terça-feira, 12 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4328: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (7): Atolado no Mato Cão, com a CCAÇ 1439, a madeirense do Enxalé

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Outubro ou Setembro de 1966 > Uma coluna de 3 Unimogues, da CCAÇ 1439 (Enxalé, 1965/67), a caminho de Missirá, passando por Mato Cão... Um pesadelo, no tempo das chuvas. Temos de reconhecer que eram umas máquinas fantásticas, possantes, flexíveis... Nunca nos deixavam mal, a não ser debaixo de uma mina A/C...

Fotos do soldado Leiria, da CCAÇ 1439, gentilmente cedidas ao ex-Alf Mil Henrique Matos, comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68). Recorde-se que o Henrique Matos, depois de chegar à Guiné, em Agosto de 1966, foi fazer o IAO a Bolama, para depois ser embarcado numa LDM e despejado no Enxalé, ferebte ao Xime, "ficando em reforço à CCAÇ 1439, independente, de madeirenses, adstrita ao BCAÇ 1888, sediado em Bambadinca".

Fotos: © Henrique Matos (2009). Direitos reservados

1. Mensagem do Henrique Matos, 1º comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68):

Caro Luís e co-editores (ainda a tempo de dar as boas-vindas ao novo co-editor, o Eduardo)

Estando Mato Cão na berra com a última estória do Jorge (sempre surpeendente) e do Mexia Alves sobre o Bu...rako onde esteve com os nharros do 52 que eu ensinei e da bolanha que havia ao lado (**), mando uma fotos da estrada (?) que atravessava a mesma bolanha e por onde tínhamos de passar (penso que era por quinzena ou à semana, já não me recordo...) para levar reabastecimentos ao destacamento de Missirá ou quando precisavamos de ir à sede do Batalhão em Bambadinca.

Estas fotos, de que já não me lembrava, foram-me cedidadas pelo Leiria que era Condutor, no passado dia 9 no encontro da CCaç 1439 que se realizou na Praia da Vieira. Trata-se de uma coluna que fiz a Missirá, em Setembro ou Outubro de 1966 (época das chuvas), constituida por 3 Unimogues, única viatura que passava naquelas condições.

Na 1ª estou no Unimogue da frente (sou o único de camuflado novo, ainda era periquito). Repare-se que este Unimogue tinha guincho, uma peça fundamental quando ficávamos atascados. Na 2ª estou ali na frente a ver não sei o quê, e a 3ª é para apreciar a navegação da viatura.

Aproveito para enviar uma foto do encontro que já referi, onde só apareceram 8 elementos e respectivas famílias. O nono sou eu que apenas fui para o Enxalé reforçar a companhia, já eles tinham mais de meia comissão. Embora sejam uns jarretas (foi mesmo o que lhes chamei) que não vão à Internet, os filhos prometeram mostrar a foto aos pais.

Praia da Vieira, Vieira de Leiria, Marinha Grande > 9 de Maio de 2009 > Convívio da malta da CCAÇ 1439 (Enxalé, 1965/67). O Henrique Matos é o segundo a contar da direita.

Foto: © Henrique Matos (2009). Direitos reservados

Só uma nota final: Falava-se no meu tempo que a origem do nome Mato Cão ou Mato de Cão se devia à existência naquela zona de muitos babuínos, mais conhecidos por Macaco Cão. Confirmo, porque os vi às dezenas numas árvores frondosas que lá havia. E quando não havia macacos era mau sinal, havia gente por perto (**).

Agora façam disto o que entenderem.

Como sempre, aquele abraço e até à Ortigosa [, dia 20 de Junho de 2009].

Henrique Matos (***)

___________

Notas de L.G.:


(*) Vd. postes de:

11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu... rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)

11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4321: Os Bu...rakos em que vivemos (9): No Mato Cão, com o Ten-Cor Polidoro Monteiro, em finais de 1971 (Paulo Santiago)

Vd. também poste de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)


(**) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3758: Fauna & flora (13): Macaco cão a ladrar, gente do PAIGC a chegar (Joaquim Mexia Alves)

Vd. também poste de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

(...) Na minha infância e adolescência fiz muitas viagens pelo interior da Guiné-Bissau durante a luta de libertação. Mas o que mais me encantava (70/73), pelas paisagens e desafios, era subir o Rio Geba, nas férias ou mesmo nos fins de semana, num dos barcos de passageiros do meu Pai (o Bubaque, antiga traineira algarvia, adquirida pela Marinha portuguesa e transformada, nos inícios da guerra, em Lancha Patrulha nº4, até ser comprada pelo meu Pai e transformada em navio de transporte, mais popularmente conhecido por Djanta Kú Cia).

A jornada começava com a enchente da maré, passando por Portogole, Ponta Varela, Xime e daqui para a frente quase sempre a rasar as margens, ora de um lado ora de outro, ver passar o Mato Cão e Nhabijões até chegar ao pequeno mas movimentado porto de Bambadinca, onde sempre havia lanchas e batelões.

Não raras vezes, no regresso, saíamos de noite de Bambadinca rezando, tripulantes e passageiros, para que nada acontecesse até passarmos o Mato Cão. Salvo raras ocasiões, as preces foram escutadas. O encanto era absorvente em noites de luar a descer o Geba a favor da maré, com o maquinista a ficar satisfeito, em termos de rotações do motor, só quando via faíscas e fumo espesso a sair da chaminé. Parecia que andávamos numa estrada cheia de curvas tal a velocidade com que descíamos o rio. As apreensões só desapareciam, na última curva, quando víamos as luzes do quartel do Xime. De noite Ponta Varela não constituía perigo. Passávamos a uma razoável distância.

Faço estas referências porque acabei por rever muitas imagens de Bambadinca e das suas gentes, onde passei férias com mais colegas estudantes e ia à caça, idas à boleia em viaturas militares ou civis, sem escoltas até ao Xime para ver o macaréu passar, cambanças para a outra margem do porto de Bambadinca de canoa, visita ao aquartelamento de Nhabijões que muito impressionou pela vetustez das instalações e más condições que facultava. (...)



(***) Vd. postes anteriores da série:

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2107: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (2): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte II)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2158: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)

11 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2173: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (4): O capitão de 2ª linha Abna Na Onça, régulo de Porto Gole

18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2191: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (5): O baptismo de um periquito no Enxalé

23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2376: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Insularidade e solidariedade no Natal dos açorianos

Vd. também outros poestes do Henrique Matos:

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)

30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)

13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4085: O trauma da notícia da mobilização (4): Ir em rendição individual e, para mais, 'substituir um morto'... (Henrique Matos)

2 comentários:

Joaquim Mexia Alves disse...

Quer dizer, o meu camarigo Henrique, vem em demanda aos meus "reinos" e não "passa cartuxo", ao senhor das terras!

Fique vossência sabendo que a Praia da Vieira, ainda são "dominios" meus!

É pá, era só um abraço!!!

Está bem fica para a Ortigosa/Monte Real!

Os sítios por onde a gente andou!!!

Abraço fortemente camarigo

Anónimo disse...

Camarigo Mexia
Eu sabia que estava nos teus "domínios" e bem me lembrei de ti. Acontece porém que no dia seguinte (10) foi o meu aniversário e tive de regressar rapidinho porque o pessoal aqui nos Algarves não perdoava mais delongas.
Abração Henrique Matos