domingo, 10 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10018: (Ex)citações (186): Éramos alferes, furrieis e... prontos! (Manuel Maia)

1. Comentário de Manuel Maia [, foto à esquerda, em Cadique, 1973,], com data de 11 de maio último, ao poste P9889:

Caro Lázaro Ferreira,

Antes de mais, sê bem-vindo a este espaço que em boa hora o Luís criou, e onde os mais de quinhentos e tal que por aqui andamos, vão debitando prosa e poesia, recordando aquela terra que nos deixou profundas marcas...

Pude aperceber-me de que mau grado teres conhecido o Cantanhez apenas em 74, andaste relativamente perto dos paradisíacos locais que foram meus locais de férias no ano anterior quando os senhores da guerra decidiram implantar uns resorts em Cafal/Balanta e em Cafine,por forma a podermos desfrutar da zona, com muita música de arraial,de foguetório constante...

Como facilmente podes depreender,o caso recentemente veiculado pelo JN a propósito de um valoroso "grupo de assalto" composto por mais de três dezenas de militares da marinha (fuzileiros, presumo) instalados num resort de Cabo-Verde, na ilha do Sal ( segundo o CEMGFA,por estar mais perto da água...),não foi virgem... 


Já em 73, os militares de então conheceram instalações fabulosas que, num gesto digno de encómios, os senhores com muitos galões e estrelas nos ombros,reservaram exclusivamente para nós,milicianos, de quem sempre gostaram muito,ao ponto dessa ligação ser conhecida por "amor à moda de Ponte de Lima", de quem, nós também, sempre dedicadamente retribuímos...

Nesse tempo,necessariamente anterior ao teu, nós não tínhamos esse hábito,ao que parece,democrático,de recusar o que nos ofereciam com "tanto amor"... Éramos alferes ou furrieis e "prontos", como diz o outro.

Cá ficaremos pois à espera dos teus escritos,estruturados sob uma realidade diferente da nossa mas realidade comezinha...
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10005: (Ex)citações (185): Respostas a interrogações de Luís Graça, ainda sobre o tema Guidaje (2) (José Manuel Pechorro)


11 comentários:

Anónimo disse...

Caro camarada Manuel Maia

Por dever de consciência,não posso deixar de comentar.
Para quem não sabe a ilha do Sal tem um aeroporto internacional,uma auto-estrada com rotundas,duas povoações que são Espargos a norte, e Santa Maria a sul, e uma extensa praia.
Só existem hotéis, e todos eles são "resorts" em Santa Maria.
Os fuzos ou dormiam no navio ou iam para os "resorts".
Já agora, quando estive em Timor,nos "dias quentes",pós saída dos indonésios,os páras dormiam em tendas mas com "ar condicionado".
Não podemos comparar o que não é comparável.
A ida da "task-force" tuga não comento.
Quando lamentamos a nossa "desgraça" como ex-combatentes em relação ao poder político, julgo que não podemos estar a criticar os actuais elementos das nossas forças armadas,no nosso tempo, como hoje obedece-se ao poder político.
Para que conste, em 98 na Guiné, como em 99/2000 em Timor, as nossas F.A., incluindo os elementos da PSP e da GNR, desempenharam um trabalho exemplar.
Cuidado, que se pode facilmente cair na demagogia.
Para que conste..

Um alfa bravo

C.Martins

manuel maia disse...

Caro C.Martins,

O facto de não haver quartéis no Sal,não implica,necessariamente, a utilização de hotéis...
Não me consta que as tendas tenham sido "banidas" das forças armadas...
E a ter acontecido isso, havia sempre o recurso à retro-escavadora ou à pá,para criar o que faltava...

A utilização de um hotel, evidenciou uma grosseira falta de sensibilidade e pudor, especialmente para com o povo que sustenta as mordomias dos governos e das ditas forças.

Sobre as tendas com ar condicionado, só posso soltar uma sonora gargalhada...

Recordo há anos uma reportagem de uma das televisões sobre a presença dos nossos "heróis",creio que na Bósnia ou no Kosovo, em que um dos militares interrogado pelo repórter, se lamentou da inexistência de internet na habitação onde vivia...

Isto não é demagogia,mas tão só a constatação de um facto, ocorrido nestas guerras de alecrim e manjerona, onde, muitos interesses político/militares e fundamentalmente económicos, por vezes de forma sub-reptícia, têm assento...

Mal das forças armadas e do país em que aquelas não se submetem ao poder deste. As forças armadas têm de ser o garante de defesa dum território, e obviamente devem estar subordinadas ao poder político,mas isso não invalida que não devam ser bibelots de luxo para mostrar,( e às vezes outras coisas mais...) especialmente quando o país não tem dinheiro para mandar tocar um cego...

Ficam demasiado caras a quem trabalha,de facto!

Se os responsáveis militares tivessem consciência do que é trabalhar para poder pôr a comida na mesa,diariamente, teriam tido uma postura diferente relativamente aos custos dessa "operação palhaçada internacional"... e aconselharariam (se é que a ideia do hotel foi do ministro da defesa -vergonhosamente ainda em funções-) aconselhariam, dizia, o titular da pasta a ser comedido nos gastos...

Uns e outro,limitam-se a conferir a entrada do altíssimo vencimento nas respectivas contas, o que já deve ser trabalho insano...

Quanto ao trabalho exemplar, mal fora que o não fosse, pagos que foram a peso de ouro...

Por fim gostaria só de referir que não temo cair na demagogia,porque abomino políticos (os líderes da demagogia e conversa de enrolar Zé...)e todos aqueles que vivem ( e de que maneira...)pendurados no imenso guarda chuva ...
abraço
manuelmaia

Henrique Cerqueira disse...

Camarada Maia
Teu camarada de Batalhão que esteve na 3ªComp.ª Biambe e Bissorã na CCAÇ13.Vem aqui te manifestar um forte apoio pelo teu comentário neste blog em referencia aos militares"Hotelados"
Independentemente de serem ou não eficientes(não esquecer que são profissionais.
Não entendi que o teu comentário tivesse qualquer tipo de demagogia,como tal me senti altíssimamente impelido a te escrever estas palavras de apoio.
Um grande abraço.
Henrique Cerqueira

José Marcelino Martins disse...

Pela primeira vez, em 18 anos, não estive presente em Belém!
Deveria ter estado, uma vez que fui critico, na minha e outras páginas de facebook, há existência de duas manifestações. Uma às 9,45, esta institucional presidida pelo Comandante Supremo das Forças Armadas, e outra a partir das 10,30, com as caracteristicas a que estamos habituados, que intitulei de genuínas, porque além de se “matar saudades” se homenageia os que cairam.
Porque não fui? Muito simples:
Fui escalado, em Ordem de Serviço e tudo, para a enfermaria regimental da minha tabanco, como ……..doente de dia!
O que vi das comemorações? Muito pouco. Ou melhor, muito!
Em Belém, NADA.
Nos Jerónimos, achei demais!
Demais, por excesso:
Um batalhão formado pelos alunos do Colégio Militar, Instituto de Odivelas e Pupilos do Exército;
Um batalhão formado pelos cadetes da Escola Navel, Academia Militar e Academia da Força Aérea.
Um baralhão formado pelos instruendos das Escolas de Sargentos do Exército, Marinha e Força Aérea.
Três batalhões com formações da Marinha, Exército e Força Aérea.
Três batalhões formados pelas Forças de Elite: Fuzileiros, Paras e Operações Especiais.
Não faço a mínima ideia se se encontravam presentes outras forças, porque em qualquer uma das estações de TV, havia locutores que interrompiam, sistematicamente, o decorrer da cerimónia, interrogando os seus oficiais convidados – um por ramo - com perguntas, tais como:
- Está satisfeito com o ordenado que aufere?
- Há problemas de insatisfação, no ramo a que pertence?
- Quanto litros/euros gasta o exército em gasolina?
- etc, etc, etc.

Podiam ter “feito a festa” com uma décima parte dos elementos empenhados, porque, até nestes casos, deve haver contenção. O Ministro da Defesa estava eufórico, já que foi quem fez “as honras da casa”.

Tambem desfilaram cerca de uma centena de combatentes que, após a passagem em continência (?), se colocaram num estrado onde, o Presidente da Republica, agora com esse fato, os foi cumprimentar e dar palmas, enquanto os ministros pensariam QUE AS MELHORES PALMAS PARA OMBATENTES, SÃO AQUELAS COM FLORES E VERDURAS À VOLTA.

Podiam não poupar muito, mas aliviava-lhes a consciência (e o orçamento).

José Marcelino Martins
(Hoje, 10 de Junho, na condição de “doente de dia”).

Anónimo disse...

Camaradas:
A pertinência do texto do Maia pode resultar da seguinte questão: O que foi lá fazer a força de intervenção, motivada pelos acontecimentos e novas relações do golpe de Abril em Bissau, se a situação não foi alterada? O que foram lá fazer, se os emigrantes portugueses não pediram auxílio, nem manifestaram ânsias para retirar? O que foram lá fazer, depois de um ministro gesticular e argumentar a urgência na reposição do PR e do governo depostos? Como justifica o governo, e especialmente o ministro dos estrangeiros, qual dama ofendida, a firmeza transmitida à força de intervenção, que depois das deliberações na ONU, nos induziram a pensar que ia pôr tudo em pratos limpos, mas só desembarcaram num resort caro, o mais caro da ilha, li eu? Qual a motivação daqueles intervenientes para reclamarem a recondução de um PR e de um governo na G.-B., onde tantos golpes têm acontecido sem que as NT tenham intervido?
Li num blogue guineense que, para além do golpe palaciano que lhe permitiria candidatar-se a PR, o primeiro ministro guineense poderia "estar feito" para colaborar com as próximas explorações petrolíferas, e que Portugal e Angola perfilavam-se para as executar e financiar.
Se assim for, claro, ninguém gosta de perder em negócio.
Abraços fraternos
JD

MANUEL MAIA disse...

CARÍSSIMOS,

QUEM "DEU O CORPO AO MANIFESTO",OBVIAMENTE SENTE-SE MAL PERANTE ESTA OFENSA À INTELIGÊNCIA PERPETRADA PELO CEMGFA E PELO MINISTRO DA DEFESA NAQUILO QUE CONSUBSTANCIOU A IDA DO "GRUPO DE ASSALTO" ( ISTO DE SE VEREM MUITOS FILMES DO RAMBO OU SIMILARES,LEVA OS GÉNIOS DA GUERRA DOS SOLDADINHOS DE CHUMBO A GIZAREM ESTAS BRINCADEIRAS DO PAINT BALL...)ATÉ PORQUE PERMITIU A ESSES GÉNIOS A OBTENÇÃO DE BENEFÍCIOS NO VENCIMENTO E A CONSOLIDAÇÃO DA IDEIA "GENIAL" COM QUE QUASE SE AUTO-ROTULAM... SÓ QUE OS DO COSTUME TERÃO DE PAGAR A FACTURA...

ESPECIALISTAS DE PARADAS MILITARES,OS DITOS ( É VÊ-LOS CARREGADOS DE CRUZES E MEDALHAS, LEVANDO-ME A PERGUNTAR COMO E ONDE FORAM GANHAS ???)

DE ESPADA NA MÃO "PRONTOS" PARA O ATAQUE ( À VITUALHA QUE SE SEGUIU,POR CERTO...)NESTE 10 DE JUNHO RECHEADO DE VAIDADES ONDE SE PAVONEIAM SISTEMATICAMENTE...

A QUESTÃO,BEM LEVANTADA,PELO ZÉ DINIS PODE SER UMA JUSTIFICAÇÃO MAIS QUE PLAUSÍVEL PARA O ACTO...

AQUILO QUE SE QUESTIONA CIRCUNSCREVE-SE AO FACTO DA UTILIZAÇÃO DE HOTÉIS, E MAU GRADO O APARECIMENTO DE C.MARTINS (PROVAVELMENTE A DEFENDER A DAMA DA TROPA - QUE NA MINHA OPINIÃO SE TORNA PERFEITAMENTE DESNECESSÁRIA NOS DIAS DE HOJE - E APENAS SERVE PARA SORVEDOURO DE DINHEIROS PÚBLICOS,ENQUANTO PERMITE MANTER AS VAIDADES DOS HOMENS DAS FARDAS VOCACIONADOS PARA AS PARADAS...) CONTINUO A NÃO ACEITAR ESTA OFENSA AOS PORTUGUESES.

QUERO AINDA AGRADECER AOS CAMARIGOS ZÉ MARTINS ,HENRIQUE CERQUEIRA, E ZÉ DINIS, A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESCLARECIMENTO SOBRE O ASSUNTO.
abraço

Torcato Mendonca disse...

José Martins, do pouco, muito pouco que vi fiquei com essa ideia.
Tristezas...
Ab T

Torcato Mendonca disse...

José Martins, do pouco, muito pouco que vi fiquei com essa ideia.
Tristezas...
Ab T

Juvenal Amado disse...

Eu questiono o que levou a tomar uma mediada tão drástica, com o envio de tropas para intervir na Guiné.
Considerei extemporâneo.
Mais pareceu aquele hábito de certos senhores se porem em bicos pés e assim beneficiarem de uma visibilidade por razões duvidosas.
Tanto se fala do nosso calvário lá que eles entenderam criar um para eles. Se calhar pensam que era favas contadas!
Eles iam para entrar lá à força?
Se tinham que negociar a entrada lá, para que foi este desperdício de dinheiro?
Quanto ao problema levantado pelo José Dinis, penso que todos podemos e devemos ter uma opinião e a minha é, que o golpe foi executado em inicio da 2ª volta das eleições presidências quando o Carlos Gomes Junior, levava um avanço da 1ª volta de 48% para o 2º mais votado (um outro golpista) que passou à segunda volta com 22%.
Ora o golpe aconteceu porque o homem ia mais que certo ganhar. Que democracia é essa?
Na minha opinião nessas circunstâncias os actos eleitorais deviam ser feitos, seladas as urnas e atiradas ao mar, sem se chegar a saber os resultados já que ninguém aceita os mesmos ainda que considerados legais por observadores internacionais.
Já sabemos que o petróleo é um poderoso fazedor de “democracias”. Quando ele aparece também aparecem milhares de razões para se lá intervir.
Pobres guineenses e pobres de nós.
Um abraço

Anónimo disse...

Caros camaradas

Não sei se me expliquei mal, ou se fui mal interpretado.
Não foi minha intenção defender a "dama da tropa" e muito menos apoiar esta acção do governo.
Só que, é a minha opinião,pelo simples facto de os actuais membros das nossas F.A.serem profissionais,não lhes retira mérito nas suas actuações.
Recordo que já morreram alguns nas ditas "acções de paz", e essas mortes são de lamentar,ou não ?
Será que os membros das forças de segurança(são todos profissionais)quando morrem na defesa da ordem pública, não é de lamentar.
Será que na nossa altura, os elementos do quadro(eram profissionais) que morreram ou ficaram estropiados,não é de lamentar.
Lembro que pertencemos à NATO, e como tal temos obrigações para com os nossos parceiros e eles evidentemente connosco.
Há um quartel na ilha do Sal, ao lado do aeroporto, mas que é,como é lógico, do exército de Cabo-Verde.
Lembro que na Guiné, em 98,uma companhia de "fuzos" pôs em sentido a tropa do Senegal,quando da evacuação de muitos portugueses, no cais de Bissau.
Vi em Timor a nossa GNR e PSP,actuarem de forma exemplar (eram profissionais)..não tiveram mérito.
Quanto a vaidades..não sei, porque não sei o que vai na cabeça de cada um.
Lamento dizê-lo, mas parece-me, digo parece-me, que há algum ressentimento em muitos de nós, e isso não é salutar.
Nós vivemos em tempos diferentes dos actuais, fomos todos compulsivamente para a guerra, (salvo as excepções dos voluntários), mas isso não nos dá o direito de "pegar na G3", e disparar indiscriminadamente em todas as direcções..é o que penso.
Para que não sabe...
Em relação aos altos vencimentos..a ONU, pagava em média 10.000 dólares por mês a simples policias,em Timor.Os graduados ganhavam muito mais.Até mulheres policias americanas, lá vi.
A grande maioria não fazia "a ponta dum corno"
Os nossos policias ganhavam sensivelmente 3.000,mas trabalhavam e muito.

C.Martins

Anónimo disse...

Camaradas não há comparações possíveis.Nem nas condições nem monetariamente.E como dizia o Camões, mudam-se os tempos ou os ventos (como queiram) mudam-se as vontades.Os mesmos que diziam nem mais um soldado para as colónias enviam agora para outras paragens.Ah!Pois já sei que é em nome da amizade e solidariedade dos povos.Eu penso é que se não se pensava outrora (ddizem alguns) agora não se pensa é nada.Carlos Gaspar