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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5241: Controvérsias (50): O estranho caso dos três desertores da base naval de Ganturé (Serafim Lobato)

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > Ganturé-Bigene > "NRP Sagitário: 20-12-71. Feliz Natal".O fotógrafo estava lá... Uma foto muito feliz (uma das melhores fotos da guerra colonial!), do Cmdt A. Rodrigues da Costa, gentilmente disponibilizada pelo ex-1º Tenente RN Manuel Lema Santos, membro da nossa tertúlia e webmaster do sítio Reserva Naval.

Da base naval de Ganturé, desertaram 3 grumetes, em 1970. Um caso, que ainda está longe de estar esclarecido, segundo Serafim Lobato, antigo oficial da Reserva Naval que estava nessa altura em Ganturé, tal como o Comandante Calvão. Petite histoire, mas mesmo assim, um caso polémico nomeadamente em relação a dois dos desertores, Ilberto Alfaiate e António Pinto que, infelizmente, não nada poderão acrescentar, de viva voz, porque estão mortos. Resta-nos localizar o José Armindo Sentieiro e convencê-lo a ser ele a contar a sua própria história (*), que parece estar mal contada, tanto pelo nosso lado como pelo lado PAIGC.

Foto: © Manuel Lema Santos (2006) (com a devida vénia ao Cmdt A. Rodrigues da Costa). Direitos reservados.


1. Comentário de Serafim, ex-jornalista de O Público, hoje reformado, e antigo oficial da Reserva Naval, colocado ontem no Poste P2097 (*)

(i) Este comentário peca por tardio. Confesso não ser um visitante assíduo do blogue.

Chamo-me Serafim Lobato. Fui jornalista, hoje reformado, e, na altura da deserção dos grumetes era oficial fuzileiro especial e estava sedeado em Ganturé, tal como eles.

A sua deserção deu-se meia dúzia dias da minha chegada àquela base naval, situada nas margens do rio Cacheu, dois quilómetros para sul da sede do Comando Operacional 3 que, então, era comandado pelo capitão-tenente Alpoim Calvão,que veio a ser o comandante da citada operação[ Op Mar Verde, invasão de Conacri, 22 de Novembro de 1970].

Fui uma testemunha.

Já agora, mea culpa, eu apenas referi a existência de dois desertores e, nisso, Fernando Barata tem razão, eram três. A memória vai falhando.

Os desertores pertenciam a um pelotão independente de fuzileiros navais, que faziam as tarefas logísticas naquela base. Tinham sido punidos pelo comando do COP 3 e estavam a capinar o exterior da mesma, por delitos cometidos. Não eram meninos de coro que debitavam slogans contra a guerra.

Aliás, na ocasião, o comandante Calvão não ficou preocupado com a deserção.

O que me levou a arrebitar as orelhas quando soube que ele [,o Ilberto Alfaiate,] estava a ser "o informador" privilegiado no terreno da Op Mar Verde. Mais arrebitado de orelhas fiquei depois de saber que ele morrera atropelado.

A morte do segundo homem [, o António Pinto,] foi-me transmitida por um oficial participante na Op Mar Verde, próximo do Comandante Calvão, [oficial esse] que já morreu. Eu estava convencido de que era o Pinto, mas, também, poderia ser o Sentieiro.

(ii) Na realidade, fazendo, agora, uma pesquisa na Net sobre a Mar Verde, cujo 40º aniversário passa em 2010, surgiu-me esta informação-comentário no seu blogue de um senhor Fernando Barata (*), muito preocupado com a eventual "especulação" saída num artigo do jornal O Público.

O panfleto do PAIGC, que ele vos entregou, eu tive, na minha posse, um idêntico. Dias depois da deserção, umas largas dezenas foram deixadas em Ganturé. Acrescento uma informação: eu ouvi-os depois na rádio do movimento guerrilheiro [ a Rádio Libertação, em Conacri,] dissertando [sobre] a sua deserção.

(Respeito todos aqueles que desertaram da guerra, como respeito todos aqueles, que, sinceramente, a defenderam e o afirmam publicamente).

Só que a razão da deserção desses homens - que diziam estar contra a guerra, Alfaiate reafirmou-o na rádio PAIGC em Conacri - não se coadunam com o facto descrito pelo comandante Calvão no seu livro De Conakry ao MDLP, no qual assinala que o citado Alfaiate (um dos desertores), libertado pelo PAIGC e colocado em Paris, fora capturado, mas que "ao mesmo tempo se entregou voluntariamente às nossas autoridades, vindo de Conakry há três semanas" (p. 70).

Ora, eu sei por fontes que participaram na Op Mar Verde, que a bordo dos navios que zarparam para a capital guineense em 1970 não ia somente o Alfaiate, mas, pelo menos, um outro.

Eu pensei que era o Pinto, mas podia ter sido o Sentieiro.


(A notícia de que o Pinto apareceu ligado à LUAR e, posteriormente, à segurança do Vasco Gonçalves não me convence, à priori, do seu antifascismo. Os partidos de esquerda estavam cheios de infiltrados).

O Calvão, no livro, chama a Alfaiate "colaborador de valor". Ou seja, sabia coisas. E a Op Mar Verde foi um fracasso político e estratégico.

De recordar que as conversações das autoridades portuguesas com a "oposição" ao regime de Seku Turé, o principal visado da Mar Verde, ocorreram em Paris - onde estava o Alfaiate - e alguns cúmplices do golpe em Conacri eram colaboradores do antigo Presidente da República da Guiné. Ora, Alfaiate foi para Paris, com a conivência do PAIGC e, certamente, de Turé.

Foi o próprio Calvão (****), que me confirmou, em entrevista, que o Alfaite falecera "num desastre de automóvel", e ele [ou isso ?] acontecera antes do 25 de Abril.

(iii) Claro que isto hoje é História. Ora a História da Guerra Colonial não foi limpa, também foi uma guerra suja.

Serafim Lobato

[Revisão / fixação do texto / bold a cor / título: L.G.]

__________

Notas de L:G.:

(*) Vd. poste de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2097: Em busca de... (11): José Armindo Sentieiro, ex-fuzileiro, o único sobrevivente dos três desertores de Ganturé (Fernando Barata)

(...) Por altura da passagem do 30.º aniversário da operação Mar Verde pela pena de [o jornalista] Serafim Lobato, apresentou o jornal Público um artigo evocando a efeméride. Por attachment estou a enviar-te um subtítulo desse mesmo trabalho (Duas estranhas deserções que acabaram em morte).[Recorde de imprensa, digitalizado, sem data: Novembro de 2000. Artigo assinado por S.L.]

Pedia-te que regressasses ao Poste n.º 1496 do nosso Blogue [**]. Nele está o panfleto que te fiz chegar e no qual o PAIGC refere terem-se entregue, não dois mas sim três fuzileiros, concretamente, António Pinto, José Sentieiro e Ilberto Alfaiate.

A notícia [do Serafim Lobato] procura especular quanto à morte estranha, já em Portugal, num acidente rodoviário, do Ilberto Alfaiate e igualmente refere que “o segundo desertor também faleceu em condições não muito claras”.

No Poste n.º 1560 [***], o João Tunes relata ter conhecimento que o António Pinto faleceu há quatro anos. Por outro lado o artigo do Público tem data de Novembro 2000. Assim sendo a sua morte teria ocorrido há mais de sete anos. Mas, não é essa discrepância que é importante. O importante seria ouvir o fuzileiro que resta: José Armindo Sentieiro, para que este esclarecesse em que condições se deu a deserção. Quem poderá ajudar a localizar o Sentieiro? (...)

(**) Vd poste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

(***) Vd. poste de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)


Vd. também poste de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2098: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): Proposta retirada (João Tunes / João Bonifácio)


(****) Alpoim CALVÃO (e não Galvão) como aparece, erradamente, em vários postes do nosso blogue (e, aliás, noutros sítios, na Net), por vulgar erro de simpatia. As nossas desculpas ao próprio, que foi nosso camarada da Marinha, de seu nome completo Guilherme Almor de Alpoim Calvão. Tão rápido quanto possível iremos corrigir esse lamentável erro.

Vd. Wikipédia > Guilherme Almor de Alpoim Calvão

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2097: Em busca de... (11): José Armindo Sentieiro, ex-fuzileiro, o único sobrevivente dos três desertores de Ganturé, em 1970 (Fernando Barata, ex-alf mil, CCAÇ 2700, Dulombi, 1970/72)


Senegal > PAIGC> Panfleto do PAIGC > s/d > Três fuzileiros portugueses que desertaram da base naval de Ganturé, COP 3, na região do Cacheu. Legenda: "A satisfação dos fuzileiros navais Pinto, Alfaiate e Sentieiro, fotografados em lugar seguro, após terem abandonado a base fluvial de Ganturé".

Documento digitalizado que nos chegou, em 2007, por mão do Fernando Barata, ex-alf mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (*). Na imagem, de péssima qualidade , o alentejano António José Vieira Pinto é o do meio, identificado por um amigo (no blogue Água Lisa, do João Tunes).  O Alberto Costa Alfaiate seria o da esquerda e o José Armindo Sentieiro, o da direita.


Foto: © Fernando Barata (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]

1. Mensagem, com data de 11 de maio de 2007, de Fernando Barata, ex-alf mil,  CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72):

Caro Luís Graça

Por altura da passagem do 30.º aniversário da operação Mar Verde pela pena de [o jornalista] Serafim Lobato, apresentou o jornal Público um artigo evocando a efeméride. Por attachment estou a enviar-te um subtítulo desse mesmo trabalho (Duas estranhas deserções que acabaram em morte).

Pedia-te que regressasses ao poste n.º 1496 do nosso Blogue  (*). Nele está o panfleto que te fiz chegar e no qual o PAIGC refere terem-se entregue, não dois mas sim três fuzileiros, concretamente, António Pinto, José Sentieiro e Alberto Alfaiate.

A notícia [do Serafim Lobato] procura especular quanto à morte estranha, já em Portugal, num acidente rodoviário, do Alberto Alfaiate e igualmente refere que “o segundo desertor [, António Pinto,] também faleceu em condições não muito claras”.

No poste n.º 1560 (**), o João Tunes relata ter conhecimento que o António Pinto faleceu há quatro anos. Por outro lado,  o artigo do Público tem data de novembro 2000. Assim sendo a sua morte teria ocorrido há mais de sete anos. 


Mas, não é essa discrepância que é importante. O importante seria ouvir o fuzileiro que resta: José Armindo Sentieiro, para que este esclarecesse em que condições se deu a deserção. Quem poderá ajudar a localizar o Sentieiro?

Um abraço do

Fernando Barata

_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

(**) Vd. poste de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

sábado, 2 de julho de 2005

Guiné 63/74 - P91: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso Sousa)

Texto de Afonso M. F. Sousa , ex-furriel miliciano de transmissões da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)

A minha companhia fazia parte integrante do COP 3 (com sede em Bigene, onde fizemos o treino operacional entre 31/8/68 e 14/10/68; depois foi a partida para Binta e Guidage).

Entrámos em Guidage em 17/10/1968, a substituir a CART 1648. Mais tarde referirei os dados cronológicos respeitantes à minha CART 2412, que inclui também a sua permanência (até ao termo de missão) em Barro (que o sr. Coronel A. Marques Lopes bem conhece e aonde voltou em 1998).

Porque aqui se fala de COP 3, Guidage e Barro, achei interessante esta crónica, que vocês já conhecem, dos "relatórios secretos sobre a Guiné colonial".

Guidage tinha uma importância extrema tanto para nós como para o IN. Já tínhamos consciência disso quando lá entrámos. E aí está o que se veio a passar em 1973... com a ofensiva do PAIGC contra Guidage (no Norte)e Guileje e Gadamael (no Sul)... Os três G que, na opinião do historiador guineense, Leopoldo Amada, terão decidido "o final do império colonial"...

Publica-se a seguir um texto, do jornalista Serafim Lobato, em que se divulgam pela primeira vez os relatórios secretos sobre a batalha de Guileje e Gadamael, uma peça importante para a compreensão da história da guerra colonial e do seu fim. O texto esteve originalmente disponível no sítio do Publico.pt. Está também publicado no blogue História e Ciência > Relatórios secretos sobre a Guiné colonial. Algumas das noats, em parêntesis rectos, são da nossa responsabilidade (A.S., Afonso Sousa).
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"Estamos Cercados por Todos Os Lados"
Por SERAFIM LOBATO
Público. Domingo, 28 de Dezembro de 2003

As Forças Armadas portuguesas começaram, há 30 anos, a sofrer os primeiros efeitos visíveis de desagregação na Guiné-Bissau, quando quartéis de fronteira estiveram cercados em combates prolongados e alguns foram abandonados (definitiva ou temporariamente) por efeito directo de assédios bem sucedidos de unidades guerrilheiras do PAIGC. Pela primeira vez são divulgados relatórios que permitem reconstruir a batalha de Guileje e Gadamael, que antecedeu a saída de Spínola da Guiné e o reconhecimento deste país pela ONU.

No mês de Maio de 1973, a guerrilha guineense efectuou 220 acções militares em todo o território operacional da Guiné-Bissau e concentrou os seus esforços militares em quartéis de fronteira, visando, em primeiro lugar, a desmoralização dos soldados e, em paralelo ou posteriormente, a conquista territorial.

A 8 de Maio, o PAIGC lançou uma ofensiva concentrada de envergadura contra Guidage, unidade situada mesmo junto à linha de fronteira com o Senegal, fazendo parte de uma quadrícula militar de vários agrupamentos a norte do rio Cacheu que ia, a oeste, até Barro, sob um comando operacional único (COP 3) com sede em Bijene. Comportava unidades do Exército e da Marinha, estas estabelecidas na base fluvial de Ganturé [comandada por Alpoim Galvão; junto ao Rio Cacheu e em cujo ancoradouro se sai para ir para Bigene que fica a 2,8 Km para Norte. Nota de A.S.]

Na defesa de Guidage, o comando chefe da Guiné teve de enviar para a zona um conjunto elevado de grupos e destacamentos de tropas especiais, comandos, pára-quedistas e fuzileiros, bem como unidades de artilharia e mesmo de cavalaria. A guarnição local, quando começou o cerco, era constituída por uma companhia de Caçadores e por um pelotão de artilharia, equipado com obuses de 10,5 mm - logo, cerca de 200 homens.

Na operação de auxílio, reabastecimento e contra-ofensiva, que durou de 8 de Maio a 8 de Junho de 1973, estiveram envolvidos mais de mil homens (na maioria tropas especiais) das Forças Armadas portuguesas, em terra, mar e ar, conforme assinalam os coronéis Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, no seu livro Guerra Colonial.

As forças portuguesas tiveram 39 mortos e 122 feridos. Pelo menos seis viaturas militares de vários tipos foram destruídas e foram abatidos três aviões (um T6 e dois DO27). Só a unidade de Guidage contabilizou sete mortos e 30 feridos, todos militares. Nos cerca de 20 dias que ficou cercada, Guidage esteve sujeita a 43 ataques com foguetões de 122 m/m, artilharia e morteiros.

Todos os edifícios do quartel foram danificados. A unidade, que, no conjunto, teve mais mortos foi o Batalhão de Comandos: dez. Sofreu ainda 22 feridos, quase todos graves, e três desaparecidos.


Restrições ao apoio aéreo

A 18 de Maio, a sul, junto à raia com a Guiné-Conacri, verificou-se que havia uma concentração de forças guerrilheiras em redor de Guileje que apontava para uma tentativa de tomada do quartel.

Refere um relatório do comando chefe das Forças Armadas da Guiné (Repartição de Operações), assinada pelo seu chefe, tenente-coronel Pinto de Almeida, agora tornado público, que sintetiza a actividade do COP 5 (área militar que enquadrava Guileje) entre 18 de Maio e 21 Maio de 1973, que, no primeiro dia, "durante a execução duma coluna de reabastecimento, as NT [nossas tropas] foram fortemente emboscadas por duas vezes, a cerca de dois km de Guileje, tendo sofrido um morto (comandante do pelotão de milícias de Guileje), sete feridos graves (cinco milícias do Pel Mil Guileje) e quatro feridos ligeiros (um miliciano do Pel Mil Guileje). Por falta de evacuação aérea, um dos feridos graves (soldado metropolitano) faleceu quatro horas depois da emboscada".

A falta de movimentação aérea não resultava de qualquer contratempo momentâneo. Eis a confissão do próprio comando chefe: "A partir de 06Abr73, o apoio aéreo no TO [território operacional] da Guiné sofreu grandes limitações impostas pelo aparecimento de foguetes antiaéreos eficazes, utilizados pelo inimigo, pelo que, no que se refere ao COP 5, foi determinado, em 27Abr73, o cancelamento de evacuações a partir de Guileje e Gadamael. O apoio de fogos aéreos às forças terrestres sofreu também, a partir da mesma altura, fortes restrições". (Os mísseis terra-ar Strella foram utilizados, pela primeira vez, a 5 de Abril, tendo sido atingido um avião Fiat G 91, pilotado pelo tenente Pessoa).

O comandante do COP 5, major Coutinho e Lima, enviou mensagens a alertar para a gravidade da situação. Informou que "a não satisfação do pedido de apoio de fogos, (...) bem como a não execução das evacuações" tinha causado "mal-estar no pessoal".

Às 20h desse dia 18, o PAIGC "iniciou as flagelações a Guileje". Horas depois, às 02h20, o COP 5 solicita apoio urgente, pois estava debaixo de fogo contínuo. "Foi-lhe respondido em 19 00h30 - assinala o relatório do comando chefe - que a força aérea se encontrava totalmente empenhada noutra área do TO e que seria efectuado o apoio aéreo logo que possível."


Cercados

O major Coutinho e Lima pede para expor directamente o assunto ao general Spínola. Reticente, este aceita recebê-lo em Bissau ao fim da tarde do dia 20. "Não foi satisfeito o seu pedido de [apoio] de uma companhia, tendo-lhe sido determinado que regressasse ao COP 5, onde seria substituído no comando", acrescenta o relatório.

Coutinho Lima envia uma mensagem às companhias de Cacine, Gadamael e Guileje,
"preparando a sua ida de Cacine para Guileje".

"Em 21 07h40, a Companhia de Cavalaria 8350 [Guileje] respondeu [ser] impossível cumprir o determinado no que se referia à sua colaboração no transporte do major Coutinho Lima de Cacine para Guileje. Foi-lhe dito em 21 10h26 que o comandante da companhia seria responsabilizado pelo não cumprimento dessa ordem", pode ler-se no relatório do comando chefe.

Igualmente a Companhia de Gadamael se opõe a destacar homens para levar o comandante de COP5 para Guileje.

Às 14h15 do dia 21, é recebida, em Gadamael, a última mensagem de Guileje: "Estamos cercados de todos os lados." Seguiu-se o silenciamento das comunicações de e com o quartel. Às 05h30 do dia 22, Guileje foi evacuada.

Uma mensagem, enviada dois dias depois de Gadamael, informava que de Guileje não foi "recolhida qualquer viatura", e especificou: um camião Mercedes, quatro Berliet, três Unimog 404, 1 Unimog 411, 1 jipe, um veículo de cavalaria Fox, dois White, que teriam sido "destruídos parcialmente". Ficaram ainda no terreno, segundo a mensagem, três morteiros 81, um morteiro 10,7 cm, bem como duas bazucas de 8,9, dois morteiros de 60, três metralhadoras Breda e sete G3, que foram danificadas ou destruídas, mas sete pistolas-metralhadoras FBP ficaram para trás "não destruídas" e pelo menos quatro G3 desaparecidas.

Uma mensagem-relâmpago do comando chefe dirigida à Companhia 4734, com data do dia 22, ressaltava o seguinte: "Solicito que informe comandante CAOP 3, coronel Ferreira Durão, que sua excelência o general comandante-chefe determinou que seja retirado imediatamente do comando do COP5 o major de artilharia Alexandre da Costa Coutinho e Lima e mandado apresentar QG/CCFAG para efeito de auto de corpo de delito."

Entre 18 e 22 de Maio, Guileje foi bombardeada 36 vezes. Uma mensagem de 21 de Maio descreve que o interior do aquartelamento tinha sido atingido durante uma flagelação com 200 impactos de granadas, que causaram "grandes danos materiais". Indica, nomeadamente, que foram destruídos todas as antenas de transmissões, dois depósitos de géneros, o forno da cozinha, tabancas, celeiros, arroz da população, havendo abrigos atingidos e danificados, bem como a secretaria, depósitos de artigos da cantina. Impactos houve que acertaram mesmo em valas-abrigos.


"Pessoal fugiu para o mato"

Após a retirada das tropas portuguesas de Guileje para Gadamael, este quartel ficou com um dispositivo de duas companhias (Caçadores 4743 e Cavalaria 8350) e ainda dois grupos da Companhia de Caçadores 3520, um pelotão de canhões sem recuo com cinco peças, um pelotão de reconhecimento, com apenas um veículo com autometralhadora White, mais um pelotão de artilharia com cinco obuses de 14 e um pelotão de milícias. Um outro pelotão de milícias estava reduzido a uma secção.

Depois do afastamento do major Coutinho e Lima, assumiu o comando do COP 5 o capitão Ferreira da Silva.

Gadamael, entre o meio-dia de 31 de Maio e o fim da tarde de 2 de Junho, esteve debaixo de fogo de armas pesadas e ligeiras continuadamente, tendo sido referenciados disparos de morteiros de 120 m/m, canhões sem recuo e lança-granadas foguete, com um número de rebentamentos estimado "em cerca de 700", conforme mensagens enviados pelo COP 5 para o quartel-general em Bissau. Os soldados tiveram cinco mortos e 14 feridos e os prejuízos materiais foram avultados.

No dia 1 de Junho, a Companhia de Caçadores 3520, de Cacine, transmitiu a seguinte mensagem: "Informo Gadamael Porto destruído. Feridos e mortos confirmados. Pessoal daquele fugiu para o mato. Solicito providências e instruções concretas acerca procedimento desta."

De imediato, Bissau determinou que tropas pára-quedistas, que se encontravam em Cufar, seguissem para Gadamael.

Ao final do dia 1 de Junho, uma mensagem vinda de Gadamael referia que, apesar da debandada, um grupo de tropas ainda se mantinha no quartel, mas que "centro cripto tinha sido destruído". A mensagem especificava ainda que "aquartelamento estava parcialmente destruído", com transmissões "deficientes" e que a "rede de arame [farpado] fora destruída parcialmente" e terminava com um apelo lancinante:
"situação gravíssima".

A 2 de Junho, Bissau mandava mais uma companhia de pára-quedistas de reforço, juntamente com um pelotão de artilharia com obuses de 14 cm. O comando do COP 5 passou para o major pára-quedista Pessoa.

Entretanto, nesse dia, a companhia de Cacine mudava de comando, que era atribuído ao capitão Manuel Monge, e a lancha de fiscalização grande (LFG) Orion informava que meios navais recolhiam "militares e elementos da população refugiados no tarrafo, na região da confluência do rio Cacine com o rio Cachina, num total de 300 indivíduos (alguns feridos ligeiros)".


"Pessoal fortemente traumatizado"

Nos dias 3 e 4 de Junho, Gadamael esteve sujeita a flagelações continuadas (mais de 200 rebentamentos) do PAIGC, com morteiros de 120 e canhões sem recuo. As mensagens consultadas assinalam, pelos menos, a existência de seis mortos e oito feridos nesses dias e a perda de três espingardas G3 e um rádio AVP 1.

O capitão Manuel Monge, no dia 4, pede ao quartel-general a "presença imediata" em Cacine de "entidade desse, fim estudar situação Gadamael Porto".

O general Spínola responde-lhe que "o estudo da situação já tinha sido apresentado pelo coronel Durão e que eram impossíveis os contactos pessoais diários". Duas horas depois, uma nova mensagem de Monge ressalta que "situação Gadamael Porto agrava-se aceleradamente" e pede: "Contacto, fim capitão Monge expor a situação e parecer comandante de COP."

O capitão Manuel Monge seguiu para Bissau no dia seguinte, mas ao final do dia 4 uma mensagem do comandante do COP 5 enfatizava: "Situação em Gadamael Porto é insustentável." E solicitava autorização "para se efectuar retirada ordenada" nos meios navais existentes neste. "Ou então - frisava - a minha imediata substituição no comando do COP 5." No final, uma confissão: "Nem tenho conseguido encontrar soluções que me permitam prosseguir."

À meia-noite desse dia, o quartel-general respondia: "Enquanto não for substituído, continua cumprimento da sua missão de defesa a todo o custo, incutindo moral aos seus soldados."

Além de todo o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas no terreno, estavam no local várias unidades da Marinha de Guerra e um grupo de assalto de fuzileiros africanos. O comando do Task Group 6 referia, em mensagem, no dia 5, que quatro botes do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22, embarcações do Exército e meios das unidades navais tinham efectuado as evacuações de mortos e feridos e ainda de um "número incontrolável" de fugitivos (civis e militares) encontrados à entrada do rio para Gadamael.

"Pessoal encontrado fortemente traumatizado psicologicamente devido situação alarmante Gadamael", terminava a mensagem.

Nesse dia, o comandante do COP 4, tenente-coronel Araújo e Sá, assumiu o comando do COP 5, ficando o major Pessoa como adjunto.

As unidades militares portuguesas sofreram, neste assédio a Gadamael, 24 mortos e 147 feridos.


Spínola deixa Bissau

O general António de Spínola, que assumira, em 1968, os cargos de governador e comandante-chefe das Forças Armadas portuguesas na Guiné-Bissau, com o objectivo de evitar que o "processo subversivo" guineense se alastrasse e contaminasse, numa "atitude irreversível", as situações em Angola e Moçambique, abandonou aquelas funções em 8 de Agosto de 1973, com a Guiné-Bissau, reconhecida pela ONU em Novembro. Foi substituído a 25 de Agosto pelo general Bettencourt Rodrigues.

No TO da Guiné, o efectivo castrense português atingia os 42 mil homens e o PAIGC enquadrava, segundo os serviços de informação militar, sete mil guerrilheiros.

A 21 de Agosto, um grupo de oficiais reuniu-se em Bissau para aprovar uma exposição contestando um decreto-lei publicado a 13, relativo à carreira de oficiais do Exército.

Cerca de três semanas depois, a 9 de Setembro, começou, em Évora, com uma reunião o Movimento dos Capitães, e o PAIGC, a 21 desse mês, proclamava unilateralmente a independência em Madina de Boé, região abandonada pelas Forças Armadas portuguesas desde Fevereiro de 1969.

O Movimento de Capitães reúne-se em Lisboa a 6 de Outubro e ali se coloca, pela primeira vez, a hipótese de usar a força para derrubar o regime de Marcelo Caetano.

Este está em crise no mês de Novembro e realiza uma remodelação ministerial - substitui o general Sá Viana Rebelo pelo académico Silva Cunha no Ministério da Defesa Nacional, assumindo Baltazar Rebelo de Sousa o departamento governamental do Ultramar - procurando esfriar a agitação entre a baixa oficialagem.

Mas a crise castrense está incontrolável: a 5 de Dezembro realiza-se, na Costa da Caparica, a primeira reunião da Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães, eleita em Óbidos, onde é escolhida a sua direcção executiva: Vasco Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves. O golpe de Estado que veio a culminar em 25 de Abril de 1974 estava em marcha.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16675: Inquérito 'on line' (80): a avaliar pelas 80 respostas até às 19h00 de hoje, só uma minoria (15%) refere a existência de casos de deserção (13) na sua unidade (companhia ou equivalente), no TO da Guiné. O prazo de resposta termina amanhã às 15h34. Vamos tentar chegar à centena de respostas...



Guiné > Região do Cacheu  > COP 3 > Base de Canturé > CF (Companhia de Fuzileiros] 10  (1969/71) >  O grumete José Sentieiro é o quarto a contar da esquerda.  

Foto da  página do José Sentieiro no Facebook. (Com a devida vénia...)


O José Sentieiro é um dos três fuzileiros que desertou da base de Canturé em 1970.  E é o único que está vivo:  natural de Torres Novas, é empresário no Brasil. vive em Eusébio, Ceará, e tem página no Facebook [José Sentieiro].  Já nos contactou e já o contactámos, mas ainda não temos a sua versão dos factos, relacionados com a sua deserção.



Senegal > PAIGC> Panfleto do PAIGC > s/d > Três fuzileiros portugueses que desertaram da base naval de Ganturé, COP 3, na região do Cacheu.  Legenda: "A satisfação dos fuzileiros navais Pinto, Alfaiate e Sentieiro, fotografados em lugar seguro, após terem abandonado a base fluvial de Ganturé".

Documento digitalizado que nos chegou, em 2007,  por mão do Fernando Barata, ex-alf mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (*).

Na imagem, de péssima qualidade , o alentejano António José Vieira  Pinto é o do meio, identificado por  um amigo (no blogue Água Lisa, do João Tunes).  O Alberto Costa Alfaiate seria o da esquerda e o José Armindo, o da direita.  

Foto: © Fernando Barata (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"NA MINHA UNIDADE (COMPANHIA OU EQUIVALENTE) NÃO HÁ CASOS DE DESERÇÃO"


Os 80 primeiros resultados (às 19h00 de hoje) 




1. Nenhum, na metrópole > 40 (50%)

2. Nenhum, no TO da Guiné  > 51 (63%)


3. Um, na metrópole  > 15 (18%)



4. Dois, na metrópole  > 4 (5%)


5. Três ou mais, na metrópole  > 3 (3%)

6. Um, no TO da Guiné  > 11 (13%)

7. Dois, no TO da Guiné  > 1 (1%)

8. Três ou mais, no TO da Guiné  > 0 (0%)




O prazo de resposta termina 5ª feira, dia 3, às 15h34 (**).

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

Vd. também postes de:

3 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2097: Em busca de... (11): José Armindo Sentieiro, ex-fuzileiro, o único sobrevivente dos três desertores de Ganturé (Fernando Barata)

9 de novembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5241: Controvérsias (50): O estranho caso dos três desertores da base naval de Ganturé (Serafim Lobato)

(...) Chamo-me Serafim Lobato. Fui jornalista, hoje reformado, e, na altura da deserção dos grumetes era oficial fuzileiro especial e estava sedeado em Ganturé, tal como eles.

A sua deserção deu-se meia dúzia dias da minha chegada àquela base naval, situada nas margens do rio Cacheu, dois quilómetros para sul da sede do Comando Operacional 3  [COP 3] que, então, era comandado pelo capitão-tenente Alpoim Calvão, que veio a ser o comandante da citada operação [ Op Mar Verde, invasão de Conacri, 22 de novembro de 1970].

Fui uma testemunha. (...) Os desertores pertenciam a um pelotão independente de fuzileiros navais, que faziam as tarefas logísticas naquela base. Tinham sido punidos pelo comando do COP 3 e estavam a capinar o exterior da mesma, por delitos cometidos. Não eram meninos de coro que debitavam slogans contra a guerra. Aliás, na ocasião, o comandante Calvão não ficou preocupado com a deserção. (...) 

O panfleto do PAIGC, que ele [, Fernando Barata,] vos entregou, eu tive, na minha posse, um idêntico. Dias depois da deserção, umas largas dezenas foram deixadas em Ganturé. Acrescento uma informação: eu ouvi-os depois na rádio do movimento guerrilheiro [ a Rádio Libertação, em Conacri,] dissertando [sobre] a sua deserção. (...)

 Só que a razão da deserção desses homens - que diziam estar contra a guerra, Alfaiate reafirmou-o na rádio PAIGC em Conacri - não se coadunam com o facto descrito pelo comandante Calvão no seu livro 'De Conakry ao MDLP', no qual assinala que o citado Alfaiate (um dos desertores), libertado pelo PAIGC e colocado em Paris, fora capturado, mas que "ao mesmo tempo se entregou voluntariamente às nossas autoridades, vindo de Conakry há três semanas" (p. 70).

Ora, eu sei por fontes que participaram na Op Mar Verde, que a bordo dos navios que zarparam para a capital guineense em 1970 não ia somente o Alfaiate, mas, pelo menos, um outro. Eu pensei que era o Pinto, mas podia ter sido o Sentieiro. (A notícia de que o Pinto apareceu ligado à LUAR e, posteriormente, à segurança do Vasco Gonçalves,  não me convence, à priori, do seu antifascismo. Os partidos de esquerda estavam cheios de infiltrados.)

O Calvão, no livro, chama a Alfaiate "colaborador de valor". Ou seja, sabia coisas. (...)

(**) Último poste da série > 1 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16665: Inquérito 'on line' (79): Com 60 respostas, até ontem às 18h, e a dois dias de "fecharem as urnas", temos apenas 11 casos de deserção no CTIG... Precisamos de chegar às 100 respostas... e nomear a(s) companhia(s), no CTIG, em que tenha havido um ou mais casos de desertores, antes do embarque e/ou depois do embarque: depoimentos, precisam-se!

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1478: Unidades de Guileje: Coutinho e Lima, ligado ao princípio e ao fim (Nuno Rubim)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCav 8350 > 1973 > O helicanhão, num recuerdo do nosso camarada Casimiro Carvalho.

Foto: © José Casimiro Carvalho (2006). Direitos reservados.


Mensagem do Nuno Rubim, com data de ontem:

Caro Luís:

Um dia muito produtivo e ... instrutivo, no AHM - Arquivo Histórico Militar (1).

Relativamente às Companhias que estiveram em Guileje verifiquei o seguinte ( ainda há vários aspectos sujeitos a confirmação , até porque não tive oportunidade de consultar todos os processos) :

(i) Afinal e para surpresa minha, ainda sobreviveram documentos oficiais que permitem ter uma ideia bastante aproximada da suas histórias. Mas não existem os relatórios de operações redigidos pelos comandantes, peças essas fundamentais !

(ii) Se a isso juntarmos os testemunhos individuais que têm sido transcritos no teu blogue ( e aqueles que ainda surgirão.. ), já fico muito mais satisfeito, como interessado que sou na nossa história.

(iii) De todas essas unidades a única sobre a qual nada consta é, para minha eterna vergonha, uma das duas que lá comandei, a CCAÇ 1424 ! Mas se se souber o que foi o final da minha 1ª
comissão na Guiné, isso talvez não surpreenda ..., até porque a companhia ainda lá ficou, sendo devolvida ao seu comandante de origem ...

(iv) Embora ainda sob reservas, a história da CCAÇ 3477 (os Gringos de Guileje ), foi a mais completa que me foi dada analisar, detalhada, bem redigida, objectiva, com interessantes pormenores, enfim ... excelente ! A sua redacção foi, sem dúvida, elaborada pelo seu comandante, o Cap Mil Grad Abílio Delgado, ferido em combate em 24 de Julho de 1972.

(v) A 1ª unidade a ir para lá foi um GC [Grupo de Combate9 reforçado da CART 494, em Jan / Fev de 1964. A Companhia estava a instalar o quartel em Gadamael. Só mais tarde é que um grupo da CART 495, em final de Fevereiro, foi reforçar a guarnição até à chegada das primeiras forças da CCAÇ 726, em 31 de Outubro, permanecendo ainda algum tempo em sobreposição.

A CART 494 era comandada pelo então Capitão... Coutinho e Lima, que assim fica para sempre ligado ao início e fim de Guileje (2) ...

Se algum desejar rectificar ou ampliar as informações acima fornecidas agradeço.

Um abraço

Nuno Rubim

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 7 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1408: Vamos salvaguardar a(s) nossa(s) memória(s), apoiando a Liga dos Amigos do Arquivo Histórico Militar (Luís Graça / Nuno Rubim)

Instalações do AHM:

Arquivo Histórico Militar
Largo dos Caminhos de Ferro, 2
1100-105 Lisboa.

COP5 o major de artilharia Alexandre da Costa Coutinho e Lima, comandante do COP 5, na altura da batalha de Guilehe e Gadamael: Vd. posts de

2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa / Serafim Lobato)

Reprodução da reportagem "Estamos Cercados por Todos Os Lados", de Serafim Lobato.
Público. Domingo, 28 de Dezembro de 2003.

15 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1431: Guileje: Quem (e quando) construiu os abrigos de cimento armado (Pepito / Nuno Rubim)

Pepito escreveu: (...) "Como vou aí na 3ª semana de Fevereiro [de 2007], gostaria de contactar com o [Coronel] Coutinho Lima, último Comandante do quartel de Guiledje [ou, melhor, do COP 5], elemento determinante do nosso projecto.(...) "

Vd. ainda os posts:

14 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1174: Três homens de Guileje: Nuno Rubim, Zé Neto e Pepito (Luís Graça)


15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P870: Ideias para um diorama do quartel ou quartéis de Guileje (Nuno Rubim)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11870: O que é feitio de ti, camarada ? (2): Afonso M. F. Sousa, residente em Maceda, Ovar, ex-fur mil, trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje, Barro, 1968/70)



Guiné > Região do Cacheu > Barro > CART 2412 (1968/70) > O Furriel Miliciano de Transmissões Afonso M. F. Sousa junto ao centro cripto, cuja entrada é galhardamente protegida por bidões de areia, pintados de branco... Na realidade, o centro cripto era uma espécie de cofre forte dos nossos aquartelamentos, o santos dos santos, o mais misterioso recôndito da pátria lusa naquele pedaço de terra onde flutuava a bandeira das quinas... Neste caso onde só entrava o Afonso e o seu cabo cripto... Mais prosaicamante ele legendou a foto nestes termos: "fotografia deste jovem de então que, como responsável pelo centro cripto, aqui se apresenta de vigília (!) a esse espaço restrito e de seguras (?) confidencialidades ou secretismos".


Guiné > Região do Cacheu > Barro > CART 2412 (1968/70) > Localização do monumento de homenagem ao 1º Cabo Enfermeiro Silva, morto em combate em Bigene, a 21 de Setembro de 1968... O monumento, sob a sombra tutelar de um enorme mangueiro, está sinalizado na foto, com seta e legenda. O  edificio que se vê à esquerda (e hoje desaparecido), era a caserna de soldados e o depósito de
géneros. Repare-se no mangueiro cuja ramagem, à esquerda, atingia toda a largura da estrada (Barro-Bigene), e à direita camuflava todo o edifício da secretaria, comando, oficiais e centro cripto.





Guiné > Região do Cacheu > Barro > CART 2412 (1968/70) > Um monumento erigido à memória do 1º Cabo Enfermeiro Silva e que foi destruído a seguir à independência .

Fotos (e legendas): © Afonso M.F. Sousa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1.  A primeira vez que se falou dos três G - Guidaje, Guileje, Gadamael  (*)- , no nosso blogue, foi há mais de 7 anos atrás, em poste (o nº 41) de 2 de julho de 2005, da autoria de Afonso M. F. Sousa , ex-fur mil trms da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70), e em que se reproduziu o texto, já sobejamente conhecido,  de Serafim Lobato, jornalista, e antigo fuzileiro especial, "Estamos cercados por todos os lados", editado no Público, 28/12/2003. 

O nosso camarada Afonso Sousa reside em Maceda, Ovar,  e foi um dos tertulianos mais ativos no nosso blogue na I Série (**). De resto, continuou  a colaborar na a II Série do nosso blogue (iniciada em 1 de junho de 2006), tendo organizado diversos dossiês. [Vd. marcador Afonso Sousa.]

Deixou, entretanto,  de dar "sinais de vida", talvez por cansaço, saturação ou desinteresse, por volta de 2010. Continua, todavia,  a ter o endereço de email válido, e mandar-nos as boas festas todos os anos. Espero que ele esteja bem de saúde, que ele continue a ler-nos com prazer  e que se sinta com vontade para voltar a sentar-se, mais vezes,  no nosso bentém, à volta do poilão da Tabanca Grande. Curiosamente, não temos nenhuma atual do Afonso Sousa,  o que pode significar que ele quer manter a sua reserva de intimidade.

Com esta nova série ("O que é feito de ti, camarada ?"), queremos procurar reatar contactos com membros da nossa Tabanca Grande que nos últimos anos têm andado mais arredios do blogue. O Afonso fazia da lista dos 111 magníficos que transitaram da I para a II Série do nosso blogue. Na altura, eram  mais conhecidos como "tertulianos", membros da nossa tertúlia, hoje Tabanca Grande.

Entretanto, reproduzem-se a seguir excertos de alguns postes que o camarada Afonso M.F. Sousa [, ou Afonso Sousa,] publicou na I Série. 

(i) Afonso Sousa, ex-fur mil trms, CART 2412 (1968/70)

A minha companhia fazia parte integrante do COP 3 (com sede em Bigene, onde fizemos o treino operacional entre 31/8/68 e 14/10/68; depois foi a partida para Binta e Guidage).

Entrámos em Guidage em 17/10/1968, a substituir a CART 1648. Mais tarde referirei os dados cronológicos respeitantes à minha CART 2412, que inclui também a sua permanência (até ao termo de missão) em Barro (que o sr. Coronel A. Marques Lopes bem conhece e aonde voltou em 1998).

Porque aqui se fala de COP 3, Guidage e Barro, achei interessante esta crónica, que vocês já conhecem, dos "relatórios secretos sobre a Guiné colonial".

Guidage tinha uma importância extrema tanto para nós como para o IN. Já tínhamos consciência disso quando lá entrámos. E aí está o que se veio a passar em 1973... com a ofensiva do PAIGC contra Guidage (no Norte)e Guileje e Gadamael (no Sul)... Os três G que, na opinião do historiador guineense, Leopoldo Amada, terão decidido "o final do império colonial"...

Publica-se a seguir um texto, do jornalista Serafim Lobato, em que se divulgam pela primeira vez os relatórios secretos sobre a batalha de Guileje e Gadamael, uma peça importante para a compreensão da história da guerra colonial e do seu fim (*). O texto esteve originalmente disponível no sítio do Publico.pt. Está também publicado no blogue História e Ciência > Relatórios secretos sobre a Guiné colonial. Algumas das notas, em parêntesis rectos, são da nossa responsabilidade (A.S., Afonso Sousa) [e/ou do editor].

(ii) COP 3

Um pelotão da CCAÇ 3 (onde também esteve, em 1968, o nosso camarada A. Marques Lopes) reforçou a CART 2412, quando esta se instalou em Guidage. Esse pelotão era comandado pelo Alferes Gonçalves.

Esta CART 2412 integrava-se no COP 3 (comando do Major Correia de Campos, em Bigene).

O COP 3 constituia uma quadrícula militar de vários agrupamentos a norte do rio Cacheu, entre Barro, a Oeste, e Guidage (Farim), a Nordeste. Comportava unidades do Exército e da Marinha, estas estabelecidas na base fluvial de Ganturé (Fuzileiros navais, sob o comando de Alpoim Calvão), junto ao Rio Cacheu, cujo ancoradouro dá saída para Bigene (2,8 Km, para Norte).

O COP 3 tinha por missão fundamental a eliminação ou amputação dos corredores entre a faixa fronteiriça do Senegal e as densas (e quase impenetráveis) matas do Óio, em cujo coração se situava a base do PAIGC, de Morés.

(iii) O gen Spínola que eu conheci

Caríssimo Coronel A Marques Lopes: Foi por uma lista na Net que localizei o Alferes Gonçalves. Como se referia à CCAÇ 3, contactei-o telefonicamente, para lhe perguntar se conhecia Guidage.

Surpreendentemente a resposta dele foi esta: acompanhei a vossa companhia (CART 2412) no trajecto Binta-Guidage, quando vocês se deslocaram para lá pela primeira vez. Comandava um pelotão da CCAÇ 3 que ficou em Guidage como reforço da vossa CART.

Eu (talvez pelos 37 anos que decorreram ?!) não estou a ver a cara dele, mas o facto é que ele e eu estivemos na mesma coluna, rumo a Guidage (1968). Ainda fomos surpreendidos a pouco mais do meio do trajecto, no sítio do Cufeu, por tiros sentidos na floresta de uma e da outra banda do caminho.

Ele sabe da história da perda do nosso comandante (o Capitão Miliciano A...)  logo nos primeiros dias, naquela terra de fronteira com o Senegal. Logo no início aterrou lá de surpresa o Spínola. Depois da rápida formatura na exígua parada, saíram-lhe estas palavras dirigidas ao capitão: "O senhor é indigno de estar à frente destes militares...o senhor prepare-se e vai já comigo para Bissau".

Viria a ser castigado com despromoção (tenente) e eventualmente com outras consequências que não conheci. Isto resultou do envio, por um soldado, de um aerograma para o general Spónola, queixando-se que estavam a passar fome, visto que o capitão se esquecera de solicitar o reabastecimento. O que valia eram as minúsculas galinhas que comprávamos na tabanca.

Por acaso ainda me lembro que, após o destroçar, de forma menos formal o general Spínola me perguntou:
- Meu militar, precisa alguma coisa para transmissões ?

Ao que eu lhe respondi:
- Precisamos de substituir a antena, meu General.

Passados uns dias essa antena lá apareceu.

2. Comentário de L,G., datado de 13/3/2006, sobre as razões que terão levado a população de Barro (ou mais provavelmente as novas autoridades do país)  a destruir, em  Barro, um momento "tuga" aos seus mortos . Na altura, achávamos (e continuamos a achar) que os monumentos aos mortos (mesmo dos meus "inimigos") são sagrados e devem ser respeitados, em toda a parte e em todos os tempos (**):  

(...) " Obrigado, Afonso! Fico a conhecer o artista quando jovem... Espero, por outro lado, que o Marques Lopes, quando lá voltar [, a Barro,] dentro em breve, desvenda o mistério da destruição do vosso monumento... Simples vandalismo ? Revanchismo ? Incúria ? Estupidez ? Maldade ? Iconoclastia ? ... É sempre lamentável: são marcas da história, quer se goste ou não se goste... E que hoje podiam ter alguma mais-valia turística, museológica, cultural, para a própria Guiné-Bissau... Há tugas a fazer milhares de quilómetros só para redescobrir uma simples pedra de um monumento como este...

Creio que na Guiné ainda estão pior do que nós, quanto à(s) memória(s) do passado recente da guerra colonial (ou da guerra de libertação, como se queira)... Não há arquivos, não há escritos, tudo tem sido pilhado, destruído ou branqueado (o que às vezes ainda é bem pior)... E os que fizeram a guerra - a geração dos guerrilheiros - estão a desaparecer sem deixar testemunhos, registados em suporte de papel, digital ou áudio... Alguma coisa está a ser feita em Guileje, pela AD - Acção para o Desenvolvimento, pelo nosso amigo Pepito e pelos seus colaboradores... Nós, também, à nossa modesta escala, no nosso blogue, com o contributo de magníficos e generosos blogadores como tu e o Marques Lopes... Um grande abraço, camarada." (***).

____________

Notas do editor:

(*) Vd. I série, poste de 2 de julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael

(**) Vd. I Série, poste de 13 de março 2006 > Guiné 63/74 - DCXXV: Barro, CART 2412, 1968/70 (Afonso M.F.Sousa)

(***) Último poste da série > 23 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11140: O que é feito de ti, camarada ? (1): Jorge Canhão, Oeiras (ex-fur mil at inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7262: Estranha Noiva de Guerra, romance de Armor Pires Mota (1): Apresentação em Lisboa, 10/11/2010, na A25A (Parte I)


Lisboa > Sede nacional da Associação 25 de Abril (A25A) > 10 de Novembro de 2010 >  Apresentação do romance Estranha Noiva de Guerra (1ª ed, 1995), agora em 2ª edição, na Âncora Editora (2010, 151 pp.). Neste vídeo, Beja Santos lê excertos do romance (pp. 93/94), obra que ele considera uma obra-prima da literatura da guerra colonial e que,  inexplicavelmente, terá passado despercebida da crítica em 1995.  Num gesto nobre de Armor Pires Mota, os  direitos de autor desta edição revertem a favor dos Centros de Apoio à Inclusão Social, da Liga dos Combatentes. O preço de capa é 16 €.

'Estranha Noiva de Guerra' é a história de Bravo Elias, "um furriel que combate na Região do Morés.  Com ele segue Júlio Perdiz, um morto em combate que não será abandonado em campo de batalha (...). É nisto que surge nesta terra de ninguém uma rapariga dizendo: 'Mim ajuda branco, mim vai ajuda branco'. Chama-se Mariama e promete levá-los até Mansabá (...). Aqueles dois seres humanos levam a padiola do Perdiz, seguem esgotdaos, correndo todos os riscos, atravessando bolanhas fétidas, sujeitos a todas as inclemências da natureza (...).  A paixão entre Mariama e Elias desperta. Passa-se  pela região de Lala Samba, os jagudis voltam a atacar o finado, arrancam-lhe  os olhos, metade de uma orelha, o nariz. Aos tombos chegam a Cumbijã Sare, lavam o que resta do Perdiz. (...). A trama ganha novos contornos com a chegada de dois guerrilheiros (...) Segue-se um ataque a Mansabá, uma descrição como nunca encontrei na literatura da guerra colonial: o vigor da encenação, os sons, as imagens de sofrimento, as águas fores das correrias e dos rodopios. Duarnte o ataque os dois jovens guerrilherios do Morés matam Mariama. O apocalipse prossegue (...).  (Do prefácio de Beja Santos, pp. 11/12).


Vídeo (3' 12''): © Luís Graça (2010).Alojado em You Tube > Nhabijoes



O Rotary Clube de Oliveira do Bairro prestou o ano passado, em 9 de Maio, uma justa  homenagem ao escritor e jornalista Armor Pires Mota, que completou 50 anos de actividade literária.  Do jornal Soberania do Povo, de 6 de Maio de 2009 (completado por outras fontes na Net), seleccionamos algumas notas biobliográficas deste nosso camarada:


(i) Armor Pires Mota nasceu a 4 de Setembro de 1939, em Águas Boas, Freguesia de Oiã, concelho de Oliveira do Bairro;

(ii)  Estudou teologia, no Seminário de Aveiro, curso que abandonou em 1961;

(iii) Em 1960 editou o seu primeiro livro, Cidade Perdida;  

(iv) Ainda no seminário, dirigiu a Revista Semente;  publica igualmente poesias em jornais da região  (Jornal da Bairrada, Correio do Vouga e Soberania do Povo);



(v) Foi alferes miliciano, na Guiné (CCAV 488, 1965/67), com actividdae operacional na Ilha do Como e na  Região do Oio;

(vi) Durante a asua comissão foi publicando um diário de guerra no Jornal da Bairrada;

(vii) Essas crónicas foram depois, em 1965,  editadas em livro,  O Tarrafo;

(viii) Pouco tempo, a ex-PIDE proibiu o livro que tinha cruas descrições de guerra (napalm, bombardeamentos, combates, mutilações...);

(ix) Foi editor de Soberania do Povo em 1970 (num período de rejuvenescimento editorial, na época marcelista), saindo em 1973 e regressando em 1988;

(x) Publicou uma série de crónicas sobre as arbitrariedades dos Serviços Florestais, que deu origem ao livro O Préstimo a Caminho de Lisboa (1971);

(xi) Em 1974, tornou-se pequeno empresário, com a criação de um  empresa na Palhaça (Alferpa); em 1980, com o mesmo sócio e o encarregado geral, fundou a Trougal;

(xii) Continuou sempre a escrever... Dos seus livros do Ciclo de Guerra, cite-se:  Baga-Baga (poesia, Prémio Camilo Pessanha, em 1968), Guiné Sol e Sangue (1968, contos e narrativas), Tarrafo (crónicas vivas da guerra) (2ª ed., 1970),  O tempo em que se mata, o mesmo em que se morre (1974, poesia),  Cabo Donato Pastor de Raparigas (1991, contos), Estranha Noiva de Guerra (1ª ed., 1995;  2ª ed., 2010) e A Cubana que dançava flamenco (2008) (estes dois últimos romances);

(xiii) Foi chefe de redacção da revista Itinerário (Coimbra) e colaborou na Observador e na Panorama. Tem ainda colaboração no Jornal de Notícias, O Primeiro de Janeiro e outros.

(xiv) Dedicou-se à também investigação histórica e à escrita de monografias (a que ele chama o Ciclo da Terra); escreveu livros de poesia e de vivências bairradinas; tem vários inéditos para publicar e figura em quatro antologias: Contos Portugueses do Ultramar, Corpo da Pátria , Vestiram-se os poetas de soldadosEscritas e Escritores da Bairrada;

(xv) Está também no Dicionário dos Escritores e Poetas Luso-Galaicos e no VI Volume do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizado pelo IPLB; o número de livros publicados,  repartidos enter o Ciclod a Guerra e o Ciclo da Terra, ultrapassam já as 3 dezenas;

(xv) É sócio da Associação Portuguesa de Escritores e sócio-fundador da Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada (AJEB). A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro atribuiu-lhe, em 2001, a Medalha de Mérito Cultural.

(xvi) É um homem simples e solidário, que ama e ajuda a sua terra e os seus conterrâneos: Foi fundador do Grupo Desportivo e da Associação de Melhoramentos de Águas Boas, exerceu cargos na Comissão de Melhoramentos e Centro Social de Oiã, fez parte da Comissão Fabriqueira de Oiã e da Comissão de Obras da Capela de Águas Boas.




O Beja Santos (à esquerda) prefaciou e apresentou a obra...


Aspecto da mesa, presidida pelo dono da casa, Ten Cor Ref Vasco Lourenço...

Lisboa > Rua da Misericórdia nº 95 > Sede nacional da Associação 25 de Abril (A25A)  > 10 de Novembro de 2010 >18h30: Apresentação do romance de Armor Pires Mota, Estranha Noiva de Guerra, 2ª ed. (Âncora Editora, 2010, 151 pp.; Col  Guerra Colonial. Preço de capa: c. 15 €. A primeira edição é de 1995, Editorial Notícias)

Na mesa, presidida por Vasco Lourenço, pode ver-se da esquerda para a direita: (i) Beja Santos (apresentador da obra,  escritor, membro da nossa Tabanca Grande, em véspera de partir para a Guiné,  em "romagem de saudade"); (ii) Armor Pires Mota, o autor, ex-Alf Mil da CCAV 488, Mansabá, ilha do Como, Bissorã e Jumbembem, 1963/65 (*); (iii) Vasco Lourenço, presidente da A25A; (iv) Baptista Lopes, o editor (Âncora); e (v) Serafim Lobato, antigo fuzileiro, jornalista e agora responsável pela Colecção Guerra Colonial, da Âncora Editora .

Assistiram à sessão mais de 4 dezenas de pessoas, quase todos eles antigos combatentes, mas também amigos e familiares do Amor Pires Mota, "gente da Bairrada" que vive em Lisboa... Reconheci, entre outros, o Manuel Barão Cunha, coronel na reforma, DFA, escritor, autor de Tempo Africano (4ª ed., 2010); José Talhadas, antigo fuzileiro, autor de Memórias de um Guerreiro Colonial; os membros do nosso blogue Humberto Reis, José Martins, Belarmino Sardinha, Belmiro Tavares e Carlos Silva (além de eu próprio e o Beja Santos)...

Tive o prazer de conhecer pessoalmente o autor de Tarrafo, Armor Pires Mota, a quem voltei a endereçar o meu convite para integrar a Tabanca Grande, bem como o Serafim Lobato, com quem já em tempos havia trocado e-mails, e de quem já publicámos um ou dois postes.

(Continua)

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Nota de L.G.:

(*)  CCAV 488: Mobilizada pelo RC 3, partiu para a Guíné em 17/7/1963 e regressou a 12/8/1965. Esteve em Bissau, Ilha do Como, Jumbembém e Bissau. Comandantes: Cap Cav Fernando Manuel Lopes Ferreira; Cap Cav Manuel Correia Arrabaça; Ten Cav Lourenço de Carvalho Fernandes Tomás. Pertencia ao BCAV 490 ( (Bissau, Ilha do Como e Farim, 1963/65), comandado pelo Ten Cor Cav  Fernando José Pereira Marques Cavaleiro. Restantes companhias:  CCAV 487 (Bissau, Ilha do Como, Farim, Bissau); CCAV 489 (Bissau, Mansabá, Ilha do Como, Cuntima, Bissau).

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11086: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (3): Gadamael, junho/julho de 1973 (Parte III)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > Pelotão do fur mil armas pes inf António Manuel Gonçalves... A seu lado, o Marreiros (
Luís Manuel Sintra Marreiros, que vive em Faro)... Outro camarada identificado é o D. Nunes  (Duarte Rodrigues Nunes, que vive em Rio de Mouro, Sintra) (Fonte: Ficheiro de nomes e moradas da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612, disponibilizada pelo Agostinho Gaspar)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > Pelotão do alf mil Rocha (Joaquim da Silva Rocha, Valadares, Vila Nova de Gaia)... Outros militares identificados: Libório, Puto (?), Alexandre (será o Florêncio Alexandre Duarte, de Faro ?), Marreiros (,Luís Manuel Sintra Marreiros, que vive em Faro)...  O Rocha hoje é médico, segundo informação do Agostinho.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g Mato em redor de Gadamael


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g O Florêncio (Florêncio Alexandre Correia, de Faro)





Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g Instalações destruídas...Numa das pedras, lê-se: "Pelotão do Ronco", um enigma por desvendar...



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g O Leitão (Bernardo Godinho Abranches Leitão, que vive em, Lisboa)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) &g "Rapaziada > Benjamim, o Xico (ao ombro de um camarada não identificado) e o Fernando. O Benjamin Agostinho Duarte mora no concelho do Barreiro. O Fernando não sei quem seja... Havia três, na 3ª Companhia: Fernando Correia Silva Cardoso (Lisboa). Fernando P. Azevedo Magalhães (Mem Martins, Sintra) e Fernando Tomás Ramos Gomes  (Ventosa, Torres Vedras)... O Xico, esse, deve ter ficado por lá, na sua terra...




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > O Xico, a mascote da companhia...

Fotos: © Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso amigo e camarada Jorge Canhão, que vive em Oeiras (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74). Estas fotos chegaram-nos às mãos através de outro grã-tabanqueiro, o Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), residente em Leiria. Os nossos especiais agradecimentos aos dois.(*)

Recorde-se que a 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) esteve em reforço do COP 5, em Gadamael, de 18 de junho a 13 de julho de 1973. Em 31 de maio, agravava-se a situação em Gadamael-Porto, com o PAIGC a concentrar a sua artilharia sobre o aquartelamento e a tabanca (reordenada), depois da retirada da guarnição de Guileje (, em 22). (**)


Leiria  > Monrte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > 20 de junho de 2009 > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita, o Jorge Canhão e o Agostinho Gaspar.


Foto: © Magalhães Ribeiro (2009). Todos os  direitos reservados.


2. Falando hoje com o Agostinho Gaspar, fiquei a saber que o nosso querido amigo e comarada Jorge Cnhão teve no fim do ano problemas de saúde que o levaram à "faca"... Tem estado a recuperar, e ainda há dias o Agostinho falou com ele...

Soube também  através do Agostinho que a estadia da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612 (1972/74) não  foi propriamente um passeio turístico... Por exemplo, e contrariamente ao que sugere a correspondência do J. Casimiro Carvalho que em 26/6/1973 escreve à mãe "Now we have peace" (Finalmente em paz), os ataques do PAIGC continuaram (*)... Por exemplo, em 2 de julho de 1973 toda a malta passou  mais de 5h nas valas, período de tempo em que  Gadamael sofreu um ataque cerrado (, o último grande ataque do PAIGC), obrigando à intervenção dos FIAT que eram alvejados, no outro lado da fronteira com antiaéreas quádruplas... Toda a companhia esteve em Gadamael, incluindo o Agostinho, que era mecânico...

Nessa época, o seu comandante era o cap art José Manuel Salgado Martins, transmontano, hoje coronel na reforma, a viver nos Açores. Nunca veio a nenhum encontro da companhia, constituídio maioritariamenmte por malta do Algarve, Alentejo e Lisboa..

O Agostinho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas ) lembra-se de toda a malta da companhia ter regressado, de LDG, a Bissau, em 13 de julho de 1973. Na LDG iam também os páras do BCP 12. Não se lembra muito bem da malta do pelotão de artilharia, mas já em tempos encontrou um 1º cabo africano que teve como comandante o nosso camarada C. Martins, o último artilheiro de Gadamael (23º Pel Art).

Ao Agostinho, antigo chefe de oficina da Mitsubishi, em Leiria, e a viver na Boavista, Leiria, prometi fazer-lhe uma visita e irmos ao leitão da Boavista quando eu for para aqueles lados (o que já não acontece com a frequência do passado). Pedi-lhe também que me fizesse uma resenha dos dias de Gadamael, para publicação no blogue, desafio que ele aceitou. Ao Jorge, a quem já tentei ligar, desejo-lhe rápidas melhoras. LG


3. Fui repescar uma mensagem de 20 de junho de  2007, do Jorge Canhão:


(...) Sobre a minha foto em Gadamael, não sei a data certa mas sei que foi tirada entre 26 de Junho de 73 e 1 Julho do mesmo ano.Tenho aqui mais meia dúzia tiradas lá.

O período que estive com a 121 e 123 de Páras foi de 25 de Junho de 1973 até 13 de Julho de 1973, data em que deixámos Gadamael com destino a Cacine. Foi nesse período que sofremos (a minha Companhia) o maior ataque do PAIGC, em tempo, e que durou entre 4 e 5 horas, tendo terminado após a 2ª intervenção dos Fiat G91.

Foi a primeira vez que ouvi as antiaéreas do PAIGC atacarem os aviões. Após a 2ª chegada dos Fiat e com as antiaéreas a dispararem, um dos aviões ficou a andar em círculo, enquanto o outro picava, mesmo debaixo de fogo e bombardeava o inimigo de então. Após ouvirmos grandes explosões, o ataque cessou tendo nós ficado um pouco mais descansados.

Em todo o período que estive em Gadamael, não havia electricidade e a comida era escassa, pois não passava de um prato raso com uma camada de grão e 2 ou 3 rodelas de chouriço, com uma sopa (?) e um pedaço de fruta de lata.

Sobre a electricidade: eu, que era electricista naval na vida civil, e o furriel mecânico Louceiro, montámos o gerador e juntamente com outros camarada arranjámos os fios eléctricos para que o quartel pudesse ter energia, o que de facto aconteceu, mas foi sol de pouca dura (algumas horas) pois quem mandava no aquartelamento, mandou desligar,com o argumento que o PAIGC poderia com mais facilidade obter tiro mais certeiro....Como se eles não soubessem...Enfim, no comments. (...)


_______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 4 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11055: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (2): Gadamael, junho/julho  de 1973 (Parte II)

(**) Cronologia dos acontecimentos (seguindo o texto do jornalista e ex-oficial da Reserva Naval, antigo fuzileiro especial Serafim Lobato, Público, 28/12/2003):

(...) Após a retirada das tropas portuguesas de Guileje para Gadamael, este quartel ficou com um dispositivo de duas companhias (Caçadores 4743 e Cavalaria 8350) e ainda dois grupos da Companhia de Caçadores 3520, um pelotão de canhões sem recuo com cinco peças, um pelotão de reconhecimento, com apenas um veículo com autometralhadora White, mais um pelotão de artilharia com cinco obuses de 14 e um pelotão de milícias. Um outro pelotão de milícias estava reduzido a uma secção.

Depois do afastamento do major Coutinho e Lima, assumiu o comando do COP 5 o capitão Ferreira da Silva.

Gadamael, entre o meio-dia de 31 de Maio e o fim da tarde de 2 de Junho, esteve debaixo de fogo de armas pesadas e ligeiras continuadamente, tendo sido referenciados disparos de morteiros de 120 m/m, canhões sem recuo e lança-granadas foguete, com um número de rebentamentos estimado "em cerca de 700", conforme mensagens enviados pelo COP 5 para o quartel-general em Bissau. Os soldados tiveram cinco mortos e 14 feridos e os prejuízos materiais foram avultados.

No dia 1 de Junho, a Companhia de Caçadores 3520, de Cacine, transmitiu a seguinte mensagem: "Informo Gadamael Porto destruído. Feridos e mortos confirmados. Pessoal daquele fugiu para o mato. Solicito providências e instruções concretas acerca procedimento desta."

De imediato, Bissau determinou que tropas pára-quedistas, que se encontravam em Cufar [, subsetor de Guidaje], seguissem para Gadamael.

Ao final do dia 1 de Junho, uma mensagem vinda de Gadamael referia que, apesar da debandada, um grupo de tropas ainda se mantinha no quartel, mas que "centro cripto tinha sido destruído". A mensagem especificava ainda que "aquartelamento estava parcialmente destruído", com transmissões "deficientes" e que a "rede de arame [farpado] fora destruída parcialmente" e terminava com um apelo lancinante:
"situação gravíssima".

A 2 de Junho, Bissau mandava mais uma companhia de pára-quedistas de reforço, juntamente com um pelotão de artilharia com obuses de 14 cm. O comando do COP 5 passou para o major pára-quedista Pessoa.

Entretanto, nesse dia, a companhia de Cacine mudava de comando, que era atribuído ao capitão Manuel Monge, e a lancha de fiscalização grande (LFG) Orion informava que meios navais recolhiam "militares e elementos da população refugiados no tarrafo, na região da confluência do rio Cacine com o rio Cachina, num total de 300 indivíduos (alguns feridos ligeiros)".

(...) Nos dias 3 e 4 de Junho, Gadamael esteve sujeita a flagelações continuadas (mais de 200 rebentamentos) do PAIGC, com morteiros de 120 e canhões sem recuo. As mensagens consultadas assinalam, pelos menos, a existência de seis mortos e oito feridos nesses dias e a perda de três espingardas G3 e um rádio AVP 1.

O capitão Manuel Monge, no dia 4, pede ao quartel-general a "presença imediata" em Cacine de "entidade desse, fim estudar situação Gadamael Porto".  O general Spínola responde-lhe que "o estudo da situação já tinha sido apresentado pelo coronel Durão e que eram impossíveis os contactos pessoais diários". Duas horas depois, uma nova mensagem de Monge ressalta que "situação Gadamael Porto agrava-se aceleradamente" e pede: "Contacto, fim capitão Monge expor a situação e parecer comandante de COP."

O capitão Manuel Monge seguiu para Bissau no dia seguinte, mas ao final do dia 4 uma mensagem do comandante do COP 5 enfatizava: "Situação em Gadamael Porto é insustentável." E solicitava autorização "para se efectuar retirada ordenada" nos meios navais existentes neste. "Ou então - frisava - a minha imediata substituição no comando do COP 5." No final, uma confissão: "Nem tenho conseguido encontrar soluções que me permitam prosseguir."  À meia-noite desse dia, o quartel-general respondia: "Enquanto não for substituído, continua cumprimento da sua missão de defesa a todo o custo, incutindo moral aos seus soldados."

Além de todo o Batalhão de Caçadores Pára-quedistas [, BCP 12,] no terreno, estavam no local várias unidades da Marinha de Guerra e um grupo de assalto de fuzileiros africanos. O comando do Task Group 6 referia, em mensagem, no dia 5, que quatro botes do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22, embarcações do Exército e meios das unidades navais tinham efectuado as evacuações de mortos e feridos e ainda de um "número incontrolável" de fugitivos (civis e militares) encontrados à entrada do rio para Gadamael.  "Pessoal encontrado fortemente traumatizado psicologicamente devido situação alarmante Gadamael", terminava a mensagem.

Nesse dia, o comandante do COP 4, tenente-coronel Araújo e Sá, assumiu o comando do COP 5, ficando o major Pessoa como adjunto.  As unidades militares portuguesas sofreram, neste assédio a Gadamael, 24 mortos e 147 feridos. (...)

Fonte: "Estamos Cercados por Todos Os Lados"
Por SERAFIM LOBATO
Público. Domingo, 28 de Dezembro de 2003

Vd. I Série,  poste de 2 de julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2083: Em busca de... (10): Coutinho e Lima, o comandante do COP5 que decidiu abandonar Guileje e foi acusado de deserção (Beja Santos)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 22 de Maio de 1973 > A retirada, dramática mas ordeira, das tropas portuguesas, por decisão, à revelia do Comando-Chefe, do major Coutinho e Lima, comandante do COP5.

Foto de origem desconhecida, editada por nós, e gentilmente cedida pelo Pepito, fazendo parte do acervo fotográfico do Projecto Guiledje ( © AD - Acção para o Desenvolvimento ). Seria importante incluir o testemunho do actual coronel, na reforma, Coutinho e Lima, nos trabalhos do 
Simpósio Internacional de Guiledje, a realizar na Guiné-Bissau, de 1 a 8 de Março de 2008.

1. Mensagem do Beja Santos, com data de 20 de Agosto último:

Luís, passei uma semana de férias e recomendo as Astúrias a toda a gente. Seguia na excursão o Coronel José Galamba de Castro, com duas comissões na Guiné, a primeira em Mansabá e a segunda no Comando Chefe, de 72 a 74.

Falou-me detalhadamente no Coronel Alexandre Coutinho Lima, que abandonou Guileje em 1973. Ele foi o único oficial do quadro preso por deserção, visto que, contrariando as ordens do Comandante Chefe, abandonou Guileje com duas companhias e toda a população civil (1). Acordei com o Coronel Galamba de Castro procurar estabelecer um contacto contigo para veres se gostarias de ter a versão do Coutinho Lima sobre tal episódio. Se quiseres, dou-te os contactos telefónicos.

Quanto ao mais, espero hoje mandar-te o 5º episódio da nova série [da Operação Macaréu à Vista], e se possível ainda esta semana mandar-te um outro episódio, pois farei a última semana de férias a seguir. Vi hoje o apontamento sobre o Queta (2), que muito te agradeço. Recebe toda a cordialidade do Mário.

___________

Notas de L.G.:

(1) O então major de artilharia Alexandre da Costa Coutinho e Lima era o comandante do COP 5, na altura da batalha de Guileje e Gadamael. Segundo informação do Nuno Rubim, a primeira unidade a ir para Guileje foi um Grupo de Combate reforçado da CART 494, em Jan / Fev de 1964. A Companhia estava a instalar o quartel em Gadamael.

Só mais tarde é que um grupo da CART 495, em final de Fevereiro desse ano, foi reforçar a guarnição até à chegada das primeiras forças da CCAÇ 726, em 31 de Outubro, permanecendo ainda algum tempo em sobreposição.

A CART 494 era comandada pelo então Capitão Coutinho e Lima, "que assim fica para sempre ligado ao início e fim de Guileje" ... Não sei se o Nuno Rubim ou o Pepito, já conseguiram contactar pessoalmente o Coutinho e Lima, e assegurar a sua decisiva contribuição para a preservação da memória de Guileje.

A história de Guileje/Gadamael precisa desta testemunha-chave, que nestes útimos trinta e tal anos tem-se remetido a um voluntário (?) silêncio. O coronel na reforma Coutinho e Lima terá, à inteira disposição, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, para nos contar, sem quaisquer reservas, se assim o entender, a sua versão dos dramáticos acontecimentos de Guileje/Gadamael de Maio/Junho de 1973 e inclusive poderá defender a sua honra como oficial e como português, uma vez que terá sido tratado - em meu entender - pela hierarquia militar de então como um autêntico bode expiatório da falência da política spinolista.

Agradeço ao Beja Santos este precioso contacto, sugerindo-lhe que forneça directamente ao Nuno Rubim, ao Pepito e a mim próprio o contacto telefónico dos coronéis José Galamba de Castro e Alexandre da Costa Coutinho e Lima. O convite que endereço ao Coronel Coutinho e Lima também é, obviamente, extensível ao Coronel Calamba de Castro. O editor do blogue, Luís Graça.

Vd. posts de:

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1478: Unidades de Guileje: Coutinho e Lima, ligado ao princípio e ao fim (Nuno Rubim)

2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa / Serafim Lobato)

(2) Vd. post de 20 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2063: Álbum das Glórias (24): O pretoguês Queta Baldé, uma memória de elefante e um grandecíssimo camarada (Beja Santos)