quinta-feira, 14 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10032: Blogpoesia (190): O tempo que nos foi roubado (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 11 de Junho de 2012:

Carlos, Luís, Magalhães e restante Tabanca Grande
No dia 10 de Junho cumpriu-se mais um encontro almoço do 3872 desta vez em Marvão.
Não foram muitos os camaradas que responderam à chamada mas os que fomos foi com muita alegria que nos abraçamos.
Estive com um camarada que nunca mais tinha visto desde que chegamos a Lisboa. Lá estavam todos com as esposas alguns com os filhos e já alguns netos. As esposas viveram o tormento da separação e hoje alimentam-se das nossas alegrias nos encontros. Já ouviram as mesmas estórias vezes sem conta, sorriem e dão-nos desconto. Quando estava lá era comum os camaradas já casados e não só, exibirem as fotos das namoradas bem com das esposas. Tinham orgulho de as mostrar e que o outros dissessem que eram bonitas. Sentiam-se assim com uma superioridade, pois eram donos de algo que era só deles e motivo de inveja. Diziam orgulhosos "que era a prata da casa".
Não tenho dúvidas que foi motivo de muita dor a separação a que foram forçados. Assim nas fotos com dedicatórias as que cá na Metrópole esperaram o regresso dos seus maridos ou futuros maridos, estavam em lugar de destaque nos armários que cada um construía para guardar os pertences. Algumas faleceram outras por motivos vários separaram-se, mas na grande maioria vão com os seus maridos aos convívios e ainda são motivo de orgulho para os seus ex combatentes.

Um abraço
Juvenal Amado




O TEMPO QUE NOS FOI ROUBADO 

De tanto desejar 
Ficou a insatisfação. 
O vazio que não se consegue preencher 
A necessidade da procura. 
Quanta solidão de quem parte 
Mais é a solidão de quem fica no cais.

Como lá chegámos? 
O mar que nos esmaga e dá vida 
Da violência das ondas, fica a ressaca na areia 
O fresco da maresia contra o casco 
O vómito de quem no Mar não faz seu caminho.

Num turbilhão no qual nos abandonámos 
A terra vermelha o calor e a sede 
O zumbido dos mosquitos na picada sangrenta 
Da violência do estrondo 
Só ficaram os ecos e as nossas passadas inseguras 
Do grito, ficou o nó na garganta que persiste.

Cansado recordo o caminho percorrido 
Lembro-me da nossa juventude 
Como rio apertado entre muros altos 
Tardámos na revolta 
Não há mudança sem transgressão

A memória dos cheiros, dos nomes e dos rostos 
Lembro a paixão dos vinte anos 
Hoje numa idade como que em fim de Verão 
É frágil o equilíbrio que nos mantém 
Vejo que tão rápido aqui chegámos 
Na vida, fica o remorso do que se não viveu.

Contemplo-te sem que dês por isso 
Teimo em ver a tua imagem de outrora 
O que ficou por dizer? 
Tanta ternura reprimida 
Quantas oportunidades perdidas?

Ficará sempre gravado a fogo 
O tempo que não passamos juntos 
O tempo que nos foi roubado 
Porque da paixão da juventude 
Só muitos anos depois se soube, 
Que era amor.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9977: Blogpoesia (189): Natal no Iraque... (Joaquim Mexia Alves)

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu Caro Juvenal!

Nem sei se devo comentar, mas porque não? Se adoro poesia e tento compreender o que leio mesmo sendo difícil, como não entenderei um passado comum, em que a nossa geração sofreu a angustia, o medo, chorou a perda a revolta, o incomum , o insólito?
Onde o amor se perdeu ou chegou tarde, onde as marcas desse passado permanecem...
Juvenal,é claro como a água, compreensível pela descrição, eternamente revivida.
Gostei muito.

Um beijo da amiga

Felismina

manuelmaia disse...

JUVENAL,

FRANCAMENTE GOSTEI.
PARABÉNS
ABRAÇO
manuelmaia