Comandante, apresenta-se o 651!
Por essas tuas respeitáveis barbas te direi estranhar que, morando tão perto, andámos tão distantes, tendo tanto para dar, em comum. Moro em Leceia (Barcarena) [, concelho de Oeira], a dois passos da tua "palhota" [, Alfragide, Amadora].
Gostei das palavras que se enunciaram acerca deste "velho combatente". (*)
Gostei das palavras que se enunciaram acerca deste "velho combatente". (*)
Prometi voltar com participação activa e nem sei por onde começar, tanto o quanto tenho para dizer.
Começo por um desabafo:
Senhor Ministro da Defesa, vamos lá falar, com toda a franqueza: Dizer-lhe, que militar não é, propriamente, um funcionário público. Já lhe ocorreu pensar nesta verdade?
Eu explico: No tempo da "tal senhora" tão desprezada, fomos os defensores do "coiro" dos bem instalados e seus pertences. Quem sabe, até, se dos seus?!
E note, quando havia eleições, ditas "livres", para que o fossem, nós entrávamos de prevenção nos quartéis. Os "outros", ficavam no morno lar conjugal.
Eram os chamados tempos de paz. Não da nossa! Tínhamos as escalas de serviço. Domingos, feriados, férias a gosto? Nem pensar! O dever, sobrepunha-se a tudo.
Por vezes, morando na Grande Lisboa, se estava destacado em Santarém, Leiria... Casos meus e concretos. Fins de semana com a família, só quando a escala o permitia! Dá para entender?...
Funcionário Público muito especial, portanto.
Depois veio a famigerada Guerra da Ultramar. A partir daí,... Pense, tão somente, os medos que se viveram, as saudades sentidas, os filhos crescendo ou nascendo, longe do pai, casamentos desfeitos por falta de presença, noivados sem efeito por ausência...
As sedes, as fomes, as doenças, tudo em soma e em crescendo. A mutilação, o stress eterno, ou simplesmente... a morte!
Tudo isto, Excelentíssimo Senhor Ministro da Defesa, fez parte do "bornal" de um combatente.
Tudo isto, Excelentíssimo Senhor Ministro da Defesa, fez parte do "bornal" de um combatente.
À pergunta, porque exigimos respeito e compreensão, aproveite um domingo solarengo de Primavera e dê um passeio por Belém. No mural do Forte do Bom Sucesso, soletre os nomes dos dez mil que lá
"repousam". Depois, faça um pequeno exame de consciência e diga: "Em verdade, sois diferentes".
E então, com dignidade e em nome de todos nós, assinale e vinque tal diferença!
De um dos muitos, falando por todos! (**)
Silvério Dias
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)
2. E já agora, aqui vão uns versos, a propósito desta (in)citação (com referência aos nossos dez mil mortos, em combate, acidente e doença), do nosso "poeta todos os dias" [que é o nome do blogue de poesia do nosso camarada Silvério Dias, beirão, que passou pela Índia, Moçambique e Guiné]:
RESPEITO...
Andei na guerra, estive na frente:
Índia, Moçambique e Guiné.
Regressei sem mazelas, felizmente,
Mas do sofrimento me dei fé.
Além, na parede do Bom Sucesso,
"Jazem" os dez mil que partiram.
A morte não dá regresso,
Por eles, quantas mães carpiram!...
E os outros, os "nossos feridos"?
Tantos foram, Deus infinito!
Vinte e cinco mil, bem definidos.
Sobre eles, tanto medito!
A dor física, e bem danosa,
Se combate e minimiza.
A da alma, invisível e penosa,
Gasta, corrompe e se eterniza.
Se classifica de trauma,
Provocada por guerra injusta.
Rouba o sossego e a calma,
Num sofrer, que tanto custa!
Mutilações, feridas, incapacidades,
Lhes são comuns, em mau efeito.
E, tão jovens, nas suas idades!...
Hoje, o lamento, do pouco feito.
"Honrai a Pátria". Ela vos honrará.
Onde começa e finda a verdade?
É certo, a História não apagará
Mas anda escondida, a falsidade!
Silvério Dias
15 de novembro de 2013
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 24 de março de 014 > Guiné 63/74 - P12894: Tabanca Grande (430): Silvério Dias, 1º srgt art ref, o senhor PIFAS, e "poeta todos os dias!...Nove anos de permanência em terras guineenses, incluindo uma comissão na CART 1802 (Nova Sintra, 1967/69)... É agora o grã-tabanqueiro nº 651
(**) Último poste da série >
18 de março de 2014 > Guiné 63/74 P12850: (In)citações (62): Agradecimento da família Schwarz da Silva ao nosso blogue por, metaforicamente falando, ter emprestado os seus cavaleiros e tambores para glorificar o Homem, que foi o Pepito, na vida e na morte (João Schwarz da Silva / Luís Graça)
(**) Último poste da série >
18 de março de 2014 > Guiné 63/74 P12850: (In)citações (62): Agradecimento da família Schwarz da Silva ao nosso blogue por, metaforicamente falando, ter emprestado os seus cavaleiros e tambores para glorificar o Homem, que foi o Pepito, na vida e na morte (João Schwarz da Silva / Luís Graça)
6 comentários:
Meu caro camarada (e, sei-o agora, vizinho):
Ironia, mordaz, a tua... Mordaz e sempre oportuna! Tenho vindo a "espreitar" os teus versos... É obra arranjar tempo, pachorra, inspiração e tema para ser "poeta todos os dias"...
(...)
"Honrai a Pátria". Ela vos honrará.
Onde começa e finda a verdade?
É certo, a História não apagará
Mas anda escondida, a falsidade! (...)
De facto, ela, a Pátria, ou melhor aqueles que evocam o seu nome em vão, o "nosso escol dirigente" (de há muito, e não só de hoje), têm sido mais Madrastra do que Pai, Mãe, Irmão, Irmã...
Pessoalmente gosto mais da trilogia Pátria - Mátria - Fátria...
De qualquer modo, a divisa original é "A Pátria honrai, que a Pátria vos contempla"...
Vd. aqui, na Revista da Marinha, n pag. 4, a origem desta divisa que está inscrita na roda do leme do nosso navio escola Sgares:
http://www.marinha.pt/Conteudos_Externos/RevistaArmada/_FlipVersion/2008/index.html?pagenumber=183
A paternidade da disisa parece pertencer a José Silva Mendes Leal (1820-1886), que a alcunhou quando ministro da marinha e do utramar em 1863...
Esse Mendes Leal foi escritor, jornalista, diplomata e político, deputado, par do Reino e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1869-1870), ministro plenipotenciário de Portugal,em Madrid (1871-1874) e em Paris (1874-1881).
"O zelo da honra da pátria é um fogo resplandecente que, para alumiarmos, mostrando os fermosos fins a que se dirige, começa cegando-nos, para se não se vejam os primeiros riscos que estão diante de todas as cousas árduas" (Fernando Manuel de Melo, Epanáfora Triunfante, 1654)
Caríssimos,
Lamentavelmente, não podemos nem individualizar o intolerável desrespeito pelos ex-combatentes.Historicamente,as elites políticas, em troca das migalhas que caíam das mesas dos poderosos de Aquém e Além Mar (agora Aquém e Além Perineus)quase sempre "nos venderam".
Está, pois, "a dar a lógica".
forte abraço a todos
Vasco Pires
Tive o prazer de ouvir variadissimas vezes a voz deste "camarada" que, Segundo informacao de amigo comum (Albano Mendes de Matos)ficou na Guine a pedido do PAIGC. Ou estou errado? record que, na radio trabalhava tamvem o ex-dono do Chez Toi, Chamado Soares Duarte. Portanto, nao sera surpresa que o camarada Silverio Dias conhecesse o meu restaurant o Ninho de Santa Luzia. Abraco e que continue a luta.
Tanta e tanta verdade, mas os Deuses devem de estar a dormir, não ouviram, nunca vão ouvir, se calhar até não faz falta há muito que aprendemos a viver sozinhos. Hoje tenho pena de não ter sido um tipo poupado e ter guardado numa caixa todos os tiros desnecessários que dei, foram todos, para os poder oferecer a alguém a esses senhores que se intitularam donos do mundo e nós deixamos.
Um grande abraço a todos
Ernesto Duarte
Mansabá 1965 / 1967
Uma vez mais, uma janela se abriu, neste edifício feito de lutas, de sangue suor e lágrimas, de alegrias e derrocadas colectivas. Quem a pátria não honra, a vende por patacos e a degrada, não a merece.
Uma vez mais, uma janela se abriu e desfraldou a bandeira que nos acolhe. Ela merece, no mínimo, o nosso respeito.
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