sábado, 16 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4357: Questões politicamente (in)correctas (39): Havia racismo nas Forças Armadas Portuguesas ? ... E no PAIGC ? (Nelson Herbert)

1. Mensagem do Nelson Herbert, nosso amigo Nelson Herbert, nascido na Guiné-Bissau, mas de origem caboverdiana (viveu a guerra colonial como adolescente, em Bissau) e que é editor sénior do serviço em português para a África, da Radio Voice of America, [Voz da América] com sede em Washington ) (*)...


"By 30 April 1968 total U.S. military personnel in Vietnam numbered 543,300. Assuming a nine to one ratio, that is nine service and support for each grunt in the bush characteristic of a modern technology (including technologies of the intellect)-based army, such as we had in Vietnam, and you rapidly conclude that all of the fighting was done by no more than 50,000 men at any one time. What this means is that with a surfeit of bodies in the rear, a critical mass was effected that recreated America in Vietnam. RACISM IN THE REAR WAS ALIVE, WELL AND VIRULENT. Both the Viet Cong and the North Vietnamese would exploit this pernicious flaw in the American Character as a divisive weapon illuminating what the war managers could not seem to grasp--the fundamentally political character of the conflict."


[ Até 30 de Abril de 1968,o total de militares norte-americanos no Vietname atingia os 543300. Assumindo uma relação de um para nove, isto é nove especialistas das áreas de serviço e apoio para um operacional na selva, que é o traço característico de um exército de base tecnológica moderna (incluindo as tecnologias da informação e do conhecimento), como tivemos no Vietname, rapidamente se conclui que o número de combatentes na frente de batalha não terá ultrapassado, de qualquer modo, os 50.000 homens. Isto significou a existência de um excesso de forças na retaguarda, tendo como efeito uma massa crítica que recreou a América no Vietname. O RACISMO NA RECTAGUARDA ESTAVA VIVO; EM FORÇA E ERA VIRULENTO. Tanto o Vietcong e como os norte-vietnamitas iriam explorar essa perniciosa falha na cultura militar dos americanos, como uma arma facturante mostrando aquilo que os gestores da guerra pareciam não compreender – a natureza fundamentalmente política do conflito.][Tr. ingl., L.G.]

in Black Studies, de William M King, Afroamerican Studies Program ,University of Colorado, Boulder, Colorado, USA


Não creio que hajam guerras imunes a problemáticas e conflitos raciais latentes, particularmente quando as forças e os homens nelas envolvidas, de um e outro lado da trincheira, forem de origem multirracial. A guerra americana no Vietname foi disso, um exemplo! A guerra travada por Portugal, nos três cenários africanos, não deverá decerto ter sido uma excepção.

Pois, vem isto a propósito da utilização do termo Nharro, num dos postes do blogue, prontamente contestado pelo bloguista José Macedo, por sinal um antigo companheiro de armas, vosso. Nharro é de facto o mais pejorativo termo feito recurso na Guiné colonial, para se referir a um negro, a um nativo. E não estou aqui a ensinar [o Padre Nosso ao Vigário]!

Termo pejorativo, racista, que, quiçá ao longo dos tempos foi-se desprendendo de toda essa sua carga semântica original. Hoje “expressão de afecto” e não tenho neste particular razões para duvidar ter sido com essa intenção, a sua utilização pelo bloguista Henrique Matos , mas pela polémica que a sua utilização e recurso no blogue podem suscitar ( melhor, já suscitou), deixo aqui um repto, um desafio.. quem sabe, uma temática a abordar: a problemática do racismo nas casernas, nas fileiras militares. Terá esse problema existido e afectado a vossa camaradagem ?

Do lado do inimigo, a então guerrrilha do PAIGC é o que se sabe, com todo o seu dramático cortejo de episódios, de que o assassinato de Amílcar Cabral fora quiçá o cume !

A história e a geração pós-guerra (a que me considero pertencer, apesar de 13 anos de vivência desse conflito), muito agradecem !


Mantenhas

Nelson Herbert

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desra série: 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4348: Questões politicamente (in)correctas (38): Os nossos queridos nharros (José Teixeira)

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu Caro Amigo:
Conhece algum País onde não haja xenofobia e racismo? Conhece algum Exército onde não haja, mesmo veladamente essa prática abjecta? Conhece alguma Cultura ou Sociedade sem actos destes e outros discriminatórios.Nós podemos, como Povo, como actuais ou antigos Militares, sobre isso e não só dar lições de Civismo. Conhece certamente a nossa História, dizem de brandos costumes -o que é falso mas convém dizer que sim- mas, os actos de xenofobia e racismo, não têm percentualmente comparação com outras Sociedades ditas mais evoluidas. Exemplo? Aquela onde vive ou a anterior. Sabe para a maioria de nós só há uma raça a Humana e para que, não a maioria mas todos assim pratiquem, devemos lutar quotidianamente. Penso que está de acordo comigo. Nharro? Já foi falado e esclarecido.
Durante a guerra a mim o inimigo chamava nomes a minha mãe, meu pai etc. Eu, pretendendo ser mais correcto, chamava-lhes turras dum cabrão, filhos de puta e ria-me com os africanos que comigo andavam. Fazia bem ao ego - meu, deles e assim, todos, aliviávamos tensões...uns mais brancos outros mais escuros...militares.
Um abraço amigo do Torcato

Anónimo disse...

Racismo? Sei, não.
O meu professor de Antropologia diz que não existem raças. Logo não pode existir uma coisa contra outra coisa que não existe.
Agora, a sério.
Racismo, xenofobia, sempre existiu e sempre existirá, enquanto houver seres humanos oriundos de raças (sub-espécies) diferentes.
Mas, nos meus dois anos de Guiné, apenas assisti a um caso, que exigiu a presença do Comandante, entre um soldado de etnia Balanta e um 1.º cabo de Cabo Verde.
Admito que nas zonas Balantas possa ter havido problemas, mas como estive quase sempre no chão fula, a convivência entre metropolitanos e guineenses era mais pacífica que no RI16 em Évora, entre alentejanos e transmontanos.
Concluo, portanto, que não havia prática de comportamento dito "racista", na Guiné-Bissau, entre 1961/74.

Manuel Amaro