1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 11 de Junho de 2012:
Carlos, Luís, Magalhães e restante Tabanca Grande
No dia 10 de Junho cumpriu-se mais um encontro almoço do 3872 desta vez em Marvão.
Não foram muitos os camaradas que responderam à chamada mas os que fomos foi com muita alegria que nos abraçamos.
Estive com um camarada que nunca mais tinha visto desde que chegamos a Lisboa. Lá estavam todos com as esposas alguns com os filhos e já alguns netos.
As esposas viveram o tormento da separação e hoje alimentam-se das nossas alegrias nos encontros. Já ouviram as mesmas estórias vezes sem conta, sorriem e dão-nos desconto.
Quando estava lá era comum os camaradas já casados e não só, exibirem as fotos das namoradas bem com das esposas. Tinham orgulho de as mostrar e que o outros dissessem que eram bonitas. Sentiam-se assim com uma superioridade, pois eram donos de algo que era só deles e motivo de inveja. Diziam orgulhosos "que era a prata da casa".
Não tenho dúvidas que foi motivo de muita dor a separação a que foram forçados.
Assim nas fotos com dedicatórias as que cá na Metrópole esperaram o regresso dos seus maridos ou futuros maridos, estavam em lugar de destaque nos armários que cada um construía para guardar os pertences.
Algumas faleceram outras por motivos vários separaram-se, mas na grande maioria vão com os seus maridos aos convívios e ainda são motivo de orgulho para os seus ex combatentes.
Um abraço
Juvenal Amado
O TEMPO QUE NOS FOI ROUBADO
De tanto desejar
Ficou a insatisfação.
O vazio que não se consegue preencher
A necessidade da procura.
Quanta solidão de quem parte
Mais é a solidão de quem fica no cais.
Como lá chegámos?
O mar que nos esmaga e dá vida
Da violência das ondas, fica a ressaca na areia
O fresco da maresia contra o casco
O vómito de quem no Mar não faz seu caminho.
Num turbilhão no qual nos abandonámos
A terra vermelha o calor e a sede
O zumbido dos mosquitos na picada sangrenta
Da violência do estrondo
Só ficaram os ecos e as nossas passadas inseguras
Do grito, ficou o nó na garganta que persiste.
Cansado recordo o caminho percorrido
Lembro-me da nossa juventude
Como rio apertado entre muros altos
Tardámos na revolta
Não há mudança sem transgressão
A memória dos cheiros, dos nomes e dos rostos
Lembro a paixão dos vinte anos
Hoje numa idade como que em fim de Verão
É frágil o equilíbrio que nos mantém
Vejo que tão rápido aqui chegámos
Na vida, fica o remorso do que se não viveu.
Contemplo-te sem que dês por isso
Teimo em ver a tua imagem de outrora
O que ficou por dizer?
Tanta ternura reprimida
Quantas oportunidades perdidas?
Ficará sempre gravado a fogo
O tempo que não passamos juntos
O tempo que nos foi roubado
Porque da paixão da juventude
Só muitos anos depois se soube,
Que era amor.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9977: Blogpoesia (189): Natal no Iraque... (Joaquim Mexia Alves)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Meu Caro Juvenal!
Nem sei se devo comentar, mas porque não? Se adoro poesia e tento compreender o que leio mesmo sendo difícil, como não entenderei um passado comum, em que a nossa geração sofreu a angustia, o medo, chorou a perda a revolta, o incomum , o insólito?
Onde o amor se perdeu ou chegou tarde, onde as marcas desse passado permanecem...
Juvenal,é claro como a água, compreensível pela descrição, eternamente revivida.
Gostei muito.
Um beijo da amiga
Felismina
JUVENAL,
FRANCAMENTE GOSTEI.
PARABÉNS
ABRAÇO
manuelmaia
Enviar um comentário