Bajuda da Guiné - Pintura de Juvenal Amado (2011)
© Reprodução proibida
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 29 de Dezembro de 2012:
Luís, Carlos, Virgínio, Magalhães e restantes camaradas da Tabanca Grande, desejo a todos um bom ano de 2013.
Um grande abraço
Juvenal Amado
ESCOLHAS
Marchei a compasso
Na minha cabeça um, dois
Esquerdo, direito
Tão certo como o destino
Lixado e mal pago
Aceitei-o sem revolta útil
Arrependimentos não trazem sossego
Talvez insónias
Há minha volta vi meninos de barriga grande
Mulheres amputadas com o peito cansado de amamentar
A terra pintada de vermelho com lágrimas de sangue
Na sua indescritível beleza
Percorri caminhos já percorridos
Em piso seco ou escorregadio
Nunca consegui evitar as curvas da vida
Às tantas na Primavera
Substitui o odor tropical
Adormeci inebriado com cheiro a cravo
Durante o sonho tive pesadelos
Desencantos mórbidos
Riso e escárnio de dentes podres
Vagueei curvado entre escombros
Sou espetro do que poderia ter sido
Recebo a chuva gelada no rosto
Marco passo na própria insatisfação
Insuportável o fel que me sobe das entranhas
Que me deixa branco nos cantos da boca
Não me cansei de olhar o passado
Acabei a tropeçar no Futuro adiado
Mais uma vez encolho os ombros
É a puta da vida mais curta que comprida
É a que temos e é só uma
Haverá sonhos que resistam aos pesadelos?
Juvenal Amado
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10860: Blogpoesia (311): Natal, Bambadinca, 24/25 de dezembro de 1969 (Luís Graça)
11 comentários:
Meu caro Juvenal:
Da beleza poética do que escreveste ressaltam desencantos e angústias que me gelam.
"Haverá sonhos que resistam aos pesadelos?" pergunta o poema. Gostava de ser mais afirmativo e não me limitar a responder-lhe com um "Tem de haver!"
Sebastião da Gama tem um belo poema que começa assim:
"Pelo sonho é que vamos
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos."
Eu preciso de sonhar, tanto mais quanto maiores forem as dificuldades a enfrentar.
Por isso, a minha resposta "tem de haver" é uma atitude de resistência à ideia de se poder viver sem sonhar com um futuro melhor.
Por favor, acalenta os teus sonhos!
Um abraço amigo e solidário
Manuel Joaquim
Bom dia Juvenal.
Obrigado pelo que nos ofereces.
Sempre que abro o Blogue fico cada vez mais pequenino!
Um bom ano para todos e que a vida vá proporcionando mais momentos belos, como os que, com tanta criatividade de alguns, promovem sentimentos de fraternidade que ficarão como marco geracional.
Aceita um abraço do Vasconcelos
Poeta, querido amigo e camarada: Lembra-te do velho pescador de "O Velho e o Mar":
"Um homem pode ser destruído mas não derrotado." (Ernest Hemingway).
Continuaremos a sonhar e a lutar pelos nossos sonhos... Desistir é que ser derrotado.
Luís Graça
Madalena, 31/12/2012
Olá Juvenal.
Gostei de, "um, dois, esquerdo, direito"!.
Como ainda te lembras?.
Sem tu mesmo quereres, fizeste-me levantar da cadeira, e começar a marchar!.
A pintura da "bajuda", não tenho palavras, realço, os olhos e as cores do lenço, e também aqueles lábios têm a sensibilidade de pessoa que conhece mais qualquer coisa, para além de pintura!
Um abraço, e que o ano de 2013, nos traga tudo de bom!.
Tony Borie.
O teu poema não é o das palavras doloridas, de
circunstância (desculpa-me a sinceridade, mas não sei muito fingir.)
O teu poema é o retrato da bajuda.
Aí estamos todos nós.
A mulher jovem do leve sorriso triste, questionando o mundo. Pelo traço e a cor, ténue mas firme, levaste-me até à Guiné e a todas as paragens deste nosso injusto mundo.
"La femme c'ést l'avenir de l´homme", escreveu o grande poeta
francês Louis Aragon, comunista e homem de bem.
Essa tua bajuda é o passado, o presente e todos os futuros.
Abraço forte,
António Graça de Abreu
Olá Juvenal
Tem que haver ou a vida era uma chatice.
Continua pintando, sonhando e vivendo Feliz.
Um 2013 com tudo de bom para ti e os teus,
Abração, T.
Caros camaradas
Muito obrigado pelas vossas palavas.
O poema não só sobre mim mas sobre todos nós, mas em especial os que se perderam na voragem dos anos.
A dor e raiva com escrevi as palavras, são a minha cota parte de desengano de que sou consciente e que vi ruir castelos e anseios.
Para além dos que perderam os seus empregos, há os que se tornaram em inclino de vão de escada e das portas de entrada dos prédios, na suas camas de cartão, acartam a trouxa com os pertences sem poiso certo de manhã à noite.
Conhecemo-los pelo olhar fugido ou demente e que afogam as memórias numa garrafa por vezes o seu único aconchego.
A bajuada essa sim, foi com a intensão de representar o elo que nos une todos ex-combatentes.
Desculpem algum pretensiosismo da minha parte.
Só um reparo (O teu poema não é o das palavras doloridas, de
circunstância ) (desculpa-me a sinceridade, mas não sei muito fingir.) não sei a que o António G. Abreu se refere neste excerto do seu comentário. Será que não te apercebes do que o que escrevi foi doloroso para mim? Que não sou sincero? Ou que estou a fingir?
Lamento o juízo de valor que fazes de mim ou possivelmente de quem escreveu os outros comentários.
Pois Abreu eu não finjo, e é me doloroso porque sou parte integrante desta sociedade que está a perder o sentido de proteger os seus. Em vez disso protege outros valores.
Se estou errado com a minha apreciação das tuas palavras, peço-te que me desculpes.
Bom ano para todos
Juvenal,o que escrevi, logo que li o poema e vi a pintura, foi sincero e, como sempre procedo, em tudo que faço na vida - nem sempre bem sucedido, mas paciência- testemunha o meu aceno de concordância.
Também penso que esta sociedade está a desprezar os que com a nossa idade sofrem, não podendo dar ainda mais do que já demos -sacrifícios na juventude, na adolescência, na idade mais promissora até ao meio século de vida-. E, quando precisava-mos de ver o país melhor, os nossos filhos e netos com futuro melhor, é o que se vê!
Caros camaradas
Este poema do Juvenal tem, para mim, o sabor amargo do desencanto. mas não só!
É a raiva! É a incerteza (ou será a certeza?) do que aparentemente o espera!
Percebo o que se pode dizer quanto ao retrato da bajuda. Até aprecio e concordo com os comentários e opiniões que foram vertidos sobre isso.
Não consigo é entender por que raio há-de haver sempre uma espécie de 'mordidela' no que o Juvenal escreve.
O poema não é o das palavras doloridas, de circunstância? Porque não pode ser? E por quê de 'circunstância'?
Se um homem que sempre trabalhou; que só tem de seu a sua 'força de trabalho'; que os que tiveram poder de decisão decidiram que ele teria que ser 'dispensado de trabalhar'; que o 'subsídio de malandrice' (que é o subsídio de desemprego na boca daqueles que falam de barriga cheia e sem incertezas quanto ao futuro) está a chegar ao fim, que as perspectivas de arranjar trabalho são próximas do nulo, escreve palavras de 'circunstância'?
Pois será verdade, sim senhor, mas a 'circunstância' de ver a sua vida ruir. É justo? Estará proibido de expressar-se assim?
Francamente!
Caro Juvenal, um grande abraço!
Hélder S.
Desculpa, meu caro Juvenal.
Não fui claro.
O que eu queria dizer, com toda a sinceridade que sempre prezo, é que gostei mais do retrato do que do poema.
Mas entendo as tuas palavras magoadas.
Abraço,
António Graça de Abreu
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