Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > Mato Cão > Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijoes.
Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > Preparando peixe do rio
Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > O furriel João Santos, já em fim de comissão.
Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > A mascote, o "Pixas"...
Fotos do álbum de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73), e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74), subunidade que ele desmobilizou e onde terminou a sua comissão já depois do 25 de Abril... É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730. Nascido em Lisboa, tem raízes na Marteleira e Miragaia, concelho da Lourinhã, pelo lado materno.
1. De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) > Experiências gastronómicas (Parte II)
Segunda parte do texto enviado em 7 do correntes com 4 histórias, duas passadas em Cufar, região de Tombali, no sul da Guiné (*), e as restantes no Mato Cão, na zona leste, na região de Bafatá, setor L1 (Bambadinca).
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão, na margem direita do Rio Geba Estreito > 1973 > Pel Caç Nat 52 > O Alf mil op esp Joaquim Mexia Alves, com o Tomango Baldé, um dos mais antigos soldados do Pelotão, segurando um macaco-cão [ou macaco-fidalgo ? (LG)].
Foto (e legenda) : © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Sugestão de leitura complementar (LG):
Virou-me as costas e dirigiu-se para um canto da baiúca de onde regressou com um pequeno tacho de barro na mão, contendo uns pedacitos de carne guisada, com bom aspecto e um cheiro capaz de fazer um morto babar-se. Perguntou-me o que queria beber e falou-me em coisas estranhas, Fanta, Coca-qualquer-coisa ... Pedi uma laranjada. (...)
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Nota do editor:
1. De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) > Experiências gastronómicas (Parte II)
III – O Padeiro de Mato de Cão
O pão é um alimento extraordinário que caso não tivesse sido criado há mais de 6.000 anos na Mesoptâmia, provavelmente a existência humana tivesse sido comprometida. Não conheço ninguém que não goste de pão nas suas múltiplas formas de fabrico e, em particular, nós, portugueses, não o dispensamos para acompanhamento ou mesmo como elemento principal de uma refeição.
Em Mato-de-Cão [ou Mato Cão] embora o efectivo dos europeus se limitasse a dez elementos, um deles tinha a “especialidade” de cozinheiro que também abrangia a de “padeiro”. Infelizmente tratava-se de uma pessoa com enormes limitações cognitivas, recordo-me que entre outras confusões achava que “valor declarado” e “louvor declarado” eram a mesma coisa e, não fora as grandes dificuldades de recrutamento da época , o nosso jovem “cozinheiro” seria certamente adstrito ao contingente de básicos.
Na cozinha, dada a simplicidade e a repetição dos menus, as coisas iam correndo, mas no que dizia respeito ao pão, o homem não se safava e a nossa dentição só resistia devido aos vinte e poucos anos de uso que tinha na altura e o produto do nosso padeiro só era tragável numas sopas de café.
Propus-me a alterar esta situação, para mim desastrosa, e com calma e paciência arranjei umas medidas para que ele respeitasse as quantidades de farinha e fermento, indiquei-lhe o tempo da levedar da massa, mas continuavam a sair pedras, ao invés de pães do nosso forno. A paciência perdida e um exemplar da padaria na cabeça do “cozinheiro/padeiro” que ia originando um traumatismo craniano no funcionário, levou-me a desistir de o transformar num padeiro capaz.
Ma, como o homem é criativo e sabe aproveitar as oportunidades, um soldado do pelotão [de caçadores nativos] 52, o Jobo Baldé, abordou-me com oportunidade e a sua habitual irreverência:
Em Mato-de-Cão [ou Mato Cão] embora o efectivo dos europeus se limitasse a dez elementos, um deles tinha a “especialidade” de cozinheiro que também abrangia a de “padeiro”. Infelizmente tratava-se de uma pessoa com enormes limitações cognitivas, recordo-me que entre outras confusões achava que “valor declarado” e “louvor declarado” eram a mesma coisa e, não fora as grandes dificuldades de recrutamento da época , o nosso jovem “cozinheiro” seria certamente adstrito ao contingente de básicos.
Na cozinha, dada a simplicidade e a repetição dos menus, as coisas iam correndo, mas no que dizia respeito ao pão, o homem não se safava e a nossa dentição só resistia devido aos vinte e poucos anos de uso que tinha na altura e o produto do nosso padeiro só era tragável numas sopas de café.
Propus-me a alterar esta situação, para mim desastrosa, e com calma e paciência arranjei umas medidas para que ele respeitasse as quantidades de farinha e fermento, indiquei-lhe o tempo da levedar da massa, mas continuavam a sair pedras, ao invés de pães do nosso forno. A paciência perdida e um exemplar da padaria na cabeça do “cozinheiro/padeiro” que ia originando um traumatismo craniano no funcionário, levou-me a desistir de o transformar num padeiro capaz.
Ma, como o homem é criativo e sabe aproveitar as oportunidades, um soldado do pelotão [de caçadores nativos] 52, o Jobo Baldé, abordou-me com oportunidade e a sua habitual irreverência:
– Alfero, Jobo passa a fazer o pão para o pessoal!
– Não sabes fazer pão, Jobo, não te metas nisto que arranjas problemas.
– Jobo sabe fazer pão, alfero, deixa experimentar e vais ver.
Perante sua insistência e convicção e no desespero de não haver outra alternativa, resolvi experimentar as aptidões do Jobo para novo responsável da padaria. Expliquei-lhe as medidas para a farinha e para o fermento, o tempo para levedar, e ele atacou de imediato a nova função.
Perante sua insistência e convicção e no desespero de não haver outra alternativa, resolvi experimentar as aptidões do Jobo para novo responsável da padaria. Expliquei-lhe as medidas para a farinha e para o fermento, o tempo para levedar, e ele atacou de imediato a nova função.
Não sei se por milagre ou se pelas aptidões inatas do Jobo, no dia seguinte quando este me chamou para ver o pão acabado de cozer, tive das grandes alegrias gastronómicas da minha vida. O pão estava quente, tinha crescido por obra do fermento e da forma carinhosa com a massa tinha sido tratada, o som da batida no “lar” parecia um tambor a acusar uma boa cozedura e o abrir a crosta estaladiça evidenciava um miolo macio, fumegante e com um cheiro delicioso. Regalámo-nos de imediato com pão quente e manteiga e o Jobo ganhou o lugar!
O Jobo estava feliz com a nova função e cumpria-a com pontualidade, brio e grande competência. Posteriormente ensinei-o a fazer merendeiras com chouriço e ele começou a produzi-las sem grande esforço de explicação. Quando as tinha cozido trazia-me de imediato uma e eu recordava as que a minha avó fazia na Marteleira, [, Lourinhã,] quando era dia de cozedura.
O Jobo estava feliz com a nova função e cumpria-a com pontualidade, brio e grande competência. Posteriormente ensinei-o a fazer merendeiras com chouriço e ele começou a produzi-las sem grande esforço de explicação. Quando as tinha cozido trazia-me de imediato uma e eu recordava as que a minha avó fazia na Marteleira, [, Lourinhã,] quando era dia de cozedura.
No que dizia respeito ao pão, tínhamos atingido, graças ao Jobo Baldé, a felicidade. O Jobo também estava feliz, era casado com uma mulher, bem mais velha, que ele herdara do irmão entretanto falecido. Embora esta mulher fosse divertida e senhora de um grande sentido de humor, já tinha perdido o fulgor e a beleza da juventude e o nosso amigo e saudoso Jobo Baldé, quando acabava de fazer o pão, tinha sempre visitas de exuberantes bajudas a quem ofertava uns pães a troco de inconfessáveis favores.
Luís Mourato Oliveira: foto atual |
A felicidade conquista-se com pequenos acordos e cedências. Estávamos todos satisfeitos…até as bajudas.
IV – Macaco em Mato de Cão
Sempre na pesquisa de petiscos e novos sabores para variar a nossa rotineira cozinha, um dia o soldado Tomango Baldé, o maior “pintoso” do pelotão, depois de alguns convites para comer o fígado de “bandido” quando apanhássemos um, veio sugerir que petiscássemos macaco cão.
A primeira ideia foi imediatamente recusada, embora ele defendesse que iríamos reforçar a nossa força com a do inimigo abatido e cozinhado, este prato estava longe de poder ser bem acolhido por nós, a não ser que o “bandido” fosse uma gazela tenrinha ou um javali bem gordinho, contudo a ideia do macaco cão não era totalmente de deitar fora.
A primeira ideia foi imediatamente recusada, embora ele defendesse que iríamos reforçar a nossa força com a do inimigo abatido e cozinhado, este prato estava longe de poder ser bem acolhido por nós, a não ser que o “bandido” fosse uma gazela tenrinha ou um javali bem gordinho, contudo a ideia do macaco cão não era totalmente de deitar fora.
Os guineenses comiam macaco cão com regularidade, esta iguaria era até muito apreciada e havia quem achasse a carne do macaco semelhante à do cabrito, por isso aceitámos comer um quando a caça o permitisse. [vd. postes sobre macaco cão, também conhecido por "cabrito pé de rocha". ]
Um dia o Tomango apareceu com um macaco cão acabadinho de ser caçado e, como não podíamos voltar com a palavra atrás, o animal foi para a cozinha para ser preparado. O aspecto do bicho era devastador depois de esfolado, pois tinha mais semelhanças com um humano recém-nascido do que com um cabrito, foi colocado a marinar em vinha de alhos e, depois para o forno, para aquecer os nossos estômagos no jantar do dia.
Havia poucos candidatos para a degustação, mas depois de cortado e arranjado no forno com as batatinhas assadas, apresentava um aspecto comestível, até atractivo e a abrir o apetite. Os menos receptivos ao manjar foram alterando as suas posições, alguns após provar até repetiram e o tabuleiro ia ficando vazio.
Um dia o Tomango apareceu com um macaco cão acabadinho de ser caçado e, como não podíamos voltar com a palavra atrás, o animal foi para a cozinha para ser preparado. O aspecto do bicho era devastador depois de esfolado, pois tinha mais semelhanças com um humano recém-nascido do que com um cabrito, foi colocado a marinar em vinha de alhos e, depois para o forno, para aquecer os nossos estômagos no jantar do dia.
Havia poucos candidatos para a degustação, mas depois de cortado e arranjado no forno com as batatinhas assadas, apresentava um aspecto comestível, até atractivo e a abrir o apetite. Os menos receptivos ao manjar foram alterando as suas posições, alguns após provar até repetiram e o tabuleiro ia ficando vazio.
O grande companheiro e amigo Santos, o furriel mais antigo do 52, era dos menos entusiasmados com o manjar, mas perante o exemplo dos outros camaradas que já tinham esquecido o que estávamos a comer, lá pegou num bracinho do bicho que parecia estar bem passado, atirou-se a ele e ainda deu umas dentadas. De repente e quando já ninguém esperava, desata a correr para a parada e, pelos sons que chegavam à cobertura de chapa ondulada a que chamávamos refeitório, estaria a libertar o seu estômago sofredor não só do petisco acabado de deglutir, mas também de todas as refeições ingeridas nos últimos dias.
Passado algum tempo, já recuperado do esforço libertador daquela comida que o estômago se recusou a receber, perguntei-lhe:
Passado algum tempo, já recuperado do esforço libertador daquela comida que o estômago se recusou a receber, perguntei-lhe:
– Então, Santos, não gostaste do cozinhado?
Ele ainda amarelo e enjoado respondeu que não foi pelo paladar, que nem estava mau, o que o enjoou foi a pilosidade do sovaco do bichinho que não tinha sido convenientemente depilado.
Luís Mourato Oliveira
Luís Mourato Oliveira
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão, na margem direita do Rio Geba Estreito > 1973 > Pel Caç Nat 52 > O Alf mil op esp Joaquim Mexia Alves, com o Tomango Baldé, um dos mais antigos soldados do Pelotão, segurando um macaco-cão [ou macaco-fidalgo ? (LG)].
Foto (e legenda) : © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Sugestão de leitura complementar (LG):
Poste de 11 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias deBissau (1): "Cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira)
(...) Naquela zona portuária, que se poderia chamar marginal da Amura, existiam umas tabernas semelhantes às que poderíamos encontrar em qualquer lugar do Portugal de então: um garrafão de cinco litros ou um ramo de louro pendurado na frontaria, e uma tabuleta com os dizeres, casa de pasto, vinhos e petiscos.
Seriam para aí umas quatro da tarde quando entrei numa delas. Pela primeira vez na vida dirigi-me a alguém de outra ... etnia. A situação era nova para mim e um pouco estranha. Meio tonhó, perguntei num português escorreito e pausado a uma negra, com estatura de bisonte, que se encontrava sentada num mocho do lado de dentro do balcão:
– Boa tarde, minha senhora, tem alguma coisa de que possa fazer uma sandes?
– Tem. Tem sim. Olha, tem cabrito pé de rocha, tem ...
– Cabrito?
(...) Naquela zona portuária, que se poderia chamar marginal da Amura, existiam umas tabernas semelhantes às que poderíamos encontrar em qualquer lugar do Portugal de então: um garrafão de cinco litros ou um ramo de louro pendurado na frontaria, e uma tabuleta com os dizeres, casa de pasto, vinhos e petiscos.
Seriam para aí umas quatro da tarde quando entrei numa delas. Pela primeira vez na vida dirigi-me a alguém de outra ... etnia. A situação era nova para mim e um pouco estranha. Meio tonhó, perguntei num português escorreito e pausado a uma negra, com estatura de bisonte, que se encontrava sentada num mocho do lado de dentro do balcão:
– Boa tarde, minha senhora, tem alguma coisa de que possa fazer uma sandes?
– Tem. Tem sim. Olha, tem cabrito pé de rocha, tem ...
– Cabrito?
– Sim, cabrito, é muito bom. Ainda está quente.
Virou-me as costas e dirigiu-se para um canto da baiúca de onde regressou com um pequeno tacho de barro na mão, contendo uns pedacitos de carne guisada, com bom aspecto e um cheiro capaz de fazer um morto babar-se. Perguntou-me o que queria beber e falou-me em coisas estranhas, Fanta, Coca-qualquer-coisa ... Pedi uma laranjada. (...)
18 comentários:
Há três anos atrás, o Luís Mourato Oliveira (conheceramo-nos em 2012, no Encontro Nacional da Tabanca Grande), dizia-nos o seguinte:
(...) "Nunca escrevo sobre a Guiné porque não acho suficientemente relevantes os factos que ocorreram e dos quais fui testemunha e actor, não por falsa modéstia ou qualquer outra razão, mas porque não os considero interessantes para a comunidade que frequenta o Blog, mas guardo com enorme carinho e saudade aquela terra e aquele povo com quem tive o privilégio de servir e que quanto mais tempo passa e mais a tecnologia nos inunda e consome, mais apreço tenho pela sua cultura e tradições, sobretudo no que concerne ao respeito pelos homens grandes, pelas crianças e pelos seus mortos e história." (...)
Felizmente que neste entretanto ele mudou de ideias, ou melhor, arranjou tempo para revisitar, refrescar e rearrumar (e passar para o computador) algumas das suas (boas e más) recordações do seu tempo de Guiné (1972/74).
E em boa hora o fez, porque ficamos todos a ganhar. E eu estou por descobrir mais um camarada (e já são muitos) com jeito para contar histórias e, mais do que isso, com verdadeiro talento literário. Além disso, é também um bom fotógrafo e já a gentileza de partolhar connosco o seu álbum copm largas dezenas de fotos de Cufar, Bolama, Bissau, Bambadinca, Mato Cão e Missirá, incluindo fotos do pós-25 de abril com os "inimigos de ontem",,,
Confesso que eu não queria estar na pele deste nosso camarada que teve a sorte e o azar de ser o último a comandar os bravos do Pel Caç Nat 52 mas também o "liquidatário" desta subunidade, em agosto de 1974... Tudo começou com o nosso querido Henrique Matos, no Enxalé, em 1966... Há uma plêiade de comandandantes, valorosos, deste mítico Pel Caç Nat 52, onde se incluem outros nomes da nossa Tabanca Grande como o Mário Beja Santos e o Joaquim Mexia Alves...
Quero felicitar o Luís Oliveira e continuar a apoiá-lo an edição desta série. Ele comprometeu-se a alimentá-la com pelo menos mais uma meia dúzia de histórias. Ele aceitou, com naturalidade e sentido de missão, o nosso desafio... É que é preciso também alimentar todos os dias este "bicho voraz" (Fernando Gouveia dixit) que é o nosso blogue...
Quanto às duas histórias de hoje, achei-as simplesmente deliciosas... E uma delas dei-me logo a ideia de lançar o inquérityo desta semana: o macaco-cão como produto gourmet na Guiné do nosso tempo...
Camaradas, toca responder, diretamente, no canto superior da coluna do lado esquerdo do nosso blogue... Até saiu com uma pequena gralha (no cabeçalho), que já não posso emendar, porque já houve alguém que respondeu:
INU´QERITO 'ON LINE': "NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ"
1. Nunca comi
2. Comi e não gostei
3. Comi e gostei
4. Não tenho a certeza se comi
O chef José Avillez (resturante Belcanto, Lisboa) é o único português que tem duas estrelas Michelin... Oh!, , Zé, o que tu perdeste por não teres idade para ter conhecido (e aprendido com os chefs de) o Restaurante do Mato Cão, ex-Guiné Portugueesa, no regulado do Cuor, margem direita do Rio Geba, sem nº de polícia nem código postal, no século passado, nos idos anos de 1973/74...
Fica para a história da gastronomia lusoguineense esta descrição de algumas iguarias que lá se confeccionavam...
Vocês estão a imaginar na montra do Belcanto, lá no Mato Cão, o anúncio: "Hoje há bodo para os pobres"...
"Iscas de fígado de bandido" e "macaco-cão no forno com batatas a murro"... Eis algumas sugestões do chef Tomango Baldé, pratos acompanhados com crocantes pãezinhos com chouriço divinamente confeccionados pelo padeiro Jobo Baldé, sob a supervisão do pantagruélico tuga Luís Mourato Oliveira...
Como foi bom rever as caras do "meu" também cozinheiro, (tenho com ele uma história extraordinária), do Santos, que já lá estava no meu tempo, e daquele militar de barbas, de quem não lembro o nome, mas que iria jurar pertencia ao Pelotão de Morteiros que tinha uma secção no Mato Cão.
E ler os nomes do Jobo Baldé e sobretudo do Tomango Baldé que me deu "água pela barba", até o conseguir "disciplinar" mais ou menos.
Aí, no Mato Cão, matei uma ave, (da qual ainda não sei o nome), que mesmo cozinhada se revelou intragável.
Uma nota para o Luís Graça: o Sá Fernandes também pertence à Tabanca Grande e foi Comandante do 52, a seguir a mim, e portanto, antes do Luís Mourato Oliveira.
De resto, julgo eu, só houve mais um Comandante do 52, entre o Beja Santos e eu, que julgo se chamava Whanon Reis, mas que teve por lá passagem efémera, segundo sei.
Abraços para todos
Joaquim Mexia Alves
O Tomango Baldé era um dos velhinhos do Pel Caç Nat 52, que já vinha do início, do tempo do Henrique de Matos (1966). Teria pelo menos 8 anos de guerra. E, claro, um grande ascendente sobre os mais novos.
Diz o Luís Oliveira, que lhe chama, "pintoso", que era uma personagem que daria muitas histórias... Um delas, já pedi ao Luís para contar: foi quando o Tomango foi ter com o "alfero" para lhe ensinar datilografia...
Espantosa a memória do nosso Luís Oliveira: sabe o nome de todos os seus soldados... Tinha fulas, mandingas, balantas...Não admira, no Mato Cão e depois em Missirá, era obrigado a conviver com eles 24 horas por dia... Com eles, e com as suas mulheres e crianças...
Eu nunca comi macaco-cão, mas experimentei comer macaco doutra espécie (o mais avermelhado)que pelos vistos era vegetariano (o macaco). A sua carne depois de cozinhada tinha o aspecto da carne de gazela e sabor idêntico a carne de mato.Não era mau de todo e como a fome de carne era muita até se safava.O pior era quando se via o animal após ter sido chamuscado para queimar o pêlo como se faz ao porco.É que parecia uma criança autentica.
Mas a minha experiência gastronómica também passou por comer Calau ou urubu que os civis chamavam de pato da bolanha. Quando chegavam ao nosso poder já vinham devidamente esfolados e sem alguns apêndices que os identificavam . E assim sendo a fomeca apertava, o paladar não era mau e as cervejas(basukas) empurravam muito bem o repasto.
Outro dos petiscos muito apreciados, eram o Porco Espinho do mato e o Papa Formigas.Que em Bissorã apreciam com alguma frequência á venda pelos civis.
Só não experimentei comer cobra e rato do mato porque para mim eram mesmo repugnantes,mas para os meus soldados africanos era um petisco de tal ordem que mesmo que estivéssemos em missões eles quebravam todo o silencio e entravam numa euforia tal que toda a segurança que tivéssemos montada ficava desde logo comprometida.
Foram experiências interessantes e ás vezes até de recurso.
Um abraço.
Henrique Cerqueira
Luís (c/c aos anteriores cmdts dos bravos do Pel Caç Nat 52; Henrique Matos, Beja Santos, Joaquim Mexia Alves, Sá Fernandes):
Toma boa nota deste comentário do Joaquim (que foi quem inaugurou o destacamento de Mato Cão, no último trimestre de 1972, ou talvez antes, ainda em setembro)...
Peço desculpa ao Sá Fernandes por não o ter incluido logoblogo, na lista dos grã-tabanqueiros... Somos já muitos, os grã-tabanqueiros, e eu não consigo retê-los todos na memória...
Parece que falta aqui, além do caboverdiano Wahnon, o Saiegh, que terá comandado o 52, transitoriamente, antes da chegada do Beja Santos (em meados de 1968),,, Foi depois para os Comandos Africanos, fez parte do movimento dos capitães de abril e foi fuzilado, em 1978, no tempo do Luís Cabral... Era de origem sírio-libanesa, e tinha o posto de
furriel no 52...
Abraços (com uma lágrima furtiva...)- Luís Graça
PS - Valorosos cmdts do valoroso Pel Caç Nat 52:
O Luís Oliveira tem belas fotos do Mato Cão e de Missirá que vamos
disponibilizando no blogue..Estejam atentos e comentem... Para vos
fazer "inveja", mas também em vossa honra, em meu nome e em nome do
Mourato Oliveira junto umas tantas fotos, para vocês (e também o
autor) poder completar a legenda:
(i) uma com o Mourato Oliveira e o Manuel Elvas (alferes, mas que eu
não sei quem é...), e mais dois camaradas, em FINETE. de jipe,
imaginem ! ... (Já estava pronta a estrada Jugudul-Bambadinca...
Passei por lá em 2008...Peço ao Lu+ís para comentar.);
(ii) o sintex que fazia a travessia do Geba, de Mato Cão até
Bambadinca /ou era um piroga motorizada ?);
(iii) o escritório-armazém do cmdt, onde não falta nada, desde a água
do Luso à cerveja Cristal,ao tabaquinho e aos "antipalúdicos", o cofre
(com cadeado) (?) e a arca frigorífica a petróleo (?):
(iv) o porto fluvial de Bambadinca (visto do "vosso" lado);
(vi) jangada do Mato Cão (paar transporte de viaturas e carga) (como
oera rebocada ?);
(v) a festa de Natal de 73;
(vi) Missirá,Unimog, cambança;
(vii) Missirá, horta
Eu já respondi: 1. Nunca comi"... (Ou se calhar comi, sem saber...).
Comer babuíno é como comer um parente nosso, mesmo que muito afastado... Zoologicamente falando, pertecemos à mesma ordem, a dos PRIMATAS... Temos um antepassado comum, que vem do tempo dos dinossauros... Claro que os babuínos não são hominídeos...
Vi um soldado macaense levar um bebé babuíno, morto, para Bambadinca e grelhá-lo no espeto... Podia ser um bebé humano... Não há tripas que aguentem...
Mas macaco, infelizmente, é produto gourmet em muitas partes do mundo (incluindo a Guiné-Bissau)... E também sabemos que os homens se comem uns aos outros todos os dias... Em sentido figurado... E que no passado fomos todos canibais...
Quem inaugurou o Destacamento de Mato Cão, foi o Pel 63, em Outubro de 1971. Abraço. J.Cabral
"Alfero Cabral", mil pedidos de desculpa... É erro de palmatória, um lapso grave, no limite, uma tentativa (grosseira) de falsificação da história...
Não era nossa intenção, mas é erro imperdoável, já não podemos confiar na nossa base de dados... (Ou nos meus neurónios ?.
Estava mesmo convencido que o fundador do destacamento do mítico Mato Cão tinha sido o nosso Joaquim Mexia Alves, alto comandante em chefe do Pel Caç Nat 52, em 1972/73, antes ir parar a Mansoa, à CCAÇ 15...
Peço desculpa ao "alfero Cabral", vamos que corrigir a Tabankipédia...
Joaquim, desculpa também, o seu a seu dono...
Mesmo tendo passado alguma fomimha, nunca comi carne de macaco, mas houve alguns elementos do meu pelotão que comeram, não sei em que condições. Pelo Mato de Cão passei por lá uma vez, fiz o percurso entre Bambadinca (atravessei o Geba) e o Enxalé. Deve ter sido em Abril-Maio de 1970. Não vimos vivalma, só tabancas abandonadas.
Quando da montagem Eléctrica da Carpintaria Escola de Cumura,comia na Missão de Padres Italianos,um dia ao almoço veio para a mesa umas travessas com aves,pois muita alimentação era feita à base de caça,patos galinha do mato e ...,como não sou amante de aves esperei que viesse algo mais,então surgiu uma travessa com carne uns "bifinhos" jeitosos,e o rapaz aviou-se,ao dar a primeira dentada ...pensei estes "italianos" são mesmo malucos temperara a carne com açucar,lá fui mordiscando,quando do topo da mesa o Padre Sétimio me diz desculpa não sei se gosta de macaco ?-Já não consegui como mais.
Depois da independência D. Sétimio Ferrazeta veio a ser o 1º Bispo da Guiné.
Passei momentos inesquecíveis nesta Missão que na altura abrigava todos os leprosos da Guiné,as pastas" eram feitas na Missão e como eram deliciosas.
José Nunes
1ºCabo Mec.Electricista de Centrais
BENG 447-1968/1970
Vou contar como foi que comi pela primeira vez, macaco -cão...
Galomaro-zona leste da Guiné, tinha chegado um "periquito" Alferes que não recordo o nome,perguntou a um outro alferes (nome não digo) do (PEL. REC.)que tinha ouvido dizer que cabrito guisado com batatas era uma delicia, fizemos (PEL. REC. um jantar só que não conseguia-mos arranjar dois cabritos alguém falou num macaco cão e então vai dai veio para a mesa, separado para que não houvesse misturas,a meio o Alferes , do (PEL.REC.)perguntou ao ALF. "periquito" que achava do petisco, diz o "periquito" saboroso é melhor do que me tinham dito,eu e mais os que sabiam ficamos a olhar uns para os outros e provamos,e não é que era bom. O pior foi quando o Alferes do (PEL.REC.) lhe disse que o que ele comeu era macaco, o homem quase votou os dedos na boca para por tudo fora, mas como viu mais pessoal a comer do mesmo tacho o do macaco-cão lá continuo-ou o jantar mas comendo do outro tacho o do cabrito.
E assim na falta de patacão (pesos) lá tinha que ser macaco-cão...
~(PS) Não revelo nomes dos ditos por motivos óbvios.. ABRAÇO.
Luís e demais e outros confrades, Saúde e fraternidade. Acabo de abrir a caixa de correio e tenho um aluvião de informações sobre Mato de Cão, é este o nome do lugar ou, em crioulo, Matrecon. Correndo o risco de me repetir, entre Agosto de 1968 e Novembro de 1969, com a exceção de curtas viagens a Bissau, fui lá praticamente todos os dias. As instruções eram terminantes: nenhuma embarcação civil ou militar pode ser atacada em Mato de Cão, ponto mais estratégico do Geba Estreito não há. Quando cheguei, comandava interinamente o Pel Caç Nat 52 e coordenava a vida de dois pelotões de milícias, em Missirá e Finete, os Zacarias Saiegh, muito aprendi com ele. Montámos 16 itinerários diferentes com saída de Missirá e 4 com saída de Finete. O sacríficio físico redobrava, mas não tivemos emboscadas nem minas, de vez em quando apnhávamos granadas e carregadores, tinha estado à nossa espera, furtavam-nos ao encontro... A espera ads embarcações era no planalto, o que permitia uma visão de conjunto. Em Novembro de 1969, entrou em funcionamento no Porto do Xime e o pesado abastecimento de todo o Leste processou-se a partir daqui até aos pontos mais remotos como Piche e Buruntuma. Creio ter contado com algum detalhe toda esta vivência. O Geba é o rio da minha vida e Mato de Cão o ponto luminoso de toda a minha comissão. Perdi contacto com a minha gente a partir de Agosto de 1970, tinha três feridos graves para visitar e que comigo conviveram durante longo tempo. É bom agora recordar o outro Mato de Cão que não conheci, com a exceção da visita que fiz em Novembro de 2010, a pedido do Mexia Alves, encontrei vestígios do aquartelamento que fotografei e publiquei no blogue. A descrição vem no meu livro A Viagem do Tangomau. Há pormenores para mim incompreensíveis. Por exemplo, fala-se em Tomango Baldé como o militar mais antigo do pelotão, é impossível, havia Tomani da safra de 1966, foi preparado pelo Jorge Rosales em Bolama. Talvez seja este a quem tu te referes. A região, volto ao tempo de 1968-1969 era frequentada por colunas de abastecimento que vinham de Madina/Belel até Nhabijões e Mero. Foram surpreendidos em várias emboscadas, destruímos os barcos em frente a Samba Silate, mas esta linha de abastecimento era-lhes vital, Madina/Belel estava fora das grandes linhas de abastecimento montadas pelo PAIGC. Não foi por acaso que o coronel Jaquité me ameaçou de morte duas vezes. Ia sendo bem-sucedido em 16 de Outubro de 1969, aquela mina anticarro tinha destinatário. Nada mais por ora, um abraço a todos de quem nunca esquece a população do Cuor e os seus fiéis militares com quem conviveu em todos os milésimos de segundo de todas as horas do dia, Mário
Já o disse noutro lugar mas reafirmo-o aqui que não inaugurei o Destacamento do Mato Cão, mas sim que levei o 52 para o referido Destacamento.
O seu a seu dono.
Abraços a todos
Joaquim
Caros amigos,
Antes de mais quero felicitar o Luis Mourato oliveira pela sua entrada e pelas boas "nobas" que nos tras e que vem refrescar os assuntos e a tematica da nossa TG, contudo, relativamente ao presente Poste, gostaria de chamar atencao de que, tratando-se da Guine, em virtude da sua rica variedade natural, social e etnica, mais uma vez, nao podemos generalizar, isto a proposito dos simios e em particular dos macacos em geral.
Assim, nao concordo com a afirmacao do mesmo em como "Os guineenses comiam macaco cão com regularidade, esta iguaria era até muito apreciada e havia quem achasse a carne do macaco semelhante à do cabrito".
Para vossa informacao, os muculmanos em geral estao interditos pela tradicao e sobretudo pela religiao de comer macacos e pelo facto de um ou outro o fazer nao invalida esta proibicao que, como deverao saber, vem dos tempos hebraicos (Tora de Moises) onde consta a listagem dos animais que seriam licitos e ilicitos aos filhos de Israel e que por heranca passa tambem para os seguidores do Profeta Mohamed.
Com um abraco amigo,
Cherno Balde
Caros amigos,
Antes de mais quero felicitar o Luis Mourato oliveira pela sua entrada e pelas boas "nobas" que nos tras e que vem refrescar os assuntos e a tematica da nossa TG, contudo, relativamente ao presente Poste, gostaria de chamar atencao de que, tratando-se da Guine, em virtude da sua rica variedade natural, social e etnica, mais uma vez, nao podemos generalizar, isto a proposito dos simios e em particular dos macacos em geral.
Assim, nao concordo com a afirmacao do mesmo em como "Os guineenses comiam macaco cão com regularidade, esta iguaria era até muito apreciada e havia quem achasse a carne do macaco semelhante à do cabrito".
Para vossa informacao, os muculmanos em geral estao interditos pela tradicao e sobretudo pela religiao de comer macacos e pelo facto de um ou outro o fazer nao invalida esta proibicao que, como deverao saber, vem dos tempos hebraicos (Tora de Moises) onde consta a listagem dos animais que seriam licitos e ilicitos aos filhos de Israel e que por heranca passa tambem para os seguidores do Profeta Mohamed.
Com um abraco amigo,
Cherno Balde
PS/-A descricao que o Luis Oliveira faz pode criar duvidas pois, as pessoas que ele menciona (O Djobo e o Tumango) sao Fulas, logo muculmanos e isto pode levar a ideias erradas sobre a nossa cultura e tradicoes.
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