura do bacalhau; a "descoberta" dos vastos bancos de pesca na Terra Nova (hoje Canadá), atribuída a navegadores como Gaspar Corte Real (cerca de 1500), abriu caminho para a pesca em larga escala no Atlântico Norte; 
  • D. Manuel I, em 1506, já cobrava dízimo sobre essa pesca;
  • No reinado de D. João III, a frota portuguesa de bacalhoeiros chegou a atingir as 150 embarcações, e em 1508, o bacalhau já correspondia a 10% do pescado comercializado em Portugal;
  • Os portugueses, ao contrário dos vikings que apenas secavam o peixe, desenvolveram a técnica de salgar e secar o bacalhau, o que lhe conferiu o sabor característico.

Século XIX e Início do Século XX: O Despertar da Frota Moderna:
  • Segunda metade do Século XIX: companhias como a Bensaude & C.ª (depois Parceria Geral de Pescas) e a Mariano & Irmãos, ambas de proprietários açorianos mas sediadas no continente devido ao clima mais propício à seca do bacalhau, investem na pesca do bacalhau;
  • 1870: Surgem os primeiros registos de pesca com dóris (pequenos botes de pesca utilizados pelos pescadores a partir do navio-mãe);
  • Início do Século XX (década de 1930): a frota bacalhoeira ainda era composta maioritariamente por veleiros (lugres em madeira):


O Auge: Estado Novo e a "Campanha do Bacalhau"

  • 1934: é  criada a Campanha de Bacalhau, com o objetivo principal de reduzir a importação de bacalhau e garantir o abastecimento alimentar do país, esta campanha marcou um período de grande investimento e desenvolvimento da frota, o Estado Novo via a pesca do bacalhau como um símbolo de autonomia e força nacional; e o pescador de bacalhau torna-se um "herói nacional";
  • 1935: é criado o Grémio dos Armadores dos Navios de Pesca do Bacalhau (GANPB), que reunia as entidades ligadas à indústria;1936: surge o primeiro arrastão em Portugal; a modernização da frota começa a ganhar ímpeto, com a substituição gradual dos veleiros por arrastões, em aço, a motor;
  • 1937: o lançamento do lugre-bacalhoeiro Creoula (10 de maio de 1937) é um marco; este navio, que realizou 37 campanhas até 1973, é hoje um navio de treino da Marinha Portuguesa e um símbolo lendário da pesca do bacalhau;
  • Anos 40-50: A frota atinge o seu apogeu em número de navios e volume de pesca; entre 1948 e 1953, há um grande impulso no número de arrastões bacalhoeiros; a vida a bordo era extremamente dura e perigosa, com os pescadores nos dóris a enfrentar condições adversas e o risco de colisão com icebergs; as jornadas de trabalho podiam chegam às 18 horas ou mais;
Declínio e Fim da Pesca Tradicional:
  • Pós-II Guerra Mundial: a frota portuguesa começa a sofrer com a falta de modernização e a implementação de legislação internacional que restringiu o acesso aos bancos de pesca (Terra Nova e Gronelândia);
  • 1966: embora já houvesse arrastões, ainda existiam 10 veleiros em funcionamento, demonstrando o atraso na modernização completa;

  • 1967: Fernando Alves Machado, Secretário do Comércio, vai abolir o regime protecionista do comércio do bacalhau, o que leva ao fim da tabela de preços e do condicionamento das importações: isso, juntamente com o atraso na modernização, contribuiu para o declínio;
  • 1974 (Revolução dos Cravos): a Revolução de 25 de Abril de 1974 marca o fim da pesca de bacalhau à linha (ou seja, com os dóris),  considerada heróica mas ineficiente e perigosa; muitos dos últimos grandes navios de pesca de bacalhau à linha fizeram a sua última campanha nesse ano;
  • Anos 80/90: a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE, atual UE) em 1986 e à Política Comum das Pescas implicou a aceitação de restrições de acesso a pesqueiros;
  • 1992: o Canadá proíbe a pesca de fundo nos seus bancos, um duro golpe para a frota bacalhoeira portuguesa;
  • Entre 1990 e 1998: a frota portuguesa sofre uma redução drástica, perdendo mais de 30 navios e ficando reduzida em mais de 70%.

Atualmente, a frota portuguesa satisfaz apenas uma pequena percentagem do consumo nacional de bacalhau, que continua a ser um alimento central na gastronomia portuguesa. A maior parte do bacalhau consumido em Portugal é importada (Noruega, Islândia, Canadá).

 Os portugueses consomem cerca de 20% de todo o bacalhau pescado no mundo (consumo "per capita" andaria à volta dos 7 kg, antes da II Guerra Mundial; 8,8 kg, entre 1946 e 1967; 7,7 em 2020, com a pandemia; 5,5 / 6 kg, nos anos mais recentes); no auge da pesca do bacalhau, as capturas seriam da ordem das 60 mil toneladas anuais.

Acrescente-se, nos anos 60/70, a crescente dificuldade de recrutamento de pescadores e marinheiros, devido á emigração e á guerra colonial, a par das duríssimas condição de trabalho. 

A "Faina Maior" era considerada um verdadeiro "desígnio nacional", daí o Estado tê-la considerado  uma  alternativa ao serviço militar.  O Decreto n.º 13441, de 8 de abril de 1927,  estabelecia a dispensa do serviço militar aos pescadores e marinheiros que tivessem cumprido um mínimo de seis campanhas de pesca consecutivas (!) na frota nacional bacalhoeira. Também concedia adiamento ae aos 26 anos de idade... (Artº 24º).


Excerto: Decreto n.º 13441, de 8 de abril de 1927


 Fonte: Gemini IA / Google / LG


(Revisão / fixação de texto: LG)

__________________

Notas do editor:

(**) Mais bibliografia de João David Batel Marques (n. 1953): 

Viagem de fé : pescadores portugueses, homens de fé, de olhos postos na proteção da Virgem Maria / João David Batel Marques, Manuel Domingos, Salvador de Sousa / apresentação Luís Nobre. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2023. - 51, [5] p. : il. ; 22 cm. - ISBN 978-989-54795-2-8


O "Gil Eannes" de 1955 = The 1955 Gil Eannes / João David Batel Marques ; trad. Regina Bezerra. - Viana do Castelo : Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2021. - 2 v. : il. ; 28 cm. - (Os navios de assistência à frota bacalhoeira = The assistance vessels to the cod fishing fleet ; 2, 3). - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-972-588-346-4 (pt. 1). - ISBN 978-972-588-347-1 (pt. 2)

O "Carvalho Araujo" e o "Gil Eannes" ex Lahneck = The Carvalho Araújo and the Gil Eannes former Lahneck / João David Batel Marques ; trad. Regina Bezerra. - Viana do Castelo : Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2021. - 303, [1] p. : il. ; 28 cm. - (Os navios de assistência à frota Bacalhoeira = The assistance vessels to the cod fishing fleet ; 1). - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-972-588-340-2

A pesca do bacalhau : história, gentes e navios = Cod fishing : history, people and ships / João David Batel Marques ; sel., ed. e composição fot. Rui Bela ; consultoria e rev. técnica João David Batel Marques. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018-2019. - 4 v. : il. ; 28 cm. - Ed. bilingue em português e inglês. - T. 1: A história e as gentes = History and people. - 319, [1] p. T. 2: Os lugres da pesca à linha = Handliner schooners. - 2018. - 415, [1] p. T. 3: Os navios-motor da pesca à linha = Handliner motor vessels. - 2019. - 284, [4] p. T. 4: Os arrastões = Trawlers. - 2019. - 367, [1] p. - ISBN 978-989-99869-3-0 (t. 1). - ISBN 978-989-99869-4-7 (t. 2). - ISBN 978-989-99869-5-4 (t. 3). - ISBN 978-989-99869-6-1 (t. 4)

Os navios de pesca à linha = The handliners / Jean Pierre Andrieux ; cons. e rev. técnica João David Marques ; trad. Tim Oswalda ; colab. Valdemar Aveiro... [et al.]. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018. - 269, [3] p. : il. ; 28 cm. - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-989-99869-2-3

Uma viagem no tempo : navios, equipamentos, instrumentos e palamenta / João David Batel Marques ; fot. Anna Soik... [et al.]. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018. - 175, [1] p. : il. ; 22 cm. - (Manuel Mário Cravo Bola)


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26859: Historiografia da presença portuguesa em África (483): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1921, começou a era de Vellez Caroço (37) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
Na minha despretensiosa apreciação há três nomes de governadores, desde a criação da autonomia da Guiné até ao fim do primeiro quartel do século XX, que se impõem pela coragem das decisões tomadas, pela nobreza de espírito e um certo olhar visionário: Pedro Ignácio de Gouveia, Carlos Pereira e Vellez Caroço. Este último aparece na Guiné após os turbulentos acontecimentos da pacificação de Bissau em 1915 (que ainda hoje não estão verdadeiramente deslindados, importava à propaganda oficial exaltar o heroísmo de Teixeira Pinto e procurar pôr na sombra de atrocidades praticadas por Abdul Indjai e os seus irregulares), a penúria da guerra, o Sidonismo, a passagem meteórica de vários governadores, que se limitaram à rotina, e não havia dinheiro para o desenvolvimento. Vellez Caroço veio disposto a fazer obra, a impor a disciplina, a proibir a preguiça e a lançar as pedras de projetos indispensáveis para manter a economia da Guiné viável às exportações. Veremos adiante que Vellez Caroço encontrará muita contestação, sobretudo por parte das casas comerciais, é uma situação que eu já tinha detetado quando li os relatórios financeiros da delegação do BNU de Bolama. O que se pode dizer é que Vellez Caroço introduz um modo de liderança e de respeito pelas funções a que se obrigarão os governadores seguintes, caso de Leite de Magalhães ou Carvalho Viegas.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1921, começou a era de Velez Caroço (37)


Mário Beja Santos

O Governador Vellez Caroço é figura dominante do Boletim Oficial no ano de 1921. Até chegar, o que nos é dado a saber é uma pura rotina, parece estar tudo em conformidade dentro dos trâmites usuais. Com Vellez Caroço, ele assume-se como a voz do Governo, quer gestões sérias, vai atacar a indisciplina, enfrenta com rigor a sonolência burocrática. Logo no Boletim n.º 35, de 27 de agosto, aparecem duas portarias que são elucidativas de que quer seriedade nos negócios da administração e premeia os comportamentos exemplares. No primeiro caso, veja-se o que ele escreve:
“Tendo-se dado ultimamente nesta província alguns conflitos de caráter pessoal entre diferentes funcionários e entendendo que devo terminar com tão pouco edificantes exemplos, hei por conveniente mandar publicar:
Ao fazer a minha apresentação nesta província, e referindo-me à disciplina que desejo manter e manterei custe o que custar, declarei: ‘admito que se deem conflitos entre diferentes funcionários, no desempenho das suas funções, mas não posso tolerar, nem tolerarei, tanto nas participações de factos ou delitos, como na apresentação de queixas, se faça uso de uma linguagem despejada e se empreguem termos injuriosos para a dignidade pessoal seja de quem quer que for. Faça-se justiça mas guarde-se a compostura e o decoro.’

O funcionalismo, tanto o militar como o civil, deve impor-se à consideração pública pela sua extrema correção, pela sua delicadeza e fina educação; deve ser um exemplo frisante de altas virtudes cívicas, do mais acendrado patriotismo, do respeito aos poderes constituídos de dedicação à instituições.
Infelizmente, para a disciplina, para o bom nome de alguns funcionários, que ocupam posições de destaque, e para a ordem social pela qual, eu, por dever do cargo, tenho de velar, têm-se ultimamente dado factos que em absoluto se afastam deste ponto de vista.

A bem de todos, e mais uma vez, como manifestação de benevolência e espírito de conciliação, previno e chamo a atenção dos funcionários sobre a forma como encaro este problema de ordem e como interpreto as minhas funções de primeira autoridade da província, na manutenção da disciplina: podem todos ter a certeza que não me afastarei uma linha só que seja do cumprimento dos meus deveres e que, fiel executor das leis, igualmente aplicarei sem tergiversar o rigor dos regulamentos.”


Noutra portaria, Vellez Caroço louva os altos serviços prestados pela guarnição do rebocador Bissau, louvando particularmente o chefe da missão geoidrográfica, o imediato do rebocador e um conjunto de sargentos e praças. E o Boletim Oficial começa a publicar decisões que espelham o que acima o governador advertiu. É o caso do despacho publicado no Boletim Oficial n.º 35, estávamos em 27 de agosto:
“Conformo-me com a opinião do sr. Tenente-Coronel Araújo Júnior, por mim nomeado para proceder às averiguações sobre a queixa apresentada pela Casa Pereira Neves, de Bissau, contra o procedimento do Administrador do Concelho, sr. dr. Francisco Augusto Regala. Não pode invocar-se nem se estabelecer precedente de cada um fazer justiça pelas suas mãos. É contra os mais elementares princípios de justiça e revela inclusivamente uma falta de confiança nas autoridades encarregadas de velar pela ordem.

Por este Governo serão dadas as instruções a todas as autoridades administrativas para que tais factos se não repitam, instaurando com escrupuloso cuidado o processo de investigação e enviando-se a Juízo, devidamente testemunhado, o respetivo auto de notícia. Em harmonia com esta doutrina, oficie-se desde já ao sr. Administrador do Concelho de Bissau para que proceda às devidas investigações sobre os crimes de furto praticados na Casa Pereira Neves e que remeta em seguida o respetivo auto de notícia ao tribunal competente.”


No mesmo Boletim publica-se o despacho do governador quanto a um processo de inquérito mandado proceder aos atos do administrador interino da 6.ª Circunscrição Civil (Papéis):
“Em face do processo de averiguações e respetivo relatório, apresentado neste Governo pelo sr. Tenente-Coronel Araújo Júnior, e referente ao Administrador Vitorino António Casse Mendes, verifica-se que são caluniosas as acusações produzidas contra o referido administrador, que era acusado de condenar os indígenas ao pagamento de multas excessivas e injustificadas e de aplicar-lhes bárbaros castigos corporais.
Folgo de ter ocasião de manifestar a minha satisfação por não se terem confirmado tais acusações, pois embora entenda que os administradores de circunscrições, isolados e sem força pública que os possa apoiar, precisam por vezes de empregar meios enérgicos para manter a disciplina, merecem-me a maior reprovação os exageros e os castigos corporais aplicados como sistema.

Encontrarão sempre as autoridades desta província em mim o maior apoio na defesa do seu prestígio, quando injustamente agravado: não regatearei louvores a quem os merecer; mas, se procedendo assim cumpro simplesmente com os deveres do meu cargo, correlativamente é-me imposta obrigação de fazer justiça, punindo os que se desmandarem.
É com esta orientação que, concordado com as conclusões do relatório do sr. Tenente-Coronel Araújo Júnior, por mim nomeado para proceder a averiguações sobre os atos praticados pelo administrador de Bor, aprovo o seu procedimento enviando a Juízo e exigindo responsabilidade aos indivíduos que falsamente acusaram o referido administrador de faltas tão graves.”


Em outubro, Vellez Caroço faz publicar as propostas orçamentais para 1921-1922, aqui se publica um extrato:
“A Província da Guiné tem as suas finanças equilibradas e tem havido inclusivamente saldos orçamentais, mas, devemos confessá-lo, isso tem sido principalmente devido a não se fazerem melhoramentos com a largueza de vistas que o desenvolvimento comercial e agrícola da província exigem; a ter um constante défice de funcionários, porque poucos são os que querem vir para esta província, onde, a par de uma vida caríssima, verdadeiramente incomportável para quem não negoceia ou não tem que vender, há a suportar as agruras de um clima quase inóspito, e ao qual, só rodeado de comodidades e de um relativo bem-estar, o europeu pode resistir; à incidência de uns direitos excessivamente pesados sobre a exportação das oleaginosas, principal riqueza da Guiné, dificultando-lhe assim a livre concorrência nos mercados (…)
Assim, em breve regulamentaremos o trabalho indígena, melhoraremos os portos de Bissau e Bolama, terminando a construção do cais acostável do Pidjiquiti e consertando a ponte, que ameaçava ruína para as embarcações de maior tonelagem; terminaremos as obras da ponte acostável de Bolama (…)
Somos absolutamente contrários à orientação até agora seguida de terem imobilizados os saldos da colónia, que atingem uma quantia superior a mil contos, sem vencimento de juro algum, quando esses fundos só à colónia pertencem. Como início deste programa e para criar receitas compensadoras que permitam ao orçamento da Guiné comportar o aumento das despesas, onde principalmente avultam o acréscimo dos vencimentos aos funcionários civis e militares, proponho à consideração das entidades competentes as seguintes propostas orçamentais.”


Foram assim os primeiros meses da governação de Vellez Caroço.

O anúncio da chegada do Tenente-Coronel Jorge Frederico Vellez Caroço
Tenente-Coronel Vellez Caroço
Aldeia Fula, 1910
O Geba em Bafatá

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26827: Historiografia da presença portuguesa em África (482): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, estamos em 1920 (36) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26858: (De) Caras (233): Estêvão Alexandre Henriques, ex-fur mil radiomontador, CCS/BCAÇ 1858, Catió, 1965/67: um bom camarada e um grande colecionador de bússulas e outros equipamentos para traineiras e barcos de pesca do alto, que eu visitei na sua casa, Seixal, Lourinhã (João Crisóstomo, Nova Iorque)

 


Foto nº 1 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025 >  
O João Crisóstom o, à esquerda, com o Estêvão Alexandre Henriques...
visivlemente felizes por se reencontrarem


Foto nº 2 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025 > Uma casa que é um museu (1): 
a Maria do Rosário e o Estêvão e a sua coleção de réplicas de barcos

 

Foto nº 3 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>
Uma casa que é um museu: réplicas de barcos


Foto nº 4 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>  Fotos da Guiné (1)


Foto nº 5 >  Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025> Fotos da Guiné (2)



Foto nº 6 > 
Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025> Bússulas


Foto nº 7 > Lourinhã > Seixal > 26 de maio de 2025>Rádios



Fotro nº 8 > Louvor do Comandante do BCAÇ 1858, Catió, 1965/67


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Estêvão Alexandre Henriques (ex-furriel mil mecânico radiomontador, CCS/ BCAÇ 1858, Catió, 1965/67):


(i) nasceu em 2 de setembro de 1942, há 82 anos, em Fonte Lima, freguesia de Santa Bárbara, concelho de Lourinhã, rodeado de mar e de gente ligada à terra e ao mar.heiro / Lourinhã);

(ii) fez o serviço militar em 1964, tendo frequentado em Tavira o CSM - Curso de Sargentos Milicianos;

(iii) nesse mesmo ano fez o curso de Radiomontador, na Escola de Sargentos, localizada em Paço d'Arcos;

(iv)  conheceu, entre outros, em Catió, o João Bacar Jaló, ainda conviveu com os seus conterrâneos:


(v)  regresssou a casa em 1967,  tendo trabalhado como  Radiotécnico na firma Electrónica Naval - com sede em Peniche;

(vi)  estabeleceu-se deppois como empresário em 1970, constituindo firma na Rua 13 de Infantaria, em Peniche;

(vii)  em 1973, transferiu definitivamente  a empresa para a Rua José Estêvão, n.º 102, com oficina de reparação e stand de vendas de equipamentos eletrónicos e eletricidade para traineiras e barcos de pesca do alto;

(vii) durante mais de 40 anos impulsionou, a nível nacional, diversas marcas no setor das pescas: 

  • Sistemas: Loran Morrow / Omega Sergel / Omege Diferencial; 
  • Sondas: MJC /Kelvin & Hughes; 
  • Sonares: Wesmar; 
  • Radares: Anritsu; 
  • Rádio goniómetro: Ben-Tem. 

(ix)   fez centenas de instalações elétricas em traineiras e barcos de pesca do alto, bem como em embarcações de pequeno porte e recreio;

(x)  nos anos 70 equipa o primeiro barco de pesca do alto, o "Trio de Ribamar" , com toda a eletrónica e instalação elétrica a 24V DC e geradores a 380VAC, para alimentação do inovador sistema de frio, sendo este um dos primeiros barcos a pescar fora das águas do território nacional;

(xi) ainda no âmbito da sua atividade profissional, visitou feiras internacionais de inovação marítima, quer na área da pesca, quer na dos equipamentos eletrónicos e negociou em diversos países: 
  • Espanha, 
  • Marrocos, 
  • Senegal, 
  • Mauritânia, 
  • Guiné- Bissau,
  • Angola 
  • e Moçambique;

(xii) é conhecida a sua paixão por bússolas (que vem do tempo em que prestou serviço militar na Guiné, e onde adquiriu uma bússola de bolso, aquela que viria a ser a primeira da sua, atual, vasta e riquíssima coleção);

(xiii) empresário reformado, ainda hoje divide o seu tempo entre a paixão pelas bússolas e a construção de pequenas réplicas de embarcações de pesca e caravelas. 

(xv)  já realizou, em Peniche, diversas exposições temáticas com espécimes das suas coleções;

(xvi) em 2017 foi inaugurado, em Ribamar, Lourinhá.
o espaço museológico "Olhar o Mar" (uma das  exposições permanentes é da sua da autoria: exibe m vasto conjunto de equipamentos desenvolvidos para a comunicação e orientação dos pescadores no mar);

(xvi) vive no Seixal, Lourinhã, e é casado com a Maria Rosário Henriques.

(xvii) tem página do Facebook;

(xviii) é nosso grão -tabanqueiro nº 751, desde 2/9/2017 (mas já frequentava antes a Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã).


2. Mensagem de João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, de visita a Portugal (regressa a Noca Iorque em 3 de junho próximo):


Data - segunda, 26/05/2025, 23:29 

Assiunto - Estêvão Henriques

 
Caro Luís Graça,

Tens razão no que se refere à confusão que levou a que o nosso camarada Estêvão e sua simpática esposa Dona Rosário não nos encontrássemos ontem em Varatojo. Mas "não fiques triste por isso” porque também "há bens que nascem de males”. 

Ontem não teríamos tempo nem ambiente para falarmos com calma como nos foi possível fazer hoje.Reviver e falar dos tempos da Guiné e da sua vida de muitos sucessos, como tu sabes, foi o que fizémos hoje.

Quando me sugeriste que o contactasse, eu fui ver os links dos posts que me enviaste. E logo me lembrei que já o tinha encontrado: contigo, em Ribamar, no dia da inauguração dum “Espaço Museológico" e Exposição “navegar no passado”, em Setembro de 2017. Recordo que altura fiquei impressionado com o que aí vi.

Hoje fiquei de boca aberta logo que entrei na sua casa. Quando puderes arranja tempo e vem ver por ti mesmo que aquela casa é um verdadeiro museu. De dobrado valor porque, ao contrário dos museus onde tudo está manuseado e preparado para turistas, aqui tu vais ver o ambiente e lugar de trabalho, onde as suas muitas e variadas obras-primas têm sido feitas/ construídas desde a sua idéia e concepção até serem realidade.

Embora todos os reconhecimentos que lhe sejam dados agora são sempre pouco para aquilo que ele merece, eu não quero ser redundante , pois no post 17721 nos seus dados biográficos dás uma idéia geral do que ele fez e é. Mas acredita que uma coisa é ler e saber; e outra é experimentar e viver como hoje me foi dado ocasião.

Envio-te pois algumas fotos. Pena tenho que a minha ignorância em coisas digitais leve a que as minhas fotos sejam de fraquíssima qualidade. Quando lá fores terás oportunidade de fazer as fotos como devem ser vistas. Entretanto talvez estas fotos despertem a curiosidade e interesse de quem as vir agora para não perderem melhor ocasião no futuro. Se achares que é melhor esperar por essa ocasião, não sou eu que vou discordar. Mas se achares que estas podem ajudar a fazer uma idéia do que lá se encontra e as quiseres publicar está à vontade. O Estêvão deu-me autorização para fazermos delas o que bem entendermos. Mas sei que ele espera com antecipação uma visita tua quando te for possível.

As fotos nºs 1, 2 e 3  não necessitam explicação: creio que é evidente a satisfação de podermos estar juntos e partilhar as nossas vidas. Mais ainda por termos logo lembrado que demos entrada para a tropa na mesmo ano, 1964, e estivémos na Guiné na mesma altura 1965/ a 1967. 

Nunca nos encontramos lá: Eu estive no Xime , Bambadinca, Missirá e Enxalé,sempre junto de ou perto do Geba. Ele este em Catió e aí conviveu com o nosso Horário Fernandes de Ribamar e um primo meu Germano Estêvão,  da Bombardeira ( o nome é simples coincidência ) que esteve em Tite e Catió. Mas,  como sabes estas simples circunstancias de tempo e conhecimentos de mútuos amigos, são por vezes o suficiente para uma aproximação mais rápida ainda.

As fotos nºs 4 e 5  são a evidência de que os seus muitos sucessos na vida não lhe diminuiram o seu interesse pelo passado na Guiné. As fotos, mapas, diplomas e reconhecimentos que estão em quadros nas paredes por cima de aparelhos de toda a espécie, são apenas uma pequena parte do que está guardado por falta de espaço disponível para exposição.

A foto nº 8 é de especial interesse pois mostra já as suas habilidades que irão fazer dele quase um génio depois va vida civil : entre os vários reconhecimentos recebidos relacionados com a Guiné, destaca-se um pelos seus conhecimentos e perícia em trabalhos de electricidade com que procedeu à reparação e eletrificação do destacamento e Vila de Catió, onde tudo estava às escuras quando chegou.

As fotos nºs 2 e 3  mostram  também alguns dos belíssimos barcos, muitos deles réplicas, que o nosso camarada Estêvão fez e guarda em sua casa. Na minha opinião são um verdadeiro tesouro, embora eu deva avisar e confessar o meu pouco conhecimento e perícia, em tudo isto. Em alguns casos quase posso garantir o seu muito valor; e noutros casos, como me sucede quando vejo uma obra-prima que não compreendo mas me fascina sem saber porquê, limito-me a dar a minha opinião muito subjectiva : Eu gosto dela. E neste caso eu gostei do que vi.

As fotos  nºs 6  mostra parte da sua larga coleção de bússulas, e outros objectos náuticos, algumas delas feitas por ele mesmo, outras ( a maioria) verdadeiras antiguidades de muito valor.

A foto nº 7 mostra dois dos vários rádios feitos por ele. Alguns deles foram inovações que permitiram comunicações impossíveis antes do seu aparecimento.

Não fiz fotos das muitas cartas náuticas, mapas e outros documentos que merecem ser conhecidos e uma visita também.

PS - Teor do louvor que consta na sua caderneta militar (Foto nº 8):

"Louvado pelo Exmo. Comandante do BCAÇ 1858 porque durante o tempo em que serviu nesta Província se mostrou ser um militar correto e disciplinado e tendo boa vontade em bem servir.  Por falta de ténicos neste Batalhão, foi o mesmo destinado para dirigir e colaborar na recontrução elétrica do Quartel e da Vila. Nessas funções mostrou ter bons conhecimentos e esforçou-se por levar a bom termo a tarefa para que foi designado, tornando-se assim um bom colaborador do Comando de Batalhão. É por todas estas qualidades o furriel Henriques digno de ser apontado como exemplo (O. S. nº 100, de 27d e abril de 1967, do BCAÇ 1858).

(Revisão / fixação de texto: LG)

__________________

Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26850: (De) Caras (232): Mamadu Baio & Amigos, 16ª edição do "Junta-te Ao Jazz", Palácio Baldaya, Benfica, Lisboa, 25 de maio de 2025... Como disse o Mamadu Baió (viola baixo, voz, compositor): "a música não tem fronteira, nem tem cor, não tem raça"

Guiné 61/74 - P26857: Convívios (1033): são 87 os inscritos no 61º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, Restaurante Caravela de Ouro, 5ª feira, 29 de maio de 2025, 12h30 - 15h00... Mais de metade dos "magníficos" (56%) são "meninos Linha": Cascais (23), Oeiras (19) e Lisboa (7)...Mas quem há venha do Algarve (3)... e até de Nova Iorque (3) (!)

 



Total de inscritos para o 61º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algês, Restaurante Caravela de Ouro, 5ª feira, 29 de maio de 2025, 12h30 - 15h00.

Observações - A negrito, "piras"...Julga-se que o Júlio Carvalhosa de Campos venha da Parede, Cascais.  87 é um novo mãximo histórico. "É a segunda vez, pois há muito tempo, no convívio nº 46, em 22-11-2019,  tivemos 87 convivas", diz o régulo Manuel Resende.

Estatísticas (Proveniência):

  • Cascais  > 23
  • Oeiras > 19
  • Lisboa > 7
  • Sintra > 6
  • Amadora > 4
  • Mafra > 4
  • Lourinhã > 3
  • Nova Iorque > 3
  • Seixal > 3
  • Alenquer > 2
  • Almada > 2
  • Palmela > 2
  • Setúbal >  2
  • Barreiro > 1
  • Cadaval > 1
  • Évora > 1
  • Faro > 1
  • Loulé > 1
  • Mação > 1
  • Vila Real de Stº António > 1

Total = 87


Contactos: Manuel Resende | Tel - 919458210 | Mail - magnificatabancadalinha2@gmail.com



__________________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26848: Convívios (1032): No rescaldo do nosso encontro (Famílias Crisóstomo & Crispim + amigos), Torres Vedras, Convento do Varatojo, 25/5/2025 (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P26856: S(C)em Comentários (69): A maldição de...Bissássema, no setor de Tite, região de Quínara (Cherno Baldé, Bissau)




Guiné-Bissau > Regiãods e Quínara > Tite > 2019 > Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) 

Foto de Assana Sambú.  Jornal Odemocrata 04/08/2019. (com a devida vénia...)



1. Comentário de Cherno Baldé, ao poste P26839 (*):

Bissássema é um paradoxo, tão perto de Bissau, a capital, e tão longe da civilização.

 Desde a independência do território que nesta localidade,  situada no Sector de Tite,   acontecem, quase todos os anos, crimes e ajustes de contas com acusações de feitiçaria e outras barbaridades típicos de sociedades dominadas pelo obscurantismo.

Não conheço, nunca lá estive e é das zonas mais abandonadas do país, pois nunca se houve falar  dela a não ser pelos piores motivos.

Cdte, Cherno AB


2. Não é fácil encontrar notícias sobre Bissássema, setor de Tite, região de Quínara, Guiné-Bissau, por bons ou mais motivos... Nem com a ajuda de um assistente de  IA - Inteligência Artificial... 

No jornal da Guiné-Bissau "O Democrata" encontrámos uma(e única) referênmcia a Bissássema, mas já é antiga, de 2019, anterior à pandemia... Merece, mesmo assim, ser citada. (**)


Esquadra de Polícia de Tite é um "lixo que espelha a banalidade" do Estado Guineense.
 Jornal Odemocrata, 04/08/2019.

 Texto e foto: Assana Sambú


[Reportagem, julho 2019] O edifício da Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) do setor de Tite, região de Quinará, no sul da Guiné-Bissau, encontra-se em avançado estado de degradação (...).

(...) A Esquadra cobre todo o setor de Tite e conta com 15 agentes, dos quais apenas três são efetivos, nomeadamente: o comandante, o seu adjunto e o responsável da logística. As restantes 12 pessoas são todas auxiliares recrutadas internamente, sem salários nem subsídios, porém são elas que fazem todo o serviço da esquadra.

(...) O comandante da Esquadra, Sete Djassi, reconheceu na entrevista a O Democrata a situação de degradação daquela Esquadra.

(...) O subinspetor (alferes) Sete Djassi reconheceu igualmente que a Esquadra não está nada bem e precisa de uma intervenção das autoridades competentes, de formas a servir condignamente as forças policiais que dão as suas vidas para servir o país e a população todos os dias.  

(...)  “O edifício onde funciona a esquadra é uma antiga loja no período colonial e até hoje tem aquela zona do balcão. Tem ainda um salão, um quarto e na parte lateral tem uma sala que foi adaptada para funcionar como o Gabinete do Comandante. A Esquadra dispõe de cela que éuma espécie de túnel, aproveitado para cela”, contou.

(...) Em termos de meios de transporte para a mobilidade dos polícias, explicou que dispõem de uma viatura (Jeep) descapotável adquirido já há alguns meses do Comando da Província Sul e uma motorizada que receberam no quadro das eleições legislativas de março deste ano. Lembrou que trabalhavam sem nenhum meio de transporte e que as missões eram feitas a pé, sobretudo no concernente à caça aos gatunos ou pessoas que tenham cometido algum crime.

“Andávamos a pé até ao interior das tabancas mais longínquas do setor para ir buscar as pessoas que recusam obedecer às ordens do comando, mesmo notificadas. A mesma coisa acontece com as pessoas que cometem crimes de roubos ou de homicídio e muitas vezes corremos risco de vida ao sermos confrontados. Felizmente sempre cumprimos a nossa missão.  

(...) Djassi revelou que as deslocações das forças policiais para as operações no interior do setor são asseguradas pelos queixosos, ou seja, são essas pessoas que compram o combustível para a viatura, porque, conforme disse, a esquadra não tem meios para garantir o combustível todo o tempo para a viatura.

Sobre o famoso caso de “feiticeiria” que se registava com frequência na secção de Bissassema e que acabava sempre em morte de pessoas acusadas da prática de feiticeira, disse que atualmente os casos diminuíram muito e que agora trabalham em colaboração com algumas pessoas naquela aldeia para denunciar as que tentam acusar outras sem fundamento. 

Sublinhou ainda que os casos de roubo de gado também diminuíram, porque, de acordo o polícia, neste momento toda a gente está preocupada mais com os trabalhos do campo, razão pela qual não se regista com frequência casos ligados a roubo de animais.

Contudo, ressalvou que no momento a grande preocupação tem a ver com a questão do conflito de posse de terra para a produção dos pomares de caju. Frisou que apenas no período da seca é que se registam mais problemas de roubo e de agressões. (...)


Por: Assana Sambú | Foto: A. S. (com a devida vénia...)

(Seleção, excertos, revisão/fixação de texto, negritos, edição de foto: LG) 
_________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer

(**) Último poste da série > 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26826: S(C)em Comentários (68): Fome, camaradas ?!.... Não, em Nova Lamego, São Domingos, Bissau (Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, 1967/69): sim, "aos poucos de cada vez" na Ponta do Inglês, Xime (Manuel Vieira Moreira, 1945-2014, ex-1º cabo mec auto, CART 1746, 1967/69)

Guiné 61/74 - P26855: Facebok...ando (80): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte III: Feitos prisioneiros do PAIGC em 3/8/1968, foram libertados na sequência da Op Mar Verde, em 22/11/1970: António Júlio Rosa, Geraldino Marques Contino e Victor Capítulo



Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > CCAÇ 3327  > c. 1971/72 > Jovens balantas en traje de festa.  Três anos depois da tragédia de Bissássema,  a CCAV 2765, com apoio de um destacamento de engenharia do BENG 447, deram início em 15 de janeiro de 1971 às obras da construção do quartel da nova tabanca de BissássemaEm 12 de Novembro de 1971, a CCaç 3327 / BII 17 fez deslocar dois pelotões para Bissássema onde foram substituir a CCav 2765. 

Foi a esta companhia açoriana que coube, para além da proteção das tabancas da sua zona,  a missão principal de a construir  um  reordenamento com 100 moranças e váriso equipamentos coletivos.

Foto do álbum do Rui Esteves, ex-furriel miliciano enfermeiro (CCAÇ 3327, Teixeira Pinto e Bissássema, 1971/73), e que vive em Vila Nova de Gaia; é um dos históricos da  nossa Tabanca Grande.


Foto (e legenda): © Rui Esteves (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Segunda parte do texto do antigo alf mil at inf da CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/69), J. M. Pais Trabulo, disponível na sua página do Facebook (João Manuel Pais Trabulo), e também reproduzido na página do CCAÇ 2314 - Agis Quod Agis.e e na página do BART Tite - Guiné (BART 1914).

Hoje Cor GNR ref, Pais Trabulho (natural de Meda, a viver em Gouveia), tem mantido viva a memória desse tempo que foi dramático, para quem nomeadamente esteve em Tite e Bissássema, em fevereiro de 1968 (CART 2314, CART 1743 / BART 1914, milícia e população, etc.).

Esta subunidade, a CART 2314 passou a estar representada na Tabanca Grande pelo ex-fru mil OE/Ranger, MA, Joaquim Caldeira (nº 905) (vive em Coimbra).


Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - 

Parte III: Feitos prisioneiros do PAIGC em 3/8/1968, foram libertados na sequência da Op Mar Verde, em 22/11/1970:  António Júlio Rosa, Geraldino Marques Contino e Victor Capítulo 



Cor GNR ref Pais Trabulo
(Fonte: página do Facebook)

(...) Mais tarde, precisamente três anos depois, em 15 de janeiro de 1971, a CCAV 2765, com apoio de um destacamento de engenharia do BENG 447, deram início às obras da construção do quartel da nova tabanca de 
Bissássema.

Em 12 de Novembro de 1971, a CCaç 3327 fez deslocar dois pelotões para Bissássema onde foram substituir a CCav 2765. 

Para efeitos operacionais, em Bissássema, a CCaç 3327/BII 17 tinha adidos os Pelotões de Milícias 294 e 295.

Para além da proteção das tabancas da sua zona,  a Companhia tinha como missão principal a construção de 100 casas no reordenamento, construir ainda uma escola, um furo artesiano, eletrificar o perímetro do aquartelamento e uma Cooperativa Agrícola, entre outras iniciativas e ordens recebidas.

Esta CCaç 3327/BII 17 seria substituída em Bissássema pela CArt 6252/Bart 6520/72, tendo cessado as suas funções no TO da Guiné no dia 14 de Dezembro de 1972.

Mais uma vez entendemos recordar e divulgar o sacrifício que estes jovens militares portugueses tiveram no cumprimento do seu dever que, embora lhes tenha sido imposto, o desempenharam com o sacrifício da própria vida, para bem das populações autóctones e do País.

Na madrugada de 22 de novembro de 1970, no decurso da operação “Mar Verde”, estes e outros os prisioneiros portugueses, no total de 26, foram libertados da prisão Montanha por um grupo de combate do Destacamento de Fuzileiros Especiais (Africanos) nº 21, numa ação armada efetuada pelas Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Conacri, sob o comando de Alpoim Galvão.

António Júlio Rosa, alferes miliciano, natural da Abrunhosa, Mangualde, e mais dois seus militares, cabo cripto Geraldino Marques Contino e soldado Victor Manuel Jesus Capítulo, da CArt 1743, tinham sido  feitos prisioneiros, na madrugada de 3 de fevereiro de 1968, por forças do PAIGC.



Foto da autoria de Pais Trabulho
 (com a devida vénia...)

Sobre essa noite fatídica de Bissássema no seu livro "Memórias de um prisoneiro de guerra", o alferes miliciano António Júlio Rosa, entretanto falecido, relata-nos:

  • "Seria meia-noite, quando, quem estava já dormindo, e era o meu caso, foi despertado violentamente!... Os 'turras' estavam a atacar!... Ouviam-se rebentamentos e muitas rajadas. Era um fogo contínuo e feroz. O ataque tinha sido desencadeado, a sul, no lado da mata... Estavam lá os africanos de Tite e alguns de Empada. O tiroteio manteve-se muito intenso durante cerca de meia hora. Depois... diminuiu até cessar completamente.
  • "Quando o tiroteio acabou, ficámos convencidos de que o ataque tinha sido repelido. Contactei o Maciel para darmos uma volta pelos abrigos e ver se tudo estava bem. Deslocámo-nos até ao último abrigo do meu pelotão, situado a uns cinquenta metros e verificámos que tudo estava normal.
  • "Íamos prosseguir a nossa ronda para sabermos dos africanos, quando, a uns cinquenta metros, se ouviu uma rajada de pistola-metralhadora. O som parecia vir de dentro do nosso perímetro. Ficámos os dois perplexos porque não tínhamos armas que 'cantassem' assim!...
  • "Regressámos de imediato, à zona do comando e alertámos para a possibilidade do inimigo se achar no meio das nossas forças. Dentro do posto de comando encontrava-me eu, o Maciel, o Cardoso, o Gomes e três operadores das transmissões. De repente, apareceu, transtornado, o comandante da milícia de Tite. Só teve tempo de nos dizer que os ‘turras’ estavam dentro do perímetro e se dirigiam para o local onde nos encontrávamos. Mal acabou de falar fomos atacados. Não deu sequer tempo para se tentar encontrar uma solução!...
  • "Rapidamente, procurámos sair para o exterior. Quando cheguei à porta, seguido pelo Geraldino e pelo Capitulo, rebentou uma granada ofensiva mesmo à nossa frente. Com o sopro da explosão fui empurrado para trás e não via nada pois tinha os olhos cheios de terra. Com o estrondo, fiquei surdo!...
  • "Foi uma sensação horrível!... Pensei que ia morrer!... Foi impressão instantânea que passou em segundos. Entretanto, tive outra sensação!... Tive o pressentimento que ia ser abatido!... Sinceramente fiquei preparado para morrer!...
  • "(...) Senti-me agarrado, ao mesmo tempo que alguém me socava, violentamente, mas não sentia qualquer dor. Estava prisioneiro!... O Dino e o Capitulo tiveram a mesma ‘sorte’!... Seriamos levados para Conacri…”


Geraldino Contino (**)

Sobre o assalto a Bissássema pelo PAIGC, segundo conta o Geraldo Contino: 

  • (...) “Dois dias após a chegada ao terreno, pouco minutos a faltarem para a meia-noite, mais precisamente no dia 2 de fevereiro de 1968, (sexta-feira), um numeroso grupo IN, investiu em direção ao extenso e mal programado perímetro das nossas tropas, pelo lado do pelotão das milícias. 
  • "Estes não aguentando o ímpeto do ataque, acabaram por abandonar os seus postos, permitindo abrir brechas na defesa do terreno e possibilitar o cerco ao improvisado posto de comando. 
  • "A confusão surpreende as NT e, permite a captura dos europeus, o Geraldino Marques Contino, o Alf António Rosa e o Victor Capítulo.”

Ainda hoje, temos no nosso pensamento a visão dolorosa do estado dos nossos camaradas em fuga para Tite, bem como as lágrimas que corriam nas suas faces, os olhos cobertos de lama e a maioria descalços, ou mesmo nus, parecendo figuras de filmes de terror, apenas com forças para agarrarem, desesperadamente, a arma, a sua única salvação para manter a vida, quando em redor somente havia a morte…

Sabe-se que esta intervenção, em Bissássema, foi um fracasso para ambos os lados e que o PAIGC sempre ocultou no seu historial:

  • se, pelo lado português, para além dos três prisioneiros e dois desaparecidos e feridos, não se conseguiu concretizar os objetivos propostos; 
  • para o lado do PAICG, o elevado números de baixas levou a que  sempre escondesse as suas consequências, tendo, inclusivamente, sido considerado por alguns, como um dos maior desaires que sofreu o  movimento de libertação da Guiné.

Hoje podemos questionar-nos: será que valeu a pena o sacrifício e a vidas destes jovens?…

Eles não merecem ser esquecidos, cumpriram com o seu dever para com a Pátria!

Procurámos dar a conhecer o que viveram os militares da CCAÇ 2314, e completá-la o mais fiel possível com elementos de quem lá esteve de modo a dar a conhecer o ocorrido. 

Socorremo-nos da História da Unidade, do livro do saudoso alferes Rosa e de relatos do libertado cabo Contino,  como é referido no texto.

17 de Dezembro de 2021.

Cor Pais Trabulo


Capa da 2ª ed. do livro de memórias
do António Júlio Rosa (1946-2019):
"Memórias de Um Prisioneiro" (Lisboa, 
Edições Colibri, 2021, 172 pp.)


2. Nota biográfica de António Júlio Rosa (Mangualde, 1946-Lisboa, 2019:



(i) natural de Abrunhosa-a-Velha, povoação do concelho de Mangualde e distrito de Viseu, nasceu no dia 11 de maio de 1946;

(ii) chegada a idade militar, seguiu para Mafra, onde frequentou o Curso de Oficiais Milicianos; após o Juramento de Bandeira, entrou na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas,; aqui tirou a especialidade de atirador de Artilharia;

(iv) em 10 de dezembro de 1967, embarcou no T/T Alfredo da Silva, rumo à Guiné-Bissau; desembarcou no dia 20;

(vi) na madrugada do dia 3 de fevereiro 1968 foi levado para a Guiné-Conacri como prisioneiro do PAIGC; na Guiné-Conacri permaneceu um longo e doloroso cativeiro, até 21 de novembro de 1970;

(vii) nessa noite, um grupo de fuzileiros comandado pelo Sr. Comandante Cunha e Silva que integravam a "Operação Mar Verde" concebida pelo Sr. Comandante Alpoim Calvão (já falecido), restituiu os prisioneiros à liberdade;

(viii) antes de escrever o livro nunca se referia ao cativeiro, mesmo em conversa com os familiares ou amigos: o trauma jazia na sua mente; em janeiro de 2000, decidiu finalmente escrever o livro: "Memórias de um Prisioneiro de Guerra"; foi a libertação dos problemas psicológicos que o atormentavam;

(ix) faleceu no dia 6 de abril de 2019, em Lisboa.

Fonte: Edições Colibri, Lx.


(Revisão / fixação de texto, título: LG)
_______________

Notas do editor LG:
 
(*)  Vd. postes anteriores da série > 



(**) 12 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18078: (De) Caras (101): Geraldino Marques Contino, ex-1º cabo op cripto, da CART 1743, ex-prisioneiro de guerra, aqui à conversa com outro camarada do seu tempo, com quem chegou a trabalhar no centro cripto de Tite, o Raul Pica Sinos (CCS / BART 1914, Tite, 1967/69)

Guiné 61/74 - P26854: Parabéns a você (2380): António Acílio Azevedo, Ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (Bula e Binar, 1973/74)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 26 de Maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26846: Parabéns a você (2379): Jorge Narciso, ex-1.º Cabo MMA da FAP (BA 12 - Bissau, 1969/70)