sábado, 3 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2807: Estórias de Jorge Picado (1): A emboscada do Infandre vivida pelo CMDT da CCAÇ 2589 (Jorge Picado)




Jorge Picado,
ex-Cap Mil,
CCAÇ 2589 e CART 2732,
Guiné 1970/72



1. Em 30 de Abril de 2008, recebi do ex-Capitão Mil Jorge Picado a seguinte mensagem:

Acedendo ao solicitado pelo camarada Sousa Gomes (1) vou tentar dizer o pouco de que me recordo sobre a Emboscada de 12 de Outubro de 1970, por sinal matéria bem dolorosa para mim, não só pelas funestas consequências, mas também pelas recordações da véspera desse dia.

Entretanto diz o camarada na sua mensagem, referindo-se a mim…responsabilidades e experiência … e mais à frente …ilustre Ilhavense

Acerca das minhas responsabilidades e experiência, no capítulo militar entendamo-nos, não rejeito as responsabilidades que me cabiam, mas quanto à experiência, estamos conversados, era fraquíssima e, quanto a ser ilustre Ilhavense, tomo-o como um excesso de linguagem, que perdoo, pois o simples facto de ter cumprido uma comissão naquela guerra não me dá direito a tal e até agora nada fiz para me diferenciar de um simples e normal cidadão Ilhavense.

Sobre o meu passado no TO da Guiné possuo muito poucos documentos (1 pequena agenda de bolso, onde religiosamente eram cortados os dias que passavam para me embriagar na esperança de que só faltavam ene dias! e onde apontei – esporadicamente – alguns factos desses 2 anos, pelo que às vezes há sobreposição nos dias, constitui a base dos meus recuerdos) e essas recordações passaram a ser vagas e pouco precisas, resultado de diversos factores que agora não interessa revelar, apenas aflorando o seguinte: fruto duma preparação mental, consegui quase sempre actuar como um perfeito autómato, podendo dizer que, em verdade, olhava, mas não via (era como se falássemos em linguagem informática, a minha ram cerebral não funcionava, já que consegui desligá-la na maior parte do tempo).

Posso também afirmar que, não havendo (creio) drogas para nos alienar, só assim e, com a ajuda de cigarros (não sou nem nunca fui fumador) e algum (por vezes bastante) álcool (apenas bebia e bebo um pouco de vinho às refeições e muito excepcionalmente algo mais) suportei aqueles anos sem ficar com mazelas do foro psicológico, como infelizmente aconteceu com tantos camaradas a quem a Pátria (leia-se os que durante todos estes anos têm tomado em mãos os destinos do País) tanto maltratou e continua a não respeitar…

2. Mas vamos ao que interessa agora, fazendo previamente o ponto da situação.

Fui parar (não digo cair de pára-quedas como é uso dizer-se) à CCAÇ 2589 quando esta já tinha pouco mais de 1 ano de campanha. Não sou portanto da sua origem, pelo que aqueles laços que se estabeleciam durante o período da formação desses conjuntos de homens não foram criados. Felizmente para mim, naquele período, a unidade encontrava-se em Mansoa, junto da sede do Batalhão, o BCAÇ 2885, e não estava concentrada. Por este motivo a minha actividade operacional encontrava-se muito atenuada, pelo que fui um sortudo.

Três pelotões estavam dispersos por, Infandre, Braia e Cutia e o quarto encontrava-se na sede. Por este motivo e para cumprir as missões que lhe estavam confiadas, ou seja e muito resumidamente a segurança e defesa de cerca de 1/3 (área NO) do concelho de Mansoa, que era o sector do BCAÇ a 2589 estava reforçada com pelo menos 2 Pelotões de Africanos – ainda que admita como mais verídico serem 3 essas unidades.

Como agora confirmo no P2162, deveriam ser 3 essas unidades, já que apenas tinha em meu poder a indicação dos Pel Caç Nat 15 e 61, faltando o 58.

Uma das minhas actividades consistia em efectuar visitas aos Destacamenntos para:
a) – acompanhamento da realização de acções da APSICO;
b) – uma certa moralização das tropas para que não se sentissem abandonadas pelo seu Capitão (não sei se consegui transmitir-lhes esse sentimento de camaradagem);
c) – transmitir aos respectivos Alferes certas directivas emanadas pelo Comando.

Dada a proximidade de Braia e a maior rapidez com que se fazia o trajecto Mansoa – Cutia, por ser em estrada asfaltada, apenas pernoitava em Infandre (excluindo o período de cerca de pouco mais de 3 meses em que por razões operacionais estive sediado em Cutia).

E chegamos assim à fatídica segunda-feira de Outubro, dia 12 (2).

Esse fim-de-semana passei-o no Infandre. Foi a 10.ª deslocação que efectuei a este Destacamento. Fui para lá no sábado de manhã e só regressei à sede no fim da tarde de domingo!

Permitam-me uma confidência escrita 32 anos depois, quando verifiquei que já não me impressionava com as lembranças do passado da Guiné.

Se não viesse a acontecer uma situação bastante grave no dia seguinte com a coluna deste Destacamento, a forma como se processou o meu regresso nesse domingo não merecia ser descrita, pois assemelhar-se-ia a tantas outras.

Quando a meio da tarde contactei o BCAÇ para enviar a coluna que me levaria de volta a Mansoa, desloquei-me, como sempre fazia nestas circunstâncias e com a segurança feita pelas forças do Destacamento, para o cruzamento do itinerário (era a picada Mansoa – Bissorã), onde seria recolhido pela coluna.

Como se aproximava o fim da estação chuvosa, a precipitação era já mais reduzida e como a temperatura estava numa fase descendente, os dias eram mais agradáveis. Nesse fim de tarde, o tempo estava mesmo óptimo. Quente, mas não excessivo, sem chuva, de forma que à sombra das árvores frondosas que ladeavam o caminho, numa quietude agradável dado o silêncio envolvente, saboreávamos aqueles momentos, em amena cavaqueira, podendo mesmo dizer que se gozava uma "perfeita paz". Se não fosse o vestuário e toda aquela parafernália militar – “Unimogs”, camuflados, “G-3”, morteiros, lança granadas e a segurança próxima que tinha ocupado posições – poder-se-ia dizer que se tratava dum bucólico passeio efectuado por um grupo de excursionistas, talvez de desportos radicais, que por momentos se tinham rendido àquele ambiente agradável e bonito, proporcionado por aquela paisagem, verdejante e já com algum dourado do capim, que nos envolvia.

Quando passou um avião, “T-6” armado de “rockets”, que regressava a Bissalanca, vindo provavelmente do Norte de Bafatá ou do Este de Farim – das zonas de Canjambari, Jumbembem ou Cuntima, muito sensíveis – todos olhámos para o céu, que se apresentava dum azul bonito, e comentou-se: “Onde teriam ido descarregar a carga transportada?”

Não sei quanto tempo permanecemos ali, até que finalmente ouvimos o barulho característico do aproximar das viaturas, com o inconfundível, por mais ruidoso e barulhento, da “chocolateira” ou “assadeira” – autometralhadora “Fox” – que era sempre quem abria a coluna.

Após a confraternização, que se efectuava sempre entre os vários elementos e, feitas as despedidas, regressei serenamente, abrandando à passagem por Braia, para as saudações da praxe, e cheguei em paz, mas já ao lusco-fusco, ao quartel, ainda a tempo de tomar uma banhoca, mudar de roupa e seguir para a messe, já que a hora do jantar estava próxima.

Posteriormente, sempre que recordo estes factos, me interrogo. Como foi possível, aquele fim de tarde tão calmo, tão sereno e tão agradável, se passadas pouco mais de 16 horas, a tão curta distância desse lugar, a Unidade sofreu, creio, o maior número de baixas e estragos que o Agrupamento de Mansoa registou, pelo menos durante a “Era” deste BCAÇ?


Habitualmente faziam-se 2 colunas por semana do Infandre para Mansoa, com o objectivo de se proceder ao reabastecimento, nelas se incorporando sempre pessoal civil do aldeamento e familiares dos militares africanos que vinham à vila para efectuarem compras, à consulta dos médicos do BCAÇ (havia 2 Alferes Milicianos Médicos de nomes Brandão e Sampaio) ou simplesmente passear.
Nesse dia também veio o Régulo do Infandre, de nome Iero e persona non grata do PAIGC.

Referindo-me ao regresso, não concordo com a passagem onde se diz que houve uma paragem em Braia, porque não é verídica.

Vou transcrever os meus hieróglifos desse dia na agenda.

Emb. INF. 12,30 M – 12 (5 Cont. (1 Fur.) 16 (1 Cont + 2 Sarg. + 2 civis). Ataque Mansoa 19h, curto. 22 C/SR + Mort.

Procurando traduzir estas anotações posso dizer que a emboscada se iniciou muito provavelmente às 12h30m, pois em Mansoa estávamos à mesa no início do almoço quando fomos surpreendidos pelo barulho dos rebentamentos, que por ser tão próximo foi imediatamente relacionado com a coluna que pouco tempo antes tinha saído do quartel.

M – 12, era o número de mortos posteriormente contabilizado dos quais, 5 eram do continente sendo um Furriel (este o malogrado Dinis César de Castro).
Por sua vez, 16 era o número de feridos (não descriminando a gravidade) dos quais 1 seria continental, 2 da classe dos sargentos (teria sido melhor indicar furriéis?) e incluía este número 2 civis.
O ferido do continente era o 1.º Cabo Enf. Seguidamente indico o ataque a Mansoa aproximadamente às 19 horas.
Foi de curta duração (curto), tendo sido contabilizados 22 rebentamentos de canhão sem recuo e de morteiros (22 C/SR + Mort.).

Estes ataques eram sempre executados do lado Este, da zona de Cussanja ou de Anha (zona Sul de Canjambari, segundo a designação do dispositivo do PAIGC e que ficava perto das bolanhas na confluência do Rio Mansoa com um seu afluente, o Rio Olom que segue para NE ultrapassando Mandingará, já acima de Cutia e não junto às margens do Rio Geba, como se diz).

Tenho em meu poder (como resistiu às limpezas da papelada que a certa altura fiz, nem sei explicar) uma cópia a tinta-da-china feita por um desenhador possivelmente da CCS, do esquema das posições IN recolhidas no terreno no dia seguinte, que acompanhou o respectivo relatório discriminativo da ocorrência, que deve existir nos Arquivos Militares.

Não possuo elementos para confirmar quais os Pelotões da CCAÇ que se encontravam nesse período respectivamente no Infandre e em Braia (havia uma rotação periódica, já que a perigosidade era diferente nos três Destacamentos e a estadia em Mansoa era considerada como descanso), mas uma vez que quem descreve a chegada ao local é o A. S. Gomes, identificado na foto ao lado dos camaradas Serralha e Simões, de quem me lembro muito bem já que possuo fotos da mesa do almoço de Páscoa em Braia, direi que era o Pel do Alf Almeida.
Por sua vez no Infandre estaria o Pel do Alf Assude (estou procurando confirmar este dado com o próprio).

Todo o pessoal do quartel em Mansoa, que mais uma vez afirmo estava almoçando, deixou alvoroçado e preocupado, os refeitórios, como era habitual acorrendo à parada, para receber instruções do Comando do BCAÇ, enquanto os oficiais acorriam para as Transmissões e Sala de Operações para contactar as nossas forças e dirigir as manobras.
Posso afirmar que certamente eu devia estar extremamente pálido e meio atónito, porque me lembrei imediatamente do fim de tarde do dia anterior… o Ten Cor Chaves de Carvalho não me mandou seguir…

Quem primeiro confirmou o sucedido foi Braia, dizendo que a coluna que tinha passado pouco tempo antes estava a ser atacada e estavam-se aprontando para seguir em seu auxilio.
Logicamente que Infandre confirmava.
Como, pelas informações, seriam os de Braia os primeiros a chegar foi lhes pedido que dessem as localizações (de acordo com as quadriculas) para o fogo de apoio dos obuses, como de facto depois foi feito.

Por sua vez em Mansoa estava o Pelotão do Alf Martinez (ele quase que não precisava de ordens do Cmdt para arrancar, já que era o 1.º a subir para a viatura com os seus camaradas que o seguiam imediatamente), tendo sido ele que seguiu com o primeiro grupo.
Posteriormente foi dada ordem para 2 Pelotões da CCAÇ operacional (uma unidade de reforço ao BCAÇ existente em Mansoa de que não recordo o número e era comandada por um Cap do QP) seguirem até Braia, com o objectivo de efectuarem uma batida a partir daí na zona de retirada dos elementos do PAIGC e um grupo misto de pessoal de serviços para as restantes tarefas de remoção dos destroços.
Por sua vez o Cmdt do BCAÇ determinou que eu, acompanhado pelo Martinez, me preparasse para no dia seguinte proceder ao reconhecimento detalhado do local da emboscada, com vista à elaboração dum esquema que acompanhasse o relatório da ocorrência.

A ideia que tenho, não digo que seja correcta, é de que quando o pessoal de Braia (que julgo terem começado a fazer fogo de morteiro ainda que às cegas, para os terrenos a Norte do itinerário e aqui peço ao A. S. Gomes que me corrija ou confirme) chegou às proximidades, os emboscantes já estariam em retirada.

As viaturas ficaram inoperacionais fora da estrada na berma do lado S, a mina não foi activada (porquê? Terá sido detectada pelo condutor da viatura a tempo, que fez desviar a viatura para a berma esquerda? Aperceberam-se as NT da emboscada, obrigando assim os guerrilheiros a iniciá-la prematuramente?).

Os géneros foram praticamente todos saqueados e raptaram vários elementos da População incluindo o régulo Iero, de quem nunca mais se teve conhecimento.

Na minha ignorância militar, fiquei sempre com a ideia de que este rapto tinha sido o objectivo da emboscada… se houver alguém que me tire isto da ideia, agradeço.

O esquema da emboscada, fruto dum minucioso e cauteloso (não fossemos deparar com alguma desagradável surpresa de armadilhas deixadas) reconhecimento efectuado logo pela manhã do dia seguinte, revelou tratar-se duma operação bem planeada e demoradamente concebida, pelos efectivos e armamento aplicados. Não me sinto diminuído por afirmar que estas apreciações são mais fruto da experiência do Martinez, do que minhas!

De acordo com a cartografia, depois da curva para a direita no sentido Braia/Infandre, a picada com a orientação ONO, desenvolve-se praticamente em linha recta numa extensão de cerca de 3 km e a emboscada foi montada (logicamente do lado Norte) sensivelmente a meio do trajecto curva-pontão antes do desvio para o Infandre, em local não capinado por não ser cultivado pela População que não se aventurava até aí para fazê-lo.

O capim, então no seu máximo desenvolvimento estava mesmo em cima da picada e, como sabem ultrapassava a altura das viaturas, ainda meio verdejante apresentava já uns tons amarelados permitindo reconhecer, pelo seu calcamento, todas as posições, os trilhos e o próprio local de retirada.

Numa extensão de cerca de 260m, medidos entre as posições extremas, pudemos identificar 14 posições no total, a diferentes distâncias da berma. No meio havia 2 posições maiores distantes 15 a 20m da berma, seguindo-se para cada lado 2 a cerca de 10m, mais 3 entre 3 a 5m e a extrema a 3m.
O local de reunião do lado da extremidade O estava a cerca de 200m e havia os vestígios de instalação daquilo que designámos por armas pesadas (morteiros? C/SR?) a cerca d 1km.

A mina A/C instalada na estrada estava sensivelmente a meio, no enfiamento da separação das posições centrais e a 1.ª viatura metida pela berma dentro (lado S) antes da mina.
A distância para a outra viatura, que não chegou a entrar tanto pelo terreno, era de cerca de 90m, mas tendo já ultrapassado a 3.ª posição da emboscada, portanto todos bem envolvidos pelos elementos do PAIGC.
A retirada foi na direcção do Cubonge, a caminho do Morés.

Estou de acordo com o que diz o A. S. Gomes, de que não houve paragem em Braia.
Não vieram ambulâncias de Bissau, como diz o Cabo Enf A. Costa. O César Dias tem razão.

Os mortos e os feridos supostamente menos graves vieram para Mansoa, sendo tratados pelos serviços médicos da Unidade e só no dia seguinte seguiram para Bissau aqueles que os médicos entenderam que precisavam de maiores cuidados.

Não tenho conhecimento de que o Marcelino da Mata tenha estado no local nesse dia, nem no seguinte, quando realizei como disse o reconhecimento do mesmo.

O 1.º Cabo Enf do Pel Caç Nat só não morreu, porque encontrando-se gravemente ferido de barriga para baixo (estaria desmaiado?), não reagiu à provocação feita por um dos assaltantes com o cano em brasa da Kalash, segundo me disseram na altura.

Não preciso indicar como, porque os camaradas calculam, já que este acto tinha sido referenciado noutras ocasiões, deixando-nos sempre na dúvida de sabermos se os corpos encontrados já mortos, tinham morrido imediatamente em combate ou se algum foi abatido quando se encontrava apenas ferido.

Da batida efectuada relataram ter encontrado rastos ensanguentados, mas não se soube, na altura, se houve mortos ou feridos da parte do PAIGC.

Há uma certa discrepância nos números apresentados pelo César Dias (10 mortos e 17 feridos) e os meus (12 mortos e 16 feridos), mas não sei quem terá razão.
Quanto ao soldado capturado, não seria o tal Soldado Condutor, que apareceu à noite, segundo afirma o Luís Camões? Eu não me recordo deste facto.

Não registei os nomes dos mortos, apenas recordando, por razões especiais o do ex-Fur Mil Dinis César de Castro.

Quando a partir de 2002 procurei alinhar algumas recordações do meu passado na Guiné, socorri-me da publicação de Joaquim Vieira, Angola-Guiné-Moçambique. Os Que Não Voltaram, do Caderno Expresso de 1994, para captar os possíveis nomes desse dia.

Nessas 31 páginas com 3 colunas cada de letra miúda, encontrei precisamente, e apenas, 12 nomes de mortos em combate em 12-10-70, todos do exército.

Tomei esses nomes como os referentes aos mortos dessa emboscada (uma vez que coincidiam com o meu apontamento) e que, por ordem alfabética, estão assim escritos:

Betiquete Cumbá, Sold.;
Diniz César de Castro, Fur.;
Duarte Ribeiro Gualdino, Sold.;
Gilberto Mamadu Baldé, Sold.;
Idrissa Seidi, Sold.;
Joaquim Banam, 1.º Cabo;
Joaquim João da Silva, Sold.;
Joaquim Manuel da Silva, Sold.;
Joaquim Marmelo da Silva, Sold.;
José da Cruz Mamede, 1.º Cabo.;
José Simões F. Serra, Sold.;
Tangtna Mute, Sold.

Uma vez que, por afirmações feitas nesta Tabanca não aparece o nome de José S. F. Serra e segundo Abreu Santos, Joaquim Manuel ou Marmelo(?) da Silva morreu nesse dia, mas em Nova Lamego, é possível que os mortos militares tivessem sido realmente 10 e nos meus 12 estivessem contabilizados 2 civis.

A distribuição dos efectivos militares nos 2 Destacamentos à data da emboscada não era a indicada no que se refere ao pessoal da CCAÇ 2589. Não eram secções que lá estavam, mas sim um Pelotão em cada Destacamento, reforçado sim com secções do Pel Caç Nat 58.
Não me recordava do nome do seu Cmdt, mas ao lê-lo agora reactivou-se na minha ram. Havia sim um Guerra, tal como um Alf Simeão que comandava o Pel Caç Nat61 e esteve comigo em Cutia.

Segundo o depoimento de Augusto Jaló o condutor ter-se-ia desviado da mina para a direita, mas a viatura ficou na berma esquerda? Uma vez que se desviou, foi porque naturalmente a detectou ou pelo menos viu algo de anormal na estrada e talvez por isso a emboscada foi iniciada mais cedo. Teria sido assim?

Numa das fotos coloridas (algures, após o Fortim de Braia) pode ver-se a vegetação luxuriante e o capim, bem alto, mesmo em cima da picada tal como quando da emboscada.
Não havia era este tipo de árvores com os ramos cobrindo a picada, mas apenas umas árvores mais dispersas e com a copa alta como na foto a preto e branco que a antecede.

Para já é tudo.
Se conseguir contactar o Assude e tiver mais conhecimentos transmiti-los-ei.

No encontro de 17 de Maio levarei uma fotocópia da emboscada, porque não tenho de momento hipótese de a transcrever.

Abraços.
Jorge Picado
_________________

Notas de C.V.

(1) - Jorge Picado quererá referir-se certamente ao nosso estimado camarada Afonso M.F. Sousa que dedicou exaustivo trabalho de pesquisa a esta emboscada.

Vd. poste de 10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2748: Para o estimado Jorge Picado (Afonso Sousa)

(2) - Sobre a emboscada do Infandre Vd. postes de:

3 de Abril de 2008

Guiné 63/74 - P1641: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58 (1): Onde e em que circunstâncias ? (Afonso M. F. Sousa)

Guiné 63/74 - P1642: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (2) : Em Infandre, a 13 km de Mansoa (Afonso M. F. Sousa)

e ainda > Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Cacç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)

4 de Abril de 2007> Guiné 63/74 - P1644: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (4): Recordando o mítico Morés (Afonso M.F. Sousa / Carlos Fortunato)

7 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde Camaradas

É de louvar, depois de 38 anos o Jorge Picado faça um relato tão detalhado deste acontecimento, mas percebe-se porque era o comandante das envolvidas.
Quanto ao contributo que dei ao Afonso Sousa, foram dados que retirei da "HISTÓRIA DA UNIDADE", pois verdadeiramente só me ficou na memória que naquele dia perdemos esses camaradas e porque entre eles estava um grande amigo, o Dinis,pois com ano e meio de Guiné já pouco nos impressionava, julgo que todos perceberão isto.
Quanto ao PEL NAT 15 referido pelo Jorge Picado, penso ser um grupo de combate ou pelotão da CCAÇ15 que estava em intervenção em Mansoa, era mais uma companhia de africanos enquadrada por metropolitanos.

Um abraço a todos

César Dias
Ex Furriel Milic
BCAÇ2885
mANSOA 69/71