1. Mensagem de Vasco da Gama* (ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74) , com data de 2 de Janeiro de 2011:
Envio mais uma Banalidade para o nosso Blogue, solicitando aos estimados editores que coloquem em "su sitio" as duas fotografias que anexo.
Um abraço
VG
BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - XIII
A COMPANHIA MAIOR E A MAIOR COMPANHIA
PARTOS DO MESMO QUERER?
A cena está aberta enquanto o público autorizado apenas a entrar em cima da hora marcada se vai acomodando. O sussurro dos espectadores à medida que se acomodam vai diminuindo até ao silêncio total. Os personagens todos eles dormem nas mais diversas posições, indiferentes ao público e a quem os rodeia.
Dormem profundamente, ignorando tudo e todos; dormem apenas, presentes na matéria, ausentes em espírito.
Só acordam quando o príncipe beija a princesa.
Mas, surpresa das surpresas, enquanto dormiam o tempo não parou. O tempo, esse foi passando e todos ao acordar estão mais velhos.
Como reiniciar a viver?
“Talvez tenham estado acordados todo o tempo e apenas sintam que renasceram, pelo simples exercício de evocar a memória” (1)
Companhia Maior em cena
O elenco desta Companhia Maior ligada ao Centro Cultural de Belém é composto por artistas com mais de sessenta anos, onde, a par de pessoas que pisam pela primeira vez o palco, pontificam intérpretes altamente experientes como a bailarina luso-americana Kimberley Ribeiro, ou o músico francês Michel e ainda o regressado a estas lides, o nosso camarada do Blogue Carlos Nery que, tal como todos os outros elementos da Companhia Maior, passou no workshop a que foi sujeito, levado pela mão de sua filha.
Cumbijã > Aquartelamento
Regressei da guerra da Guiné em finais de Agosto de 1974 e durante anos e anos e anos, não falei, não li, não quis saber da guerra.
Recusava participar em tudo que com a guerra se relacionasse.
Nenhum ruído guinéu, por mais forte que fosse, conseguia despertar-me do sono profundo, da indolência, da apatia com que brindava tal tema.
Só acordei quando alguém me indicou a nossa Tabanca Grande, o Luís Graça e Camaradas da Guiné.
O Luís Graça desempenha na nossa Maior Companhia, o papel do príncipe na Bela Adormecida da Companhia Maior.
A mim, como a tantos de nós, acordou-nos, fez-nos renascer, obrigou-nos a evocar a memória, a enfrentar os pesadelos do passado, a lidar com eles e a superá-los.
Mas fez mais, ajudou-me a encontrar centenas de novos camarigos com quem vou trocando opiniões, aprendendo com todos, sendo que para aqui pouco importa a qualificação de cada um, pois comungamos da mesma experiência no teatro operacional da Guiné.
Juntou-nos a todos na Maior Companhia, também todos nós acima das seis décadas, conciliando diferentes saberes, diferentes experiências, diferentes capacidades, diferentes talentos, diferentes opiniões, mas com o mesmo denominador comum: a Camarigagem.
Aplaudi de pé, em Estarreja, na companhia da minha mulher e do nosso querido camarigo Manuel Reis a Companhia Maior, como aplaudo também de pé o nosso Blogue e o nosso “encenador” Luís Graça.
Queixava-se-me o Carlos Nery que em certos blogues “há pessoas que escrevem como anónimas e dizem coisas horríveis… que estão para aí a gastar dinheiro com os velhos. Nós, continuava ele, aqui não temos a sensação de que somos velhos. Estamos a trabalhar como profissionais”.
É assim mesmo Carlos, a "Companhia Maior" vai muito para além da criação artística, mostrando à sociedade portuguesa que pessoas, todas elas na idade da reforma, estão no pleno uso de todas as suas capacidades e que a sua grande experiência é uma mais valia que não pode ser ignorada.
Também é assim com a nossa Maior Companhia, pois, para além de termos imposição e o encargo de legar a nossa memória aos vindouros, estamos mais do que ninguém habilitados a fazê-lo.
Temos a experiência
Temos o conhecimento
Temos a vivência
Somos vozes sábias e dignas, merecedoras de serem escutadas e reconhecidas, como já vai acontecendo com as informações que nos são solicitadas por doutorandos, mestrandos ou pela iniciativa de qualquer camarada que a nós se junta, nem que seja apenas, e só, para partilhar uma lágrima.
Sinto-me feliz, honrado e orgulhoso por pertencer a esta Tabanca, à Maior de todas as Companhias.
Do meu Buarcos lindo, hoje sem ponta de luar, o meu abraço para todos os Camarigos.
(1) folheto de apresentação da peça
__________
Nota de CV:
(*) Vd. último poste da série de 6 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7392: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (XII): Sobre a nova Série do nosso Blog “O fim do Império português na Guiné” do nosso camarigo Magalhães Ribeiro
20 comentários:
"...enquanto dormiam o tempo näo parou.O tempo,esse foi passando e todos ao acordar estäo mais velhos". Mas..."Temos a experiência/Temos o conhecimento/Temos a vivência". Caríssimo Amigo e Camarada..."Aquele" abraco!
Vasco
Com este poste começaste o Ano Novo de forma brilhante.
Está lá tudo.
Só falta dizer que neste País à beira mar plantado, a experiência adquerida por nós , ainda com vontade de contribuir para a sociedade, pouco é aproveitada.
Um abraço
Juvenal Amado
Caro Vasco da Gama
Uma síntese clara e lúcida, do pulsar das reminiscências adormecidas, que habitam em cada um de nós, fruto da passagem, em que condições, pelas terras da Guiné.
Comungo o teu sentir. Expresso o meu agradecimento à doação, empenho e disponibilidade oferecida, do Luís Graça, nesta causa, o meu obrigado.
Um abraço
José Corceiro
Caro Vasco da Gama:
Quanto gostaria de ser co-autor deste artigo..........
Um abraço
Aníbal Magalhães
Olá Vasco!
Belíssima inspiração a dessa companhia Maior, que te conduziu a esta, não menos bela, mensagem de união e fraternidade, que fazem a camarigagem.
Pois é, para além do Chefe e dos generosos editores, também tu mereces muitas amizades.
Se me permites, envolvo num abraço de ano novo todos os Camaradas.
JD
Caro camarigo Vasco da Gama
QUERIA eu que todos os postes dos nossos amigos tabanqueiros fossem
assim durante o ano que agora começa.
Parabens,e um forte abraço.
zé manel cancela
Meu Caro V. da Gama
Eu li e reli.
Depois recordei " o soldado...volta a casa...",escrito pelo J.Belo, comentado pelo L. Graça que,logo pela manhã, me deram a ler e não mais se apagou. Era previsível.Martela...
Gostei deste teu escrito. Curiosamente vi nele, em recordação difusa, um sujeito, ou parte dele?, que procuro conhecer.O tempo passa e nada!
O Sol já há muito se deitou por detrás dos montes e, a esta hora se temos a cabeça quente, ouvimos o ruído do mar ou sentimos a brisa fresca a descer as serras.
Vou apanhar um pouco dessa brisa fresca e, porque não, tentar encontrar, encontrar só um pouco mais do tal sujeito. Difícil.
Era só para dizer que gostei do escrito e mandar - Um Abraço.
Considera só este parágrafo.
AB do T
Parabéns ao "nosso" Carlos Nery e demais membros do CLUBE DOS SEXAS que fazem esta Companhia Maior e nos tornam "maiores" comko seres humanos....
Por favor divulguem o sítio na Net e o belíssimo texto que a Luísa Taveira escreveu sobre este projectode que o Carlos já nos tinha falado há tempos com entusiasmo... O "bichinho do teatro" é como a vida, é vida...
Infelizmente, ainda não assisti a nenhum espectáculo deles, mas vou estar atento em 2011... LG
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http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Teatro/Documents/Dossier%20Companhia%20Maior.pdf
Amigo Vasco,
Gostei muito de ler este poste.
Lindo.
Parabéns.
Abraço amigo
Filomena
VASCO,
ESTÁ DE PARABÉNS O CARLOS NERY PELA SUA COMPANHIA MAIOR,ESTÁ DE PARABÉNS O LUIS PELA SUA MAIOR COMPANHIA E ESTÁS DE PARABÉNS TU PRÓPRIO POR CATARES ESTE TROCADILHO CHEIO DE VERDADE.
ESTAMOS MAIS VELHOS,MAIS RICOS EM CONHECIMENTO.
SAIBAMOS BEBER O QUE A VIDA TEM DE BOM PARA OFERECER,EMBRIEGUEMO-NOS.
UM GRANDE ABRAÇO
manuelmaia
Vasco da Gama
É engraçado este paralelo que traçaste entre a "Companhia Maior" e a nossa Maior Companhia. No entanto, nesta (a nossa) basta saber (e, tavez, gostar de) escrever para nela participar, já que sexagenários (alguns sexualgenários...) todos nós somos. Na "Companhia Maior" (da qual já tinha conhecimento e lido loas) não poderão estar todos - mesmo que sexagenários e gostando de fazer teatro. Nem sequer está publicada qualquer forma para a contactar.
Em resumo: Fizeste uma bonita análise, colocando as "companhias" em paralelo, mas nós somos mais acessíveis e democráticos.
Abraços e abracinhos do
Alberto Branquinho
Meu caro camarigo Vasco
É uma reentrada em grande estilo.
Muito bem conseguido o paralelo entre as duas 'Companhias'.
E o repositório do 'saber'...
Está apontado o caminho, ou pelo menos, um caminho!
Um abraço
Hélder S.
Sr. Vasco da Gama
Gostei de ler o que escreveu!
Comparar uma Companhia a outra está muito interessante:
A Primeira...faz teatro com pessoas a partir dos sessenta anos.
A segunda apresenta os relatos dos teatros de guerra em que vós, fosteis também actores, relembrando um tempo já longínquo, fazendo reviver dias difíceis, (mas pelo que tenho lido), também momentos que valeram a pena.
E,esses actores têm também hoje, a mesma média de idades.
A Tabanca, onde tenho o grato prazer de participar, é um lugar onde sois convidados a falar (da vossa guerra), onde é posto a nu a vossa participação, a vossa experiência, a vossa vivência, o vosso conhecimento do facto.
São documentos de grande valor, pois para além de serem vividos são relatados na primeira pessoa.
São sem dúvida os documentos reais a serem inscritos na futura história da guerra de que foram protagonistas.
Os meus parabéns a todos os actores das duas companhias.
Parabéns sobretudo ao criador desta segunda companhia que com todo o mérito, faz apresentar as vivências dos seus intervenientes.
Um ABRAÇO da
Felismina Costa
O meu cunhado Luís Pessanha, que viu o espectáculo Bela Adormecida duas vezes, comentou não conhecer ninguém que o tivesse visto e que não tivesse gostado. Mas acrescentou que, depois de se gostar, começava-se a pensar nas diversas questões que o mesmo levanta.
Eu havia desafiado o Vasco da Gama a ir-nos ver a Estarreja. (Não me dei conta que o ia fazer percorrer mais de 250 Km, ida e volta)! Corajosamente, ele, sua Mulher e o nosso camarada Manuel Reis compareceram e conviveram connosco no fim do espectáculo. Foi muito bom para mim, poder finalmente dialogar "olhos nos olhos" com quem só conhecia virtualmente. O seu belo comentário à Bela Adormecida vem ao encontro do que meu cunhado sentiu. Para além do texto brilhante da peça escrito por Tiago Rodrigues (jovem encenador, actor e dramaturgo, responsável pelo espectáculo) há as memórias que o mesmo faz soltar a quem a ele assiste.
Para quem quiser viver essa experiência adianto as datas e os locais dos próximos espectáculos da digressão que a Companhia Maior está a realizar:
15JAN........TEMPO, Portimão
21JAN........ Guimarães
28/29JAN.....T.Viriato Viseu
18/19/20FEV..TeCA Porto
26FEV........T.Micaelense P.Delgada
26MAR........T.Virgínia T.Novas
Direi ainda que, com um pouco de paciência, é fácil encontrar no Google referências a Companhia Maior ou a Bela adormecida. Há vídeos e algumas fotos como aquela que o Vasco da Gama colocou no seu Poste.
Por fim, camarada Alberto Branquinho, um dos propósitos do projecto em que Luísa Taveira tanto se empenhou (e empenha) é tornar evidente que nós, os "idosos", gente de mais de 60 ou mesmo de 70, nalguns casos rondando os 80 (como é o meu caso), podemos ser parte da solução e não um problema. Na Companhia Maior não cabe toda a gente mas o desejável é que outras iniciativas surjam seguindo as suas pisadas.
Meu camarigo Vasco
Já disseram tudo!
Como sempre a tua escrita leva-nos pela realidade e pelo sentimento!
E isso é muito bom, pelo menos para mim, que sou homem emotivo.
Um grande e camarigo abraço
Camarigo Vasco:
O meu comentário peca por tardio, mas ele aí vai.
Feliz a comparação que fazes entre a Companhia Maior e o Blogue e entre a Bela Adormecida e o Luis Graça.
Bonito!
De facto, houve um tempo, no qual todos estivemos adormecidos, como se a guerra não tivesse existido, recusando-nos a falar da mesma. Mas a vivência, o sofrimento de muitos e a camarigagem de outrora obrigou-nos a revesitar esse tempo que parecia esquecido para sempre.
Um forte abraço.
Manuel Reis
Venho agradecer ao Carlos Nery a amabilidade que teve em responder, de certo modo, ao meu comentário. Não há dúvida que a ideia e a iniciativa são louváveis e de apreciar. Mas, quando diz: "... o desejável é que outras iniciativas surjam seguindo as suas pisadas.", será necessário obter resposta a questões (que são uma condição "sine qua...non"!):
- Onde obter o apoio económico?
- Onde obter o apoio logístico (mesmo sem digressão pelo País)?
Alberto Branquinho
Apoios económicos a iniciativas culturais privadas? Ainde se fosse...matraquilhos! Um abraco amigo.
Vasco BOM ANO DE 2011 PARA TI E FAMÍLIA.
Não sou dado a escritas pois gosto mais de ler.
Líndíssima a comparação entre as 2 Companhias. Há uma aproximação lá muito difusa, ao longe, entre nós. Será a nossa juventude? O passar férias na Figueira (só ia a Buarcos para ir, quando me levavam, ao Teimoso)? Quando as condições de saúde da minha mulher melhorarem (dia 8 de Fevereiro lá vai mais uma intervenção cirúrgica, a 9ª) tentarei fazer uma visita a Buarcos. Temos de nos conhecer pessoalmente. Os almoços anuais da Tabanca Grande ainda não proporcionaram isso. Fui ao 1º na Ameira, ao 2º em Pombal e a este último em Monte Real. Temos andado desencontrados, mas de certeza que nos havemos de juntar, ainda por cima "cepas" do melhor ano vinícola do século XX, o de 46. Um grande abraço
Humberto Reis
Talvez haja mais que dizer sobre a Companhia Maior. Bem, o que há de verdadeiramente original neste projecto é que, creio que pela primeira vez no nosso país, uma entidade oficial, o CCB, toma a iniciativa de investir (em termos sociais, humanos e financeiros) num grupo de gente com mais de 60 anos. Foi mais longe sem que ninguém o exigisse: considerou esse grupo como profissional. Assim, certamente que as despesas envolvidas estão contempladas no seu orçamento.
Tiago Rodrigues (iremos continuar a ouvir falar dele, foi o autor do texto da série televisiva Noite Sangrenta, onde surgiu também como actor) foi rapidamente ganho para o projecto. O seu Mundo Perfeito é quem se tem responsabilizado pela produção do espectáculo. Claro que a digressão em curso tem que ser apoiada quer por entidades locais, nomeadamente autarquias, quer por eventuais sponsors. Quanto à admissão na Companhia Maior, admito que venha a ocorrer por envio de curriculum e de carta de intenções. Os candidatos seleccionados participarão num Workshop que permitirá fazer-se a selecção definitiva. Isto se as coisas acontecerem como até aqui. Creio, contudo, que não há ainda uma definição. Mas, pela lógica, não deve afastar-se muito desta metodologia.
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