quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11094: Memória dos lugares (212): Ilha da Brava, Sotavento, Cabo Verde... Em homenagem a Clara Schwarz (n. 1915, Lisboa) e ao seu saudoso cretcheu Artur Augusto Silva (1912, Brava -1983, Bissau) (João Graça / Luís Graça)









Cabo Verde > Ilha da Brava > 6 de novembro de 2012 > Algumas fotos da ilha onde nasceu o grande poeta Eugénio Tavares (1867-1930)... mas também Artur Augusto Silva (1912-1983), advogado, jurista, estudioso dos usos e costumes dos fulas, mandingas e nalus da Guiné, poeta, contista, pai do nosso amigo Pepito e o grande amor da vida de Clara Schwarz da Silva, que hoje faz 98 anos, sendo a decana da nossa Tabanca Grande... ["Brava é uma ilha e concelho do Sotavento de Cabo Verde. A sua maior povoação é a vila de Nova Sintra. O único concelho da ilha tem cerca de sete mil habitantes. Com 67 km², Brava é a menor das ilhas habitadas de Cabo Verde, e tem uma densidade populacional de 101,49/km². A ilha tem uma escola, um liceu, uma igreja e uma praça, a Praça Eugénio Tavares". Fonte: Wikipédia]

É em homenagem desta grande senhora (, ela própra um monumento à vida,  ao amor, à inteligência e à coragem,) que hoje publicamos fotos recentes da Ilha da Brava, tiradas pelo nosso grã-tabanqueiro João Graça, aquando do Festival Sete Sóis Sete Luas, 20ª edição. Elas estavam aqui prometidas, para este dia, aos nossos amigos Pepito e Clara [, foto à esquerda, em 1947, subindo o Chiado, com o marido, Artur Augusto Silva: foto gentilmente cedida pelo Pepito].

Para além dos laços que nos unem a todos, aqui na Tabanca Grande, a Clara Schwarz dá-nos o privilégio de ser nossa amiga, minha, do  João Graça, da Alice e da Joana. Queremos homenageá-la, neste dia tão especial em que celebra as suas 98 primaveras (!), não só com essas fotos recentes da terra do seu "cretcheu", mas também com  um poema de Eugénio Tavares, "Força de Cretcheu",  talvez "o mais belo poema e a mais bela canção de amor de Eugénio Tavares", na opinião dos especialistas da sua obra, Carlota de Barros e Viriato de Barros)...

[Ouvir aqui uma interpretação deste poema na "voz de ouro" da cantora Gardénia Benrós, artista cabo verdiana que vive nos Estados Unidos...É também a nossa homemagem a todos os "(e)ternos namorados" da Nossa Tabanca Grande, justamente no Dia dos Namorados, e muito em especial a todos as nossas queridas mulheres...][LG].


Força de Cretcheu
por Eugénio Tavares

Ca tem nada nes' vida
mas grande qui amor,
se Deus ca tem medida,
amor inda é maior,
amor inda ê maior
maior que mar, que céu
ma de entre otos cretcheu
di meu inda ê maior

Crecheu más sabe,
É quel que é de meu.
El é que é chabe
Que abrim nha ceu...
Crecheu mas sabe
É quel
Que q'rem...
Se já'n perdel
Morte já bem...

Ó força de cretcheu,
Abri nha asa em flor
Pam pode subi ceu,
Pam bá pidi simenti
De amor coma es di meu,
Pam bem da tudo gente,
Pa tudo conchê céu! 


[Fonte: EugenioTavares.org. Reproduzido com a devida vénia...]

Fotos: © João Graça (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
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Nota do editor:

3 comentários:

Luís Graça disse...

Sei pouco sobre a morna, confesso... Gostaria de (e deveria) saber mais...Espero contributos, em especial dos nossos amigos de Cabo Verde... O meu pai cantarolava-me algumas... São coisas que me vêm da infância, peço desculpa (se abuso do tempo de antena)... LG
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(...) História

A história da morna pode ser dividida em vários períodos,nem sempre reunindo o consenso entre estudiosos:

1.º período: as origens

Não se sabe ao certo quando e onde surgiu a morna. A tradição oral tem como dado assente que a morna surgiu na ilha da Boa Vista, no séc. XVIII, mas não existem registros musicológicos a corroborar isso. Mas a afirmação de Alves dos Reis que durante o séc. XIX, com invasão de polcas, mazurcas, galopes, contradanças e outros géneros musicais em Cabo Verde, a morna não se deixou influenciar, deixa entender que já nessa altura a morna era uma forma musical adulta e acabada.
Mesmo assim, alguns autores fazem remontar a morna a um género musical — o lundum — que teria sido introduzido em Cabo Verde no séc. XVIII. Existe também uma relação entre a morna e outro género musical que já existia nas ilhas,os choros, que são melopeias vocálicas cantadas em certas ocasiões, de que fazem parte as cantigas de trabalho e os choros fúnebres. A morna seria então um cruzamento dos choros com o lundum, com um andamento mais lento e uma estrutura harmónica mais complexa. Alguns autores afirmam que se acelerarmos o andamento de algumas mornas mais antigas da Boa Vista, ou até da morna Força di cretcheu de Eugénio Tavares, obtemos algo muito semelhante ao lundum.

A partir da Boa Vista, essa nova forma musical teria gradualmente passado para as outras ilhas. Nessa altura, a morna ainda não teria a temática romântica que tem hoje, e nem teria o carácter nobilizante que lhe foi conferido depois.
A origem para a palavra «morna» para este género musical é incerta. No entanto existem três teorias, cada uma com os seus defensores e detractores.

Para uns, a palavra deriva do inglês to mourn, que significa lamentar ou chorar os mortos. Para outros,a palavra tem origem no francês morne, que é o nome dado a colinas ou morros nas Antilhas francesas, onde são interpretadas as chansons des mornes. Mas para a maioria, a palavra «morna» corresponderia ao feminino da palavra portuguesa «morno», numa alusão ao carácter suave e dolente da morna.

2.º período: Eugénio Tavares

No início do séc. XX, o poeta Eugénio Tavares foi um dos principais responsáveis por conferir à morna o carácter romântico que ela tem até hoje. Na ilha Brava, a morna transformou-se, adquirindo um andamento mais lento que a morna da Boa Vista, e a poesia tornou-se lírica com os temas a incidir sobretudo no amor e em sentimentos provocados por esse mesmo amor.

3.º período: B. Leza

Nos anos 30 e 40 a morna adquiriu características especiais em São Vicente. O estilo bravense era muito apreciado e cultivado em todo Cabo Verde nessa altura (há relatos de E. Tavares ter sido recebido em apoteose na ilha de S. Vicente, e os próprios compositores de Barlavento escreviam em crioulo de Sotavento, provavelmente porque a manutenção das vogais átonas nos crioulos de Sotavento conferiam maior musicalidade). Mas características peculiares de S. Vicente, como o cosmopolitismo e a facilidade de ingerência de influências estrangeiras, trouxeram enriquecimentos à morna.
Um dos responsáveis pelo enriquecimento da morna foi o compositor Francisco Xavier da Cruz (mais conhecido por B. Leza) que, sob influência da música brasileira, introduziu[2][5] os chamados acordes de passagem, popularmente conhecidos por «meio-tom brasileiro» em Cabo Verde. Graças a esses acordes de passagem, a estrutura harmónica da morna não se restringiu aos acordes do ciclo de quintas, mas passou a integrar outros acordes que servem de transição aos acordes principais. (...)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Morna#Hist.C3.B3ria

Antº Rosinha disse...

Um ídolo dos caboverdianos e não só foi Bana, chamavam-lhe o rei da morna.

Claro que hoje a falecida Cesária Évora é a rainha para os Caboverdeanos.

Durante a guerra colonial, Luanda recebia os maiores artistas como Amália e Charles Aznavour e o duo Ouro negro, por exemplo.

Enchiam-se 2 e 3 vezes grandes salas de cinema.

Mas quando em 1969(?) chegou a vez da visita de Bana a Luanda, os caboverdeanos sozinhos esgotaram duas noites o cinema Aviz, ao ar livre.

Mas Caboverde tem ainda a Coladera e outros estilos só deles.

Os Caboverdeanos são diferentes de tudo o que os rodeia.

Até diferentes de umas ilhas para as outras.

Luís Graça disse...

Falei hoje ao telefone, com o Pepito, que regressa a Bissau esta noite, depois de ter cá passado 8 dias e ter festejado ontem os 98 anos da senhora sua mãe.

Ele aproveitou para me pedir que transmitisse ao povo da Tabanca Grande os seus agradecimentos e os da mãe pelas provas de carinho e de amizade que lhes fizeram chegar. A dona Clara ficou muito sensibilizada com os dois postes que lhe dedicámos e as palavras bonitas e carinhosas que lhe escreveram na caixa de comentários. Ficou particularmente emocionada com a nossa evocação da Ilha da Brava (que ela nunca chegou a conhecer em vida do marido).

E a propósito desta família, deixem-me dizer-vos que são 3 filhos maravilhosos. Nunca faltam à festa dos anos da mãe, onde quer que estejam. Um está em Bissau, outro em Paris e um terceiro em Lisboa...

Bons ventos te levem, Pepito. Foi uma surpresa agradável ter-te encontrado, há dias, por mero acaso (?), no Colombo... Eu e o João aproveitámos para matar saudades da Guiné e dos nossos amigos que lá estão...

Muita saúde e muita coragem para levar o teu barco a bom porto. Vamos ver o que podemos fazer, da nossa parte, para ajudar a criar o Núcleo Museológico Memória de Gadamael, teu projeto em curso. Bons e muitos gadamaelenses não nos faltam por cá, na nossa Tabanca Grande.