terça-feira, 18 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8919: Antologia (71): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (4): Ilha do Como, 28 de Janeiro de 1964


Fonte: © Armor Pires Mota (1965-2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação de Tarrafo; crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed., Aveiro, 1965. Parte 2 (Ilha do Como, Jan / Mar 1964), pp. 61-64.  (*)

Começámos, a partir de 14 do corrente, a publicar as crónicas do Tarrafo, relativas à Op Tridente, na Ilha do Como (15 de Janeiro a 15 de Março de 1994),  utilizando para o efeito a primeira edição do livro (pp. 47 a 85).  

No exemplar, fotocopiado, que temos vindo a digitalizar, não "limpámos", intencionalmente, as provas da intervenção dos censores da época, os "cortes" ou as "marcas" (traços, sublinhados, exlamações...) do famigerado lápis azul: pro exemplo, todo e qualquer referência ao nosso armamento e equipamento (G3, T6, etc.).

Recorde-se que o livro de crónicas, publicado em Outubro de 1965, em edição de autor, com impressão na Gráfica Aveirense, de Aveiro, foi de imediato retirado do mercado pela então polícia política, a PIDE. Hoje é uma raridade. O autor fez depois, em 1970,  uma 2ª edição, "autorizada", com o mesmo título, Tarrafo (Braga, Pax Editora).

2. Paralelalmente estamos a seguir a crónica de outro combatente do Como, o nosso querido amigo e camarada Mário Dias, hoje sargento comando reformado. Em relação a este período, selecionámos o seguinte excerto (o resto pode ser lido na I Série do nosso blogue, aqui):

(...) 5. Os morteiros do Nino 

Uma tarde, interrogavam um prisioneiro na tenda de campanha que servia de posto de comando/sala de operações. Perguntavam-lhe:
- Onde está o Nino?
Era um dos objectivos a que a operação se propunha. A captura do Nino era essencial.
Resposta do prisioneiro:
- Foi no chão francês (Guiné Conacri) buscar morteiro.

Gargalhada de um dos oficiais de alta patente presentes:
- Agora… pode lá ser?!.. Estes gajos alguma vez têm capacidade para manobrar um morteiro?

Ainda não tinha decorrido uma semana e já a CCAV 488 instalada em Cauane estava a levar com eles. Era noite e 4 granadas de morteiro caíram com grande estrondo nas imediações da tabanca. Não houve feridos nem estragos. Vim a saber o motivo alguns dias depois quando, ao passar por lá, me mostraram as granadas. Observei e não foi difícil concluir que se tratava de granadas de instrução ou talvez já muito velhas e com perda do poder explosivo. O corpo das granadas estava simplesmente aberto, mas inteiro, sem ter provocado qualquer fragmentação ou estilhaço. Pareciam bananas descascadas. Ainda bem.

Foram as primeiras “morteiradas” na guerra da Guiné. Ainda durante o resto do tempo que durou a Op Tridente, foram referenciados mais alguns ataques de morteiro, sempre sem consequências para as NT.


6. Parece que o pior já passou

A batalha continuava. No dia 28 à meia-noite saímos com o pelotão de paraquedistas em direcção de Cauane para montar emboscadas num poço de água existente na picada Cauane/Cassaca. Passado o ourique de triste memória onde dias antes fora abatido o T6, entramos na mata e nada, nem ao menos um tiro de sentinela a avisar da nossa presença. Progredimos mais e chegados à zona do poço instalámo-nos a aguardar a comparência dos guerrilheiros. Não compareceram para a festa que lhes estava preparada.

Pelas 17 horas de 29 regressámos à base (espera praia, já aí vamos) sem ter havido qualquer contacto nem sinal de actividade do inimigo. (...)

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Nota do editor:




Vd. postes anteriores:


14 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8905: Antologia (68): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (1): Ilha do Como, 15 de Janeiro de 1964

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