sábado, 22 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8936: Agenda cultural (167): Programa Sobreviventes: reportagem sobre os ex-prisioneiros portugueses do PAIGC em Conacri, entre 1971 e 1974... SIC, 2ª feira, 21h (Cristina Freitas)




SIC > Programa Sobreviventes > 2ª feira, 24/10/2011, 21h >  Sinopse da reportagem... O programa Sobreviventes é apresentado nestes termos, no sítio da SIC:

"Série de oito programas de informação sobre portugueses que caíram em situações limite e conseguiram dar a volta e recuperar a vida. E conseguiram-no graças à sua determinação e à união de muitas vontades: a força da família e a presença dos amigos, o profissionalismo de equipas de socorro e a dedicação dos profissionais de saúde, o saber do médico e o sorriso do filho"...

Coordenação: Lúcia Gonçalves.


1. Em 6/7/2011, a jornalista Cristina Freitas, da SIC, contactou-nos nos seguintes termos:

O meu nome é Cristina Freitas e sou jornalista da SIC. Neste momento estou a trabalhar numa reportagem sobre prisioneiros da guerra colonial, em concreto sobre 8 portugueses que estiveram nas mãos do PAIGC, na Guiné Conacri, entre 1971 e 1974.

Tenho visto no seu blog várias publicações sobre o tema, nomeadamente sobre António Baptista, que ficou conhecido pelo "morto-vivo".

O que me leva a contactá-lo é o facto de estar a ter algumas dificuldades em encontrar imagens, preferencialmente em vídeo mas também em fotografia, de cenários da guerra colonial, nomeadamente da Operação Mabecos e do ataque a Saltinho. 

Penso que dado o seu blog poderá ajudar-me a entrar em contactos com alguns militares que tenham porventura esse material. É possível passar-me o seu contacto telefónico para falarmos um pouco melhor ?

Agradeço desde já pelo o seu tempo.

Cumprimentos, Cristina Freitas


2. Resposta do editor L.G.:

Cristina:  Aqui tem o meu telemóvel (...).. Ou telefones, do gabinete e de casa (...). O Álvaro Basto, [da Tabanca de Matosinmhos,] já me tinha falado do vosso trabalho... O caso do "morto-vivo do Quirafo" é um espanto... Tenho um vídeo sobre ele, consegui pô-lo a falar descontraídamente... Mas ele não é um "entrevistado" fácil, e tem problemas de saúde... Disponha. Farei o meu melhor para a ajudar. Saudações. Luís Graça

PS - A Operação Mabecos Bravios... Retirada de Madina do Boé, que acabou em tragédia (6 de Fevereiro de 1969)... é essa a que se refere ? Ataque ao Saltinho ou emboscada do Quirafo (Abril de 1972) em que esteve envolvido o Baptista ?


3. Nova mensagem da jornalista da SIC, com data de 19/7/2011

(...) Peço antes de mais desculpa por ter demorado tanto tempo a responder. Agradeço a sua disponibilidade.

Já conseguimos contactar o sr António Baptista e já gravamos entrevista com ele, bem como com mais 3 ex-prisioneiros.

Quanto às imagens que lhe pedia, encontrei-as por outros meios. De qualquer modo, agradeço o seu tempo.

Se quiser ver, a reportagem irá para o ar em Setembro/Outubro, no Jornal da Noite na SIC; no âmbito de um nova rubrica que se chamará Sobreviventes.

Obrigada, Cristina Freitas

 

4. Há dias recebemos uma 3ª e última mensagem da Cristina Freitas:

(...) Deverá estar recordado, contactei-o a propósito da minha reportagem sobre os prisioneiros de Conacri. Em anexo segue um vídeo promocional da reportagem. Se quiser partilhá-lo no seu blog, bem como a data de emissão da reportagem, está à vontade.

Envio-lhe email para lhe dar conta da data da emissão da reportagem. Se estiver interessado em ver, vai passar na 2ª feira, dia 24, no Jornal da Noite da SIC, pelas 21h00.

Obrigada e até uma próxima!

Cristina Freitas
SIC Porto

5. Comentário de L.G.:

O nosso blogue pode e deve ser uma fonte de informação e conhecimento para a comunidade, mais alargada, a quer pertencemos, desde os investigadores aos jornalistas. Congratulamo-nos pelo facto de histórias de "sobrevivência" como as do António Baptista ou do José António  Almeida Rodrigues possam chegar ao conhecimento do grande público, através da televisão. Tarde de mais ? Espero bem que não: programas como este não servem apenas um propósito de entretenimento, resultam de um trabalho de jornalismo de investigação. Vamos ver, na 2ª feira, a seriedade e a qualidade do trabalho da Cristina Freitas, desejando que o jornalismo televisivo possa também, de algum modo, ajudar à reparação, pelo menos moral, de um dívida que a sociedade portuguesa tem em relação a todos os antigos combatentes da guerra colonial/guerra do ultramar, em geral, e àqueles de nós que conheceram a amargura da prisão, em especial. Embora a guerra colonial (e a neste a caso a prisão em território inimigo) seja aqui vista apenas como mais uma situação limite, se não mesmo um fait divers.
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 18 de Outubro de 2011> Guiné 63/74 - P8918: Agenda cultural (166): doclisboa2011, IX Festival Internacional de Cinema, Lisboa, 20 a 31 de Outubro: a África, os africanos, e a história recente de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique em destaque: retrospetivas: (i) Jean Rouch; (ii) 'Movimentos de libertação' (Luís Graça)

8 comentários:

José Pedro Neves disse...

Caro Luis Graça, sem me alongar muito nas palavras, apenas quero agradecer, mais uma vêz, a tua iniciativa ao criares o nosso "Luis Graça & Camaradas da Guiné", que contribuiu para a realização deste documentário e mostrar a quem não quer vêr, o que foi a realidade passada não só na Guiné, mas em todos os outros territórios, por onde a nossa juventude passou. Um Abraço e o meu Obrigado.
José Pedro Neves
ex-Furr. Mil. Op. Especiais
C.Caç. 4745 - Àguias de Binta
Guiné 73/74

José Pedro Neves disse...

Os meus sinceros pedidos de desculpa, por não mencionar, no comentário anterior, também os Co-Editores, que dão "Alma" ao nosso Blogue, C. Vinhal, V.Briote e M. Ribeiro, a quem envio as minhas cordiais saudações.
Um Abraço e Obrigado.
José Pedro Neves

Luís Graça disse...

Eu sei que este ano é de efemérides: os 50 ano do início da guerra colonial/guerra do ultramar... Talvez daqui a outros 50, haja "comemorações oficiais", a sério... À boa maneira portuguesa: adoramos os centenários... O centenário disto, daquilo, da república, da restauração, da nacionalidade, do Camões, das invasões francesas...

De qualquer modo, daqui a 50 anos Já não estaremos cá, nem para ver, nem para ouvir, nem bater palmas, nem para patear ou assobiar...

Mesmo assim o balanço das iniciativas, públicas e privadas (das Forças Armadas à televisão), é miserável, no que diz respeito à efeméride: há uma coisa ou outra coisa, desgarrada, pobretana... Eu sei que temos problemas "mais urgentes" a resolver, blá-blá, blá-blá...

Pegando nas tuas palavras, se o nosso blogue tem algum mérito ao fim destes anos (e já lá vão quase oito), é sobretudo o de ter ajudado a "desatar a língua" à nossa geração de combatentes...

Zé Pedro, quando a gente, por cansaço, inanição ou outra razão qualquer, imponderável, fechar o blogue, em suma, "quando o blogue morrer", esse é o único epitáfio que eu gostaria de ler no cemitério a blogosfera... "Aqui jaz um blogue que nos ajudou a desatar a língua.. Um grupo de amigos e camaradas da Guiné".

Um Alfa Bravo. Luís

José Nunes disse...

Camaradas
Acabei de ver o programa,nada veio acrescentar ao que já se conhecia,teve o condão de lançar mais controvérsia num assunto que nos é caro,imagens fora época 10 anos de atraso muitas são de Angola nos anos 61/62,capacetes de aço?-das duas uma ou os camaradas abstiveram-se de relatar factos já conhecidos,ou então o editor não editou tudo,os corpos estavam mutilados e nus,não levaram só uma rajada,o Camarada Luis Borrega que fez o resgate dos mortos diz que os corpos foram mutilados,cortaram os dedos que tinham aneis etc,alguns comentários contradizem os próprios captores,já aqui relatados por o major Paulo Malu.
Não considero este doc tenha revelado nada de novo,só dúvidas.

Luís Graça disse...

Como se costuma dizer, "a montanha pariu um rato"... A televisão é um meio de comunicação "cruel"... Os combatentes da Guiné dão-se mal com ela... É tudo contado (e cortado) ao segundo... Faz-se a economia de tudo e mais alguma coisa: o contexto, a geografia, a história...

Não percebi nada de nada! Mesmo assim gostei, ao menos, de ouvir e ver o nosso camarada António Baptista, todo telegénico... E, claro, o nosso "alferes enfermeiro" Álvaro Basto, régulo da Tabanca de Matosinhos, e "pai adotivo" do Batista...

O José Nunes já chamou a atenção: são sempre as mesmas imagens, velhas e requentadas, de cenas de combate!... Em suma, a "guerra colonial" é tratada como um "fait divers"...

Luís Graça disse...

Ficam os nomes (e os rostos) de alguns camaradas nossos que conheceram a prisão, em Conacri e e depois, a partir de Janeiro de 1974, na região do Boé, numas instalações improvisadas....

Duarte Dias Fortunato - 3 anos e 8 meses de cativeiro... Sói percebI "Operação Mabecos"... Dado como "desaparecido"... Não se dignaram, os senhores da televisão, apresentá-lo: a que unidade pertencia, onde sofreu a emboscada fatal, onde foi aprisionado, onde vive hoje, etc. (Pormenores de somenos importância).

António Teixeira: só percebi que fora apanhado ao fim de 8 meses de Guiné... Era "intendente" ?

Manuel Vidal, apanhado à unha, com o Manuel Coelho, à porta de armas do quartel... Outra história mal contada, ou que não houve tempo para contar direito...

O António Baptista... o nosso "morto-vivo do Quirafo", sobre o qual já aqui publicámos manga de postes que davam para um livro...

Ao todo eram 8 os prisioneiros do PAIGC entregues às NT nas vésperas da "transferência" de soberania... Regressaram a Portugal a 11/9/1974, com a roupinha que traziam no corpo... E muitas histórias para contar, que não cabem na tal "caixinha mágica" que, dizem, mudou o mundo...

Todos pensaram que iam ser fuzilados; todos atravessaram, a vau, o Rio Corubal; todos tiveram medo dos jacarés; todos passaram mal, na prisão (onde se comia duas vezes por dia: arroz com água, água com arroz); todos fugiam dos aviões quando, na região do Boé, eles se banhavam no rio Corubal, em regime de "semiliberdade"; todos sobreviveram contando histórias e anedotas uns aos outros; todos eram tratados como "tugas, pá"...

E O Duarte Dias Fortunato até confessou em público, ali no jornal da noite, a sua secreta vontade de ainda um dia poder regressar à Guiné, dando a entender que nem todos os rapazes do PAIGC que trabalhavam como carcereiros eram maus rapazes...

Em todo o caso, os nossos "sobreviventes" mereciam mais e melhor... LG

Joaquim Mexia Alves disse...

E quase no final, que foi o que tive oportunidade de ver/ouvir, a meia/verdade, dizendo que na guerra colonial morreram 10.000 Portugueses, esquecendo-se de informar que, segundo rezam as informações, um pouco mais de metade, morreu de acidentes, doenças, etc., o que não deixando de ser uma realidade muito amarga e infeliz, não se deveu a actos directos de guerra.

O nosso jornalismo é o "espelho da nação", ou seja, feito em "cima do joelho"...

Um abraço

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... citando:
- «Ao todo eram 8 os prisioneiros do PAIGC entregues às NT nas vésperas da "transferência" de soberania... Regressaram a Portugal a 11/9/1974.»

Não corresponde à factualidade: foram 7 (sete) os militares portugueses, de recrutamento metropolitano, que o comissariado político do PAIGC entregou aos delegados do MFA-Guiné, no aquartelamento de Aldeia Formosa, às 11:00 de 14Set74. Visto o que: não foram «entregues "nas vésperas"»; e não regressaram a Portugal na data supra indicada.

Acaso subsistam dúvidas, sugere-se consulta ao acervo documental do MFA-Guiné.

Cpts,
J.C. Abreu dos Santos