1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos, em 11 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:
Nome de código Chaminé
A operação foi preparada discretamente…
Ao fim da tarde reuni os meus mais exímios soldados e pedi-lhes que se preparassem para a acção.
Objectivo, estratégia e progressão, seriam desvendados em cima da hora para evitar fugas de informação e as consequentes interferências.
Ao cair da noite, fiz o ponto de situação e dei os últimos retoques no atavio daqueles homens.
Homens e algumas mulheres pois naquele dia havia mulheres grandes da tabanca que se mostraram absolutamente determinantes no sucesso da investida na sua qualidade de apoio psicológico uma vez que mantinham relações de parentesco com eles.
No total éramos 11 a formar o grupo de assalto que levaria a cabo o golpe de mão.
O resto do pessoal foi dispensado ainda que só o viessem a saber no dia seguinte estranhando, contudo, a ausência de alguns dos camaradas com quem costumavam disputar longas sessões de lerpa.
Debruçados sobre o mapa da zona, indiquei-lhes o ponto onde perpetraríamos o assalto.
Elegi quem tomaria o comando caso um azar me pusesse KO.
Verificámos as munições e partimos.
Numa 1ª fase avançámos rapidamente até se detectar o primeiro obstáculo.
Tomámos posições defensivas e eu avancei para uma observação pormenorizada.
Era uma mina, porra!
Não estava enterrada mas estava armada o que fazia supor ter sido assim colocada para nos distraírem de eventuais outras armadilhas.
Era de forma cilíndrica com o percutor bem à vista e o detonador pronto a estoirar.
O material explosivo não era sólido o que dificultava o manuseamento.
Calculei os riscos e optei por desmontá-la para que um rebentamento provocado não viesse a denunciar a nossa aproximação.
Parecia não estar armadilhada e não tinha cordão de tropeçar.
Inspeccionei-a pela esquerda, depois pela direita.
Felizmente a temperatura fria da noite jogava a nosso favor.
Hoje recordo que os homens (não tanto as mulheres) se entusiasmaram demasiado e aproximaram-se para além dos limites de segurança para verem os pormenores.
Uuaauuuu! esta já estava!
Recolhidas as peças, continuámos em direcção ao nosso objectivo.
Felizmente que tudo estava muito bem planeado pois pelo caminho ainda tive que desactivar mais 4 engenhos semelhantes e mesmo assim, às 4 da manhã estávamos emboscados em semi-círculo frente a umas sentinelas que não se aperceberam da nossa aproximação.
Havia agora que as eliminar e para isso munimo-nos de facas e numa deslocação de verdadeiro bailado em pontas, surpreendemo-las sem grande alarido.
Num excesso de zelo que se justificava, a cada inimigo a quem espetávamos a faca, confirmávamos o seu aniquilamento com um género de forquilha com que lhe perfurávamos as entranhas.
Recuperadas todas as armas e munições que estavam naquele acampamento, apressámo-nos no regresso evitando qualquer reacção de algum grupelho que por ali andasse.
Chegámos ao quartel e reunimos para de imediato se fazer o relatório da operação.
As minas tinham inscrições em português!
Fabricadas num depósito de armamento ofensivo no Alentejo!
Estavam numeradas.
O explosivo, líquido e escuro, desaparecera, deixando-nos sem qualquer hipótese de o estudar.
Tivemos sorte pois deve ter-se vertido sem contudo provocar qualquer acidente.
Não era corrosivo o que afectaria o soldado que o trazia no burnal caso lhe chegasse à pele.
Tinha o nome de código Chaminé.
Passámos ao segundo ponto do relatório.
O inimigo era muito numeroso mas apanhado de surpresa como foi, soube-nos a pouco.
As facas, esmeradamente afiadas, cortavam as fatias do lombo do porco com batatas e castanhas de maneira exímia.
Não ficou nenhuma para contar como foi!
O bacalhau bem tentou fugir mas não conseguiu!
Finalmente, o inimigo dos inimigos apareceu disfarçado de leite creme, de toucinho do céu, de tiramisu, mas teve a mesma sorte: completamente dizimado!
Demos por terminado o relatório e todos o assinaram.
Uma última formatura e cada um seguiu para a sua caserna para um merecido descanso.
Pessoalmente dormi como um justo mas acordei cedo com uma dor de cabeça dos diabos.
Estávamos a 10 de Novembro de 2010, 39 anos depois de um outro incidente em Augusto Barros com direito a Panhards e tudo.
Recordações dum guerreiro que diz daquela longínqua guerra o que Moisés não disse do toucinho!
António Matos
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Nota de M.R.:
Vd. último poste deste autor em:
8 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7243: (Ex)citações (106): Netos ou peluches, tudo por uma boa saúde mental! (António Matos)
5 comentários:
Camarigo António
Para operações destas estou sempre pronto porque tenho o curso, (que tanto suor me custou), de O. E. G.
ou seja, Operações Especiais Gastronómicas!
Um abraço camarigo
Apesar do colesterol/diabetes, respondo PRONTO, se for convocado!
Amigo Matos
Eu bem tinha a certeza que ainda não tinhas esquecido como se desmontavam umas minas.Pena não ter estado aí para te ajudar a neutralizá-las,a elas e a esses IN de etnias multiplas!
Um abraço
Luis Faria
Parabens aos heróis!
Não é todos os dias que vemos narrados tais feitos.
E um abraço do
Alberto Branquinho
PALMAS! plá,plá,plá,plaplaplá, plaplaplapla ................
Boom!, explodem as munições,engolem as pautas os trombones que são soprados (ou sugados?) pela matilha e esta, naturalmente, acorda com a boca a saber a papel de música, com uns acordes desafinados a lixarem-lhe a "tola"!
É a vida! Mas, aqui, que bela vida!
Belo texto. Parabéns pela brilhante simulação narrativa, com tanto ou mais tempero que o encontrado na "casa de mato" do IN.
Um abraço
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