quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7262: Estranha Noiva de Guerra, romance de Armor Pires Mota (1): Apresentação em Lisboa, 10/11/2010, na A25A (Parte I)


Lisboa > Sede nacional da Associação 25 de Abril (A25A) > 10 de Novembro de 2010 >  Apresentação do romance Estranha Noiva de Guerra (1ª ed, 1995), agora em 2ª edição, na Âncora Editora (2010, 151 pp.). Neste vídeo, Beja Santos lê excertos do romance (pp. 93/94), obra que ele considera uma obra-prima da literatura da guerra colonial e que,  inexplicavelmente, terá passado despercebida da crítica em 1995.  Num gesto nobre de Armor Pires Mota, os  direitos de autor desta edição revertem a favor dos Centros de Apoio à Inclusão Social, da Liga dos Combatentes. O preço de capa é 16 €.

'Estranha Noiva de Guerra' é a história de Bravo Elias, "um furriel que combate na Região do Morés.  Com ele segue Júlio Perdiz, um morto em combate que não será abandonado em campo de batalha (...). É nisto que surge nesta terra de ninguém uma rapariga dizendo: 'Mim ajuda branco, mim vai ajuda branco'. Chama-se Mariama e promete levá-los até Mansabá (...). Aqueles dois seres humanos levam a padiola do Perdiz, seguem esgotdaos, correndo todos os riscos, atravessando bolanhas fétidas, sujeitos a todas as inclemências da natureza (...).  A paixão entre Mariama e Elias desperta. Passa-se  pela região de Lala Samba, os jagudis voltam a atacar o finado, arrancam-lhe  os olhos, metade de uma orelha, o nariz. Aos tombos chegam a Cumbijã Sare, lavam o que resta do Perdiz. (...). A trama ganha novos contornos com a chegada de dois guerrilheiros (...) Segue-se um ataque a Mansabá, uma descrição como nunca encontrei na literatura da guerra colonial: o vigor da encenação, os sons, as imagens de sofrimento, as águas fores das correrias e dos rodopios. Duarnte o ataque os dois jovens guerrilherios do Morés matam Mariama. O apocalipse prossegue (...).  (Do prefácio de Beja Santos, pp. 11/12).


Vídeo (3' 12''): © Luís Graça (2010).Alojado em You Tube > Nhabijoes



O Rotary Clube de Oliveira do Bairro prestou o ano passado, em 9 de Maio, uma justa  homenagem ao escritor e jornalista Armor Pires Mota, que completou 50 anos de actividade literária.  Do jornal Soberania do Povo, de 6 de Maio de 2009 (completado por outras fontes na Net), seleccionamos algumas notas biobliográficas deste nosso camarada:


(i) Armor Pires Mota nasceu a 4 de Setembro de 1939, em Águas Boas, Freguesia de Oiã, concelho de Oliveira do Bairro;

(ii)  Estudou teologia, no Seminário de Aveiro, curso que abandonou em 1961;

(iii) Em 1960 editou o seu primeiro livro, Cidade Perdida;  

(iv) Ainda no seminário, dirigiu a Revista Semente;  publica igualmente poesias em jornais da região  (Jornal da Bairrada, Correio do Vouga e Soberania do Povo);



(v) Foi alferes miliciano, na Guiné (CCAV 488, 1965/67), com actividdae operacional na Ilha do Como e na  Região do Oio;

(vi) Durante a asua comissão foi publicando um diário de guerra no Jornal da Bairrada;

(vii) Essas crónicas foram depois, em 1965,  editadas em livro,  O Tarrafo;

(viii) Pouco tempo, a ex-PIDE proibiu o livro que tinha cruas descrições de guerra (napalm, bombardeamentos, combates, mutilações...);

(ix) Foi editor de Soberania do Povo em 1970 (num período de rejuvenescimento editorial, na época marcelista), saindo em 1973 e regressando em 1988;

(x) Publicou uma série de crónicas sobre as arbitrariedades dos Serviços Florestais, que deu origem ao livro O Préstimo a Caminho de Lisboa (1971);

(xi) Em 1974, tornou-se pequeno empresário, com a criação de um  empresa na Palhaça (Alferpa); em 1980, com o mesmo sócio e o encarregado geral, fundou a Trougal;

(xii) Continuou sempre a escrever... Dos seus livros do Ciclo de Guerra, cite-se:  Baga-Baga (poesia, Prémio Camilo Pessanha, em 1968), Guiné Sol e Sangue (1968, contos e narrativas), Tarrafo (crónicas vivas da guerra) (2ª ed., 1970),  O tempo em que se mata, o mesmo em que se morre (1974, poesia),  Cabo Donato Pastor de Raparigas (1991, contos), Estranha Noiva de Guerra (1ª ed., 1995;  2ª ed., 2010) e A Cubana que dançava flamenco (2008) (estes dois últimos romances);

(xiii) Foi chefe de redacção da revista Itinerário (Coimbra) e colaborou na Observador e na Panorama. Tem ainda colaboração no Jornal de Notícias, O Primeiro de Janeiro e outros.

(xiv) Dedicou-se à também investigação histórica e à escrita de monografias (a que ele chama o Ciclo da Terra); escreveu livros de poesia e de vivências bairradinas; tem vários inéditos para publicar e figura em quatro antologias: Contos Portugueses do Ultramar, Corpo da Pátria , Vestiram-se os poetas de soldadosEscritas e Escritores da Bairrada;

(xv) Está também no Dicionário dos Escritores e Poetas Luso-Galaicos e no VI Volume do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizado pelo IPLB; o número de livros publicados,  repartidos enter o Ciclod a Guerra e o Ciclo da Terra, ultrapassam já as 3 dezenas;

(xv) É sócio da Associação Portuguesa de Escritores e sócio-fundador da Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada (AJEB). A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro atribuiu-lhe, em 2001, a Medalha de Mérito Cultural.

(xvi) É um homem simples e solidário, que ama e ajuda a sua terra e os seus conterrâneos: Foi fundador do Grupo Desportivo e da Associação de Melhoramentos de Águas Boas, exerceu cargos na Comissão de Melhoramentos e Centro Social de Oiã, fez parte da Comissão Fabriqueira de Oiã e da Comissão de Obras da Capela de Águas Boas.




O Beja Santos (à esquerda) prefaciou e apresentou a obra...


Aspecto da mesa, presidida pelo dono da casa, Ten Cor Ref Vasco Lourenço...

Lisboa > Rua da Misericórdia nº 95 > Sede nacional da Associação 25 de Abril (A25A)  > 10 de Novembro de 2010 >18h30: Apresentação do romance de Armor Pires Mota, Estranha Noiva de Guerra, 2ª ed. (Âncora Editora, 2010, 151 pp.; Col  Guerra Colonial. Preço de capa: c. 15 €. A primeira edição é de 1995, Editorial Notícias)

Na mesa, presidida por Vasco Lourenço, pode ver-se da esquerda para a direita: (i) Beja Santos (apresentador da obra,  escritor, membro da nossa Tabanca Grande, em véspera de partir para a Guiné,  em "romagem de saudade"); (ii) Armor Pires Mota, o autor, ex-Alf Mil da CCAV 488, Mansabá, ilha do Como, Bissorã e Jumbembem, 1963/65 (*); (iii) Vasco Lourenço, presidente da A25A; (iv) Baptista Lopes, o editor (Âncora); e (v) Serafim Lobato, antigo fuzileiro, jornalista e agora responsável pela Colecção Guerra Colonial, da Âncora Editora .

Assistiram à sessão mais de 4 dezenas de pessoas, quase todos eles antigos combatentes, mas também amigos e familiares do Amor Pires Mota, "gente da Bairrada" que vive em Lisboa... Reconheci, entre outros, o Manuel Barão Cunha, coronel na reforma, DFA, escritor, autor de Tempo Africano (4ª ed., 2010); José Talhadas, antigo fuzileiro, autor de Memórias de um Guerreiro Colonial; os membros do nosso blogue Humberto Reis, José Martins, Belarmino Sardinha, Belmiro Tavares e Carlos Silva (além de eu próprio e o Beja Santos)...

Tive o prazer de conhecer pessoalmente o autor de Tarrafo, Armor Pires Mota, a quem voltei a endereçar o meu convite para integrar a Tabanca Grande, bem como o Serafim Lobato, com quem já em tempos havia trocado e-mails, e de quem já publicámos um ou dois postes.

(Continua)

____________

Nota de L.G.:

(*)  CCAV 488: Mobilizada pelo RC 3, partiu para a Guíné em 17/7/1963 e regressou a 12/8/1965. Esteve em Bissau, Ilha do Como, Jumbembém e Bissau. Comandantes: Cap Cav Fernando Manuel Lopes Ferreira; Cap Cav Manuel Correia Arrabaça; Ten Cav Lourenço de Carvalho Fernandes Tomás. Pertencia ao BCAV 490 ( (Bissau, Ilha do Como e Farim, 1963/65), comandado pelo Ten Cor Cav  Fernando José Pereira Marques Cavaleiro. Restantes companhias:  CCAV 487 (Bissau, Ilha do Como, Farim, Bissau); CCAV 489 (Bissau, Mansabá, Ilha do Como, Cuntima, Bissau).

7 comentários:

Anónimo disse...

A propósito de livros...
In Água Lisa-Blog de João Tunes

O livro recentemente editado da autoria de um sargento-mor paraquedista na reserva e actualmente empresário na Guiné-Bissau (*), com uma transcrição da sua tese de doutoramento pela Universidade de Évora em 2005, suscita, desde logo, a curiosidade em se tentar saber se, nos doutoramentos universitários, também se fazem saldos de títulos académicos. É que, no caso vertente, sobra manipulação e faltam investigação e rigor, mingua o suporte e abunda a glorificação autobiográfica, onde devia encontrar-se distância e isenção tropeça-se a eito numa espécie de corporativismo castrense (relativamente à classe de sargentos e ao corpo de paraquedistas), fixam-se ódios, amizades e preferências entre os militares e classes de militares que combateram na guerra colonial, abusam-se das generalizações sem suporte e estribam-se alinhamentos políticos, notoriamente ao serviço de um revisionismo histórico que sirva o realinhamento à direita do corpo militar, numa vingança fria e tardia relativamente ao MFA e ao 25 de Abril.

Claro que o doutor sargento mor Rebocho tem direito à sua catarse, mesmo que perversa, relativamente à sua participação activa no levantamento dos paraquedistas em 25 de Novembro de 1975 (em que comandou a ocupação das instalações da Força Aérea em Monsanto, ao serviço da extrema-esquerda militar) e de que pagou um preço disciplinar alto (esteve sob prisão e residência fixa, como consequência da sua participação no 25 de Novembro, entre 1975 e 1982). Como de fazê-lo pela via ideológica de um ajuste de contas tardio com os vencedores do 25 de Novembro, atacando-os agora “pela direita” já que foi então derrotado, com as armas na mão e com uma força de elite sob seu comando, quando os enfrentou “pela esquerda”. Mesmo não parecendo muito valoroso, sobretudo se tivermos em conta que se trata de um antigo “senhor da guerra”, que tenha mudado tanto de campo, “ontem” com Otelo e o Copcon, encostando-se agora à cumplicidade com a direita militar, a que, na ressaca de Novembro, ultrapassou os militares de Abril e se cristalizou há muito na hierarquia militar. Esses direitos do doutor sargento mor Rebocho não são, julgo e repito, questionáveis. O que é interrogável e preocupante, só isso, é que a universidade (no caso, a Universidade de Évora) se preste a premiar com títulos de doutores um candidato ressabiado, sem méritos de objectividade, investigação e estudo, que decide bater-lhe à porta. Para que conste e se registe para vergonha futura, o júri que aprovou o doutoramento foi constituído pelos académicos Adriano Moreira, Joaquim Serrão, Maria José Stock (orientadora da tese) e Maria Colaço Baltazar e ainda pelo Coronel Nuno Mira Vaz.

(*) – “Elites militares e a guerra em África”, Manuel Godinho Rebocho, Roma Editora

Publicado por João Tunes

Manuel Joaquim disse...

A propósito de livros, sim senhor, mas a que propósito vem este comentário?
O que é que tem a ver, aqui, o "cu" com as "calças"? Nada, penso eu. Nem sequer no tema.Há livros e livros; os de A.P.Mota e o da tese de doutoramento de J.Rebocho não se confrontam estilisticamente nem ideologicamente (pense-se "assunto"). Este é um romance, o de J.Rebocho é uma tese.

Respeito a opinião expressa in AguaLisa, não gostei foi deste comportamento de cuco.
Não percebo nem me quero chatear a perceber.

Um abraço a todos os "tabanqueiros"

antonio graça de abreu disse...

Não tem o cu a ver com as calças, é verdade. Mas recomendo ao Zé Dinis atenta leitura do texto do João Tunes.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Meu Caro
António Graça de Abreu,
Tinhas que vir com o acinte. E com uma falta de delicadeza totalmente desnecessária.
É mais forte do que tu, tens nervos que não controlas, levantas-te precipitadamente à procura do alvo... e isso é mau, podes ser atingido antes do teu disparo. Neste caso, pensaste ter uma oportunidade, e falhaste. Como já falhaste antes por várias vezes.
Em primeiro lugar, é completamente despropositado o comentário do "ilustre" João Tunes, movido por razões que não reconheço, e por um argumentário que também não, na medida em que a tese, lida com independência, é estritamente militar, sobre questões bem identificadas, que não vou repetir.
Donde, concluo, o "critico" pretende é divulgar o seu blogue e ganhar protagonismo.
Que tenha o seu público, não me ralo. Cada um come do que quer, se tiver capacidade de escolha.
Depois, quanto à tua provocação, que penso estar na linha da querela que gostas de alimentar (entre outras) relativa aos capitães do QP, versus, milicianos, suscitada a partir de rumores da leitura para arrazar a tese, lastimo que já não esteja entre nós o Ricardo Durão,
que testemunhou para o Rebocho e, parece, não te terá atribuído grande responsabilidade (cfr. a leitura do diário). Ele poderia fundamentar razões novas para ti, que passaste pela guerra como um diletante, a cruzar as ruas das sedes do CAOP, deitando olhos de inveja àqueles que todos os dias partiam e chegavam do mato, com quem, agora, pretendes confundir-te. Recorrendo a uma linguagem tabancal, viveste à sombra do poilão. E apresentas a suprema glória de um dia o teu sítio ter sido flagelado e teres sobrevivido.
Também notei, há poucos dias, que não tivesses assumado do teu abrigo, quando foi apresentada uma narrativa sobre a substituição de um capitão querido de uma companhia de recrutamento local, por outro, que não saía para o mato, tentou impor-se pela força dos galões, e acrescentava uns murros de autoridade, em vez de se impor pela competência e responsabilidade assumida. Se calhar, foi à companhia durante alguns dias, para engrossar a estatística dos mobilizados.
Por fim, lamento que persistas na teimosia de um comportamento de falácia, que em nada contribui para o esclarecimento no blogue, antes pelo contrário.
Um abraço
JD

Anónimo disse...

Acabem com a discussão.

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/0/e3f8b8289c56516480257279003c68c1?OpenDocument&ExpandSection=1

Ou pesquisem no Google

"Processo: 01108/06 do STA"

João

Anónimo disse...

O comentário de JD é deplorável. Graça Abreu disse, sem acinte, que lesse com atenção.
A resposta vem eivada de uma superioridade guerreira balofa embora saibamos que, no auto-elogio, JD é "gémeo" do Rebocho.
Esta é a 1ª vez em que a hipocrisia cede o passo à verdade.
A Graça Abreu foi passado um atestado de menoridade ("diletante"; "pretendendo confundir-se com os do mato").
Isto não se faz, que mais não seja, porque é indecente como argumento.

João

Anónimo disse...

A serem enumerados todos os títulos académicos(e profissionais)de alguns,o blogue seria curto.Mas,"doutor sargento mor"? Que me seja desculpada a ignorância,por certo resultante de 35 anos longe de Portugal,mas...É um novo título professional? Coronel-doutor mais valorativo que Sargento-doutor? Será ironia


de saläo distinto, "doutores vindos de cima" versus "doutores vindos de baixo"? A assim ser,e para ficarmos ainda mais bem "situados",porque näo..."doutor-sargento-mor-branco"? Como oficial do Exército de Portugal,entäo na situacäo de Reserva,entre outros trabalhos,lavei pratos na Suécia até tirar um curso superior em jurisprudência.Qual o título "respeitável"? Lavador de pratos-jurista?Ou,jurista-lavador de pratos? Torna-se,(pelo menos),confuso nas ironias de certos "salöes".E,quanto a "saldos académicos"........