quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8932: As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (Parte I) (Luís Dias)


Guiné > Zona leste > Sector de Galomaro > CCAÇ 3491 (1971/74) > Janeiro de 1974 > Dulombi > O Alf Mil Dias,  à porta do quarto de oficiais


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Pires e Alf Mil Farinha


Fotos (e legendas): © Luís Dias (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



AS MÚSICAS POP/ROCK ANGLO-AMERICANAS MAIS EM VOGA EM 1972/73 E QUE EU OUVIA NA GUINÉ  (Parte I)

por Luís Dias (*)



Todos os que me conhecem sabem do meu amor pela música, em especial pela música rock e que ao longo da vida tenho acompanhado sempre este tipo de música e as suas variantes. Cheguei a dar uma aula sobre as origens do Rock´n´roll, seus principais intérpretes e as implicações sociais que produziram.

Ainda hoje, em que por indicação médica efectuo pelo menos três caminhadas por semana de cerca de 60 minutos, em passo largo (sem olhar para as montras), levo sempre comigo o MP4 que me foi oferecido pelo meu filho com diversas músicas, desde os primórdios do Rock´n´roll até 2011.

Este meu amor musical iniciou-se nos princípios dos anos 60, em resultado do surgimento do twist (ao que me lembro tinha mesmo muito jeito para esta dança) e tinha como ídolo Victor Gomes e os Gatos Negros (que venceu um concurso no Teatro Monumental, em Lisboa, tendo sido apelidado de rei do twist), tendo eu participado num espectáculo por ele dado no Coliseu dos Recreios, onde dei o gosto à perna dançando com muita malta a acompanhar o ritmo imposto pelo Victor.

Fui sempre acompanhando as músicas que se iam fazendo lá fora, em especial a anglo-americana, e frequentava os bailaricos das sociedades lisboetas e as festas de finalistas dos estudantes. Assim lembro-me de ver e ouvir o Quarteto 1111, Quinteto Académico, Plutónicos, Ekos, Sheiks, Fernando Conde, Diamantes Negros, Demónios Negros, Daniel Bacelar e os Gentlemen, Claves, Vodkas, Pop Five Music Incorporated, Objectivo, Sindikato, etc.

Outra fonte muito importante para mim era a rádio. E programas como a 23ª Hora,  da Rádio Renascença (Joaquim Pedro, João Martins), a Página Um, também na Rádio Renascença (José Manuel Nunes, Adelino Gomes), "Em Óbitra", do Rádio Clube Português (Pedro Soares Albergaria) e a Rádio Universidade tinham em mim um ouvinte sempre atento.

A música levou-me a conhecer a repressão em Agosto de 1970, aquando de um concerto que iria ter lugar no Colégio dos Salesianos, no Estoril, onde esperávamos, segundo o cartaz do festival: "Quarteto 1111 ",  os "Chinchinlas" e os "Sindikato".

 José Cid integrava o "1111", Jorge Palma o "Sindikato" e o Filipe "Mendrix" Mendes, os "Chinchilas". Também para este festival estavam anunciados os nomes de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira e tinha havido esperança na participação da banda internacional do momento – Chicago (Transit Authority). 

No Estoril, uma multidão de jovens aguardavam o inicio do Festival, o que não chegou a acontecer, pois em vez da música surgiu uma violenta carga da polícia de choque com cães sobre uma multidão jovem que, em pânico, fugiu ao longo da marginal do Estoril. Eu e um amigo refugiámo-nos numa loja de venda de óculos, junto da estação de comboios, após ter sido perseguido por ter tirado uma foto aos polícias.

A paixão pela música levou-me a Vilar de Mouros em 1971, estando de licença militar do RI2, para ouvir os ingleses Elton John e  Manfred Mann, entre outros grupos portugueses.
Em 2005 o meu filho tocou também com a sua banda (ASIDE) naquele mítico local, com Joss Stone, Joe Cocker, Robert Plant e Peter Murphy.

Quando fui mobilizado para a Guiné [, foto à esquerda], não sabia o que ali me esperava, mas tinha de ir acompanhado de boa música, essencialmente de música rock. Adquiri um gravador de bobines, de quatro pistas,  e toca de gravar álbuns diversos (Moody Blues, Yes, Beatles, Jethro Tull, Rolling Stones, Deep Purple, Doors, Led Zeppelin, etc.) e até música de intervenção portuguesa de José Afonso, Luís Cília, Sérgio Godinho, José Mário Branco e Adriano Correia de Oliveira).

Recebia também mensalmente a revista inglesa New Musical Express, através de assinatura feita pelo meu pai na Livraria Bertrand, cassetes com músicas que iam saindo nas nossas rádios e que estavam na "berra" na altura, que me eram enviadas pela namorada e amigos (comprei, já na Guiné, um leitor de cassetes, sem grande qualidade, mas que serviu para ouvir as gravações que me enviavam da metrópole).

Isto era para mim uma forma de me descontrair e de manter o contacto com este tipo de música. Deste modo, para além dos livros que lia, a música constituiu ao longo da comissão uma forma de compensação e de paliativo para o tempo que andava sim, mas de forma lenta, num devagar muito próprio, muito africano.

Antes do regresso livrei-me dos gravadores (vendi-os aos piras), porque necessitava de espaço para trazer outras coisas.

A chegada à Guiné deu-se ainda em 1971, na véspera de Natal, e o regresso já foi em finais de Março de 1974, mas falo, essencialmente, das músicas surgidas nos anos 72 e 73 e que alcançaram os tops e foram importantes e conseguiram também o sucesso comercial.

No entanto, ainda ouvia e muitos dos meus camaradas as fantásticas músicas dos anos 60, em especial aqueles temas mais conhecidos quer:



(i)  dos Beatles (um largo leque e muito variável, mas onde pontificavam: Yesterday, Eleanor Rigby, Yellow submarine, Come together, Back in USSR, With a little help from my friends, Lucy in the sky with diamonds, Penny lane, When I´m sixty four, Get back, Across the universe, etc.),




(ii) e dos Rolling Stones (I Can´t get no - satisfaction, Honky tonk women, Jumpin´Jack flash, Lady Jane, Let´s spend the night together),

(iii() mas também dos  Animals (The house of rising Sun),

(iv) Beach Boys (Good vibrations, Surfin´USA, I can hear music, Sloop John B, Barbara Ann),


(v) Bee Gees (First of May, I´ve got to get a message to you, Words, I Started a joke, To love somebody),

(vi) Byrds  (So you want to be a rock´n´roll star, Mr. Tamborine Man, Turn!Turn!Turn!, Jesus is just allright, the ballad of easy rider), Procol Harum (Whiter shade of pale, Conquistador),

(vii) Bob Dylan (Like a rolling stone, Lay lady lay, The times they are a-changing),

(viii) Creedence Clearwater Revival (Susie Q, Bad moon rising, Down on the corner, Proud Mary, Fortunate son),

(ix) Chicago (25 or 6 to 4, I´m a man, Make me smile), Cream (The sunshine of your love, Crossroads e White room), Doors( Hello I love you, Light my fire, Break on through),

(x) Herman´s Hermit´s (There´s a kind of hush, No milk today), Hollies (Bus stop, He ain´t heavy he´s my brother), 

(xi) Manfred Mann (Ha ha said the clown, Mighty Quinn),  

(xii) Jimi Hendrix (Purple haze, Hey Joe), 

(xiii) Steppenwolf (Born to be wild), 

(xiv) Santana (Black magick woman, Samba pa ti) e tantos e tantos outros que seria moroso estar aqui a enumerar.

Nos programas de discos pedidos na Guiné ouviam-se ainda algumas músicas francesas (Adamo, Christophe, Michel Polnareff), italianas (Gianni Morandi) e brasileiras. Uma constante era uma música dos anos 60, dos norte-americanos Rightous Brothers – Unchained melody – que traduziam como a "Melodia do desespero".

Outra que estava na berra e, não sei porquê, me irritava solenemente era um tema brasileiro "Mãe-Ié (O Tonico me bateu), de Sérgio Mallandro, com esta "linda" letra:  

Mãe-iê sabe o que me aconteceu?
Mãe-iê o Tonico me bateu
(Ma ma ma ma ma ma ma mãe-iê sabe o que me aconteceu?
Mãe-iê o Tonico me bateu)
Roubou meu saco de pipoca
Meu pirulito e picolé
E ainda por cima mamãezinha
Deu uma pisada no meu pé
Ai, ai, ai.


(Continua)


Capas: Imagens do domínio público, selecionadas por L.D.
________________

Nota do editor:

(*) Luís Dias, ex-Alf Mil  da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74); webmaster do blogue  Histórias da Guiné 71/74 - A CCAÇ 3491, Dulombi; reformado da Polícia Judiciária

8 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Gostei Luís Dias
Nesse tempo, anos 70 para a frente já estava em Portugal.
Talvez em 69 - ou seria 68? - estávamos na zona do Xime ou Poidon e, se bem me lembro, no Porto Gole o Quinteto Académico tocava mas o IN não gostou e toca de abrir fogo...
Sabes quem é o IN, o Paigc e seus amigos? Pelo que tenho lido ultimamente, aqui e acolá nos escritos do Blogue, parece-me que os maus e os vilões somos nós...Vê tu que até, em Set/73, declararam a independência na abandonada Madina do Boé...Pode ser uma maneira de tratar os dirigentes do Paigc como malucos.Subtilezas...

Um abraço, meu caro camarada e,depois das armas entra na música.
AB T.

Luís Graça disse...

Jimi Hendrix (1937-1970)... Um dos meus favoritos dessa época... Pela sua rebeldia, pela sua guitarra, por ser um "outsider"...

Não sabia que tinha sido paraquedista, pelo menos um ano... Era também um dos preferidos dos soldados americanos no Vietname... .

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jimi_Hendrix

Confesso que, na Guiné, ouvia pouca música (rock ou outra)... Obrigado ao Luís Dias por esta preciosa prenda... Vamos publicar o texto em III Partes.

Henrique Cerqueira disse...

Caro Luís Dias
Na realidade abordaste um tema que de uma forma ou outra também nos marcou durante o tempo de Guiné.
Recordo aqui que sempre que saía em patrulha á noite eu levava um pequeno rádio com auscultadores para no final do dia ouvir o programa das forças armadas " P.I.F.A.s ".Nós o apelidamos de (pifas)e que era durante uma hora transmitido musica Rock e penso que na altura o locutor que nos dava música era o António Sala que mais tarde foi para a RR.
Não sei se estou errado quanto ao Sala ,mas o "pifas"fazia parte dos meus sonhos ,pois sempre que estava instalado nas emboscadas ou operações eu naquela hora,ficava totalmente fora da Guiné e de todo o ambiente que me rodeava.
Boa Luís Dias lembraste bem a nossa era da música.
Um abraço
Henrique Cerqueira

Luís Dias disse...

Camaradas

A música foi uma grande companhia, afinal, para muitos de nós.
Torcato essa do tal IN (PAIGC) não gostar do Quinteto Académico, foi de mais!!!! (Eh!Eh!EH!). Eu é que não tinha grandes meios para ligar a música a uns potente altifalantes e lançar umas músicas mato fora, para que o IN ficasse mais amolecido e embalado...!
Jimi Hendrix é o meu guitarrista número um. De facto Luís, no Viet ele era um dos mais ouvidos. Sabes que nestas últimas guerras (Tempestade no deserto e Iraque) as tropas, em especial as tripulações dos carros de combate punham com frequência músicas de batida forte, quando em confronto com o inimigo.
Caro Henrique conseguiste ir mais longe do que eu, levar música para operações! Olha é o que fazem as tropas americanas hoje em dia. Eu sonhava com música, em especial durante as longas caminhadas (senão estivesse em área de contacto iminente).
Um abraço
Luís Dias

Anónimo disse...

Henrique Cerqueira,

Não nos conhecemos, por isso não coloco em causa a veracidade das afirmações feitas no comentário ao Poste do Luís Dias, mas gostava, se possível, ficar esclarecido que tipo de rádio era e que auscultadores, pois, recordo-me apenas dos rádios tipo maço de cigarros "transistores" e dos ascultadores de um só ouvido, tipo "sonotone". Esta minha dúvida levantou-se pelo poder de captação desses rádios, mais ainda no interior, tal como é referido, em patrulhas ou emboscadas. Admito, contudo, que possa ter sido outro equipamento e auscultadores, que conheço e com os quais trabalhei grande parte do tempo na Guiné, embora admita que tudo isto com peso significativamente diferente e impróprio para transporte nessas ocasiões.
Certamente essa explicação ajudará a melhor percebermos como tudo, à semelhança do que foi pedido ao Hélder Sousa em comentário anterior sobre testes e rádios.
Um Abraço,
BSardinha

Henrique Cerqueira disse...

Camarada BSardinha
É bem vista a tua questão.Sabes que até eu quando estava a escrever o comentário estava a duvidar de mim próprio.No entanto é mesmo verdade que o rádio era um pequeno transistor creio que Philips e o auscultador era de utilizar em uma só orelha,todo branquinho.
Quanto á captação,não me perguntes como possível mas a verdade é que pelo menos na região do Oio Bissorã se apanhava perfeitamente a emissora das forças armadas vulgo Pifas.Na Verdade seria interessante que mais pessoal da tabanqua falasse um pouco sobre este tema,pois que na realidade essa horinha do Pifas era sagradinha.
Bom amigo Sardinha espero ter esclarecido um pouco melhor as duvidas.Falta acrescentar que isto se passava entre 1973/1974.
Um abraço
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Havia o rock e as roketadas
para uns era mais rock
para outros mais roketadas
rock e rocketadas nas emboscadas
fugir das rocketadas nas emboscadas
ouvindo rock no pifas
que pifava muitas vezes lá para o cantanhez
à noite de madrugada ouvia o pbx
ou rádio gloooobo
brama-shop na jogada
vai dando coluna do meio
é banheiiiira
entrouuuu passouuu chutou é goooooll

o que será a porra do brama-shop

recordações ...à falta de melhor, intervaladas com poker de dados

paaaff....paaaff..

merda..."ca.." já não se pode ouvir rádio descansado

Ai..é

BAAANG.FFFF....BAAANG..FFFF...

C.Martins

Kely Sara disse...

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