sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11097: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte III): A nossa messe, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, decorada pelo famoso Pechincha, fur mil op esp e desenhador de profissão



Guiné > Zona leste > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Lendo a revista brasileira "O Cruzeiro", na nossa messe em Nova Lamego, no Quartel de Baixo...Decoração a cargo  furriel mil op esp Pechincha (que depois foi para o QG).

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. (*)

1. Perguntou o Hélder de Sousa, em comentário ao poste P11092:

Caro camarada Abílio Duarte

Na legenda da 2ª foto está escrito "Lendo a revista brasileira "O Cruzeiro", na "nossa messe em Nova Lamego, decorada pelo furriel Pechincha".

Ora bem, quem era 'esse' furriel Pechincha?

A pergunta deve-se a que,  quando cheguei à Guiné, em Novembro de 1970, fiquei alojado num quarto em Santa Luzia ocupado por três furriéis, dois amigos de Vila Franca e o terceiro era um tal Pechincha que tinha feito parte dos quadro duma 'companhia nativa' e que por aquele tempo desempenhava uma função qualquer no QG, na Amura.

Será o mesmo Pechincha? O nome não é assim tão vulgar...

O que eu refiro era, antes da incorporação, e ao que me foi dito, desenhador na Câmara de Lisboa e vivia em Moscavide. (**)

Abraço
Hélder S.

 2. Respondeu o Abílio Duarte na caixa de comentários do mesmo poste,  P11092:

Olá Helder,

É  esse mesmo,  o Pechincha que eu refiro, era o Furriel de Operações Especiais, da Escola de Lamego. Éramos os dois do mesmo pelotão, desde Penafiel até Nova Lamego.

Só que o malandro era desenhador, e quando chegamos ao Gabú, deram-nos o Quartel de Baixo, Como era conhecido na altura. Como aquilo estava abandonado, e não tinha muitas condições, o nosso Capitão desafiou-o a fazer uns desenhos para as casas de banho e outras, para quando fosse a Bissau ir ter com o padrinho dele, que era o Cor Robin de Andrade, para arranjar uma cunha e ter materiais de construção para nós fazermos as obras.

O que aconteceu foi que os desenhos eram tão bons que o Pechinchja foi para Bissau, e nunca mais voltou. Mas os materiais vieram. A seguir souberam que o meu Alf comdte de pelotão era Eng Civil, e foi também para os reordenamentos, e também nunca mais voltou. Nem foram substituídos. Estás a ver o filme, não estás !?,,,

O mais giro desta foto, mas não se consegue ver, é que o Pechincha nos seus desenhos punha os bonecos com frases do Spinola, e a nossa preocupação era,   se aparecesse o Spinola, termos sempre uma brigada pronta para apagar as bocas do Pato Donaldo e companheiros.

É esse Pechincha que conheceste em Bissau, e garanto-te que era um artista, aí lá se era.

Um Abraço.
Abílio Duarte
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11092: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paúnca, 1969/70) (Parte II)

(**) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2556: Estórias de Bissau (16) : O Furriel Pechincha: apanhado ma non troppo (Hélder Sousa)


(...) Pois este amigo Pechincha, que era, salvo erro, de Moscavide e trabalhava como desenhador na Câmara Municipal de Lisboa, tinha fama de estar um bocado apanhado e com uma pancada enorme, mas acho que aquilo era mais para ganhar fama e beneficiar dela.

Digo isto porque tive com ele algumas conversas, muito interessante e educativas, que me elucidaram bastante sobre a situação que se vivia e como ele pensava que se iria desenvolver, o que, no essencial, não divergiam muito do que eu pensava.

Mas também não deixava a sua fama por mãos alheias e logo na noite de 11 para 12 de Dezembro fui testemunha privilegiada duma dessas situações.

Nessa noita comemorava-se o S. Martinho. Eu fui portador para os amigos vilafranquenses de alguns quilos de castanhas e de um garrafão de água-pé (por sinal, bem forte!), além de outros mimos. Com um bidão, em frente às camaratas onde os quartos se encontravam, fez-se o assador e então vá de comer chouriços assados, salsichas e castanhas, tudo bem regado com a dita água-pé e outras bebidas estranhas, em grandes misturadas (cerveja, uísque, coca-cola, etc.), tudo a animar uma simulação de uma emissão de rádio protagonizada pelos camaradas das Transmissões com jeito para a coisa, como por exemplo o Furriel Roque.

Com o avançar das horas era tempo de serenar, descansar os corpos e retomar forças para o dia seguinte. Acontece é que, como sempre sucede em situações semelhantes, nem todos estavam pelos ajustes e com a previsão para breve da viagem de regresso do Carvalho Araújo havia alguns, cujos nomes não ficaram registados na minha memória, que integrariam essa viagem final para a peluda, como diziam, e estavam dispostos a prolongar a sua festa, até com atitudes menos próprias e profundamente negativas, principalmente para quem tinha fortes experiências no mato, como seja arremessar as garrafas vazias para cima dos telhados de zinco dos quartos o que, como calculam, a mim ainda não produzia efeito mas para quem já tinha reflexos condicionados era bastante aborrecido.

Ora o nosso bom Pechincha avisou solenemente os meninos que ou paravam imediatamente a graçola ou tinham que se haver com ele à sua maneira. Dada a fama que tinha, que não regulava lá muito bem e que era bem capaz de usar arma, os ânimos serenaram quase de imediato e na generalidade mas, também como sempre sucede, há sempre alguém que procura forçar a sorte e um deles, que também me disseram que estava apanhado (afinal, quem é que não estava?, acho que dependia do grau) resolveu irromper no nosso quarto com uma panela na cabeça e a bater com duas tampas como se fossem pratos duma banda de música.

Entrou, com ar de quem estava muito contente da vida e satisfeito por desafiar as ordens, mas o que eu vi de imediato foi o nosso amigo Pechincha, que estava estendido sobre a sua cama e que era logo a primeira à entrada, estender o braço sobre a cabeceira da cama, agarrar numa espécie de um dos dois machados nativos que estavam lá a enfeitar e sem mais explicações nem argumentos arremessou-o para o intruso, acertando-o na panela que estava na cabeça, deixando-o com o ar mais aparvalhado de perplexidade que vi até hoje, deixar o quarto a tremer e a balbuciar "este gajo está de facto mais apanhado do que eu!". (...)

3 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro camarada Abílio Duarte

Obrigado pelo teu cometário esclarecedor.
Finalmente apanho 'uma pista' sobre o Pechincha, embora pouco possa adiantar para os dias de hoje.
Um outro camarada desses tempos disse-me que ainda chegou a estar aqui em Lisboa com ele mais duas ou três vezes mas depois perdeu-lhe a pista e agora também não sabe se é vivo ou falecido e por onde anda.

Olha, se leres e te der jeito, envia-me de novo o que enviaste porque ao querer guardar apaguei e fiquei sem o teu endereço de mail.

Abraço
Hélder S.

duarte.oiliba.abilio@gmail.com disse...

Olá, Helder,
o meu mail, é,duarte.oiliba.abilio@gmail.com

Estou a tentar digitalizar umas fotos, onde está o pechincha, e os seus desenhos, que irei enviar para
o Luis Graça.A Ultima vez que o vi, foi num almoço da n/Cart. já lá vão talvez uns cinco anos, depois deixou de aparecer.
Até á proxima, um abraço.
Abílio Duarte

Unknown disse...

Camarada e companheiro
Ao ler o poste em que mencionas o Pechincha vieram-me a mente uma serie de memorias. Se bem me lembro ele e eu fizemos a recruta no R.I.5- Caldas de Setembro a Dezembro de 67 e em Janeiro de 68 fomos para Lamego fazer o primeiro curso de Op.Esp. como especialidade. Lembro tambem que era um brincalhao mas com um grande senso de lealdade. ossivelmente ele nao se lembra do meu nome mas provavelmente se lembre do Ze "Americas" como era conhecido nessa epoca.Obrigado por me fazeres lembrar outros tempos da minha juvwentude "perdida"