Queridos amigos,
Devíamos obrigar Mário Vicente (ou Mário Fitas ou Mário Ralheta) a remexer toda a sua novela, de indiscutível interesse e originalidade. Ele presta uma eloquente homenagem à CCAÇ 763 através de uma guerrilheira, a região de Cufar experimenta a agressividade operacional e também a resposta dos guerrilheiros. O autor intenta pôr nos olhos dos outros a interpretação da nossa realidade. A trama novelística tem pés para andar, carece de uma intensa revisão, quem tem aquela experiência, que é bem patente, bem pode desenvolver o que importa ser desenvolvido e despojar o texto da história da Guiné quando ela é postiça e deslocada.
Um abraço do
Mário
Pami Na Dondo, a guerrilheira
Beja Santos
Em “Os Anos da Guerra”, João de Melo observou que “Os melhores livros de guerra perfilham uma atitude comum: a de designarem permanentemente o outro e o outro lado da sua guerra; de irem ao encontro da dignidade desse outro, dos seus enigmas, do seu mistério e da sua identidade. A principal lição moral podia mesmo sintetizar-se nestes termos: quem combate quem? como? porquê?”.
O livro de Mário Vicente (também Mário Fitas, igualmente Mário Ralheta) é uma exaltação da CCAÇ 763, pondo-a reflectida ao espelho, vista por uma guerrilheira. É uma ideia poderosa, tanto mais que abraça um período de dois anos e nos dá a evolução da guerra em Cufar, por onde o autor andou e combateu (“Pami Na Dondo, a guerrilheira”, por Mário Vicente, prefácio de Carlos da Costa Campos, edição do autor, 2005).
A novela assenta na dualidade: a força combatente que procura liquidar a bolsa de resistentes ou guerrilheiros, evidenciando-se pela audácia e pelo heroísmo; a resposta dos guerrilheiros, convictos de uma pátria livre, cada vez melhor organizados e municiados, derrotados umas vezes e preparados para tirar desforço, é assim a maquinação do terror. Aliás, o texto começa em plena atmosfera colonial, sente-se o despertar da subversão em toda aquela região sul, pouco tempo antes ocorrera o massacre do Pidjiquiti, há gente a aderir ao PAIGC e a ingressar na mata. Pan Na Ufna, Luís Ramos, o padre Francelino informam o leitor que a revolução está para breve. Como a novela não tem que ter rigor histórico, somos logo induzidos nas questões da organização militar, as FARP (que só surgiram em 1964) e a filha de Pan Na Ufna, Pami Na Dondo é instruída na guerrilha com armamento que só veio mais tarde, mas que para a trama da novela introduzem um sabor épico, o espectacular da preparação dos guerrilheiros. Um estúpido acidente transforma a vida da guerrilheira, perde a sua mão esquerda, o PAIGC coloca-a como professora em Flaque Injã, aqui vai conhecer Malan Cassamá, outro guerrilheiro, com quem casará.
Mário Vicente comprova que falamos sempre sobre nós, ele aproveita habilmente o que sabe sobre Cufar e as tabancas afectas ao PAIGC e quem vai apoiar a bandeira portuguesa. Flaque Injã será destruída pelos Lassas, a CCAÇ 763, Pami e Malã serão capturados e trazidos para Cufar. O autor socorre-se, em todo o seu verdor e autenticidade, da linguagem de caserna e reelabora com sucesso uma mescla de linguajar crioulo e português, somos introduzidos na condição precária de prisioneiros sujeitos à brutalidade dos interrogatórios. Pami, boa conhecedora da língua portuguesa, vai registando situações, procedimentos, a localização de todas as instalações de Cufar. Os Lassas parecem controlar a situação, o inimigo aparentemente perdeu a iniciativa e retira para outras posições, as operações sucedem-se, os êxitos repetem-se. Pena é que Mário Vicente não tenha explorado todo este caudal de agressividade operacional, subitamente entra numa didáctica de divulgação sobre o clima, a agricultura, a etnologia e a etnografia, e o que até então era verosímil torna-se postiço, é um relambório de alferes e capitão com um carácter grotesco que destrói o ritmo da trama novelística. Felizmente que temos a insegurança e a ansiedade de Pami, como na tragédia grega Malã é reconhecido e forçado a acompanhar como guia as tropas de Cufar que vão à procura dos guerrilheiros. Aqueles homens estão sós e procuram sexo, Pami será levada à presença do furriel Gonçalo, este segue depois para uma operação onde morre.
Assistimos a um período de acentuada degradação dos Lassas, houve mudança de capitão, a vida da CCAÇ 763 já não é tão vistosa nem tão vitoriosa, temos aqui bons parágrafos do autor a comentar a situação: “Apesar dos alferes e sargentos se manterem unidos e firmes, as coisas começam a degradar-se e a prestação, em termos de antiguerrilha, não era a mesma. Começou a verificar que os militares bebiam e consumiam cada vez mais álcool. Assistiu àquela luta em que dois soldados se socaram, pontapearam e morderam, como os cães raivosos, espumando pela boca, e depois de completamente esgotados abraçarem-se, chorando. Viu em dia de imensa chuva, o próprio “Bolinhas”, completamente molhado, correndo atrás do soldado Lopes, como uma grande faca na mão e o Lopes, com fobia de tudo o que era lâmina, fugindo por todo o aquartelamento, e os soldados todos a aplaudir. Viu o corneteiro rufar tambor e o furriel Rafael a fazer circo com uma cabra, sobre o muro da varanda, levantando a pata para fazer continência ao povo. Viu o soldado Nazaré, tronco nu peludo como macaco cão, envergando apenas uns calções, cinturão de lona preso a uma corrente, a fazer momices, ser passeado por outro soldado como se de chimpanzé se tratasse. O sargento Tavares a fazer o pino para o Punch – cão pastor alemão – saltar por entre as pernas. Parecia este aquartelamento uma casa de pessoas enlouquecidas”.
Um pesado revés tinha modificado a vida dos Lassas. Pami descobre que está grávida do furriel Gonçalo. Pami comparece a um interrogatório do furriel Rafael, conta-lhe a verdade. Rafael leva-a à porta de armas, “Pami sentia o corpo todo em demente tremura, e os seus passos seguindo os do militar eram já inseguros e incertos. O furriel andou uns 150 metros, e parou debaixo de uma árvore, carregada de ninhos de tecelões que, com o aparecimento dos intrusos, voaram num grande chilrear. O sol caia sobre o fundo da pista. Brevemente a noite africana apareceria com os seus sons e mistérios. O furriel puxou a culatra da G3, e introduziu uma bala na câmara rodando a patilha de segurança para tiro de rajada”. Depois vem a confissão e a libertação. Pami volta a ser mulher livre, vagueou perdida pelas matas Cufar Nalu, Camaiupa Cachaque e Cabolol. Passados dois dias foi encontrada pelos guerrilheiros junto ao rio Quaianquebam. Mais tarde, quando os Lassas desembarcavam em Lisboa nascia na mata do Cantanhez Umberto Cassamá.
Mário Vicente interessou-se pelo outro e recorreu ao que sabia e que experimentou. Na primeira oportunidade que se ponha a reedição de “Pami Na Dondo” deverá rever cuidadosamente o texto, polvilhado de agruras e dislates gramaticais. O texto merece e “Pami Na Dondo” agradece (*). Até breve.
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Notas de CV:
Mário Fitas, que é membro do nosso blogue desde 2007, foi Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763, Os Lassas, Cufar, 1965/66
Vd. último poste da série de 14 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8903: Notas de leitura (287): Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi (Mário Beja Santos)
(*) Há um edição, em 2008, desta obra, no nosso blogue, dividida em dez partes, com revisão e fixação do texto pelo nosso editor Luís Graça, e devidamente autorizada pelo autor > vd, último poste > 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)
15 comentários:
Conheci o Mário Vicente, ou melhor, Mário Fitas, na estreia do filme de Diana Andringa e Flora Gomes, "As Duas Faces da Guerra", no DocLisboa2007, em Outubro de 2007, na Culturgest.
Ele teve na altura a gentileza de me oferecer um exemplar de dois livros seus, autografados, incluindo a Pami Na Diondo.
Li-os, com prazer e entusiasmo, e passado algum tempo pedi-lhe para publicar, por partes, o seu romance Pami Na Dondo, a Guerrilheira, dando-o a conhecer um público mais vasto
Era uma edição de autor, com uma tiragem limitada (500 exemplares), e que não tinha propósitos comerciais. O Mário não teve dúvidas em, de imediato, satisfazer o meu pedido.
Daí termos logo começado a publicar a estória/história da guerrilheira, a Pami Na Dondo, balanta, que um dia foi cair nas mãos dos Lassas, os tugas de Cufar...
Antes do 1º epísódio, fizemos questão levantar um pouco o véu sobre o autor, a sua obra e os bastidores... através da troca de e-mails entre ele e o editor do blogue.
Sugere-se a (re)leitura desse poste:
21 de Novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2293: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (1): Os bastidores de um romance (Luís Graça / Mário Fitas)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/02/guin-6374-p2593-pami-na-dondo.html
Já sei que tinha dito que não voltaria a comentar as recensões do Mário Beja Santos.
Faço-o desta vez, não para comentar a recensão, mas porque na minha maneira de ser, acho que o Mário devia ter tido o cuidado de não “ofender” gratuitamente um camarigo.
Há coisas que se dizem aos amigos em privado, (pelo menos eu assim o faço por respeito aos próprios), pois ditas/escritas publicamente sujeitam os amigos a uma critica escusada e gratuita.
Refiro-me para além de outras coisas, a esta frase:
«deverá rever cuidadosamente o texto, polvilhado de agruras e dislates gramaticais.»
A assunção de que se é melhor do que os outros, acaba sempre por se transformar num exercício de auto-elogio, com “prejuízo” daquele a quem se quer criticar.
Poder-se-á dizer que eu estou a fazer a mesma coisa, mas faço-o, porque a meu ver, a critica pública feita, me autoriza a fazê-la também.
E isto nada tem a ver com frontalidade, mas, quanto a mim, respeito pelos outros.
E tenho pena, muita pena, de ver aqui este texto do Mário Beja Santos.
Que bom teria sido se tais reparos tivessem sido feitos em mail privado e confidencial, se os mesmos têm razão de existir.
E qualquer um, o Mário Fitas seguramente, os agradeceria, com amizade.
Um abraço para os dois Mários, e para todos também
Ainda queimas ou te queimam as pestanas com tanta leitura.
Tens que ou deves ler: - não podemos ver o vento da C. P. Correia, Clube do Autor S.A.- Romance, sobre os GE's e GEP´s de Moçambique... AB T.
O próprio autor, Mário Vicente, reconheceu que a edição das suas 2 obras não foi cuidada... É o risco da edição de autor, com patrocínio externo (creio que, neste caso, a Junta de Freguesia do Estoril).
As editores têm revisores de texto que ajudam os autores, nestas trapalhadas da língua. De qualquer modo, o Mário Fitas tem talento para a escrita. E isso ficou provado na criação da figura da Pami Na Dondo. A edição 'on line', no nosso blogue, veio já melhorada. Troquei mails com o Mário Fitas, e ele viu e aceitou com toda a galhardia e satisfação esta "2ª edição"... Era bom que fizesse uma 3ª edição, agora em papel.
Também me falou, há semanas atrás, nma possibilidade de fazermos, no blogue, uma 2ª edição, electrónica, do seu 1º livro, de crónicas, "Putos, Gandúlos e Guerra"(Ed de autor, Cucujães, 2000). A prometida 2ª edição, com apoio da Junta de freguesia de Estorial, parece que também está encalhada ou enguiçada.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.
Mário Vicente (Mário Fitas)
Vês, caro Luís, como fizeste o que havia para fazer:
«Troquei mails com o Mário Fitas, e ele viu e aceitou com toda a galhardia e satisfação esta "2ª edição"... »
Não queiras desculpar o indesculpável!
Um abraço
O Mário Vicente Fitas é um grande Senhor, um Homem com um enorme coração, um camarada da Guiné para quem a amizade entre todos é sagrada,
Não merece esta recensão.
Força, Mário, Mário Fitas.
Abraço,
António Graça de Abreu
Caros camarigos
Quando o Mário (o Fitas) me entregou o livro Pami Na Dondo li-o com interesse e 'passei por cima' de erros tipográficos e outras, poucas, mal-conformidades.
Achei interessante e até curiosa a forma como o Mário (o Fitas) 'explica' a génese do nascimento da ideia de 'nação' e de independência, através das conversas do pessoal do Brandão.
O livro tem também outras situações com interesse que, sendo ficcionadas ou semi-ficcionadas, acabam por retratar muito do ambiente vivido naqueles tempos em muitos daqueles locais.
Tenho-me apercebido que algumas vezes o Mário (o Fitas) 'verbaliza' (por escrito) aquela ideia peregrina que têm feito querer passar de que 'alguém', sabe-se lá a 'soldo de que tenebrosas intenções ou de que potências estrangeiras e para fins inconfessáveis', anda a 'fazer passar' a mensagem da derrota do Soldado Português, portanto da sua fraqueza, da sua inferioridade.
Na realidade nunca li isso. Pelo menos nunca li isso assim. Mas poderá ser defeito meu...
No entanto fico com a ideia que haverá, isso sim, 'outros alguéns' que corporizam essa ideia (a de dizerem que alguém 'inferioriza' o Soldado Português) para assim poderem arregimentar os brios e o orgulho daqueles que se possam sentir ofendidos com a alegada teoria. Pelo menos, na prática, é o que se tem passado...
Tinha também a ideia de que "a cantiga é uma arma" e mais, uma arma "de pontaria". Mas não me tinha apercebido, por distração, que só o era porque a cantiga veicula palavras e estas são formadas por letras e são estas as munições de tais armas.
Por isso é preciso cuidado ao manejar essas munições.
Por isso acho que o Mário (o Beja) não usou das precauções necessárias nesta apreciação ao livro do Mário (o Fitas) e lá saiu uma 'rajada'...
Tendo em conta todos os antecedentes fica a dúvida se foi descuido ou outra coisa qualquer, a evitar totalmente.
Abraços
Hélder S.
Com a minha solidariedade ao Mário Fitas, em reforço a alguns comentários - designadamente o que me precede, e o inicial de Mexia Alves -, recordo que desde há longa data, a quem aqui vem de visita se lhe depara a inqualificável prática - por parte do fundador e responsável editorial deste blogue -, de apôr a determinados postais alguns deselegantes complementos de pé-de-página, como sejam os configurados em informação de "tal & tal" haver sido sujeito a «revisão e fixação de texto por L.G.», ao que acresce, desde recentes datas, o normativo (?!) de «texto [re]editado conforme o "acordo ortográfico"».
Tudo, afinal, não muito diferente dos pesporrentes "conselhos", supra mencionados, com os quais o recensor - provavelmente à falta de concludente argumentário apreciativo -, entendeu rematar... para fora.
Amigos e Camaradas bloguistas continuo a acompanhar religiosamente tudo o que de bom e mau se faz e diz no blog e se mais vezes não intervenho e que por vezes ja me falta pachorra para afrontar e questionar . Acabei de ler de uma acentada (e assim que se diz?) da autoria de MARIO VICENTE o romance (sera?) A GUERRILHEIRA .Não tenho formação literaria para poder apontar e passo a citar :DISLATES GRAMATICAIS , fim de citação, mas adorei ! Quero la saber se falta uma cedilha ou uma palavra fora do contesto , li foi as ideias .as entrelinhas li as palavras que faltam e comi as que la estão ,.Parabens Mario Vicente pelo prazer de me levares a locais que ainda vivem na minha mente, Abraço do A. Mendes 38COMANDOS
Mário Vicente Fitas merecia mais respeito. Aliás, merece todo o respeito.
A recensão - ou o que se lhe queira chamar - é profundamente injusta, com aquele apontamento final de "dislates gramaticais" e outras considerações tambem bastante negativas.
Haja camaradagem!
Já agora: peço licença ao Mexia Alves para assinar por baixo o seu comentário.
Carlos Cordeiro
"Os ignorantes, que acham que sabem tudo, privam-se de um dos maiores prazeres da vida: APREENDER".
"Alguns pretendem manter uma vida de pavoneio e de aparências"
Cumprimentos,
Constantino Costa
Caros amigos,
O Mário Beja Santos é indiscutivelmente um homem culto. Ainda bem!
Em boa verdade também se pode afirmar que ele, mais que qualquer outro, tem animado e contribuído para as páginas do nosso blogue. Isso também é bom.
Escrever muito não significa sempre bem. Por isso mesmo aquele nosso camarada recolhe algumas tempestades, frutos de sementes de ventos que aqui e ali planta, gostaria de dizer, inadvertidamente.
Esta recensão foi mais um caso a juntar a outros anteriores. Não tanto por aquilo que escreveu, mas por aquilo que não conseguiu exprimir no seu artigo: humildade, melhor, a falta desta.
Portanto, não fiquei admirado com muitos dos comentários acima expressos muito menos com o do próprio Mário Fitas. O seu desabafo, para ser relido e reflectido e, sobretudo, assimilado na sua devida lição, foi um autêntico espelho da sua alma ferida. Sem nada ter feito para a merecer!
As almas sensíveis e delicadas não são necessariamente coisas para serem desprezadas.
Um abraço amigo para todos.
José Câmara
Caro Amigo Mário Fitas
Peço também licença, para assinar por baixo dos comentários do Mexia Alves, Carlos Cordeiro e Constantino Costa.
Mário, não escreves-te para um Nobel, pois não, então deixa lá para trás das costas, porque vozes de ..... não chegam ao céu, e o povo tem sempre razão.
Continua com a tua sã camaradagem e amizade pelo teu semelhante, isso é que são grandes valores.
Um abraço
Rogério Cardoso
Mário Fitas é um homem que conheço há muitos anos.
Conheceu ele primeiro “Vindimas no Capim” do que eu conheci “Pami Na Dondo”, apenas por razões circunstanciais porque como sabem, um prémio pode ser muito bem uma circunstância.
Quando li “Pami Na Dondo” disse-lhe do gosto que me havia dado lê-lo e o maior gosto ainda, na descoberta de um ser humano que eu desconhecia, provavelmente preso eu, ainda, em preconceitos redutores que, sem perda da amizade que lhe tinha, me levavam a colar-lhe uma imagem desmentida na leitura.
Nunca tive problemas no reconhecimento dos meus erros e tenho pena de não ter guardado cópia das palavras que lhe enviei comovido.
Não é fácil escrever sobre o inimigo como o Mário escreveu em “Pami Na Dondo”. E não o fez com ferramentas de trabalho de escriturário, mas com as outras que conseguem dar da realidade real, uma outra, ou várias possíveis, apenas com referências na primeira.
Confesso que não me lembro se encontrei desconformidades, como diz o Hélder Valério.
Sei sim, que gostei muito e que fiquei mais feliz na sua leitura.
Por outro lado, parece tempestade em copo de água, a reacção às últimas palavras do Mário Beja Santos. Afinal, deus é apenas um horizonte nos nossos esforços a caminho da perfeição e, Beja Santos faz uma boa e positiva análise critica à obra e ao autor.
Um dia Urbano Tavares Rodrigues disse-me que se para ser escritor fosse necessário ou bastasse ser professor de literatura, estaria muito mais pobre o mundo, seguramente.
José Brás
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