segunda-feira, 13 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4680: (Ex)citações (34): Resposta ao amigo Pereira da Costa (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de J. Mexia Alves (*), Alf Mil da CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), com data de 12 de Julho de 2009:

Meu caro António Pereira da Costa, meus caros editores

Escrevi este texto como comentário/resposta ao meu amigo António Pereira da Costa (**).

Envio-o para que dele façam o que quiserem, ou seja, colocá-lo como comentário, ou como texto publicado.

Confio como sempre no vosso superior juízo.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves


2. Comentário ao meu amigo António Pereira da Costa

Meu caro António Pereira da Costa

Obrigado por este teu texto com o qual concordo em quase tudo.
E porquê quase tudo?
Porque não concordo com duas coisas:

A primeira é a valentia dos que fugiram, nem que seja expressa como hipótese.
Valentia a sério daqueles que não foram, julgo eu, é a dos poucos que se apresentaram às autoridades de então e disseram cara a cara que não embarcavam, arrostando com as responsabilidades do seu acto.
Assim fizeram vários, por exemplo nos EUA, por causa da guerra do Vietname e esses, como os de cá que procederam de igual modo merecem e têm todo o meu respeito.
Se entre os outros haverá alguns que teriam razões ponderosas para o fazer, certamente haveriam, mas muito poucos para o fazerem daquela forma.
Repara que tu mesmo utilizas um verbo que em nada abona o acto: fugir.

A outra com que não concordo, meu caro camarigo de Bambadinca e afins é a conclusão final de que perdemos a guerra.

Não, não vou debater razões tácticas nem outras quaisquer, mas vou-te dizer apenas que nós, aqueles que lá estivemos, não perdemos guerra nenhuma!

Tê-la-ão perdido os políticos, tê-la-ão perdido uns quantos militares, tê-la-ão perdido uns historiadores e uns opinadores, mas nós não meu camarigo, nós não!

Nós, os que lá estivemos, vencemo-la com a nossa entrega naquele tempo e agora.
Sim somos vencedores, porque não olhamos para o inimigo como inimigo, e porque não vemos aquele povo e aquela Nação como inimiga, mas sim como um povo e uma Nação que gostaríamos de ajudar a ser mais fraterna, mais solidária, mais coesa e sobretudo mais feliz.

Custa-nos isso sim, ver tantos mortos de um lado e de outro, e afinal não vemos um povo mais independente, um povo mais feliz.

E a culpa não é só deles, mas também daqueles que não souberam fazer tudo o que estava ao seu alcance para que a Nação se construísse na paz e no progresso.

Arrisco-me mesmo a dizer, meu camarigo, nós ganhámos a guerra, o PAIGC ganhou a guerra, mas quem veio depois, poderes portugueses e poderes guineenses, perdeu-a total e completamente.

Sim é verdade, que neste espaço, nos convívios, encontramos espaço para falar do que não falávamos e isso é a razão porque nos devemos manter unidos à volta deste mais que projecto, que nos une até nas divisões próprias do pensar de cada homem, mas que nos leva a fazer a história, feita das nossas histórias, que um dia poderá ser a verdadeira história da guerra da Guiné e não aquela que alguns que sobre ela escrevem querem que seja, por razões que apenas lhes assistem a eles, e com isto não me estou a referir a ninguém em particular, que fique bem expresso.

Resta-me deixar-te o abraço de quem contigo viveu momentos que nunca esquecerá e a todos os que os viveram também por aquela Guiné dos nossos sonhos.

Joaquim Mexia Alves
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4678: António Sampaio, sê bem-vindo à Tabanca Grande (Joaquim Mexia Alves)

(**) Vd. poste de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4672: Blogoterapia (114): Quem somos nós? (António J. Pereira da Costa)

Vd. último poste da série de 7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4650: (Ex)citações (33): A Tabanca Grande ou... Global: de Contuboel, Fajonquito e Bissau com amizade (Cherno Baldé)

5 comentários:

MANUEL MAIA disse...

CAMARIGO MEXIA ALVES,

SUBSCREVO INTEIRAMENTE AQUILO QUE DIZES,E SE ME PERMITES,GOSTARIA DE ACRESCENTAR UNS PEQUENOS CONSIDERANDOS.

EM 19.4.2008,JOSÉ PACHECO PEREIRA,ESCREVEU NO "PÚBLICO" UM ARTIGO BRANQUEADOR DA SITUAÇÃO DOS REFRACTÁRIOS(EM QUE SE ENCONTRA) E DOS DESERTORES,FAZENDO MESMO A APOLOGIA DOS PRIMEIROS,CONSIDERANDO
TÃO HERÓIS OS QUE FIZERAM A GUERRA,COMO OS QUE DELA FUGIRAM POR VARIADAS RAZÕES...
NAQUELA ALTURA REBATI ESSE TEXTO SOLICITANDO ATRAVÉS DA COLUNA DO LEITOR A PUBLICAÇÃO DO MEU ESCRITO,MAS FALOU MAIS ALTO A FORÇA DO POLÍTICO...

PACHECO PEREIRA DO ALTO DO PEDESTAL
DE HOMEM DA CULTURA,QUE INDUBITAVELMENTE É-EMBORA PUDESSE EVITAR A CONSTÂNCIA COM QUE NOS INFORMA DA GRANDIOSIDADE DA SUA BIBLIOTECA-PROVAVELMENTE SENTIR-SE-Á MAL POR SE TER APROVEITADO DAS PREBENDAS DE ESTADO,ESTANDO NA QUALIDADE DE "FUGITIVO" ÀS RESPONSABILIDADES ENQUANTO CIDADÃO DUM PAÍS QUE DELE PRECISOU...

QUEM NÃO SERVIU,NÃO DEVERIA SERVIR-SE.
INFELIZMENTE SÃO MUITOS OS PACHECOS PEREIRA OU OS MANUEL ALEGRE DESTE PAÍS.

QUANTO À GUERRA PERDIDA,TAMBÉM DISCORDO INTEIRAMENTE,POIS OS SOLDADOS,FURRIEIS,ALFERES E CAPITÃES MILICIANOS, DERAM O SEU MELHOR.
QUEM A PERDEU,OU ANTES A EMPATOU POR DEMASIADO TEMPO,FORAM OS PROFISSIONAIS DA MESMA(REPORTO-ME AO CASO VERTENTE DO EXÉRCITO,POIS COMO REFERI NOUTRO LOCAL,NA MARINHA
A "PRÁXIS" ERA OUTRA...SÓ O COZINHEIRO FICAVA NO QUARTEL,TODOS IAM AO MATO... E NA FORÇA AÉREA COMO LI ATRAVÉS DO "HOMEM DO STRELA" PASSAR-SE-IA ALGO DE MUITO SIMILAR JÁ QUE OFICIAIS SUPERIORES VOAVAM EM MISSÕES DE COMBATE...)

NO EXÉRCITO( QUE REPRESENTAVA A MAIORIA DAS FORÇAS ARMADAS) OS PROFISSIONAIS USARAM A GUERRA PARA EXCLUSIVO BENÍFICIO DE SUBIDA NA CARREIRA,"ABICHARAM AS MEDALHAS E LOUVORES" QUE PERMITIAM O SALTO MAIS RÁPIDO NA PROGRESSÃO, QUANTAS VEZES DE FORMA ABSOLUTAMENTE IMERECIDA, E QUANDO CHEGOU A HORA DE "DAR O CORPO AO MANIFESTO" CRIARAM CONDIÇÕES DE TRAIÇÃO CONDUCENTES À VERGONHOSA DERROTA,
QUE NÓS MILICIANOS NUNCA SENTIMOS...

RECORDE-SE QUE OS "CONVÍVIOS" COMO JÁ ALGUÉM REFERIU(CREIO QUE O VASCO DA GAMA, MAS QUE EU REAFIRMO SEM QUAISQUER REBUÇOS...) SÓ SE FIZERAM ENTRE PIRIQUITOS E TROPA DO PAIGC, NUNCA ENTRE O PAIGC E A TROPA VELHA EM FIM DE COMISSÃO,ACONTECENDO,POR ISSO MESMO, CASOS DE MORTE ENVOLVENDO ALGUNS "CONVIVAS" PERIQUITOS...

O TEXTO ALVO DESTE TEU COMENTÁRIO,
ESTÁ BEM ELABORADO MAS ENFERMA,DE FACTO,DESSAS IMPRECISÕES.

HOUVE GENTE RESPONSÁVEL QUE PARTIU
DA"METRÓPOLE", JÁ COM "ELA FISGADA" NO SENTIDO DE NÃO ARRISCAR UMA UNHA QUE FOSSE...

UM ABRAÇO CAMARIGO
MANUEL MAIA

António Matos disse...

Caros Mexia Alves e Manuel Maia, este tema da vitória e da derrota da nossa guerra continua a dar brado, pelos vistos, e a animar polémicas, debates conferências ou meras tertúlias mas sempre, e uma vez mais, inconclusivas.
Num exercício meramente académico e sem pretensões a diploma, continuo a defender a tese de que a guerra não nos foi perdida reconhecendo contudo a existência de lugares onde a influência inimiga mais se fazia notar por razões óbvias.
Mas o que me traz neste momento a abordar o tema é a dicotomia que agora se levanta de se equacionar os ganhos e/ou as perdas em função de se ter sido miliciano ou do quadro permanente.
Com o devido respeito que vocês me merecem, não concebo o problema nessa dualidade uma vez que teria sido Portugal quem a ganhou ou a perdeu.
Se se derem ao trabalho de rever a História, nunca ouvimos falar que quem ganhou a grande guerra tivesse sido o camarada X ou o Y mas sim o país A ou o B, não é verdade?
Caso contrário teríamos que admitir que a guerra era propriedade de um daqueles grupos o que é demasiado linear ( em última instância poder-se-ia pensar em grandes grupos económicos ).
Claro que com este posicionamento não estou a esquecer os expedientes dos quais os oficiais do q.p. tomavam mão para que os milicianos fossem preteridos no âmbito das boas colocações lá por Bissau mas isso é outra conversa.
Tenham uma boa noite.
Um abraço,
António Matos

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro António Matos

Obrigado pelo teu comentário.

Mas repara que eu não digo, nem faço distinção entre quadro e milicianos quando digo que vencemos a guerra porque lá estivémos.

Para mim não há distinção entre o quadro e os milicianos que cumpriram as suas missões.

Constato apenas uma coisa lógica, que o esforço da guerra estava mais assente nos milicianos, o que é óbvio visto que estes eram incomparavelmente mais do que os do quadro.

Também não faço distinção entre aqueles que estavam nas secretarias, nas cozinhas, nas oficinas, etc. etc, desde que fosse a sua missão e não resultado de cunhas e outras formas de se safarem.

Todos foram e são precisos, com os de Bissau e da Metrópole, para usar esta palavra já em desuso.

Abraço camarigo

Colaço disse...

Guerra ganha, guerra perdida, não digo sim nem nim.
Mas palavras de Aniceto Afonso ele mais Carlos Matos Gomes têm neste momento um trabalho em cima da secretária em que há dados, que a guerra não estava perdida.
Esperamos para ver o resultado da obra destes dois exímios exploradores da guerra do ultramar.
Um alfa bravo Colaço.

Anónimo disse...

Caro Mexia Alves
Também tinha engatilhado um comentário ao Post do Pereira da Costa, mas para não deitar mais achas na fogueira desisti. Porém não posso deixar de dizer que estou completamente de acordo contigo.
Aquele abraço
Henrique Matos