quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7260: Blogoterapia (166): Virar as costas sem se despedir (José Eduardo Alves)

Maria da Conceição, esposa do nosso camarada José Eduardo Alves, no meio dos miúdos de Mampatá.


1. Mensagem de José Eduardo Alves, (Leça) *, ex-Condutor da Cart 6250, Mampatá, 1972/74, com data de 9 de Novembro de 2010:

Caros editores e amigos
Sinto no escrever de muitos camaradas do blogue uma frustração pelo que aqui vou exprimir a minha opinião.

No dia que cheguei à Guiné, olhei à volta e pensei: Que venho aqui eu fazer, isto não é meu para eu defender - olhei à volta e não podia ver nada amarelo, era tempo fraco e quase tudo que era amarelo, não prestava.
Talvez me enganasse, mas estava convicto, passaram-se 26 meses, chegou a hora da partida, que alegria, finalmente ia recomeçar vida nova.

Passaram 35 anos, olhei para trás e disse:
- Afinal deixei amigos na Guiné e não me despedi deles, quando embarquei eram 23 horas, noite escura, olhei para trás e não vi ninguém.

Falei com camaradas que também lá estiveram e um deles disse-me:
- A mim aconteceu o mesmo ou quase, quando embarquei estava nevoeiro, mas depois fui lá de propósito despedir-me.

Então eu fui lá encontrar os meus amigos, partir mantanha.

Voltei e vou novamente.

O que se encontra lá, é o que a Catarina Furtado encontrou, aquilo que semeámos e a verdadeira simpatia daquela gente. Acho que faz falta a muitos irem lá despedir-se dos amigos e verificar que não temos inimigos na Guiné.

Caros editores, se não tiver interesse fica a intenção.

Uum abraço do tamanho dos meus braços para todo o blogue.
J. Eduardo Alves ( Leça )
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4458: Bem-vindo, Comandante Marcelino! Obrigado por ter tomado conta de mim na Guiné (José Eduardo Alves)

Vd. último poste da série de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7195: Blogoterapia (165): A geração da guerra (Joaquim mexia Alves)

2 comentários:

Carvalho disse...

Caro Amigo Eduardo:

Se mais motivos não houvesse,(e há muitos mais) só o facto de teres ousado revisitar Mampatá, pela segunda vez, em anos sucessivos, merece de minha parte o maior apreço pela tua pessoa. Sei que se dependesse de ti, a Guiné era hoje um país mais próspero.
Ficam para nós todos os sorrisos das crianças de Mampatá sublinhados pelo da tua simpática esposa que me parecem os mesmos de há 36 anos e que tão bem soubeste fotografar.
Obrigado Zé Eduardo.
Um grande abraço.

Hélder Valério disse...

Caro amigo José Eduardo

Os sentimentos que revelas são o que de mais comum se pode encontrar nas pessoas boas.
Tirando algumas excepções, a maioria de nós teve esse tipo de sentimentos, ou seja, passar a 'comissão' o mais sossegado possível e depois almejar a reintegração rápida e próspera.
Guiné, nunca mais!, dizia-se.
Mas bem sabemos que não é assim.
E aqui está tu a provar isso mesmo.

Um abraço.
Hélder S.