terça-feira, 2 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5921: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (10): Os patos pagos pelo pato

1. Mais uma história do nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviada em mensagem do dia 28 de Fevereiro de 2010. Nesta, o feitiço virou-se contra o feiticeiro.


OS PATOS PAGO PELO PATO

As instalações dos sargentos da Cart 643 em Bissorã que mais tarde foi bar da Companhia seguinte, edifício geminado de um lado com uma casa, mas do outro afastado talvez uns 5 metros da propriedade vizinha, havia um portão de madeira, que dava acesso ao logradouro tardoz.

Certo dia, estando eu a escrever um "bate-estradas", debaixo da cobertura junto à porta principal, reparei que diversos animais como galinhas tradicionais, galinhas do mato, as chamadas fracas, cabritos, patos normais e gansos, andavam errantes esgravatando uns, comendo erva outros, ali pela frente dos alojamentos. No momento tive uma ideia luminosa, chamei o impedido, o Ventoinha, mandei-o ao Cabo do Rancho o Adérito, para que lhe desse uma pequena quantidade de arroz. A minha ideia foi levada à prática, era fazer um carreiro de arroz até dentro do quintal, para que os animais entrassem, fechar o portão e proceder à matança, com a consequente ocultação das provas, como penas, peles, etc., que seriam enterradas.

Se assim o pensei e ordenei, melhor o Ventoinha o fazia, todas as semanas havia petisco para alguns Sargentos, assim depois do produto limpo era levado à D. Maria do senhor Maximiano, para que durante a tarde houvesse lanche ajantarado.

Durante muito tempo assim aconteceu, mas como em tudo há sempre um dia que as coisas não correm como nós queremos.
Certo dia, fui mais uma vez voluntário numa coluna Bissorã/Olossato, a chamada carreira de tiro, como tantas vezes fazia, era a ajuda que eu podia dar aqueles camaradas tão sacrificados, pois a minha Especialidade era de Manutenção Auto que me dava pouco que fazer, então lá ia eu, até que um dia fui ferido com certa gravidade, mas não me arrependo, fiz aquilo que todos deviam fazer, ajudar a equilibrar o sacrificio. Mas voltando à história, antes da saida atrás descrita e depois de três gansos darem entrada no quintal, dei ordem ao Ventoinha para os levar depenados e arranjados como de costume à D. Maria.

Entretanto ele foi chamado ao Capitão para desempenhar uma tarefa e como viu que não tinha tempo para fazer o nosso serviço foi entregar por depenar, mas já mortos, os gansos à senhora, que por sua vez e por não ter oportunidade os levou a uma vizinha, que claro que como se está mesmo a ver era a dona dos animais.

Quando cheguei já no fim do dia, tinha uma senhora à minha espera junto aos alojamentos, era a mulher de um cabo-verdiano de nome Pedrinho, que me disse de rompante:

- Senhor Furriel tenho a receber já 60 pesos, 20 de cada pato ganso.

Eu ainda hesitei, ela percebendo ameaçou-me logo que ia ao Capitão Silveira, que não era para brincadeiras. Claro que paguei de imediato, tomei o meu banho, e lá fui para o petisco onde me esperavam os meus amigos.

No fim do repasto contei o que tinha sucedido, pedindo a divisão da despesa e obtive como resposta:

- Oh Rogério, estes Gansos souberam-nos a "PATO", e claro com esta resposta não vi o patacão.

Bissorã > Casa do senhor Maximiano, onde a maior parte da sargentada "matava a fome"

Bissorã > Estação dos Correios
Fotos: © Ex-Fur Mil Geraldo da CART 643. Direitos reservados


Mansoa > 1970 > Edifício dos CTT de Mansoa. Seria assim o de Bissorã, à época.
Foto: © César Dias. Direitos reservados

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5900: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (9): Memórias da viagem no Uíge, de 4 a 10 de Março de 1964

5 comentários:

Anónimo disse...

... moral da história: o Rogério foi comido que nem um patinho!!!

Abraço,
Carlos Cordeiro

Cesar Dias disse...

...Claro que só podia dar nisso, há sempre um dia que corre mal.
Rogério, quando foram conseguidas essas fotos? Devem ser recentes, ou não?
Um abraço
César

armando pires disse...

Meu Caro Rogério.
Também eu gostava de saber de quando datam as fotos do teu post. Estive em Bissorã de set/69 a dez/70, e nem a casa do maximiano nem os correios estavam assim tão danificados. A localização do bar e dormitório de sargentos era tal qual como dizes, incluíndo o portão.
Se quizeres utiliza o meu mail, ficando eu a saber o teu para te enviar fotos da altura e actuais. abraços

armando pires disse...

...disparate, lá vai o mail.
armandofpires@gmail.com
mais abraços

Bispo1419 disse...

É só para lembrar ao Rogério que a tal Compª seguinte foi a "minha" Compª.Eram umas belas instalações para o local, sem exagero.Lá residi um ano.
Um abraço
Manuel Joaquim
(fur. mil.CCaç1419)