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Nota do editor
Último post da série de 22 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25671: Parabéns a você (2284): Cor Art Ref António José Pereira da Costa, ex-Alf Art da CART 1692 / BART 1914 (Sangonhá e Cameconde, 1968/69); ex-Cap Art, CMDT da CART 3494 / BART 3873 e CART 3567 (Xime, Mansambo e Mansabá, 1972/74) e João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé e Fá Mandinga, 1965/67)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
A apresentar mensagens correspondentes à consulta Pereira do Enxalé ordenadas por data. Ordenar por relevância Mostrar todas as mensagens
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quinta-feira, 27 de junho de 2024
sábado, 22 de junho de 2024
Guiné 61/74 - P25671: Parabéns a você (2284): Cor Art Ref António José Pereira da Costa, ex-Alf Art da CART 1692 / BART 1914 (Sangonhá e Cameconde, 1968/69); ex-Cap Art, CMDT da CART 3494 / BART 3873 e CART 3567 (Xime, Mansambo e Mansabá, 1972/74) e João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé e Fá Mandinga, 1965/67)
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Nota do editor
Último post da série de 20 de Junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25662: Parabéns a você (2283): Cherno Baldé, Engenheiro e Gestor de Projectos, Amigo Grã-Tabanqueiro da Guiné-Bissau
segunda-feira, 17 de junho de 2024
Guiné 61/74 - P25649: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte III: O Eustáquio, que tinha 14 anos, andou fugido nas montanhas de Liquiçá e Ermera, com a mãe e a irmã mais nova, mais duas pessoas amigas da família Sobral, durante três anos e meio
Timor > Liquiçá > Manati > Boebau > 2018 > Escola de São Francisco de Assis > Uma luz ao fundo do túnel... Aproxima-se a data da inauguração: 19 de março de 2018.
Texto e fotos: © Rui Chamusco (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Lourinhã > 2017 > Rui Chamusco e Gaspar Sobral. A família Sobral tem um antepassado
comum que foi lurai, régulo, no tempo dos portugueses. As insígnias do poder (incluindo a espada) estão na posse do Gaspar, que vive em Coimbra. A família Sobral andou vários anos pelas montanhas de Luiquiçá e de Ermera, tentando escapar à tirania dos ocupantes indonésios. O Gaspar esteve 38 anos fora da sua terra, só lá voltando em 2016, com o Rui.
Foto: Luís Graça (2017).
1. Esta é a segunda viagem e estadia do Rui Chamusco (de 27 de janeiro a 14 de junho de 2018) (*), em Timor Leste, uma missão solidária que culminou com a inauguração da Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em 19 de março de 2018, em Boebau, Manati, Liquiçá.
O Rui Chamusco, nosso grão- tabanqueiro nº 886, é professor de música, do ensino secundário, reformado (e homem de sete instrumentos), natural da Malcata, Sabugal, a viver na Lourinhã.
O Rui tem-se dedicado de alma e coração a um projeto de solidariedade no longínquo território de Timor-Leste (a 3 dias de viagem, por avião, a cerca de 15 km de distância em linha reta).
É cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste, com sede em Coimbra. Juntamente com outros destacadas figuras, como o Gaspar Sobral (nascido em Timor) e a Glória Sobral (natural da Malpaca, Sabugal).
Através da família Sobral, um exemplo de "resistência e resiliência", e das crónicas do Rui, vemos seguramente melhor Timor-Leste, de ontem e de hoje: uma visão macro e micro. Enfim, um privilégio, para os nossos leitores. E um obrigado ao nosso cronista, extensivo ao Gaspar, ao Eustáquio,à Aurora, à Adobe e outros protagonistas destas histórias luso-timorenses.
É cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste, com sede em Coimbra. Juntamente com outros destacadas figuras, como o Gaspar Sobral (nascido em Timor) e a Glória Sobral (natural da Malpaca, Sabugal).
Através da família Sobral, um exemplo de "resistência e resiliência", e das crónicas do Rui, vemos seguramente melhor Timor-Leste, de ontem e de hoje: uma visão macro e micro. Enfim, um privilégio, para os nossos leitores. E um obrigado ao nosso cronista, extensivo ao Gaspar, ao Eustáquio,à Aurora, à Adobe e outros protagonistas destas histórias luso-timorenses.
Estas crónicas tem um enorme interessante para se conhecer o que é hoje a República Democrática de Timor Leste, país membro da CPLP, com o qual mantemos laços históricos, e sobretudo afetivos, tal como mantemos com a Guiné-Bissau e outras antigos territórios que estiveram sob a administração portuguesa em África e na Ásia (LG).
Enquanto se fazem os preparativos para a inauguração da escola e aproveitando
algum tempo de lazer ainda cá em baixo, em Ailok Laran, vamos ouvindo em primeira mão relatos impressionantes que aconteceram nas zonas montanhosas de Liquiçá e Ermera, particularmente as que aconteceram em terras de Boebau e arredores.
Diz o Eustáquio que este povo sofreu muito e continua a sofrer porque se sente
esquecido do poder central. Os guerrilheiros tinham sempre de comer porque os
populares lhes levavam comida, e tinham com que se defender, pois utilizavam
armas.
(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos: LG)
Último poste da série > 11 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25632: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte II: Heróis da montanha!
II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)
Parte III - O Eustáquio, que tinha 14 anos, andou fugido nas montanhas de Liquiçá e Ermera, com a mãe e a irmã mais nova, mais duas pessoas amigas da família Sobral, durante três anos e meio
06.03.2018, terça feira - Dia de anos da Aurora
A Aurora, que é a mãe da casa, a esposa do Eustáquio e mãe dos quatro filhos que gerou, faz hoje 49 anos. Só isto seria mais do que suficiente para lhe fazermos a festa. Mas a Aurora, para além de mãe e esposa, é muito mais.
Apesar das dificuldades físicas pois há sete anos teve um AVC que afetou os movimentos do seu lado esquerdo, a Aurora nunca para. Sempre solícita às necessidades da casa, sempre disponível a qualquer apelo, sempre com o seu sorriso de encantar. Claro que lhe fizemos a festa e lhe cantamos os parabéns!...
Para surpresa de todos e já ao fim da tarde, telefona o João Crisóstomo para nos dizer que faz questão de aparecer aqui para dar os parabéns à senhora Aurora. E apareceu mesmo! Esta gente, que tanto tem ouvido falar no João pelas melhores razões, ficou atónita e comentando: “ O quê? O senhor João Crisóstomo vem aqui?”... E desfaziam-se em cuidados para o receber.
Para surpresa de todos e já ao fim da tarde, telefona o João Crisóstomo para nos dizer que faz questão de aparecer aqui para dar os parabéns à senhora Aurora. E apareceu mesmo! Esta gente, que tanto tem ouvido falar no João pelas melhores razões, ficou atónita e comentando: “ O quê? O senhor João Crisóstomo vem aqui?”... E desfaziam-se em cuidados para o receber.
Mal sabiam eles que o João, apesar de toda a importância que lhe é dada e que bem merece, é uma pessoa simples e humilde. Adaptou-se ao local e passou de imediato a ser um dos habitantes da casa.
Teve vários gestos que a todos cativou, mas realço o apadrinhamento “in loco”do Alaka, um dos filhos do Anô. È a primeira vez que acontece um apadrinhamento em direto. Via-se a satisfação do Alaka que dizia “gosta”, mas também do João. Eu diria duas crianças. E lembrei-me então de ditados e canções que ilustram o que escrevo: “de velhinho se volta a menino”; “faz-me ser criança junto dos irmãos”.
Desculpa, João! E obrigado pelo teu exemplo. Este apadrinhamento alargou o campo de ação do nosso programa, levando-o até aos Estados Unidos da América.
Dia 7 de Março é o dia que nos foi marcado para sermos recebidos pelo senhor embaixador de Portugal. Às dez horas em ponto, lá estávamos nós à frente da
embaixada, um edifício novo inaugurado há pouco tempo, e depois de alguns
minutos de espera por questões de segurança interna, alguém nos veio buscar e
conduzir à sala de audiências do senhor embaixador.
Recebidos cordialmente pelo novo embaixador (tudo é novo aqui), que tomou posse há três meses , e pela sua secretária doutora Daniela Pereira, de pronto começamos o colóquio sobre as intenções porque solicitamos esta audiência. Durante mais ou menos uma hora todos fomos intervindo com perguntas e respostas que enriqueceram o diálogo. A embaixada conheceu o nosso projeto e nós ficamos a conhecer a posição e a ação da embaixada a este respeito. Ficou a promessa do senhor embaixador de que daria a devida atenção às nossas pretensões, depois de lhe enviarmos por escrito a fundamentação do que estamos a fazer. Para já ficamos muito satisfeitos e agradecidos por o senhor embaixador aceitou o convite de estar presente no ato da inauguração da escola em Boebau no próximo dia 19. esperamos que a promessa seja cumprida.
Outro encontro de não menos importância aconteceu na parte da tarde, das 16.00 às 23.00 horas, com o senhor bispo D.Basílio, que faz questão de ser meu amigo desde 1980, porque trabalhamos e estudamos durante dois anos, em Paris. É segunda vez que, durante a nossa segunda estadia em Timor, nos encontramos, e com certeza que muitas mais vezes assim o faremos.
À hora marcada, no Hotel Plaza onde o João Crisóstomo está instalado, lá está já o D. Basílio à nossa espera. Deu-nos o exemplo da pontualidade que nós (eu, o Gaspar, o João e o Eustáquio) não conseguimos cumprir. E ainda dizem que as pessoas importantes chegam sempre atrasadas!... Este longo tempo de encontro trouxe-nos tudo: partilha de ideias, recordações, boa disposição, projetos de vida e ação, etc.
De minha parte compete-me agradecer a facilidade e a disponibilidade de tempo e contactos que o nosso amigo nos dispensou, e particularmente as orientações
preciosas que nos prestou quanto ao estatuto e à funcionalidade da escola em
Boebau. Vamos continuar a precisar da sua ajuda, e sei de antemão que nunca nos será negada. Obrigado Basílio!
Teve vários gestos que a todos cativou, mas realço o apadrinhamento “in loco”do Alaka, um dos filhos do Anô. È a primeira vez que acontece um apadrinhamento em direto. Via-se a satisfação do Alaka que dizia “gosta”, mas também do João. Eu diria duas crianças. E lembrei-me então de ditados e canções que ilustram o que escrevo: “de velhinho se volta a menino”; “faz-me ser criança junto dos irmãos”.
Desculpa, João! E obrigado pelo teu exemplo. Este apadrinhamento alargou o campo de ação do nosso programa, levando-o até aos Estados Unidos da América.
07.03.2018, quarta feira - Encontros com o embaixador de Portugal e o bispo Dom Basílio
embaixada, um edifício novo inaugurado há pouco tempo, e depois de alguns
minutos de espera por questões de segurança interna, alguém nos veio buscar e
conduzir à sala de audiências do senhor embaixador.
Recebidos cordialmente pelo novo embaixador (tudo é novo aqui), que tomou posse há três meses , e pela sua secretária doutora Daniela Pereira, de pronto começamos o colóquio sobre as intenções porque solicitamos esta audiência. Durante mais ou menos uma hora todos fomos intervindo com perguntas e respostas que enriqueceram o diálogo. A embaixada conheceu o nosso projeto e nós ficamos a conhecer a posição e a ação da embaixada a este respeito. Ficou a promessa do senhor embaixador de que daria a devida atenção às nossas pretensões, depois de lhe enviarmos por escrito a fundamentação do que estamos a fazer. Para já ficamos muito satisfeitos e agradecidos por o senhor embaixador aceitou o convite de estar presente no ato da inauguração da escola em Boebau no próximo dia 19. esperamos que a promessa seja cumprida.
Outro encontro de não menos importância aconteceu na parte da tarde, das 16.00 às 23.00 horas, com o senhor bispo D.Basílio, que faz questão de ser meu amigo desde 1980, porque trabalhamos e estudamos durante dois anos, em Paris. É segunda vez que, durante a nossa segunda estadia em Timor, nos encontramos, e com certeza que muitas mais vezes assim o faremos.
À hora marcada, no Hotel Plaza onde o João Crisóstomo está instalado, lá está já o D. Basílio à nossa espera. Deu-nos o exemplo da pontualidade que nós (eu, o Gaspar, o João e o Eustáquio) não conseguimos cumprir. E ainda dizem que as pessoas importantes chegam sempre atrasadas!... Este longo tempo de encontro trouxe-nos tudo: partilha de ideias, recordações, boa disposição, projetos de vida e ação, etc.
De minha parte compete-me agradecer a facilidade e a disponibilidade de tempo e contactos que o nosso amigo nos dispensou, e particularmente as orientações
preciosas que nos prestou quanto ao estatuto e à funcionalidade da escola em
Boebau. Vamos continuar a precisar da sua ajuda, e sei de antemão que nunca nos será negada. Obrigado Basílio!
09.03.2018, sexta feira - Relatos impressionantes
de cenários de guerra
Enquanto se fazem os preparativos para a inauguração da escola e aproveitando
algum tempo de lazer ainda cá em baixo, em Ailok Laran, vamos ouvindo em primeira mão relatos impressionantes que aconteceram nas zonas montanhosas de Liquiçá e Ermera, particularmente as que aconteceram em terras de Boebau e arredores.
O Eustáquio tinha na altura da invasão indonésia 14 anos e, como já referi anteriormente, andou fugido três anos e meio pelas montanhas, juntamente com a mãe, a irmã mais nova e mais duas pessoas amigas da família Sobral. Cada vez que fala, sem complexos mas com alguma revolta, do que viu e do que lhes aconteceu, impressiona-nos com o seu realismo. Passo a contar os relatos que hoje lhe ouvi pela primeira vez.
- Quando os tentaras (tropas armadas indonésias) apareciam, todos procuravam esconderijos. Conta o Eustáquio que uma vez estava um grupo escondido, nele incluído um bebé, enquanto os tentaras passavam. Como a criança começou a chorar, e para que não fossem descobertos, alguém lhe tapou a boca com a mão... Quando se deram conta a criança estava morta.
- Uma senhora na plena força da vida (mais ou menos 40 anos) foi enterrada viva de cabeça para baixo, de tal modo que viam os pés da senhora a mexer enquanto ali ficava morta.
- A outra senhora prenderam-na a uma árvore e foram-se embora na esperança de que ela ali morresse e apodrecesse.
- Uma outra senhora, da família do Eustáquio cujas filhas sobreviveram e habitam uma localidade próxima de Boebau, foi deixada também no local apenas com um pouco de milho moído e um cassapo, feito de bambu com alguma água. Ainda hoje ninguém sabe o que lhe aconteceu: se morreu, se foi levada pelos indonésios, se sobrevive nalgum sítio.
Diz o Eustáquio que este povo sofreu muito e continua a sofrer porque se sente
esquecido do poder central. Os guerrilheiros tinham sempre de comer porque os
populares lhes levavam comida, e tinham com que se defender, pois utilizavam
armas.
Mas esta gente indefesa era quem mais sofria e continua a sofrer. Chegará algum dia em que se faça justiça? Este povo bem merece. As eleições antecipadas estão à porta, e é urgente que os poderes delas resultantes tenham em consideração os necessidades e anseios das pessoas mais carenciadas.
Quanto a mim, quanto a nós, sinto-me cada vez mais motivado a lutar com as
minhas possibilidades pelo bem estar desta gente, e particularmente por estas
crianças que não vão à escola devido às dificuldades de acesso e às situações de
pobreza extrema. Havemos de fazer a diferença. Que Deus nos ajude!
Sei que em todo o mundo é assim, e todos conhecemos casos semelhantes ao que
vou contar. A Delfina Tavares é uma jovem que acabou este ano (em Dezembro
passado) os estudos do Secundário (12º ano de escolaridade). Estivemos a ver a sua caderneta escolar que prova ela ser a segunda melhor aluna da turma.
Quanto a mim, quanto a nós, sinto-me cada vez mais motivado a lutar com as
minhas possibilidades pelo bem estar desta gente, e particularmente por estas
crianças que não vão à escola devido às dificuldades de acesso e às situações de
pobreza extrema. Havemos de fazer a diferença. Que Deus nos ajude!
Talentos perdidos...
Sei que em todo o mundo é assim, e todos conhecemos casos semelhantes ao que
vou contar. A Delfina Tavares é uma jovem que acabou este ano (em Dezembro
passado) os estudos do Secundário (12º ano de escolaridade). Estivemos a ver a sua caderneta escolar que prova ela ser a segunda melhor aluna da turma.
A Delfina, devido à doença da mãe e a ter perdido o pai teve de deixar a sua casa e está a viver numa família de acolhimento cujo aglomerado familiar soma 15 pessoas, em situação de muitas dificuldades financeiras. Claro que todos vão à escola, exceto a Delfina que, por falta de verbas para pagar a matrícula e a frequência tem de ficar em casa em trabalhos caseiros.
Infelizmente também aqui em Timor, as universidades públicas, pagas pelo Estado, são ocupados por alunos vindos das classes mais altas. Os outros têm de recorrer ao ensino privado, que tem de ser pago, e ao qual muitos alunos não têm acesso por falta de possibilidades das suas famílias que são pobres.
Estamos a tentar resolver o problema da Delfina, e temos esperança que ainda se
possa matricular e frequentar o curso de economia na faculdade que o administra.
Este caso leva-me a refletir sobre o ditado “Deus dá nozes a quem não tem dentes”. E vêm me à memória uns quantos casos que em Portugal eu conheço de talentos perdidos por falta de condições e de oportunidades em prosseguir os estudos.
Estamos a tentar resolver o problema da Delfina, e temos esperança que ainda se
possa matricular e frequentar o curso de economia na faculdade que o administra.
Este caso leva-me a refletir sobre o ditado “Deus dá nozes a quem não tem dentes”. E vêm me à memória uns quantos casos que em Portugal eu conheço de talentos perdidos por falta de condições e de oportunidades em prosseguir os estudos.
É pena que assim seja. Quem sabe se com a contribuição de cada um de nós a situação não se altere, pelo menos para alguns, e esses talentos perdidos ou escondidos possam desenvolver-se e dar frutos. Assim o desejo profundamente...
“ Dies Domini...” Hoje é domingo, dia do Senhor. Por isso e por outras coisas mais fomos à missa das 8.00horas, na igreja de Motael.
Dia 11.03.2018, domingo - Hoje é Domingo...
“ Dies Domini...” Hoje é domingo, dia do Senhor. Por isso e por outras coisas mais fomos à missa das 8.00horas, na igreja de Motael.
Ao chegar encontramos um largo cheio de gente que assistia à missa das 7h. Como há sempre muita gente a esta hora, optou-se por a missa desta hora ser cá fora, tipo missa campal.
Foi-nos então explicado pelo sr. Ascenso, uma enciclopédia de conhecimentos, que nesta igreja de Motael, a primeira missa é celebrada em bahassa (língua indonésia), a segunda em português, a terceira em tetum,e a quarta em inglês. È assim mesmo, missa para todos os gostos...
É escusado dizer que a religião católica tem uma grande implantação em Timor Leste. E por isso as cerimónias religiosas têm uma participação muito relevante e muito expressiva. Os cânticos e as orações coletivas fazem-nos crer que esta gente é sincera e as suas devoções, aceitemos ou não, têm razão de ser e dão significado às suas vidas.
A razão mais forte que aqui nos trouxe, (eu, o Gaspar e o João Crisóstomo) foi de nos encontrarmos com o sr. Padre Mário Godamo, que ´é o represente do Vaticano neste país, a fim de combinarmos a cerimónia da benção da escola de Boebau.
Depois de uma larga conversa partilhada, chegamos à conclusão que será celebrada a missa, seguindo-se o programa já delineado. Precisamos de todos os apoios possíveis, mas particularmente do apoio divino. Deus está connosco. Ele vai ajudar!...
Esteve também connosco o Levy, já meu conhecido e grande amigo do Gaspar, que a nosso pedido se iria encontrar com o João Crisóstomo. O João ficou emocionado ao abraçar este herói da resistência. Ele mais um colega, felizmente também sobreviveu, são os dois heróis que personificam o monumento existente em frente da igreja de Motael, mesmo à beirinha do mar. Aparecem, como imagens fortes de sangue e suor, no filme que percorreu o mundo e ajudou a fortalecer o movimento da luta pela independência nacional. Por isso é compreensível o estado emocional do João, ele que tanto lutou por ajudar este país sofredor. Com certeza que mais emoções hão-de vir ao de cima. Força João!...
Quando as promessas não são cumpridas a frustração, a ansiedade, o desânimo
instalam-se na gente. Hoje era o dia anunciado para a chegada do Ralph e de Lucila, os dois jornalistas esperados para fazer o documentário sobre a educação em Timor Leste, e também para fazerem a reportagem da inauguração da escola em Boebau.
A razão mais forte que aqui nos trouxe, (eu, o Gaspar e o João Crisóstomo) foi de nos encontrarmos com o sr. Padre Mário Godamo, que ´é o represente do Vaticano neste país, a fim de combinarmos a cerimónia da benção da escola de Boebau.
Depois de uma larga conversa partilhada, chegamos à conclusão que será celebrada a missa, seguindo-se o programa já delineado. Precisamos de todos os apoios possíveis, mas particularmente do apoio divino. Deus está connosco. Ele vai ajudar!...
Esteve também connosco o Levy, já meu conhecido e grande amigo do Gaspar, que a nosso pedido se iria encontrar com o João Crisóstomo. O João ficou emocionado ao abraçar este herói da resistência. Ele mais um colega, felizmente também sobreviveu, são os dois heróis que personificam o monumento existente em frente da igreja de Motael, mesmo à beirinha do mar. Aparecem, como imagens fortes de sangue e suor, no filme que percorreu o mundo e ajudou a fortalecer o movimento da luta pela independência nacional. Por isso é compreensível o estado emocional do João, ele que tanto lutou por ajudar este país sofredor. Com certeza que mais emoções hão-de vir ao de cima. Força João!...
12.03.2018, segunda feira - Nem tudo são rosas...
instalam-se na gente. Hoje era o dia anunciado para a chegada do Ralph e de Lucila, os dois jornalistas esperados para fazer o documentário sobre a educação em Timor Leste, e também para fazerem a reportagem da inauguração da escola em Boebau.
O amigo João Crisóstomo, que tudo tem feito para que esta equipa possa realizar o seu trabalho em boas condições, é quem mais sofre com estes incumprimentos. Não sabemos se ainda vêm ou não, mas decidimos não nos deixarmos influenciar pela sua ausência. Todos juntos somos fortes e iremos com certeza levar a cabo esta missão. A escola será inaugurada no dia 19, esteja quem estiver, porque as crianças e todos nós estaremos lá.
Já relatei o caso de “talentos perdidos” que descreve a Delfina, uma aluna que
acabou o secundário como a segunda melhor da turma. Hoje, a Delfina, o Gaspar e eu fomos a Universidade da Paz, falar com o Dr. Lucas que é o reitor, sobre esta
situação. Recebidos num clima de simplicidade e amizade, o Dr.Lucas pôs tudo em movimento e, depois de ter as informações adequadas, decidiu ali mesmo, de
imediato, que a Delfina começará amanhã a frequentar as aulas no curso que ela
escolheu (Relações Internacionais), isenta do pagamento de propinas.
Ainda mais. Sob proposta nossa o Dr. Lucas aceitou com muito agrado ser sócio da Astil, pronto a colaborar connosco em tudo o que seja possível. Estiveram também connosco o Dr. Apolinário e o Dr. Domingos que nos guiaram na visita às instalações desta grande e credível universidade.
Há dias assim, em que tudo corre bem. Obrigado, Dr.Lucas!...
À hora combinada, 9.30h, lá estávamos na Escola Rui Cinati, em Balide, uma escola de referência em Dili, onde o ensino e a língua portuguesa estão em destaque. Foi o local combinado para que o amigo João pudesse expor os seus trabalhos relacionados com o livro que publicou LAMETA ( Movimento Luso Americano para a Autodeterminação de Timor Leste).
13.03.2018, terça feira - A prenda que desejávamos...
Já relatei o caso de “talentos perdidos” que descreve a Delfina, uma aluna que
acabou o secundário como a segunda melhor da turma. Hoje, a Delfina, o Gaspar e eu fomos a Universidade da Paz, falar com o Dr. Lucas que é o reitor, sobre esta
situação. Recebidos num clima de simplicidade e amizade, o Dr.Lucas pôs tudo em movimento e, depois de ter as informações adequadas, decidiu ali mesmo, de
imediato, que a Delfina começará amanhã a frequentar as aulas no curso que ela
escolheu (Relações Internacionais), isenta do pagamento de propinas.
Ainda mais. Sob proposta nossa o Dr. Lucas aceitou com muito agrado ser sócio da Astil, pronto a colaborar connosco em tudo o que seja possível. Estiveram também connosco o Dr. Apolinário e o Dr. Domingos que nos guiaram na visita às instalações desta grande e credível universidade.
Há dias assim, em que tudo corre bem. Obrigado, Dr.Lucas!...
Fonte: João Crisóstomo - LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste, edição de autor, Nova Iorque, 2017, p. 157 (com a devida autorização do autor, conhecido ativista de causuas sociais, nosso camarada da dáspora lusitana, a viver nos EUA desde 1975, e ex-alf mil da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)
Da esquerda para a direita: o professor Berbedo de Magalhães, da Universidade do Porto, João Crisóstomo e Xanana Gusmão, num encontro em Lisboa [em 22 de dezembro de 2001]
(Fonte: LAMETA, 2017, pág. 22)
Capa da brochura LAMETA (2017) |
14.03.2018, quarta feira - Exposição Lameta
À hora combinada, 9.30h, lá estávamos na Escola Rui Cinati, em Balide, uma escola de referência em Dili, onde o ensino e a língua portuguesa estão em destaque. Foi o local combinado para que o amigo João pudesse expor os seus trabalhos relacionados com o livro que publicou LAMETA ( Movimento Luso Americano para a Autodeterminação de Timor Leste).
Acompanhando eu o João na preparação desta exposição sou testemunha de quanto investimento em dinheiro, esforço, contactos, entusiasmo, esperança foi depositado neste evento. Mas confirmo também o apoio inexcedível prestado pela direção desta escola, nomeadamente do Dr. Acácio, seu presidente, para que esta exposição tenha o êxito esperado.
O ato da inauguração foi um momento alto que nos catapultou a todos. Vi o João como ele é: grande e humilde; fervoroso e contagiante; alegre e bem disposto. Para tal muito contribuiu a presença de figuras convidadas, nomeadamente a presença do Sr. Embaixador de Portugal.
De nossa parte fica também o nosso agradecimento à “publicidade” que nos fizeram e que nos permitiu alguns contactos importantes para o futuro da nossa escola em Boebau.
De nossa parte fica também o nosso agradecimento à “publicidade” que nos fizeram e que nos permitiu alguns contactos importantes para o futuro da nossa escola em Boebau.
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Nota do editor:
Último poste da série > 11 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25632: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte II: Heróis da montanha!
domingo, 16 de junho de 2024
Guiné 61/74 - P25643: Elementos para a história do Pel Caç Nat 54, "Águias Negras" (1966/74) - Parte II: Com o José António Viegas, por Bissau, Bolama, Mansabá, Enxalé e Missirá, no 2ºs emestre de 1966
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966 > O alf mil Marchand (ou Marchã) junto ao depósito de géneros, destruído no ataque de 22/12/1966
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966 > Mais uma vista parcial do destacamento (e tabanca), depois do ataque de 22 de dezembro de 1966.
Guiné > Rio Geba > Pel Caç Nat 54 >c. agosto de 1966 > No "cais" do Enxalé: da esquerda para a direita, o José António Viegas, o alf mil Marchand (Ou Marchã), ambos do Pel Caç Nat 54, eo fur mil enf, da CCAÇ 1439
Guiné > Rio Geba > Pel Caç Nat 54 > Agosto 1966 > Nos barcos "turras" (Casa Gouveia), a caminho o Enxalé
Guiné > Rio Geba > Pel Caç Nat 54 > Enxalé > Agosto de 1966 > Vacas comparadas em Bissá, pelo comandante da CCAÇ 1439, cap Pires.
Fotos (e legendas): © José António Viegas (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
- alferes Carlos Alberto de Almeida e Marchã (ou Marchand);
- furriel mil Álvaro Valentim Antunes (morto na 1ª mina);
- furriel Arlindo Alves da Costa (DFA, ferido na segunda mina);
- fur mil José António Viegas;
- 1ºs Cabos Manuel Januário (DFA), Coelho (DFA) e João Simão (telegrafista);
- os soldados, do recrutamento local, eram das etnias Papel, Fula, Mandinga e Olof (um deles) (*)
Na primeira foto acima, o alferes Marchand (ou Marchã) está junto ao depósito de géneros depois do ataque a Missirá, em 21 de Dezembro de 1966.
José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54
(Bolama, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole,
Ilha das Galinhas,
1966/68)
2. O José António Viegas, nosso grã-tabanqueiro nº 587 (desde 11 de novembro de 2012), continua a ser a fonte privilegiada de informação sobre o seu Pel Caç Nat 54, de que é um dos "pais-fundadores". Daí que o seu percurso no CTIG, de 1966 a 1968, também o é desta subunidade, de que... "não reza a História" (*).
Vamos recordar alguns dos seus passos (**):
(...) Embarquei para o CTIGem 30 de julho de 1966, no Uíge. Fui em rendição individual para ir formar, em Bolama, com outros camaradas, os primeiros Pelotões de Caçadores Nativos. Chegámos a 3 de agosto. (...) Quatro dias depois seguimos para Bolama para receber os Pelotões e fazer os treinos operacionais. O meu Pelotão foi o 54.
(...) Aqui apanhei o meu primeiro paludismo que me deixou de rastos por uns dias. O cheiro de que estávamos numa guerra e não de férias em África, era o ouvir de rebentamentos todas as noites em S. João, que ficava em frente a Bolama, e em Tite, e logo de seguida fazer a guarda de honra a um camarada que tinha morrido no rebentamento de uma bailarina em S. João e que foi enterrado no cemitério de Bolama.
(...) A minha estadia em Bolama, antes de ser colocado com o meu Pel Caç Nat 54 em Mansabá..., lembro-me bem daquela cidade já em degradação mas ainda com várias edificações em bom estado, como os correios, junto à piscina do Cabo Augusto onde se passavam os bons tempos de lazer, a casa do Governador e o Hotel, que estava em boas condições, onde muitos camaradas vinham descansar e passar férias.
(ii) Mansabá, setembro/outubro de 1966
(...) No fim de Agosto, depois de ter terminado o treino operacional, seguimos para Bissau e depois para Mansoa, numa coluna enorme, onde se juntaram mais militares com destino a Mansabá.
A coluna até Cutia decorreu com normalidade, mas a partir daqui foram tomadas todas as precauções até Mansabá, onde se ouviram alguns tiros e aviso.
Em Mansabá estivemos 45 dias com a CCAÇ 1421. Aqui começa a nossa entrada na guerra. Logo nos primeiros dias fomos fazer um golpe de mão e, como tal, foi posta à prova a nossa impreparação para reagirmos debaixo de fogo. Quando se chegou ao objectivo, foi lançado o ataque pelo homem da bazuca e, debaixo daquele fogachal, eu de pé com as balas a assobiar sem saber o que fazer.
Aqui começa a minha preparação com os melhores operacionais, os meus soldados nativos, o meu cabo Ananias Pereira Fernandes, o homem que não gostava de G3 e só usava a Madsen, que me joga para o chão e me ensina a organizar e dispersar debaixo de fogo.
Lembro-me o que aprendemos em Vendas Novas com aqueles filmes da guerra da Argélia, no meio de dunas, e nós íamos para a selva, enfim ainda havia poucos formadores com experiência de combate.
A coluna até Cutia decorreu com normalidade, mas a partir daqui foram tomadas todas as precauções até Mansabá, onde se ouviram alguns tiros e aviso.
Em Mansabá estivemos 45 dias com a CCAÇ 1421. Aqui começa a nossa entrada na guerra. Logo nos primeiros dias fomos fazer um golpe de mão e, como tal, foi posta à prova a nossa impreparação para reagirmos debaixo de fogo. Quando se chegou ao objectivo, foi lançado o ataque pelo homem da bazuca e, debaixo daquele fogachal, eu de pé com as balas a assobiar sem saber o que fazer.
Aqui começa a minha preparação com os melhores operacionais, os meus soldados nativos, o meu cabo Ananias Pereira Fernandes, o homem que não gostava de G3 e só usava a Madsen, que me joga para o chão e me ensina a organizar e dispersar debaixo de fogo.
Lembro-me o que aprendemos em Vendas Novas com aqueles filmes da guerra da Argélia, no meio de dunas, e nós íamos para a selva, enfim ainda havia poucos formadores com experiência de combate.
Nos primeiros dias em Mansabá, ao cair da noite, começou o nosso obus 8.8 a cantar, vim até ao pé da bateria falar com o artilheiro um Fur. Mili. cabo-verdiano, perguntar o que se passava, dizendo ele que tinham informações que o Amílcar andava por ali.
Na semana seguinte foi feita uma operação em forte com a 5.ª CComandos, a CCP 121, a CCAÇ 1421 e o nosso Pelotão. Entrámos pelo Morés, os Comandos e os Páras fizeram o estrago e voltamos.
Um Sargº. Paraquedista trocou o seu camuflado com o meu, soube há pouco tempo que morreu com a doença maldita e que vivia aqui perto de Loulé.
Todas as semanas estávamos a sair sempre à noite. Nas progressões, até me habituar no escuro da noite, às grandes teias de aranha e aos terríveis bicos das Micaias, foi uma tortura.
Antes de sairmos, fomos montar uma emboscada no Alto de Momboncó com um Pelotão da 1421. Estava com o meu pelotão emboscado quando vejo os Fiat a picar sobre nós, deu para assustar, levantámos com as armas para o alto e vejo o asa a desviar, logo de seguida ouviu-se largar as bombas e o cheiro horrível de petróleo. Este era um dia não, e no regresso apanhámos com uma emboscada de abelhas, os nativos largaram as armas e toca a fugir. O Sargento Monteiro da 1421 ficou bem picado e ainda por cima tinha pouco cabelo, ficando num estado lastimável.
Desta CCAÇ 1421 lembro-me do Cap Carrapotoso, já falecido, e dos Furriéis Fernandes e Passeiro. (...)
(iii) Enxalé, novembro de 1966
(...) Os poucos dias que estive em Bissau, foi para tomar contacto com a cidade, um dos sítios de encontro era o Café Bento, conhecido pela a 5ª Rep, onde encontrei amigos que nem pensava que estavam por aqueles lados.
Esta Companhia era comandada pelo Capitão Pires, um grande homem e um bom operacional.
A nossa primeira saída foi para ir a Bissá onde o BCAÇ 1888 queria fazer um destacamento.
Fomos direito a Porto Gole e depois seguimos para Bissá, era impressionante ver aquele aldeamento, no chão balanta, no meio de uma grande clareira com bastante gado e celeiros de arroz enormes.
Lembro-me do cap Pires dizer:
- Um destacamento aqui, no meio de um dos principais fornecedores do IN ? Vai correr muito sangue.
E foi verdade, entre 1967 e 1968 muitos morreram e muitos ficaram feridos.
Regressámos com gado comprado para a Companhia.
Nesta mês de Novembro a nossa missão era fazer colunas a Missirá e a Porto Gole e umas operações na zona. Lembro-me do alferes Zagalo de Matos que, quando saía para as operações o seu ordenança trazia o camuflado impecável e as botas a brilhar, tinha que estar todo a rigor. Ainda há dois para três anos, quando o encontrei nas suas andanças teatrais, lhe falei nisto que ele recordou com saudade. (Já partiu).
Havia na companhia um Furriel que era professor, o Farinha, dava aulas aos militares, a maior parte madeirenses, alguns analfabetos, e dava aulas numa escola improvisada no aldeamento, não esqueço a fome de aprender daquelas crianças.
No meio da gritaria e dos impropérios de um lado e de outro, ouve-se um grito de agarra-lo á mano, pois de certeza que vinham com cubanos.
Depois de quase uma hora de fogo, as morteirada estavam a cair junto ao refeitório onde estava o Unimog debaixo do embondeiro, o soldado condutor da CCAÇ 1439 foge e consegue pôr a viatura a funcionar, que estava com escape livre, para o retirar daquela zona de fogo. Julgo que eles pensaram que vinham reforços e debandaram, foi uma sorte porque as munições não eram muitas, principalmente as de morteiro 60 e bazuca.
Tentou-se a seguir ver se havia feridos, não havendo nada a registar entre os militares, mas acho que na população houve dois mortos e três feridos.
Hipótese de ajuda não tínhamos, nem de Finete, que era o destacamento mais perto, nem de Bambadinca, pois tinham que atravessar o rio. Só aguardando o pessoal do Enxalé.
Logo pelo nascer do dia veio o heli fazer as evacuações, o piloto era o Faísca, moço conhecido do Algarve. Assim que o heli levantou começamos a ouvir metralha, era o pessoal da CCAÇ 1439 e o pessoal do Pell Caç Nat 51 que estava a ser emboscado entre Mato Cão e Missirá. O IN retirou mas ficou emboscado, era lógico que viria ajuda.
Começámos então a olhar para a realidade, palhotas ardidas e grande destruição, dos nossos pertences só tínhamos a roupa vestida no corpo, o resto era tudo cinza. Guardo a única coisa que encontrei, uma moeda de 10 pesos toda queimada. No reconhecimento que fizemos, encontrámos bastante sangue e uma pistola. Era triste ver o destacamento com tanta destruição.
Com o depósito de géneros completamente destruído, pouco tínhamos para comer, fomos a Bambadinca buscar algumas coisas e tentar arranjar roupa.
Chega o dia de Natal, a comida não era muita, vem o meu cabo Januário e outro cabo Ananias dizer que iam dar uma volta para arranjar carne. Chegada a hora do almoço apresentaram um repasto de carne com arroz de xabéu , que estava uma delicia, findo o almoço o cabo africano Ananias chamou-me à parte e deu-me as caveiras dos macacos que tínhamos acabado de comer. Guardei uma como talismã que perdi quando vim da Africa do Sul em 1978. (...)
(Selecção, reevisão / fixação de texto: LG)
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27 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10731: Memórias de Mansabá (26): Os meus 45 dias em Mansabá (José António Viegas)
Neste café sabiam-se as novidades todas do mato e também as histórias que contavam aos piriquitos. Havia um pouco de tudo, aqueles que diziam que estávamos ali na guerra para defender os interesses da CUF que era representada pela Casa Gouveia, outros que diziam que ainda iam voltar situações piores que a Ilha do Como.
Os frequentadores assíduos do Café aconselharam-me logo que se quisesse bons livros era falar com o Sr. Bento, pois que certos livros a Pide ia lá buscar, mais tarde tive ocasião de presenciar.
Passados que foram estes curtos dias em Bissau, lá fomos embarcados nos barcos da Casa Gouveia, que iam levar abastecimentos a Bambadinca, e navegando rio Geba acima durante a noite, aconchegados da humidade no meio da carga.
Chegámos ao Enxalé pela manhã. As barcaças encostaram, não havia cais, fomos recebidos pela Companhia 1439 e pelo Pel Caç Nat 51 que já estava naquele aquartelamento.
Fui encontrar o pessoal da CCAÇ 1439 um pouco desmoralizado pois um mês antes, em outubro, tinha rebentado uma mina em Mato Cão, na ida houve um primeiro rebentamento que pulverizou um soldado açoriano, e na volta outro rebentamento que resultou na morte do furriel Mano.
Os frequentadores assíduos do Café aconselharam-me logo que se quisesse bons livros era falar com o Sr. Bento, pois que certos livros a Pide ia lá buscar, mais tarde tive ocasião de presenciar.
Passados que foram estes curtos dias em Bissau, lá fomos embarcados nos barcos da Casa Gouveia, que iam levar abastecimentos a Bambadinca, e navegando rio Geba acima durante a noite, aconchegados da humidade no meio da carga.
Chegámos ao Enxalé pela manhã. As barcaças encostaram, não havia cais, fomos recebidos pela Companhia 1439 e pelo Pel Caç Nat 51 que já estava naquele aquartelamento.
Fui encontrar o pessoal da CCAÇ 1439 um pouco desmoralizado pois um mês antes, em outubro, tinha rebentado uma mina em Mato Cão, na ida houve um primeiro rebentamento que pulverizou um soldado açoriano, e na volta outro rebentamento que resultou na morte do furriel Mano.
Esta Companhia era comandada pelo Capitão Pires, um grande homem e um bom operacional.
A nossa primeira saída foi para ir a Bissá onde o BCAÇ 1888 queria fazer um destacamento.
Fomos direito a Porto Gole e depois seguimos para Bissá, era impressionante ver aquele aldeamento, no chão balanta, no meio de uma grande clareira com bastante gado e celeiros de arroz enormes.
Lembro-me do cap Pires dizer:
- Um destacamento aqui, no meio de um dos principais fornecedores do IN ? Vai correr muito sangue.
E foi verdade, entre 1967 e 1968 muitos morreram e muitos ficaram feridos.
Regressámos com gado comprado para a Companhia.
Nesta mês de Novembro a nossa missão era fazer colunas a Missirá e a Porto Gole e umas operações na zona. Lembro-me do alferes Zagalo de Matos que, quando saía para as operações o seu ordenança trazia o camuflado impecável e as botas a brilhar, tinha que estar todo a rigor. Ainda há dois para três anos, quando o encontrei nas suas andanças teatrais, lhe falei nisto que ele recordou com saudade. (Já partiu).
Havia na companhia um Furriel que era professor, o Farinha, dava aulas aos militares, a maior parte madeirenses, alguns analfabetos, e dava aulas numa escola improvisada no aldeamento, não esqueço a fome de aprender daquelas crianças.
(iv) Missirá, dezembro de 1966:
(...) O Capitão Pires, da CCAÇ 1439, querendo juntar o máximo da Companhia para passarem o ultimo Natal juntos, enviou o nosso Pelotão 54 para Missirá, todo o pessoal dizia que íamos passar umas férias, pois aquele destacamento não tinha problemas de ataques há muito.
Instalámo-nos e fizemos o respectivo reconhecimento. No dia 22 recebemos o correio, via Bambadinca, com algumas encomendas de Natal e preparávamos o nosso primeiro Natal na guerra. Depois do jantar, e depois de verificar os postos, fomo-nos deitar.
Instalámo-nos e fizemos o respectivo reconhecimento. No dia 22 recebemos o correio, via Bambadinca, com algumas encomendas de Natal e preparávamos o nosso primeiro Natal na guerra. Depois do jantar, e depois de verificar os postos, fomo-nos deitar.
Na nossa palhota dormíamos os três furriéis. Enquanto o sono não vinha, íamos falando até que, por volta das 10 horas da noite, começa a entrar pela nossa palhota uma metralha de fogo: explosivas, tracejantes e iluminantes de arma pesada, por sorte o fogo passava todo a um metro acima das nossas camas, foi agarrar nas armas como estavámos, já com a palhota a arder, e tentar organizar a defesa.
Eu fui municiar o meu cabo Ananias Pereira Fernandes , com a MG42, para o abrigo e tentar pôr o pessoal a fazer fogo o mais rasteiro possível. O destacamento parecia Roma a arder e a pontaria deles era tão grande que conseguiram meter uma morteirada no bidão do azeite no depósito de géneros. O rebentamento deste parecia fogo de artifício.
Eu fui municiar o meu cabo Ananias Pereira Fernandes , com a MG42, para o abrigo e tentar pôr o pessoal a fazer fogo o mais rasteiro possível. O destacamento parecia Roma a arder e a pontaria deles era tão grande que conseguiram meter uma morteirada no bidão do azeite no depósito de géneros. O rebentamento deste parecia fogo de artifício.
No meio da gritaria e dos impropérios de um lado e de outro, ouve-se um grito de agarra-lo á mano, pois de certeza que vinham com cubanos.
Depois de quase uma hora de fogo, as morteirada estavam a cair junto ao refeitório onde estava o Unimog debaixo do embondeiro, o soldado condutor da CCAÇ 1439 foge e consegue pôr a viatura a funcionar, que estava com escape livre, para o retirar daquela zona de fogo. Julgo que eles pensaram que vinham reforços e debandaram, foi uma sorte porque as munições não eram muitas, principalmente as de morteiro 60 e bazuca.
Tentou-se a seguir ver se havia feridos, não havendo nada a registar entre os militares, mas acho que na população houve dois mortos e três feridos.
Hipótese de ajuda não tínhamos, nem de Finete, que era o destacamento mais perto, nem de Bambadinca, pois tinham que atravessar o rio. Só aguardando o pessoal do Enxalé.
Logo pelo nascer do dia veio o heli fazer as evacuações, o piloto era o Faísca, moço conhecido do Algarve. Assim que o heli levantou começamos a ouvir metralha, era o pessoal da CCAÇ 1439 e o pessoal do Pell Caç Nat 51 que estava a ser emboscado entre Mato Cão e Missirá. O IN retirou mas ficou emboscado, era lógico que viria ajuda.
Começámos então a olhar para a realidade, palhotas ardidas e grande destruição, dos nossos pertences só tínhamos a roupa vestida no corpo, o resto era tudo cinza. Guardo a única coisa que encontrei, uma moeda de 10 pesos toda queimada. No reconhecimento que fizemos, encontrámos bastante sangue e uma pistola. Era triste ver o destacamento com tanta destruição.
Com o depósito de géneros completamente destruído, pouco tínhamos para comer, fomos a Bambadinca buscar algumas coisas e tentar arranjar roupa.
Chega o dia de Natal, a comida não era muita, vem o meu cabo Januário e outro cabo Ananias dizer que iam dar uma volta para arranjar carne. Chegada a hora do almoço apresentaram um repasto de carne com arroz de xabéu , que estava uma delicia, findo o almoço o cabo africano Ananias chamou-me à parte e deu-me as caveiras dos macacos que tínhamos acabado de comer. Guardei uma como talismã que perdi quando vim da Africa do Sul em 1978. (...)
(Selecção, reevisão / fixação de texto: LG)
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 14 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25640: Elementos para a história do Pel Caç Nat 54, "Águia Negras" (1966/74) - Parte I: Temos dois representantes na Tabanca Grande, o algarvio José António Viegas (1966/68) e o açoriano Mário Armas de Sousa (1968/70)...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2024/06/guine-6174-p25640-elementos-para.html
(**) Vd. postes de:
(**) Vd. postes de:
23 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10713: Memória dos lugares (196): Bolama, Agosto de 1966 (José António Viegas)
27 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10731: Memórias de Mansabá (26): Os meus 45 dias em Mansabá (José António Viegas)
sexta-feira, 14 de junho de 2024
Guiné 61/74 - P25640: Elementos para a história do Pel Caç Nat 54, "Águia Negras" (1966/74) - Parte I: Temos dois representantes na Tabanca Grande, o algarvio José António Viegas (1966/68) e o açoriano Mário Armas de Sousa (1968/70)...
Palmela > Poceirão > Casa do João Vaz > 2017 > Encontro do pessoal dos Pel Caç Nat 51, 52 e 54 > Elementos presentes, do Pel Caç Nat 54 > Da esquerda para a direita, Furriel Arlindo Costa (DFA), Furriel José António Viegas, 1º Cabo Marques, 1º Cabo Coelho (DFA) e 1º Cabo Manuel Januário (DFA)...Três DFA num grupo de cinco... Foi mais um encontro dos Pelotões de Caçadores Nativos, formados pelo nosso camarada Jorge Rosales, do 51 ao 56, no CIM de Bolama, e que serviram na Guiné entre 66 e 68. "É já muito dificil encontrar estes nossos camaradas, mas ainda assim juntámos o 51, 52 e 54. Na casa do ex-fur mil João Vaz (ex-prisioneiro em Conacri, libertado em 22 de novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde; pertenceu ao Pel Caç Nat 52)."
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Xime > 1970 > Malta da CCAÇ 12 (à direita), posando (e não "pou...sando") junto a uma parede bidões com areia (que serviam de protecção em caso de ataque) juntamente com comaradas do Xime, à esquerda. Entre eles, estará o fur mil, açoriano, Mário Armas de Sousa, natural de Lajes das Flores, Ilha das Flores (mas que não conseguimos identificar)
Foto (e legenda): © Humberto Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Legenda de HR/LG:
"Começando da esquerda para a direita e de cima para baixo temos: o de boina já não me lembro quem era, o 2º julgo que era o fur mil vagomestre (do Xime) (parece-me ser o José Manuel Viçoso Soares, que vive no Porto, , os 3º, 4º e 5º também não me lembro), o 6º é o Sousa, ex-fur mil da CCAÇ 12 e o último sou eu (ainda com algum cabelo e sem barriga). [O 5º julgo ser o madeirense Sousa, o Mário Armas de Sousa, do Pel Caça Nat 54; ou será o fur mil António Fernando Marques, da nossa CCAÇ 12 ? L.G.].
"Na 1ª fila não me lembro quem é o 1º; o 2º, meio careca, era o fur mil dos obuses (da BAC de Bissau); os 3º e 4º também não me recordo; o 5º julgo que era o fur mil mecânico e o 6º é o Joaquim Fernandes, ex-fur mil da CCAÇ 12 e depois engenheiro civil na antiga CUF (já nesse tempo o Fernandes tinha jeito para as obras, pois foi ele que acompanhou todo o Reordenamento dos Nhabijões (a), por isso, quando cá chegou foi acabar o curso, o que muitos fizeram pois tinham-nos deixado a meio e até aldrabado nas habilitações literárias para ver se se baldavam de ir bater com os costados no Ultramar".
Em suma, o Mário Armas Sousa é decerto um deles, mas eu não sei qual... Tenho dúvidas é (i) quanto ao mês e ano em que foi tirada a foto e (ii) quanto à companhia a que pertenciam os camaradas que não eram da CCAÇ 12. Em princípio a foto deve sido tirada antes de julho de 1970, o pessoal do Xime pertenceria, portanto, à CART 2520 (1969/1971) (em meados de 1970, eles foram rendidos pela CART 2715 / BART 2917, 1970/72).
O Mário Armas de Sousa que, além do Xime, esteve em Porto Gole, Enxalé e Missirá, era do Pel Caç Nat 54 que, em novembro de 1969, foi render em Missirá o Pel Caç Nat 52, sob o comando do alf mil Mário Beja Santos (transferido para Bambadinca).
Com o Pel Caç Nat 52 (e também com o 54) fizémos (a CCAÇ 12 + CCAÇ 2636 + 1 Esq. Morteiros do Pel Mort 2106) talvez a mais dramática, temerária e penosa operação de que eu me lembre: Op Tigre Vadio (Março de 1970), na pensínsula de Madina/Belel, a norte do Rio Geba, no regulado do Cuor, na extremidade sul do famoso corredor do Morès...A tal operação em que alguns de nós tiveram que beber o próprio mijo para sobreviverem e não morrererem desidratados...
1. Temos 58 referências ao Pel Caç Nat 54, "Águias Negras", formado no CIM de Bolama, pelo nosso saudoso Jorge Rosales (1939-2019), a par dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 55 e 56. Mas sabemos pouco do historial desta subunidade, formada por graduados e especialistas metropolitanos e praças do recrutamento local, tal com as restantes.
O mais antigo representante deste Pelotão a integrar a Tabanca Grande é o Mário Armas de Sousa, açoriano da ilha das Flores, que esteve no CTIG em 1968/70:
Apresentou-se à Tabanca Grande, em 26 de setembro de 2005 (*) nestes termos:
(... ) "Sou ex-furriel miliciano e estive na Guiné de 1968 a 1970, em Porto Gole, Enxalé, Xime e Missirá. Também estou na fotografia da vossa página, tirada no quartel do Xime, junto dos bidões.Tenho alguma informação e fotografias do meu grupo de combate para acrescentar à vossa página se possível. (...)-
Ficamos a saber que em 1970 estava em Missirá, e que o pessoal metropolitano era o seguinte:19 (i) alf mil Correia (comandante); (ii) fur mil Mário Armas de Sousa; (iii) fur mil Inácio; (iv) fur mil Sousa Pereira; (v) 1º cabo Capitão; e (vi) 1º cabo Monteiro.
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pelotão de Caçadores Nativos nº 54, em 1970.
Legenda do Mário Armas de Sousa:
(...) 1ª fila, da direita para esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro sou eu, furriel miliciano Mário Armas de Sousa; o terceiro é o 1º cabo Capitão;
2ª fila, da direita para a esquerda: o primeiro é o soldado Amarante; o segundo é o soldado Bulo; o quinto é o furriel miliciano Inácio; o sexto é o 1º cabo Tomé; o nono é o soldado Samba.
3ª fila da direita para a esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro é o furriel miliciano Sousa Pereira; o quinto é o alferes miliciano Correia (comandante de pelotão); o sétimo é o 1º cabo Monteiro; o oitavo, africano, é o soldado Pucha (era turra e foi capturado e ficou no nosso exército).
Foto (e legenda): © Mário Armas de Sousa (2005) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Mário Armas de Sousa, que além do Xime esteve em Porto Gole, Enxalé e Missirá, era do Pel Caç Nat 54 que, em Novembro de 1969, foi render o Pel Caç Nat 52, sob o comando do alf mil Mário Beja Santos (transferido para Bmabadinca).
Com o Pel CAÇ NAT 52 (e também com o 54) fizémos (a CCAÇ 12 + CCAÇ 2636 + 1 Esq. Morteiros do Pel Mort 2106) talvez a mais dramática, temerária e penosa operação de que eu me lembre: Op Tigre Vadio (Março de 1970), na pensínsula de Madina/Belel, a norte do Rio Geba, no regulado do Cuor, na extremidade sul do famoso corredor do Morès... A tal operação em que alguns de nós tiveram que beber o próprio mijo para sobreviverem e não morrererem desidratados...
Em maio de 1970, já no final da comissão do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), havia três Pel Caç Nat no sector L1: o 52 (Bambadinca), o 54 (Missirá) e o 63 (Fá) (este comandado pelo alf mil at art Jorge Cabral, infelizmente já falecido).
Estas subunidades não se confundiam com os Pelotões de Milícias: nesta altura, havia já duas Companhias de Milícias no setor L1... As mílicias tinham uma função de autodefesa e eram constituídas apenas por elementos da população guineense (neste caso, predominante ou exclusivamente fulas).
O Henrique Matos, primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, já nos disse aqui que esteve em Bolama com o Pel Caç Nat 53, do alf mil Serra (que ficou no Xime em reforço à CCAÇ 1550); o Pel Caç Nat 51, do alf mil João Perneco (que foi para Guileje); e o Pel Caç Nat 54, do alf mil Marchand (que foi inicialmente para Mansabá e, passado pouco tempo, foi parar ao Enxalé).
S/l > S/d > Convívio dos Pel Caç Nat 52 e 54 > Os antigos (e os primeiros) comandantes dos Pel Caç Nat 52 e 54 , respetivamente. alferes Henrique Matos e alferes Marchand (desconhecemos o seu primeir nome), este último falecido em há menos de um ano, em agosto de 2023.
Foto (e legenda): © José António Viegas (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © José António Viegas / Henrique Matos (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
José António Viegas (n. 1944, em Faro)
2. O segundo elemento do Pel Caç Nat 54 a ingressar na Tabanca Grande foi o ex-fur mil José António Viegas (Bolama, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68).
Tem 60 referências no nosso blogue. Temos contactado regularmente.
Já quanto ao Mário Armas de Sousa, só temos 4 referências. E não temos notícias dele há muito.
Para já sabemos que o Pelotão teve como comandantes o Marchand (1966/68, Enxalé e Missirá) e o Correia (Missirá, Enxalé,Porto Gole, Xime, 1968/70). De um e do outro não sabemos o primeiro nome.
N/M Uíge > 30 de julho a 3 de agosto de 1966 > O José António Viegas, assinalado no rectângulo a vermelho: de rendição individual, foi juntar-se ao Pel Caç Nat 54, em formação no CIM de Bolama.
Foto (e legenda): © José António Viegas (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 26 de setembro de 2005 > Guiné 63/74 - P193: Tabanca Grande: O açoriano Mário Armas de Sousa (Pel Caç Nat 54: Missirá, 1969/70)
(**) Vd. poste de 30 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)
(***) Vd. poste de 6 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10626: Tabanca Grande (368): José António Viegas, natural de Faro, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54 (1966/68), grã tabanqueiro nº 587
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Henrique Matos,
Humberto Reis,
Jorge Rosales,
José Manuel Viegas,
Mário Armas de Sousa,
Missirá,
Pel Caç Nat 54,
Xime
terça-feira, 4 de junho de 2024
Guiné 61/74 - P25600: O armorial militar do CTIG - Parte I: Emblemas dos Pelotões de Caçadores Nativos: dos gaviões aos leões negros, das panteras negras às águias negras...sem esquecer os crocodilos
Pel Caç Nat 52, "Os Gaviões" (Matar ou Morrer)
Pel Caç Nat 53 ("Continuaremos")
Pel Caç Nat 54, "Águis Negras"
Pel Caç Nat 57, "Os Intocáveis"
Pel Caç Nat 63
Pel Caç Nat 64, Bafatá ("Os Leões Sempre Prontos para Tudo")
Pel Caç Nat 67
Pel Caç Nat 69
Aceitando o desafio do Augusto Silva Santos(*), vamos "revisitar" os brasões, guiões e crachás das unidades e subunidades que passaram pelo TO da Guiné, destacando aquelas que, por um razão ou outra (nome, emblema, divisa...), pode parecer mais original, bizarra, excêntrica, engraçada... E vamos começar pelos Pelotões de Caçadores Nativos (Pel Caç Nat).
Pel Caç Nat 51 (35)
O António Baldé passou pelo Pel Caç Nat 56 (São João, 1969/70). Tal como o José Câmara (Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73).
Do Pel Caç Nat 57 temos o depoimento do ex-alf mil Fernando Paiva (Mansoa, Bindoro e Bolama, 1967/69() que nos disse, aqui, que criou esta subunidade, construiu o destacamento de Bindoro, a pá e pica, e viveu diaramente, ombro a ombro, com os balantas da região do Oio.
Para além do nosso apreço e reconhecimento pelo trabalho do Coutinho e dos demais camaradas que com ele trabalham neste campo, no Portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, apoiamos também, mais uma vez, a ideia do nosso grão-tabanqueiro António J. Pereira da Costa (no poste P7513, de 27 de dezembro de 2010poste P7513, de 27 de dezembro de 2010):
(...) Creio que temos estado a perder uma coisa importantíssima para a memória 'futura' (será que também há memória passada? Pesada sei eu que há...) e que são os emblemas de peito (crachás) e de braço que usávamos e que hoje poderão constituir algo que se possa juntar aos números das Unidades como algo indelével e que orgulha os seus possuidores. Temos também os guiões que, nem sempre, são iguais aos emblemas. Julgo que por si só já são um bocado da História e muito faladores, como acontece aos brasões, que são 'falantes'.
"Poder-se-ia criar no blogue um 'Banco de Crachás e Guiões' onde seriam inseridos os que se encontrassem, acompanhados de uma resenha acerca da sua feitura: quem deu a ideia, quem desenhou, como foi aprovado, o quem significa, formato, etc. etc. etc.
"Sabendo-se quais e quantas as Unidades que passaram pela Guiné, rapidamente atingiríamos o pleno e poderíamos expô-los à consideração dos curiosos e outros frequentadores. Nenhum deles foi aprovado pela Comissão de Heráldica, mas isso também não interessa. São distintivos populares (aos gosto dos 'soldados'), como os dos clubes desportivos, de que se aprende a gostar.
"Se calhar era um bom início para uma História das Unidades" (...)
No nosso blogue temos referências a 16 Pelotões de Caçadores Nativos, com destaque para o Pel Caç Nat 51, 52, 53, 54 e 63 (com mais de 30 referências, cada um):
Pel Caç Nat 52 (196)
Pel Caç Nat 53 (61)
Pel Caç Nat 54 (57)
Pel Caç Nat 55 (16)
Pel Caç Nat 56 (24)
Pel Caç Nat 57 (5)
Pel Caç Nat 58 (12)
Pel Caç Nat 59 (3)
Pel Caç Nat 60 (26)
Pel Caç Nat 61 (6)
Pel Caç Nat 63 (100)
Pel Caç Nat 65 (14)
Pel Caç Nat 67 (8)
Pel Caç Nat 69 (2)
Pel Caç Nat 70 (1)
Na coleção do nosso camarada Carlos Coutinho (que teve a infinita paciência de recolher, identificar, selecionar, tratar, digitalizar e divulgar centenas de brasões, guiões e crachás de unidades e subunidades do exército, de todas as armas e dos três teatros de operações) faltam os emblemas de uma parte dos Pel Caç Nat (no ficheiro que ele nos cedeu gentilmente há largos anos): 56, 58, 59, 61, 62, 66, 68 e 70. (Se alguém os tiver, que nos mande ao menos uma cópia, em formato digital.)
Pel Caç Nat 53 (61)
Pel Caç Nat 54 (57)
Pel Caç Nat 55 (16)
Pel Caç Nat 56 (24)
Pel Caç Nat 57 (5)
Pel Caç Nat 58 (12)
Pel Caç Nat 59 (3)
Pel Caç Nat 60 (26)
Pel Caç Nat 61 (6)
Pel Caç Nat 63 (100)
Pel Caç Nat 65 (14)
Pel Caç Nat 67 (8)
Pel Caç Nat 69 (2)
Pel Caç Nat 70 (1)
Também não há, nos livros da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África) , fichas destas subunidades, pelo que é difícil reconstituir a sua história e saber quem por lá passou, por onde e quando. E também omissa a sua atividade operacional.
Mas sabemos, pelo nosso colaborador permanente, o José Martins, em que ano se formaram:
(...) "A partir de 1966, os africanos foram chamados a uma intervenção mais activa no esforço de guerra. Foi iniciada a constituição de Pelotões de Caçadores Nativos (Pel Caç Nat) tendo sido formados sete pelotões numerados de 51 a 57.
"Estas unidades eram comandadas por um oficial com a patente de alferes, coadjuvado por furriéis e praças especialistas europeias, uma estrutura adaptada à sua dimensão - entre 30 a 40 homens. Neste ano subiu, para 3.952, o número de tropas locais em serviço.
"O ano de 1967 foi um ano de viragem. As companhias de Caçadores existentes foram redenominadas e transformaram-se nas CCaç 3 (ex-1ª CCaçI), CCaç 5 (ex- 3ª CCaçI) e CCaç 6 (ex- 4ªCCaçI), além da formação de mais um Pel Caç Nat, o nº 58.
"Em 1968 foram criados 11 novos Pel Caç Nat, a quem foram atribuídos os números de 59 a 69, e em 1969 foram criadas as CCaç 11, 12, 13 e 14, a partir das CArt 2479 e CCaç 2590, 2591 e 2592, que já tinham uma constituição igual às anteriores companhias existentes do recrutamento local ou foram adaptadas.
"No período entre 1970 e 1973 foram constituídas mais sete companhias de recrutamento local, as CCaç 15, 16, 17 e 18 (em 1970), a CCaç 19, (em 1971) e as CCaç 20 e 21 (em 1973). Em 1973 foi, também, constituído o Pel Caç Nat 70." (...)
2. O Pel Nat Caç 52 é o que tem mais representantes no nosso blogue, a começar pelos seus sucessivos comandantes: Henrique Matos, primeiro comandante (Enxalé, 1966/68), Mário Beja Santos (Missirá e Bambadinca, 1968/70), Nelson Wahnon Reis (1971) , Joaquim Mexia Alves (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão, 1972), António Sá Fernandes (1973), Luis Mourato Oliveira (Mato Cão e Missirá, jul 73/ ago 74).... (Todos são membros da Tabanca Grande, com exceção do Nelson Wahnon Reis, que era natural de Cabo Verde.)
O Pel Caç Nat 53 está associado ao nome do Paulo Santiago, seu comandente no Saltinho (1970/72). E o Pel Caç Nat 63 está profundamente ligado ao "alfero Cabral", o nosso saudoso Jorge Cabral (Fá e Missirá, 1969/71).
O José António Viegas representa, no blogue, o Pel Caç Nat 54 (1966/68), tal como o Mário Armas de Sousa (Missirá, 1969/70).
Do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70), temos o Armindo Batata, seu ex-comandante.
O Hugo Guerra também representa o Pel Caç Nat 55 (Gandembel e Balana) e depois o Pel Caç Nat 60 (São Domingos), entre 1968 e 1970. O Manuel Seleiro também estebe no Pel Caç Nat 60 (Sáo Domingos e Susana, 1968/70). O António Inverno também passou por este Pel Caç (Sáo Domingos, 1972/74).
Do Pel Caç Nat 58 já sabemos que foi praticamente destroçado no fatídico dia 12 de outubro de 1970, na emboscada de Infandre, Zona Oeste, Setor 04 (Mansoa).
O Luís Guerreiro, ex-fur mil CART 2410 ("Os Dráculas", "Ou vai ou racha", Guileje, 1968/70) também esteve no Pel Caç Nat 65 (Gadamael e Ganturé, 1968/70).
Quase todos os emblemas (desta amostra) baseiam-se num "animal de estimação":
(i) aves de rapina ( o gavião, a águia) (Pel Caç Nat 52 e 54);
(ii) felinos e outros predadores: a pantera (negra) (Pel Caç Nat 55); o leão (Pel Caç Nat 64); o leão negro (Pel Caç Nat 65) e o crocodilo (Pel Caç Nat 67)...
Ou então em imagens simbólicas: (iii) duas catanas cruzadas (Pel Caç Nat 51); (iv) uma mão branca e uma mão preta, entrelaçadas (Pel Caç Nat 53); ou ainda (v) duas armas (G3) cruzadas, sobrepostas pela Cruz de Cristo (Pel Caça Nat 57).
O Pel Caç Nat 63 também ostenta a cabeça de um felino (parece ser um lobo).
Das divisas a mais "guerreira" é a do Pel Caç Nat 52, "Os Gaviões": "Matar ou morrer"...E por baixo do gavião, o brasão ostenta uma caveira... De quem terá sido a ideia original ?
Já no do Pel Caç Nat 64 pode ler-se: "Os Leões Sempre Prontos para Tudo"...
Panteras negras não existiam na Guiné e leões também ninguém deve ter visto nenhum no nosso tempo... Muito menos "leões negros"... Mas, como já o dissemos, a nossa "bicharada de estimação" dava uma boa dissertação de mestrado ou até uma tese de doutoramento (***)... em antropologia, comunicação, marketing, semiologia, artes visuais, heráldica militar, etc.
(...) Creio que temos estado a perder uma coisa importantíssima para a memória 'futura' (será que também há memória passada? Pesada sei eu que há...) e que são os emblemas de peito (crachás) e de braço que usávamos e que hoje poderão constituir algo que se possa juntar aos números das Unidades como algo indelével e que orgulha os seus possuidores. Temos também os guiões que, nem sempre, são iguais aos emblemas. Julgo que por si só já são um bocado da História e muito faladores, como acontece aos brasões, que são 'falantes'.
"Poder-se-ia criar no blogue um 'Banco de Crachás e Guiões' onde seriam inseridos os que se encontrassem, acompanhados de uma resenha acerca da sua feitura: quem deu a ideia, quem desenhou, como foi aprovado, o quem significa, formato, etc. etc. etc.
"Sabendo-se quais e quantas as Unidades que passaram pela Guiné, rapidamente atingiríamos o pleno e poderíamos expô-los à consideração dos curiosos e outros frequentadores. Nenhum deles foi aprovado pela Comissão de Heráldica, mas isso também não interessa. São distintivos populares (aos gosto dos 'soldados'), como os dos clubes desportivos, de que se aprende a gostar.
"Se calhar era um bom início para uma História das Unidades" (...)
Já agora, o Carlos Coutinho há muito merece honras de Tabanca Grande, memso não tendo passado pelo TO da Guiné! Fica aqui, desde já, o convite.
(***) Vd. poste de 17 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20249: Brasões, guiões ou crachás (8): A nossa bicharada de estimação ou o bestiário da nossa guerra... dava uma tese de doutoramento em antropologia!______________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 31 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25590: (In)citações (266): Vamos identificar as Unidades com as Divisas, lemas e designações mais curiosas e divertidas ( Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil Inf)
(*) Vd. poste de 31 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25590: (In)citações (266): Vamos identificar as Unidades com as Divisas, lemas e designações mais curiosas e divertidas ( Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil Inf)
(**) Vd. poste de 21 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3340: Os nossos camaradas guineenses (1): O meu tributo (José Martins, ex-Fur Trms, Nova Lamego e Canjadude, CCAÇ 5, 1968/70)
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