quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)


Guiné > Bissalanca > BA12 > 1974 > O então Ten Pilav Miguel Pessoa... Uns meses antes, em 25 de Março de 1973, num domingo e em pleno dia, o aquartelamento de Guileje fora duramente atacado durante cerca de hora e meia. Foram usados foguetões 122 mm. A parelha de Fiat G-91 que estava de alerta em Bissalanca, nesse dia e hora, veio em apoio de fogo. A aeronave do Miguel Pessoa, que vinha à frente, foi atingida por um Strella, sob os céus de Guileje... Foi o primeiro Fiat G-91, na história da guerra da Guiné, a ser abatido pela nova arma, fornecida pelos soviéticos ao PAIGC, o míssil terra-ar SAM-7 Strella (de resto, já usada e testada na guerra do Vietname)... O Ten Pil Miguel Pessoa conseguiu, felizmente, ejectar-se. Vinte quatro horas depois, era resgatado, são e salvo, pelo grupo de operações especiais do Marcelino da Mata, conforme se pode ler numa das cartas do nosso amigo e camarada J. Casimiro Carvalho, já aqui publicadas na série Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) ... (1)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Finais de 1995 > O antigo Ten Pilav Miguel Pessoa, junto ao que restava então da porta de armas do antigo aquartelamento de Guileje...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Finais de 1995 > O que restava então da parada de Guileje e do monumento com o pau da bandeira. Eis o que ainda se podia ler, inscrito na pedra: "Vencer sem perigo é triunfar sem glória. Homenagem da CCAÇ 3325 aos seus mortos e feridos e aos portugueses de todas as cores, raças e credos que tombaram em defesa da Pátria". A CCAÇ 3325 esteve em Guileje de Fevereiro a Dezembro de 1971.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Finais de 1995 > Vestígios da açoriana CCAÇ 3477 (1971/77), Os Gringos de Guileje > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... O Culto de Santo Cristo estava bem patente na lápida, onde se ainda se podia ler: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açoreanos (sic)"...




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Finais de 1995 > Imagens do antigo aquartelamento das NT, obtidas por Miguel Pessoa, quando ali passou uma semana, na sequência da gravação de um documentário sobre Guileje, realizado por José Manuel Saraiva para a SIC (Grande Reportagem, SIC, 30 de Maio de 1996 - "De Guileje a Gadamael: o corredor da morte").

Estas fotos podem ser facilmente comparadas com algumas, que temos disponíveis, da época, com militares ou elementos de identificação das das três últimas unidades de quadrícula que estiveram em Guileje: a CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), os Gringos de Guileje (CCAÇ 3477, Dez 1971 / Dez 1972) e os Piratas de Guileje (CCAV 8350, Dez 1972/Mai 1973) (Vd. fotos abaixo, no corpo do texto, alinhadas à esquerda, em tamanho pequeno).

O Miguel Pessoa integrou a comitiva da SIC que fez filmagens en Guileje, em finais de 1995. Como se pode ler no livro de Coutinho e Lima (A retirada de Guileje, Linda a Velha, DG Edições, 2008, pp. 355-357), nessa comitiva, chefiada pelo jornalista José Manuel Saraiva, iam os seguintes antigos militares portugueses, além dele, Coutinho e Lima, e do Miguel Pessoa, a antiga enfermeira pára-quedista Giselda Antunes (actual esposa do Cor Pil Av Miguel Pessoa), o Ten Cor Pára-quedista João Bessa (na altura, em Novembro de 1969 comandava, como capitão, uma subunidade de pára-quedistas, do BCP 12, que emboscou e capturou o Cap Cubano Pedro Peralta) e ainda o Dr. Manuel Reis (ex-Alf Mil da CCAV 8350, a unidade de quadrícula que retirou de Guileje em 22 de Maio de 1973, e que pertencia ao COP 5, comandado pelo então maj Art Coutinho e Lima).
Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados.

1. Mensagem, com data de ontem, do Cor Pilav Ref Miguel Pessoa (vd. foto do lado esquerdo, de finais de 1995, tirada em Guileje):

Assunto - Nos céus do Guileje e não só... (2)

[Subtítulos e negritos da responsabilidade do editor, L.G.]

Caro Luís Graça

A publicação do livro do Cor Coutinho e Lima sobre a retirada do Guileje (3) e os subsequentes comentários que sobre esta matéria têm inundado este blogue conseguiram de certa moda tirar-me da inércia que tenho mantido sobre um assunto que tenho considerado demasiado íntimo e difícil de partilhar. E desengane-se quem pensa que isso vai mudar...


(i) Ten Pil em Bissalanca, BA12, de 18 de novembro de 1972 a 14 de Agosto de 1974

Mas porque, como muitos dos frequentadores deste blogue, dedicamos um carinho especial a um momento difícil das nossas vidas nessa longínqua Guiné, gostaria de partilhar algumas imagens do Guileje que tive a oportunidade de fixar no ano de 1995, quando ali passei uma semana, envolvido na gravação de um documentário sobre o Guileje, realizado por José Manuel Saraiva para a RTP.

Para começar, apresento as minhas credenciais: Miguel Pessoa, à data Tenente-Piloto-Aviador do Quadro Permanente da Força Aérea. Cumpri a comissão na Guiné no período de 18NOV72 a 14AGO74, com um intervalo passado em Lisboa (entre 7ABR73 e início de AGO73) para recuperar das mazelas sofridas quando da minha ejecção de Fiat G91, depois de atingido por um SAM-7 Strella durante um apoio de fogo ao aquartelamento do Guileje.


À chegada ao Teatro de Operações estava apenas qualificado para voar o Fiat G-91 mas rapidamente o saudoso Ten Cor Almeida Brito ministrou-me um curso intensivo de DO-27 que me habilitou a operar este avião por todas as pistas ali existentes (64, se bem me lembro, que as contei na minha carta de voo). Assim, até Abril de 1973 dividi a minha actividade de voo entre o Fiat G-91 (1/3 das horas) e o Do-27 (os restantes 2/3).

A partir daí e até ao fim da comissão a minha actividade de voo foi essencialmente feita no Fiat G-91.



(ii) A recuperar de uma perna partida e de uma compressão das vértebras...


Tem piada que por esta hora já vou adiantado na conversa mas ainda não te mostrei as fotografias... Também não me parece que esteja a falar para os leitores do Blogue pois, como inicialmente referi, não é matéria sobre a qual goste muito de falar. Assim, parece que te escolhi para interlocutor (ou ouvinte). Ou, pensando melhor, parece-me que afinal estou a falar para mim, que isto de guardar cá dentro todas as emoções que sentimos naquele período é coisa que cansa, principalmente quando se trata de matéria politicamente incorrecta e a que muita gente torce o nariz.

À custa das fotografias já estou a alongar-me. Mas parece-me que vou continuar...

Pelas datas que acima refiro se pode dizer que não estou minimamente habilitado para falar sobre a retirada do Guileje, que no difícil período de Abril e Maio de 1973 estava eu a recuperar de uma perna partida e de uma compressão das vértebras (perdi 2cms de altura...), que isto de se trabalhar sentado também não é tão fácil como pode parecer. Mas sobre o Guileje só posso dizer que a coisa já não estava boa em Março pois naquele dia (um domingo, 25) eu estava lá para fazer um apoio de fogo ao aquartelamento, na sequência de um flagelamento do IN.

Sobre as peripécias desse dia e do período até Abril de 1974 poderei eventualmente pronunciar-me no futuro, que não agora.

Apenas algumas palavras sobre comentários que tenho retirado de diversas intervenções no blogue, e que me parecem menos correctas.


(iii) Cada um de nós, nos três ramos das Forças Armadas Portuguesas fez o seu melhor


Primeiro que tudo, evitarei fazer juízos de valor sobre atitudes/comportamentos de outros intervenientes naquele conflito, de um lado e do outro; por isso, também não me caiem bem os bota-abaixo sobre a Força Aérea que tenho lido, da parte de pessoas que não estarão habilitadas para o fazer, por não disporem de todos os dados do problema.

Acredito, sim, que na maior parte das vezes todos nós (dos 3 ramos) fizemos o melhor que podíamos, tendo em conta as nossas limitações no número e qualidade dos meios à disposição e o grau de motivação que nos animava (o que variava de sítio para sítio).

Dizer da inoperância da Força Aérea é fácil, principalmente qundo somos nós os afectados - nas Urgências também sucede que somos deixados para mais tarde quando é necessário atender outros que estão piores que nós - e de certeza que nos vamos queixar.

Lembro-me de ter contabilizado à volta de 400 missões que efectuei na Guiné, mesmo com o interregno da minha recuperação no continente/metrópole/Portugal (escolher a palavra preferida, que essas discussões já começam a cansar-me). E o mesmo se terá passado com os outros pilotos. Se isso foi deixar de voar, O.K.!

Reconheço que os apoios de fogo se tornaram mais difíceis de fazer dado o facto de se utilizarem novos parâmetros de voo - altitudes de entrada e de largada do armamento mais elevadas, o que diminuía a precisão (acrescida da nossa preocupação de não acertar nos nossos, ponto de honra de todos os pilotos), bem como o facto - que até agora suponho não ter sido referido - de a recuperação dos passes ter que que ser feita com um aperto mínimo de 4 G's, mas que normalmente rondava os 6, 6,5G's (6 a 6,5 vezes a aceleração da gravidade).

Isto implicava factores de carga tão elevados no avião que obrigava o piloto a largar as bombas todas no mesmo passe, sob risco de ultrapassar os limites estruturais do Fiat, danificando-o (isto no melhor dos casos...).

Lembro-me de ter-se começado a verificar corrosão prematura nos rebites nas asas e na cauda, o que, aprofundado, se verificou ser resultante de longarinas rachadas, derivadas desses apertos constantes em todos os voos. E a verdade é que qundo tive Strellas atrás de mim, não me lembro de olhar para o acelerómetro (g-meter) para ver quantos g's é que estava a meter no avião para me safar...

Isto limitava naturalmente a capacidade de ataques pontuais sucessivos, como os nossos camaradas no terreno pretenderiam. Tal foi um pouco compensado com a utilização de armamento mais potente (as tais bombas de 750 lbs), o que, por si, justificava o uso de altitudes maiores de recuperação, para mantermos o avião fora do envelope das explosões (alcance dos estilhaços). E, logicamente, este material não poderia ser largado tão próximo das NT como anteriormente.

(iv) O regresso a Guileje, em 1995...

Acabado este desabafo, vamos então às fotografias... É interessante que, olhando a fotografia do aquartelamento publicada no blogue, se realçam os campos abertos que permitiam às NT ver uma eventual aproximação do IN e a nós, pilotos, poder fazer uma boa aproximação ao aquartelamento e dispor de um espaço razoável para "pôr o estojo no chão". E, claro, tirá-lo de lá depois...

Não foi nada disso que pude observar no local quando lá voltei em 1995 - por terra, claro... Aliás o monte de baga-baga que está numa das fotos, ao pé da porta d'armas, está no enfiamento da antiga pista (desaparecida). O espaço acimentado que mostro noutra fotografia foi outrora a placa de helicópteros (usada por mim em 26MAR73, quando daí fui evacuado para Bissau).

Agora, na realidade, a placa está muito mais agradável pois dispõe de amplas sombras que lhe são fornecidas pela majestosa vegetação que ali prolifera pelo meio do cimento, com 10 ou 15 metros de altura (e 20 anos de crescimento selvagem, à data).

Finalmente, uma foto com monumentos que ficaram no aquartelamento e que dali não foram retirados pelo PAIGC, embora antes da nossa chegada estivessem cobertos pelo capim que ali existia - o qual foi limpo a mando da produção, para permitir a realização do documentário.

E por aqui fico, que a carta vai longa e já ultrapassou em muito o que eu tinha planeado.

Sobre o seu conteúdo, farás dele uso do modo que achares mais conveniente, com a eventual omissão de partes do texto que consideres não ter interesse para publicação.

Saudações a todos os ex-combatentes (*) da Guiné e às respectivas famílias, que tanto sofreram com a sua ausência.

Um abraço fraterno
Miguel Pessoa
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Nota de M.P.:

* Refiro-me a todos os que foram mobilizados para a Guiné, que isto de combater, cada um fá-lo da maneira que pode e sabe, e nas funções para que está mais habilitado.
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2. Comentário de L.G.:

Mandam as boas regras de convívio da nossa Tabanca Grande, ou tertúlia, ou caserna virtual, - como tu queiras - , que te saúde, que te deseje as boas vindas. É sempre uma honra receber, no nosso blogue, mais um novo camarada da Guiné. És um camarada da FAP. E tens a particularidade de ter sido literalmente strellado nos céus da Guiné, ma região de Guileje. Strellado ma non troppo... (Desculpa, o neologismo e o humor negro...). Felizmente... Sei que os tipos do PAIGC fizeram uma festa (vd. o filme-documentário As Duas Faces da Guerra). Felizmente também que o PAIGG deixava muito a desejar em matéria de pontaria. Felizmente para todos nós. Infelizmente, nesse dia, acertaram(-te). Agora, imagino que foi um momento único, terrível, para ti... Terrível, dificilmente descritível. Deves ter sentido, a roçar a tua pele, o beijo da morte. Muitos de nós passaram por experiências-limite, de algum modo semelhantes. Em terra, no ar, no mar. Por isso não faz absolutamente nenhum sentido a eventual arrogância de uns ou de outros, desta ou daquele arma.

Felizmente, e como era timbre entre nós, ninguém te deixou para trás. E hoje aqui estás, com menos dois centímetros de altura, é certo, mas vivinho da costa, a falar com uma naturalidade e uma simplicidade quase desconcertantes deste acidente de percurso da tua vida militar...
Por pudor, não falas deste episódio, do momento exacto em que sentiste o impacto do Strellla e dos teus reflexos de grande piloto, ao ejectares-te. Por pudor, não falas da noite (de angústia) que deves ter passado no mato, com uma perna partida... Por pudor, não falas dos camaradas (incluindo a Giselda) que que te salvaram...

Não te vou chamar herói, por que tu és tão de carne e osso como eu, como todos nós... Não sei, de resto, o que é um herói. Nem tenho o poder de os nomear. Esse poder é dos deuses. Mas fico muito feliz por ti, por todos nós... Mais: fico orgulhoso de ti, por te conhecer, mais de perto, como um camarada... Para mim, o Miguel Pessoa a partir de agora tem um rosto, no nosso blogue, e uma história contada na primeira pessoa do singular...

Há uma cumplicidade, há um química, que nos toca a todos, os que fizeram (mal ou bem) a guerra da Guiné... Isso está acima de armas e de postos, está acima das nossas afinidades, do que pensavámos daquela guerra, das nossas idiossincrasias, da nossa motivação (ou falta dela) para a fazer aquela guerra ... Isso para mim é hoje acessório... Teres sido projectado, na tua GMC, a vários metros de altura por uma mina anticarro ou teres sido strellado, e ejectado do teu Fiat G-91 - POR ALGUÉM QUE TE QUIS MATAR!!! - é uma experiência única, brutal, que te marca para o resto da vida... A mim marcou-me. Não posso, todavia, odiar quem me quis matar. Nunca ripostei. Mas admito que a generalidade dos ou alguns dos meus camaradas precisassem de odiar para sobreviver... Não sei se foi o teu caso, não me interessa sabê-lo: há coisas que nunca contaremos a ninguém e que irão para debaixo da terra connosco, porque fazem parte íntrinseca dos nossos restos mortais... Há fantasmas que nunca iremos exorcitar completamente... Há explicações que nunca daremos a ninguém... Há emoções que nunca conseguiremos transmitir em suporte de papel ou em suporte digital... Há memórias que vão mnorrer com connosco...

Tudo isto para te dizer: camarada, junta-te a nós, senta-te aqui no meio da Tabanca Grande, debaixo do frondoso e centenário poilão, e conta-nos as tuas histórias, as histórias dos bravos de Bissalanca... LG

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

19 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1675: 28 de Março e 5 de Abril de 1973: cinco aeronaves da FAP abatidas pelos toscos mísseis terra-ar SAM-7 Strella (Victor Barata)

17 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

25 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

(...) Guileje, 25/3/73

(...) Hoje, domingo, aniversário: 5 meses de Guiné (...). Dia 25, 13 horas: o aquartelamento de Guileje foi flagelado com foguetões e granadas de canhão sem recuo, caindo perto, e a mais próxima a cerca de 15 m do arame farpado. Rápida defesa do mesmo aquartelamento, com fogo de artilharia e de mort 10,7 cm (1). E pedido imediato de caças-bombardeiros Fiat, tendo vindo um, o qual depois de várias voltas seguiu para o objectivo, não voltando nunca mais.

Bissau, Comando-Chefe, estranhando a demora e o mutismo do piloto, manda outro Fiat (milhares de contos cada um)... Faz reconhecimento à zona, avistando o avião caído dentro de mata densa e perto o piloto fazendo sinal de very-light, mas não podendo ser recolhido.

Logo de seguida deslocaram-se de Bissau para Guileje 2 aviões-bombardeiros pesados DC-6. Seguidamente dirigiu-se, também, para cá um helicanhão, aterrando no heliporto para seguir depois para Cufar. O ataque de fogo dos turras aqui durou cerca de 1 hora, intervalando o fogo. Pensa-se que isto é represália pelos feridos e possível morto ou mortos que lhes provocámos por meio de minas, como já contei.

Durante toda a tarde não houve mais nada a assinalar, e o jantar decorreu normalmente (...)

(...) Nunca na história da Guiné (pelo menos) tinha caído um caça a jacto Fiat. Isto é uma alegria para os turras, pois só havia 3 ou 4 Fiats aqui na Guiné.

Junto envio uma foto tirada junto ao morteiro que me está distribuído, em caso de ataque (...).

Guileje, 27/3/73

(...) O resto da história do ataque ao nosso quartel: o piloto do Fiat (5) estava vivo mas perto do carreiro da morte e em mata densa, porque se viu um ou dois very-lights que se deduziu terem sido disparados por ele.

Portanto, no dia 25, como estávamos para sair, mas houve ordem em contrário, deitei-me. Passada meia-hora, veio o nosso alferes e disse para estarmos prontos às 4.30h da manhã, com bornal, ração de combate (a primeira vez que a comi em Guileje) e água.

Saímos e entrámos na mata sempre a andar por caminhos sinuosos, só mata densa com lianas e troncos a fazer-nos tropeçar. Até dizíamos mal da nossa vida... Eu levava uma lata de leite, uma lata de chocolate, uma de fruta, uma de sumol, uma de lanche, uma de sardinhas, marmelada, queijo, pão e cantil de água, um rádio, espingarda, cartucheiras, 100 balas, uma granada de fumo... Isto tudo numa balança era de assustar, e durante 9 horas de mata cerrada... Ainda se fosse por estrada, essas nove horas pareceriam 3 ou 4.

Por cima de nós andavam os caças-bombardeiros Fiats, bombardeiros pesados, (?) helicópteros, avionetas e um avião de reconhecimento. Desceram na mata 2 grupos de paraquedistas, um grupo de operações especiais - Marcelino e o seu grupo - e nós, que já lá estávamos...

Passado pouco tempo os Op Esp encontraram o homem e disseram-lhe (estava sentado à beira de uma árvore):
- Vamos embora. - Ao que ele respondeu (pensando que eles eram turras, pois são todos pretos e com armas turras):
- Não vou nada, ides-vos cozer [foder], matem-me já, que eu não saio daqui. - Então disseram-lhe:
- Sou o Marcelino.

E aí ele parece que ressuscitou. Meteram-no num heli donde seguiu até Bissau.

Os mais sacrificados fomos nós quando regressámos, já sem água, cansados, a cair, por meio da mata. Deus me livre. (...)

(2) Vd. último poste da série > 27 de Janeiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

(3) Vd. último poste da série > 29 de Janeiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

Guiné 63/74 - P3815: Quatro considerações, a propósito dos Postes 3788 e 3789 (Vasco da Gama)

1. Mensagem de Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, com data de 26 de Janeiro de 2009:

Eu, devagarinho, vou contando a história da minha querida Companhia de Cavalaria 8351, OS TIGRES DO CUMBIJÃ (*), e enquanto o propósito a que me obriguei não estiver na sua totalidade cumprido, não entro em grandes discussões académicas, mas fá-lo-ei sem qualquer rebuço e com quem quer que seja, acerca do que vivi e sei, chegado que seja o momento oportuno.

No próximo capítulo escrevinharei acerca do assalto a Nhacobá que possivelmente ocupará mais do que um texto da história da minha Companhia. Estou com dificuldades em arrancar dada a vivência do mês de Maio de 1973.

Então porque não te calas?

Apenas e só porque na visita diária que, religiosamente, faço ao nosso blogue se fala no CUMBIJÃ dos TIGRES. Onde? POSTES 3788 e 3789 (**) do alferes Manuel Reis da CCav 8350, que tive o prazer de reencontrar no lançamento do livro do Coronel Coutinho e Lima.

Ao meu camarada das lutas da Guiné e face ao exposto no seu texto, quatro considerações:

1. Estando a vossa Companhia já em Gadamael, afirmas no teu texto e passo a citar: - No dia 4 de Junho 11 (onze) militares mal armados, saem para o mato pressionados pelo novo comandante da CCav 8350 e são emboscados a 500 (quinhentos) metros do arame. Podes dizer-nos quem era este comandante? (Os extensos são meus)

2. Depois de todas as tragédias no Guileje e em Gadamael a CCav 8350 veio para o Cumbijã, julgo que no dia nove do mês de Novembro de 1973. Conviveram connosco, patrulhavam juntamente com os meus Tigres e eram comandados na altura pelo Capitão Reis, do Quadro Permanente, de quem guardo a melhor das impressões como ser humano. Veio a ser substituído pelo também oficial do Quadro e meu bom amigo Capitão Vieira que esteve presente no lançamento do tão falado livro do Coronel Coutinho e Lima. (As comissões da malta do Quadro eram mais curtas do que as nossas... A brincar a brincar ainda falo do macaco cão...)

3. Os Tigres do Cumbijã embarcaram para Bissau a bordo da LDG de seu nome BOMBARDA a 27 de Junho de 1974, sem que tivessem tido a visita de qualquer elemento do PAIGC. Avistei uma vez um grupo de combate junto à estrada quando comandava a coluna do Cumbijã para o Quebo.

4. Fico muito contente ao ver-te chegar à Tabanca da qual faço parte há pouco tempo, e estou muito curioso em ler os teus futuros escritos sobre o percurso da tua Companhia para além de Guileje e de Gadamael abordando, passo a citar: - As dificuldades que tivemos de ultrapassar, no são convívio com as populações e no processo de descolonização em Cumbijã (fim de citação). Julgo que nos diálogos verbais que mantiveste com o PAIGC, teriam eventualmente falado sobre a minha Companhia que duma zona povoada de minas, sofrendo inúmeros ataques ao aquartelamento, vivendo em barracas de lona e construindo pelos seus próprios meios valas de protecção e habitações com o mínimo de dignidade, assaltando Nhacobá, fazendo colunas diárias a Aldeia, ou protegendo Buba/Aldeia, com umas dezenas de contactos de fogachal, devia ter merecido da parte deles algum comentário. É uma parte da história da minha Companhia que me falha e nunca entendi qual foi a razão que impediu o PAIGC de ter confraternizado com OS TIGRES após o 25 de Abril, como o fez em tantos outros lados. Sei que esperou a nossa saída...

Meu caro Reis, tenho algumas fotografias do Cumbijã com oficiais e sargentos dos Piratas de Guileje, mas, infelizmente não consigo identificar-te. No momento oportuno farei publicá-las no Blogue.

Até sempre
Vasco da Gama
__________

Notas de CV

(*) Vd. poste de 20 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3765: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (7): A visita do General Spínola

(**) Vd. postes de 24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Guiné 63/74 - P3814: Blogues da Nossa Blogosfera (15): Companhia de Transportes 2642 - Guiné 69/71 (José Pereira Santos)

1. Mensagem de José Pereira Santos, com data de 26 de Fevereiro de 2008

Olá Amigo Luís Graça

Antes de mais quero felicitar o amigo pelo excelente Blogue que vai mantendo sobre a Guiné.

Enviei em tempos o endereço do meu modesto site sobre a Companhia de Transportes 2642, que esteve na Guiné entre 69/71 - o endereço é - http://ct2642.no.sapo.pt/.

Como não encontro no vosso blogue a ligação ao meu site, agradecia, se não houver inconveniente uma hiperligação.

Agradecendo desde já a atenção prestada, receba entretanto a minha admiração pelo trabalho que está a desenvolver no seu Blogue sobre tempos de Guiné.

José Pereira Santos
Ex-militar da ct2642
Peso - Covilhã



2. Do site da CT 2642 recolhemos a identificação desta Unidade, com a devida vénia.

Identificação:

Companhia de Transportes 2642

Unidade Mob: GCTA - Lisboa Cmdt: Cap SGE José Curto Divisa: "Omnia per Omnia Portans"

Partida: Embarque em 15Nov69; desembarque em 21Nov69 - Regresso: Embarque em 03Out71

Síntese da Actividade Operacional

Ficou colocada em Bissau, na dependência da Chefia do Serviço de Transportes, tendo substituído a CTransp 2348, a partir de 22Nov69.

Executou colunas de apoio logístico a unidades, de transporte de forças desembarcadas ou a embarcar e de forças para a execução ou regresso de operações, participando ainda em transportes de materiais para construção de estradas, pistas e reordenamentos populacionais.

Em 08Set71, foi rendida pela CTransp 3433, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações

Tem História da Unidade (Caixa n.º - 2.a Div/4.a Sec, do AHM).

Resenha Histórico – Militar das Campanhas de África (1961-1974) - 7º Volume – Tomo II

Edição do Estado - Maior do Exército


3. Comentário de CV

Pedimos imensa desculpa ao nosso camarada José Santos por esta sua mensagem ter ficado até agora sem dar seguimento. Reparamos hoje a nossa falta, procedendo de imediato à hiperligação solicitada.
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 26 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3796: Blogues da Nossa Blogosfera (14): "CART 2732" criado e gerido por Inácio Silva (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P3813: Em busca de... (62): Referências à CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Guiné, 1967/69 e à morte do Cap Artur Nunes (José Martins)

1. Mensagem de António Teixeira Mota, com data de 13 de Janeiro último, enviada ao nosso camarada e colaborador José Martins:

Na sequência do Documentário "Morrer pela Pátria", editado pela TVI no seu Jornal Nacional de 28 de Dezembro último, recebi um contacto de um amigo, meu camarada nos Pupilos do Exército cujo sogro faleceu na Guiné a 16 de Fevereiro de 1968 e era o Comandante da Companhia de Caçadores n.º 1788, a qual fazia parte do Batalhão de Caçadores n.º 1932. De seu nome Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes.

Chegou esta Companhia e respectivo Batalhão à Guiné em Outubro de 1967 (não posso precisar o dia de embarque em Lisboa nem o dia de chegada à província). O Capitão Artur Nunes faleceu a 16 de Fevereiro de 1968, em combate por accionamento de uma armadilha do inimigo.

Faleceram neste accionamento dois militares da mesma Companhia (o Capitão Artur Nunes e o Furriel José Santos Pereira). Esta informação recolhi do 8.º Volume, Tomo II, Livro I da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), Mortos em Campanha (Guiné) e que possuo em casa.

O Capitão Artur Nunes está referenciado, além de outras, na lista dos mortos da Guerra Colonial, nascidos em Angola, no site:

  http://ultramar.terraweb.biz/03Mortos%20na%20Guerra%20do%20Ultramar/1MEC_Ang.pdf

Aquilo que lhe venho por este meio solicitar é o especial favor de consultar o 7.º Volume, Tomo II da Resenha - Fichas das Unidades - Guiné, e ver se existe alguma informação complementar em relação à CCaç 1788 e em relação à morte do capitão Artur Nunes em particular, uma vez que não possuo este livro, ou caso possuo outra fonte de informação onde se possa encontrar referência à actividade operacional que causou esta baixa em combate, informe-me por favor. Desde já grato pela sua sempre prestável colaboração, apresento os meus cumprimentos.

Um abraço
António Teixeira Mota


2. Resposta do José Martins, em mail de 23 de Janeiro:

Caro António:

Conforme prometi, e ainda que com atraso devido a afazeres profissionais, junto um texto sobre a CCAÇ 1788, com base no texto publicado no 7.º Volume da Comissão de Estudos para as Campanhas de África.

Mais elementos sobre esta Companhia podem ser obtidos no Arquivo Histórico Militar, na História da Unidade que se encontra na Caixa 76 - 2.ª Divisão - 4.ª Secção.
Esse documento era de elaboração obrigatória, mas, normalmente, era organizado de forma resumida.

Outra forma de obter mais elementos, será pelo testemunho de algum que tivesse pertencido a essa Unidade e tenha presenciado o facto.

Por isso, o texto que anexo, segue também para o blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, com o intuito de, com a sua publicação, incentivar algum camarada a escrever sobre este acontecimento.

Um abraço
José Martins


3. Companhia de Caçadores 1788 (1967/69)

(elementos compilados por José Martins)

Foi mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 15, em Tomar, sendo uma Unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1932. Completavam o Batalhão, além da Companhia de Comando e Serviços, as Companhias de Caçadores n.ºs 1787 e 1789. Estas Unidades tinham como divisa “Vontade e Valor

Embarcaram em Lisboa a 28 de Outubro de 1967 e chegaram a Bissau em 02 de Novembro de 1967.

Sob o comando do Capitão de Infantaria Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes, deslocou-se para Contubuel em 6 de Novembro de 1967 para, além de efectuar a adaptação operacional, reforçar o Batalhão de Cavalaria 1905, até 7 de Dezembro de 1967, em operações realizadas na região de Caresse, regressando depois a Bissau, onde ficou como Unidade de Intervenção e Reserva do Comando Chefe.

Foi cedida pelo Comando Chefe ao Batalhão de Cavalaria 1915, no período de 22 de Dezembro de 1967 a 5 de Janeiro de 2008, para a realização de operações na região de Insumeté-Choquemone.

Em 11 de Janeiro de 1968 segue para Cabedú, rendendo a Companhia de Artilharia 1614, assumindo a responsabilidade do subsector, integrando o dispositivo de manobra do Batalhão de Artilharia 1913.

Foi transferida para Catió, por troca com a Companhia de Artilharia 1689, mantendo-se na zona de acção do BArt 1614, mas na situação de intervenção e reserva, efectuando operações nas regiões de Cabolol Balanta e Cobumba.

Por extinção do subsector de Cabedú, destaca dois Pelotões para este aquartelamento, em 30 de Julho de 1968. Recolhe a Bissau em 17 de Fevereiro do 1969, tendo sido substituída pela Companhia de Artilharia 2476.

[No dia anterior a esta substituição, foi quando se deu o infausto acontecimento da morte do Capitão e do Furriel Miliciano José dos Santos Pereira, pelo accionamento de uma armadilha inimiga, na estrada da ponte, em Cabedu.]

A fim de reforçar a actividade de contrapenetração no corredor de Lamel, foi colocada em 26 de Fevereiro de 1969 em Farim, ficando na dependência do Comando Operacional 3 (COP 3) e guarnecendo o destacamento de Salequinhedim.

[Foi nesta fase que o Capitão Geraldes Nunes foi substituído pelo Capitão de Infantaria Luís Andrade de Barros.]

É substituída pela Companhia de Caçadores 2548 em 4 de Agosto de 1969, recolhe a Bissau e embarca de regresso à Metrópole em 20 de Agosto de 1969.

Mortos

(i) ARTUR CARNEIRO GERALDES NUNES, Capitão de Infantaria n.º 51395811:
Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 15 em Tomar, comandava a Companhia de Caçadores n.º 1788, subunidade do Batalhão de Infantaria n.º 1932.

Era natural da freguesia de São José do Lubango, concelho do Lubango, em Angola. Era casado com Lígia Teresinha Pires da Costa Nunes, filho de Manuel Nunes e Maria das Dores Carneiro Geraldes de Miranda Nunes.

Faleceu em combate em 16 de Fevereiro de 1968, aquando do accionamento de uma armadilha IN, na estrada da ponte em Cabedú.

Está inumado no Cemitério da Irmandade do Senhor do Bonfim e Boa Morte no Porto.

(ii) JOSÉ DOS SANTOS PEREIRA, Furriel Miliciano Atirador n.º 8564465, foi mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 15 em Tomar e integrava a Companhia de Caçadores n.º 1788, subunidade do Batalhão de Infantaria n.º 1932.

Era natural da freguesia de Ceira, concelho de Coimbra. Era solteiro, filho de Manuel Pereira Nova e Isabel Clara.

Faleceu em combate em 16 de Fevereiro de 1968, aquando do accionamento de uma armadilha IN, na estrada da ponte em Cabedú.

Está inumado no Cemitério Paroquial de Ceira.


4. Comentário de CV

Se algum dos nossos tertulianos tiver elementos mais concretos sobre as fatídicas mortes dos nossos camaradas Cap Artur Nunes e Fur Mil José dos Santos Ferreira, façam o favor de nos chegar essas informações (ou directamente para o Zé Martins) para que possam ser encaminhadas para o nosso amigo António Teixeira Mota, filho do nosso malogrado camarada Teixeira da Mota, falecido em combate em Angola (*).
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2651: História de vida (11): A Luta Incessante de António Teixeira Mota

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3731: Em busca de... (61): O Capitão José Curto, comandante da CCAÇ 153 (Fulacunda, 1961/1963) (José Martins)

Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)

1. Publicamos este belo trabalho do nosso tertuliano Patrício Ribeiro (*) que ilustra as suas andanças por terras da Guiné-Bissau. Embora extenso, preferimos publicá-lo de uma só vez para não interromper a sequência da apresentação. 

  Contactos de Hotéis do mato Viagens pelo Sul da Guiné, de Cátio a Iembérem, (Jembérem) Viagem de Cátio para Iembérem, no final do mês de Novembro de 2008. 

 Junto mais algumas fotos dos meus passeios mais recentes, pelo Sul. Saída de Cátio, (ligando o nosso GPS), já com as cartas militares da Guiné, (voltarei a falar mais tarde neste assunto); os primeiros quilómetros são feitos na estrada asfaltada em direcção a Cufar/Impungda, em que são mais os buracos que o asfalto; aí, virámos no cruzamento à esquerda, para Buba. 

 Percorremos a estrada de terra batida, picada, que já conheço há mais de vinte anos, nunca a encontrei em tão mau estado! A natureza tomou conta da estrada, e o Jeep teve que abrir o capim para poder passar… muitos buracos, lagoas com muita lama, viaturas atoladas, etc., foram três horas de mau caminho, muita aventura, e tentar não ficar atolado também! 

 De Buba até ao cruzamento de Mampatá, perto de Quebo (Aldeia Formosa), o percurso é feito por uma boa estrada asfaltada de novo, desde há poucos meses, onde virei à direita para uma boa estrada em terra batida, 70 a 80 km/h, até à ponte sobre o Rio Balana, a precisar de um pequeno arranjo (já vimos no blogue algumas fotos do antigamente). 

 Um pouco mais à frente, lá estavam as placas de sinalização, (perto do antigo de Gandembel (ver fotos 14 e 15) a indicar passagem de elefantes, onde a nossa amiga Cristina Schwarz/UICN/IBAP, diz que atravessam a estrada um pouco a sul da ponte. Eu sei que eles andam perto, do lado da nascente do rio. Quando do Simpósio sobre Guiledge, uns dias antes, fui informado de que lá andavam cinco.

 
Foto 14 > Gandembel
  Foto 15 > Gandembel Já tive oportunidade de demonstrar à nossa amiga que eles andam por ali num passeio que fizemos juntos há poucos anos, ao vendú de Bolianga, que está dentro do Projecto do Parque Natural do Dulombi, que a Cooperação Canadiana através do CECI, tentou passar à prática há alguns anos, mas ficou parado, embora os Canadianos tenham feito a investigação da fauna que por lá anda. Para onde mais tarde, se chegou a pensar criar um Parque Transfronteiriço. Desde há vinte anos, gosto de fazer passeios de fim de semana com amigos, nesta zona, onde há animais selvagem de grande porte, já que não há Tabancas. Onde um amigo, o que se perdeu durante dois dias, depois de muitas buscas, encontrámo-lo, junto à fronteira desidratado, sem já poder caminhar. Como actualmente, uma empresa angolana mandou abrir uma estrada de Contabane até ao Boé num percurso de 100km, penso que é o alargamento da picada existente, até Madina, (Ver foto 11) para exploração e transporte de bauxite, até ao porto de águas profundas de Buba, que vai ser feito a norte do rio, (ver foto 1). Veremos se não vão correr dali com os bichos…

 
Foto 11 > Fonte de Madina do Bóe
  Foto 1 > Estrada nova para o porto de Buba Não sei se os nossos amigos bloguistas, também encontraram elefantes quando da vossa passagem pela Guiné. Lá seguimos sempre para o Sul, passando pelo cruzamento de Guiledge (que tem uma antena de telemóvel a funcionar recentemente), até Gadamael Porto, para lá deixar o jovem Fernando, investigador de chimpanzés, que percorreu a pé as matas de Gadamael à procura dos vestígios dos chimpanzés. Esteve aí durante a época das chuvas nas suas tendas, instaladas em frente da casa do Régulo. Sabemos que foi muito bem acolhido pela população, durante os meses que lá esteve. Já era noitinha, quando saímos de Gadamel Porto, a caminho do Quartel de Guiledge, (futuro Museu, onde já existe um furo de água que está a trabalhar com um painel solar); aqui, a picada tem alguns rios com muita água, que tivemos que ultrapassar já de noite, e a picada passa a ser percorrida entre 40 a 20km/h; passámos pelo Medjo, (o meu GPS não tem esta carta) e lá seguimos na direcção de Bedanda, até ao Cruzamento; virámos à esquerda, e passámos a viajar entre 10 a 30km/h; passámos na Missão Católica de S. Francisco da Floresta e seguimos para o Sul, (o GPS já tinha a carta); até que comecei a avistar muita luz, no meio da floresta; estávamos a aproximarmo-nos dos candeeiros públicos de iluminação das ruas da Tabanca de Iembérem, que a ONG AD instalou em toda a tabanca. Dirigimo-nos às instalações da ONG AD/Parque de Cantanhez, onde o nosso amigo Abulai, responsável pelo alojamento, nos instalou num bonito bungalow, (ver fotos 3 e 13) muito confortável e fresco. Depois de um bom banho de chuveiro o que já não acontecia há muitos dias, dirigimo-nos ao refeitório/Jembérem, (construção mais antiga da ONG), onde servem as refeições.

 
Foto 3 > Bungalows
  Foto 13 > Na Piscina de Iemberém A Maimuna brindou-nos, com um belo repasto como sempre, com umas boas cervejas bem frescas a acompanhar, que há muitos dias não encontrávamos... Aí encontrámos 3 jovens médicos portugueses, nova equipa, também acabados de chegar à floresta, que com a ONG AD, têm um projecto de cooperação de Saúde para o Cantanhez. Combinei com eles um passeio até à Ilha de Melo, onde tínhamos trabalho a fazer. (ver fotos 2 e 3).

  Foto 2 > Bungalows de Iemberem Nos dias seguintes, percorremos algumas Tabancas do Cantanhez, em trabalho nos Centros de Saúde: Cafal Nalú, Lautchandé, Caiquene, Botche MBali, etc. Fomos no dia combinado de madrugada, para o porto de Canamina, passando junto ao trilho que segue para a barraca do Osvaldo Vieira, (o acampamento fica em linha recta no GPS, a 3km de Iembérem ). Chegados ao porto, avistámos do outro lado do rio, a cidade de Cacine. Dividi a minha equipa em dois grupos, um viajou para Cacine de canoa, para ir trabalhar em Cassacá; o outro grupo, seguiu comigo juntamente com equipa de médicos, noutra canoa . Navegámos pelo rio Cacine (ver foto 4) até à foz, junto ao acampamento dos pescadores, entrámos por um pequeno rio para interior da Ilha, até que encontrámos o porto mais próximo da tabanca da Ilha, ao fim de 3 horas de navegação; descarregámos os materiais e a canoa ficou no meio do rio, para não ficar em seco com a maré baixa, para podermos regressar ao final da tarde.

 

Foto 4 > Médicos no Rio Cacine Chegados à tabanca de casas cobertas a palha, (ver foto 5) em duas filas de casas de cada lado, com muito espaço no meio cheio de coqueiros, ( para mim é a quarta vez ) iniciámos os nossos trabalhos, (ver foto 6, 7). Iniciei a instalação do rádio e do resto dos equipamentos. Para a equipa de médicos, começou a organizar-se uma fila de crianças e mulheres grávidas, junto às mesas de consultas. (foto 8)

 
Foto 5 > Tabanca da Ilha de Melo
 
Foto 6 > Centro de Saúde da Ilha de Melo
 
Foto 7 > Médicos na Ilha de Melo

  Foto 8 > Criança da Ilha de Melo Mal tínhamos iniciado os nossos trabalhos fomos chamados com grande aflição, porque uma cobra tinha mordido uma criança de aproximadamente 10 anos. Era tudo novidade para os jovens médicos… mandou-se que o pai da criança chupasse o sangue onde a cobra o tinha mordido, depois de se ter feito um pequeno corte; imediatamente os médicos iniciaram o tratamento com os medicamentos que tinham! Estavam no ar algumas dúvidas: qual o tipo de cobra, quanto tempo a criança poderá viver ??? Por sorte, através do rádio que tinha instalado há alguns minutos no Centro de Saúde em construção na Tabanca, consegui falar com um médico do Hospital de Catió, que ajudou a tirar as dúvidas e com a experiência que tem do assunto, aconselhou o melhor tratamento, já que não foi possível pedir à cobra o BI, para a identificar, que seria o procedimento certo… (A rede de telefone não chega à Ilha, assim como a 70% do território da Guiné). Uma jovem médica portuguesa da AMI, há dois anos, viu morrer, por mordeduras de cobra, duas pessoas em Bolama em três meses, sem nada poder fazer. No fim da tarde voltámos, mas para entrar na canoa que estava no meio do rio e tivemos que entrar no lodo. O costume de quem anda normalmente por estes caminhos, é o que melhor aproveito dos treinos que tive para caminhar no lodo, em Vale do Zebro em 68/69, (ver fotos 9,10).

 
Foto 9 > Médicos a embarcar na Ilha de Melo

  Foto 10 > Médicos na Ilha de Melo Transportámos a criança picada pela cobra na nossa canoa, até ao porto de Canamina, e dali até à Tabanca de Cachamba. Nas vésperas do Natal de 2008, tive a informação de que estava internada no Hospital Simão Mendes (Hospital Central de Bissau), com a perna engessada…

 
Foto 12 > Quartel de Cabedú 

  Hotéis com comida e dormida: 

 AD/Parque - Bungalows ou quartos em Iembérem. Através da ONG AD, em Bissau – 00245 3251365 ou directamente para o responsável dos alojamentos em Iembérem , Abulai Sanunci, 00245 6637263 

 Pensão Raça Banana (Associação das mulheres da Tabanca), em Iembérem – podem utilizar os mesmos contactos de cima . 

 Pensão em Cabedú (Associação das mulheres da Tabanca), – podem utilizar os mesmos contactos de cima. (ver foto 12) 

 Hotel do Saltinho – Rui – 00245 5900693 

 Conforme me têm solicitado por e mail Patricio Ribeiro 

Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > 1 de Fevereiro de 1974 > O então Ten Pilav António Martins de Matos, no seu Fiat G-91, preparando-se para a uma acção Apoio Fogo.


Foto: © António Martins de Matos (2009). Direitos reservados.

"Ataque a Guileje, a partir de 22 de Mai 73. O dispositivo do PAIGC (...). Este dispositivo constituíu a única parte da minha intervenção que sofreu uma confirmação já na Guiné. (...) Eu fui para lá em 8 de Fevereiro. No interim tive oportunidade de conversar, na AD, com o hoje Maj Gen Watna Na Lai, um dos Cmdts da Art do PAIGC no ataque a Guileje ( conjuntamente com o Gen Veríssimo Seabra, que foi CEMFA, assassinado em Out de 2004).

"Ora quando lhe mostrei a minha 'teoria' sobre a implantação das posições da Artilharia do PAIGC durante o ataque ele ficou surpreendido e disse-me que tinha sido tal e qual !!!

"O que eu fiz foi simplesmente, sabendo do alcance máximo dos materiais utilizados, marcar na nossa carta 1:50000 esses alcances com círculos e depois ver onde eles interceptavam as possíveis vias de comunicação (caminhos) que vinham da Guiné-Conacri, por onde o material forçosamente teria de ser deslocado com alguma facilidade. Aí seriam as prováveis bases de fogos ! A nossa carta era de facto extraordinária !

"Bingo … eram mesmo ! …, segundo ele confirmou!" (...) (NR)

Imagem (e legenda) : ©
Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.



"CCav 8350 > Relatório da Acção Bubaque, realizada em 18Mai73 na Região de Guileje > 8. Apoios > As forças envolvidas foram apoiadas com cerca de 55 granadas de Obus 14. No entanto verificou-se que o tiro estava extremamente pouco preciso, facto que está relacionado concerteza com a chegada dos dois obuses, na coluna de antevéspera em substituição do material 11,4 cm que seguiu na mesma coluna para Gadamael. De notar que vieram apenas 2 obuses, sem tabelas de tiro e um deles, sem aparelho de pontaria".

Pesquisa - Nuno Rubim Dez 2007


1. Comentário/resposta de Nuno Rubim, Cor Art Ref, a 15 questões e comentários (em itálico e negrito) de António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res (*), em mensagem enviada em 16 do corrente:

(i) Li a comunicação do Nuno Rubim e não concordo com as suas (dele) conclusões (**).

Está no seu pleno direito, mas não apresenta um único documento que consubstancie as suas objecções, o que realmente se me afigura incompreensível . O único que apresenta é o que se refere ao emprego da USAF no Vitenam, ficando omissos os aparelhos abatidos do USMC e da USN.

(ii) Apenas alguns pontos: Os alcances das armas do PAIGC não estão correctos, podendo ser bastante superiores ao indicado.

A que armas se está a referir ? Para eu poder realmente apresentar os dados que tenho e indicar onde os obtive. Nunca se devem fazer afirmações sem indicar as fontes.


(iii) Não se percebe se a Ordem de Operações que está na sua apresentação foi ou não a indicada para o ataque ao Guileje em Maio 73.

Realmente não foi, mas este aspecto nada tem a ver com o que eu que falei com o Luís Graça. Se o António M. Matos tivesse assistido à minha comunicação no Simpósio teria constatado que eu estava a tecer considerandos sobre o planeameno delineado por Amílcar Cabral, excelente na minha perspectiva, mas que foi redigido antes do ataque real, planeamento esse constante de um documento que recentemente foi datado do início de 1968 pelos especialistas da FMS [Fundação Mário Soares].


(iv) A ser, está escrito "reconhecer a melhor posição junto à fronteira para colocar os morteiros de 120".

Referi-me ao Morteiro de 120 mm soviético, cujo alcance máximo é da ordem dos 5700 metros, sendo que raramente se utilizava esse alcance, devido à dispersão do tiro, como aliás acontece com qualquer boca de fogo de artilharia. De qualquer forma a menor distância de Guileje à fronteira é sensivelmente de 8 km.


(v) A ordem de operações do PAIGC indica 3 pelotões de artilharia, a 3 canhões cada e 30 granadas, o que dá no total 270 granadas, 1000 kilos a serem transportados por 20 carregadores, o que estará correcto, partindo do principio que estes são do tipo "forte e bem constituído".

Mas que ordem de operações ? Acima referi que essa ordem de operações se reportava a 1968. A de 1973 foi-me indicada por vários ex-Cmdts do PAIGC, havendo ainda algumas dúvidas, nomeadamente no que se refere à infantaria. Dizem eles que, nas grandes linhas, houve poucas alterações, a ideia de manobra é que terá sofrido rectificações. Mas no que respeita à artilharia ela está praticamente assente graças aos testemunhos do Maj Gen Watna e dos Comdts Osvaldo Lopes da Silva e Júlio de Carvalho, que não só planearam o tiro como dirigiram a sua observação e regulação. Das conversas havidas dei-me conta do seu alto grau de profissionalismo, o que não me surpreendeu visto terem frequentado um curso extenso na antiga URSS.


(vi) Conforme o plano, o dispositivo era 1 pelotão para Guileje, outro para Ganturé e outro para Gadamael. Ora, com estas contas, o Guileje tinha que se 'haver' com 90 granadas.

Não teço comentários pelo acima exposto.


(vii) No entanto, é referido noutros documentos que o Guileje foi bombardeado com cerca de 1000 granadas.

Desconheço esses documentos. Julinho de Carvalho referiu entre 500 e 600 disparos de 120 mm.


(viii) Poder-se-á especular que as restantes 900 munições seriam de morteiro, só que essa granadas pesariam qualquer coisa como 13 toneladas (já seriam precisos 260 carregadores dos tais fortes e bem constituídos).

Não faço comentários. É pura especulação. Segundo Osvaldo L. Silva as munições vieram em viaturas desde Conakry, via Kandiafara, até à fronteira ( pelo menos… ), pois só tenho um testemunho ainda não recortado, de que chegaram mesmo até perto da zona onde estavam instalados os Morteiros, Paroldade.


(ix) Das duas três, ou os ataques foram do "estrangeiro", onde o PAIGC teve tempo suficiente para ir armazenando as suas munições, ou os bombardeamentos foram significativamente mais pequenos.

Que ataques ? A artilharia do PAIGC estava toda em território da Guiné, exceptuando as peças de 130mm, que eram da Guiné Conakry e estavam instaladas perto de Kandiafara, fora do alcance quer das 11,4cm, quer, com maior força de razão, dos 2 obuses de 14cm “sem tábuas de tiro” e “só com um aparelho de pontaria” !


(x) A meu ver, estes tópicos fazem com que a teoria do Nuno Rubim cai por terra.

Mas que teoria ? A meu ver a minha intervenção visou apenas expor o resultado do estudo que efectuei, durante cerca de dez meses, embora sem ser a tempo inteiro. Com base na documentação que me foi possível obter e nos testemunhos dos protagonistas do PAIGC e portugueses ! Agora já sei muito mais, pois continuei a minha investigação.


(xi) O facto do militar guineense ter dito "que foi mesmo mesmo assim" só vem reforçar a minha teoria de que o cerco do Guileje não existiu e tudo foi composto à posteriori.

Aqui realmente fico, como se costuma dizer, de 'boca aberta' … e mais não digo !


(xii) Atrevo-me até a especular que, se o Guileje estivesse cercado nunca teria sido abandonado, pois teria havido contacto com a nossa tropa e o pessoal teria regressado ao quartel 'em passo de corrida'.

Idem, aspas, aspas …


(xiii) No que refere à pintura dos aviões, de referir que entre 1972 e 1974 os FIAT G-91 não tinham camuflagem, eram cinzentos, e os DO-27 eram, imagine-se, cinzento prateado com pontas vermelhas, as cores com que se pintavam os aviões de instrução.

Certamente aqui a única asserção correcta do António M. Matos. Tenho uma referência de que foram pintados o Fiat G-91 nº 5412 e a DO-27 nº 3470.


(xiv) Foi só em Março de 1974 que apareceu o primeiro e único FIAT G-91 pintado de verde azeitona.

Nada a referir, esperemos que no futuro esta questão seja melhor esclarecida. Há muito material à espera de ser consultado no AHFA e é pena que poucas pessoas se interessem por estes assuntos.


(xv) Em relação ao Strella a ao apoio dado pelos americanos, ele resumiu-se única e exclusivamente na entrega de documentação com as suas características.

Com base nesse documento e após o estudo do mesmo (durante um dia não houve actividade aérea), foi a FAP que definiu e pôs em prática o seu novo "modus operandi". De referir que o Strella apenas teve êxito enquanto foi considerado uma arma desconhecida. Após o conhecimento das suas características e ao contrário do que muitos pensam, continuaram a ser as anti-aéreas as armas que mais incomodavam os aviadores.

Há realmente informações nesse sentido, mas no Arquivo Histórico da Força Aérea vi (e li ) vários documentos enviados dos EUA, um dos quais contendo um diagrama que me foi mais tarde explicado em detalhe pelo meu camarada de Curso, Gen Aleixo Corbal, antigo CEMFA e que, segundo ele, terá sido de grande utilidade para os pilotos.


(xvi) Por fim e em relação ao Vietnam, o Strella apareceu em 1972, e, no documento que te envio, poderás verificar as baixas americanas ao longo dos anos e por tipo.

Como já acima referi faltam as baixas da Marinha e dos Fuzileiros Navais e os dos aparelhos da República do Vietname do Sul. O que deve 'inflacionar' para um valor duplo do indicado !

Resumindo, nestas questões históricas, em que ando mergulhado há mais de vinte anos, aprendi que, não sendo a história uma ciência exacta, nada há que substitua o documento e, embora se possa admitir que ele seja duvidoso ou mesmo falso, há sempre que tentar obter o cruzamento da informação por outras vias. Afinal já o nosso grande cronista Fernão Lopes dizia o mesmo …

Agora o que se tornou perfeitamente claro ao longo desses anos é que não se pode, nem deve, argumentar em termos científicos sem se estar muito bem apoiado, explanando ideias pessoais não alicerçadas em factos que sejam positivamente confirmáveis.

Aqui no nosso país, há infelizmente muita gente que assume essa nefasta tendência, seja a propósito do que quer que seja...


Nuno Rubim


____________

Dois sítios sobre a Força Aérea na Guerra do Vietname:


(i) Sugerido pelo Nuno Rubim:

www.janes.com/defence/air_forces/news/jlad/jlad001013_1_n.shtml


(ii) Recomendado pelo António Martins de Matos:


The Air Force in the Vietnam War > http://www.afa.org/Mitchell/reports/1204vietnam.pdf

________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)

(**) Vd. postes de:

13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3054: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (1): Como dar a volta aos Strella ?

13 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3055: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (2): Slides (1 a 4): O sector sul

13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3056: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (3): Slides (de 5 a 9): Comparando os armamentos

13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3058: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Nuno Rubim (4): Slides (de 10 a 18): Dos Strellas à Op Amílcar Cabral

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3810: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (3): Unidades de comando em Bajocunda

Continuação da publicação do trabalho de pesquisa do nosso camarada José Martins (*):

Copá, na fronteira com o Senegal (1965-1974) - Parte III: Unidades de comando no subsector de Bajocunda (**)

Unidades de comando:

BATALHÃO DE CAÇADORES Nº 506 (BCAÇ 506, 1963/65)

Mobilizado no Regimento de Infantaria 2, em Abrantes, desembarcou em Bissau em 20 de Julho de 1963, recebendo os elementos do recompletamento do BATALHÃO DE CAÇADORES Nº 238, que rendeu, assumindo a mesma zona de acção, que passou a ser designada por sector D.

Em 1 e 8 de Agosto de 1963 e 8 de Julho de 1964, foram criados no sector, pela chegada de novas unidades, os subsectores de Piche, Xitole e Fajonquito. A zona de acção foi reduzida em 24 de Agosto de 1964 dos subsectores de Bambadinca e Xitole, e aumentada do subsector de Pirada (onde se incluía Bajocunda) em 29 de Outubro de 1964.
Em 11 de Janeiro de 1965 a zona D passou a designar-se por Sector L2, abrangendo os subsectores de Bafatá e Fajonquito.

Foi rendido pelo Batalhão de Cavalaria nº 757 em Bafatá e regressou à metrópole em 29 de Abril de 1965.

BATALHÃO DE CAÇADORES Nº 512 (BCAÇ 512, 1963/65)

Foi mobilizado no Regimento de Infantaria nº 7, em Leiria e desembarcou em Bissau em 22 de Julho de 1963, composto por Comando e Companhia de Comando e Serviços.

Em 20 de Agosto de 1963 seguiu para Mansoa para preparar a sua zona de acção – Sector C - cuja responsabilidade assumiu em 1 de Setembro de 1963, englobando as companhias estacionadas nos subsectores de Mansoa, Mansabá, Bissorã e Farim, sendo acrescentados os subsectores de Enxalé e Bigene em 08 e 23 de Dezembro de 1963.

Por remodelação do sector, foi reduzido em 23 de Maio de 1964 dos subsectores de Farim e Bigene e em 31 desse mês foi reduzido dos subsectores de Mansabá e Bissorã.

Em 22 de Julho de 1964 foi substituído pelo Batalhão de Artilharia nº 645, tendo sido deslocado para Bissau (Brá) onde assumiu a responsabilidade da segurança do Centro de Instrução de Comandos.

Em 29 de Dezembro de 1964 foi transferido para o então criado sector L3, com sede em Nova Lamego e abrangendo os subsectores de Nova Lamego, Piche e Pirada, assumindo a responsabilidade do mesmo em 11 de Janeiro de 1965.

Foram criados, sucessivamente os subsectores de Canquelifá em 25 de Fevereiro de 1965, de BAJOCUNDA em 11 de Março de 1965, de Madina do Boé e o de Buruntuma em 23 de Maio de 1965, estes três subsectores foram criados com recurso a unidades de intervenção do Comando-Chefe.

Foi rendido pelo Batalhão de Cavalaria nº 705 em 1 de Junho de 1965, regressando a Bissau, onde embarcou de regresso em 12 de Agosto de 1965.

BATALHÃO DE CAVALARIA Nº 705 (BCAV 705, 1964/66)

Mobilizado no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa, desembarcou em Bissau em 24 de Julho de 1964, ficando nesta cidade como força de intervenção às ordens do Comando– Chefe, sendo as suas companhias atribuídas como reforço e para realização de operações noutros sectores.

Em 15 de Fevereiro de 1965 foi deslocado para Bafatá, onde comandou a actividade operacional das suas companhia e preparou a rendição do Batalhão de Caçadores nº 512.

Em 1 de Junho de 1965, rende o Batalhão de Caçadores nº 512, estacionado em Nova Lamego, e assume e responsabilidade do Sector L3, que inclui os subsectores de Pirada, BAJOCUNDA, Canquelifá, Buruntuma, Piche, Madina do Boé e Nova Lamego

Em 1 de Maio de 1966, rendido pelo Batalhão de Caçadores nº 1856, regressa a Bissau, embarcando de regresso à metrópole em 14 de Maio de 1966.

BATALHÃO DE CAÇADORES Nº 1856 (BCAÇ 1856, 1965/67)

Mobilizado do Regimento de Infantaria nº 1, na Amadora, desembarcou em Bissau em 6 de Agosto de 1965, ficando aquartelado em Brá (Bissau), às ordens do Comando – Chefe, orientado para a zona Leste, sendo as suas subunidades atribuídas de reforça a outros batalhões para diversas operações.

Em 2 de Março de 1966 o comando instalou-se em Nova Lamego, enquanto a Companhia de Comando e Serviços era instalada em Piche até 23 de Abril de 1966.

A 1 de Maio de 1966 e substituindo o Batalhão de Cavalaria nº 705, assumiu a responsabilidade do Sector L3, que englobava os subsectores de BAJOCUNDA, Canquelifá, Piche, Buruntuma, Madina do Boé e Nova Lamego.

Rendido pelo Batalhão de Cavalaria nº 1915, tendo embarcado para a metrópole em 15 de Abril de 1967.

BATALHÃO DE CAVALARIA Nº 1915 (BCAV 1915, 1967/69)

Mobilizado no Regimento de Cavalaria nº 3, em Estremoz, desembarcou em Bissau em 14 de Abril de 1967, não dispondo de companhia operacionais no seu quadro orgânico.

Em 15 de Abril de 1967 rende o Batalhão de Caçadores nº 1856, assumindo o Sector L#, sedeado em Nova Lamego, ao qual pertenciam os subsectores de BAJOCUNDA, Canquelifá, Buruntuma, Piche, Madina do Boé e Nova Lamego.

Em 1 de Julho de 1967 o subsector de Piche foi integrado no Sector L3, tendo sido retirado ao Sector do Batalhão de Caçadores nº 1877.

Foi rendido pelo Batalhão de Caçadores nº 1933 e transferido para o Sector O1, com sede em Bula. Em 18 de Fevereiro de 1969 foi rendido pelo Batalhão de Caçadores nº 2861 e regressou à metrópole em 03 de Março de 1969.

BATALHÃO DE CAÇADORES Nº 1933 (BCAÇ 1933, 1967/

Mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, desembarcou em Bissau em 02 de Outubro de 1967. Foi colocado no Sector L3 em sobreposição com o Batalhão de Cavalaria nº 1915, assumindo a responsabilidade deste sector em 11 de Outubro de 1967, que abrangia os subsectores de BAJOCUNDA, Buruntuma, Canquelifá, Piche, Pirada, Madina do Boé e Nova Lamego. Neste sector, de 23 de Outubro a 4 de Dezembro de 1967, foi criado o subsector temporário de Canjadude.

Foi rendido na missão que desenvolvia pelo Batalhão de Caçadores nº 2835, em 21 de Fevereiro de 1968, recolhendo a Bissau a guardar colocação. Em 02 de Abril de 1968, rende o Batalhão de Caçadores nº 1894 no Sector O1-B, designado por Sector 06 a partir de 04 de Outubro de 1968, até 1 de Agosto de 1969, data em que é rendido pelo Batalhão de Cavalaria nº 2876.

Regressou à metrópole em 20 de Agosto de 1969.

BATALHÃO DE CAÇADORES Nº 2835 (BCAÇ 2835, 1968/70)

Mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, desembarcou em Bissau em 4 de Janeiro de 1968, permanecendo em Bissau, tendo as suas companhias sido atribuídas em reforça de outros batalhões.

Em 21 de Fevereiro de 1968 assume a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego e subsectores em Canquelifá, Piche, Pirada, Buruntuma, BAJOCUNDA, Madina do Boé e Nova Lamego, rendendo o Batalhão de Caçadores nº 1933.

Em 14 de Julho de 1968 este sector foi aumentado com a criação dos subsectores de Canjadude e Cabuca.

Tendo sido criado o Sector L4, em 24 de Novembro de 1968, este batalhão foi reduzido dos subsectores de Piche, Canquelifá, Buruntuma e BAJOCUNDA.

Em 4 de Fevereiro de 1969, foi reduzido do subsector de Madina do Boé com a retirada das nossas forças no território a sul do Rio Corubal, nesta zona.

De 15 de Março a 11 de Outubro de 1969, este batalhão esteve integrado no Comando Operacional nº 5.

Foi rendido em Nova Lamego em 29 de Novembro de 1969 pelo Batalhão de Caçadores nº 2893, regressando à metrópole em 4 de Dezembro de 1969.

BATALHÃO DE ARTILHARIA Nº 2857 (BART 2857, 1969/71)

Mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 5, em Penafiel, desembarcou em Bissau em 15 de Novembro de 1969, assumindo a responsabilidade do Sector L4, com sede em Piche e criado em 24 de Novembro de 1968, em área retirada ao Sector L3 sedeado em Nova Lamego, abrangendo os subsectores de Piche, Buruntuma, Canquelifá e BAJOCUNDA. Este sector é integrado no Comando Operacional nº 5, entre 15 de Março e 11 de Outubro de 1969.

Em 27 de Junho de 1970, o subsector de BAJOCUNDA é integrado no Comando Operacional Temporário nº 1.

Este batalhão é rendido em 12 de Agosto de 1970 pelo Batalhão de Cavalaria nº 2922, regressando a Bissau em 27 de Agosto de 1970 e embarcando de regresso em 04 de Outubro de 1970.

COMANDO OPERACIONAL TEMPORÁRIO Nº 1

Foi criado em 27 de Junho de 1970, para fazer face à intensa actividade IN, levada a cabo na região de Pirada – BAJOCUNDA, a partir de 13 de Julho de 1970.

Assume a responsabilidade da zona com sede em BAJOCUNDA e integrando os subsectores de Pirada e Bajocunda, retirados ao Batalhão de Caçadores nº 2863 e Batalhão de Caçadores nº 2857, ficando na dependência do Comando de Agrupamento nº 2957.

Em 20 de Agosto de 1970 o sector foi aumentado com um novo subsector instalado em Paúnca por atribuição de uma nova subunidade.

Em 12 de Novembro de 1971 assume a responsabilidade desta zona de acção o Batalhão de Cavalaria nº 2834, passando a ser designado por Sector L6, tendo o Comando Operacional nº 1 sido extinto em 22 de Novembro de 1971.

BATALHÃO DE CAVALARIA Nº 3864 (BCAV 3864, 1971/73)

Mobilizado no Regimento de Cavalaria nº 3, em Estremoz, desembarcou em Bissau em 30 de Setembro de 1971, realizando a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional no Centro de Instrução Militar, em Cumeré, entre 04 e 21 de Outubro de 1971.

Em 12 de Novembro de 1971 assumiu a responsabilidade do sector atribuído ao Comando Operacional nº 1 abrangendo os subsectores de BAJOCUNDA, Paúnca e Pirada.

Com a extinção do Comando Operacional nº 1 em 22 de Novembro de 1971, a zona passa a designar-se por Sector L6, aumentado do subsector de Mareué, retirado ao Batalhão de Caçadores nº 2854, sendo este subsector extinto em 11 de Março de 1973 e o seu território integrado nos subsectores já existentes.

Em 25 de Novembro de 1973 foi rendido pelo Batalhão de Cavalaria nº 8323/73, recolhendo a Bissau e regressando à metrópole em 15 de Dezembro de 1973

BATALHÃO DE CAVALAEIA Nº 8323/73 (BCAV 8323/73, 1973/74)

Mobilizado no Regimento de Cavalaria nº 3, em Estremoz, desembarcou em Bissau em 29 de Setembro de 1973 e realizou a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional no Centro de Instrução Militar, em Bolama, de 05 de Outubro a 31 de Outubro de 1973.

Assume a responsabilidade do Sector L6, com sede em Pirada, em 25 de Novembro de 1973, abrangendo os subsectores de BAJOCUNDA, Paúnca e Pirada.

Coordenou e comandou o movimento de retracção do dispositivo as Nossas Tropas, a partir de 21 de Agosto de 1974, com a entrega ao PAIGC dos subsectores de Paunca, em 21 de Agosto de 1974; de BAJOCUNDA, em 22 de Agosto de 1974; e de Pirada em 27 de Agosto de 1974; iniciando o deslocamento para Bissau, regressando à metrópole em 10 de Setembro de 1974.

José da Silva Marcelino Martins
josesmmartins@sapo.pt

Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria
Companhia de Caçadores nº 5 – CTIGuiné
Nova Lamego e Canjadude - Jun1968 a Jun1970
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda

(**) Vd. poste de 28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

Guiné 63/74 - P3809: Notas de leitura (12): Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

(...) "O livro tem como título principal No Ocaso da Guerra do Ultramar, e como subtítulos Uma Derrota Pressentida,. Notícias de um Correspondente de Guerra, Combatente na Guiné e é da autoria de Fernando de Sousa Henriques.

"Obtive-o num encontro de camaradas que pertenceram à CCS do BCAV 2922, sediada em Piche, sendo esse Batalhão (e as suas Companhias colocadas em Buruntuma e Canquelifá) substituído pelo BCAÇ 3883, ao qual o autor do livro pertencia, mais propriamente integrando a CCAÇ 3545. Como o autor retrata os mesmos locais e até faz largas referências à fase de 'passagem de testemunho' entre esses dois Batalhões, foi natural ter aparecido nesse convívio.

"Da ficha técnica pode-se retirar que a impressão e acabamentos pertenceram a Coingra, Lda, mas não tem mais indicações a não ser os contactos com o autor que sabemos ser Fernando de Sousa Henriques, ter o telemóvel 919534059 e o endereço de mail
fernando.sousa.henriques@gmail.com , para o caso de algum camarada o quiser contactar.

"O autor foi Alferes Miliciano de Operações Especiais e encontrou-se na Zona Leste no período de 1972-74 sendo que foi testemunha directa do final do conflito pois o regresso só ocorreu em Julho de 1974. É natural do concelho de Estarreja e encontra-se radicado na Ilha de S. Miguel (Açores) onde desenvolve a sua actividade profissional (na Administração Portuária do Porto de Ponta Delgada), colaborando activamente com a ADFA-Açores" (*).


1. Mensagem do Hélder Sousa, ex-Fur Mil de Transmissões TSF (Bissau e Piche, 1970/72)(*):

Caros Editor e Co-Editores

Procurando responder ao apelo feito pelo Luís Graça no sentido de se obterem mais elementos sobre os acontecimentos do Destacamento de Copà(*), aqui envio alguma coisa sobre o que está no tal livro que em tempos comentei, da autoria de Fernando de Sousa Henriques, intitulado No Ocaso da Guerra do Ultramar.

O autor dedica algumas páginas a esse Destacamento (pág 330 a 334), aos seus últimos dias, Destacamento esse que pertencia à Companhia de Pirada e não à sua Companhia, de Canquelifá, mas estava naquela zona entre os limites de acção de uns e outros. Vejamos o que ele conta. Trata-se sem dúvida de relato muito curioso, no mínimo, e que certamente trará mais algumas interrogações, mas está lá no livro!

Copà - Localização geográfica nas coordenadas: 12º 30' Latitude Norte; 13º 55' Longitude Oeste

"A partir da terceira semana de Janeiro de 1974, o IN começou a flagelar, igualmente, um Destacamento que se localizava em Copà, aproximadamente a Noroeste (NW) do nosso aquartelamento, sujeitando-o a fortes bombardeamentos. Esse Destacamento pertencia à Companhia sediada em Pirada, aquele e esta localizadas próximo da fronteira com o Senegal e, respectivamente, nas imediações dos marcos fronteiriços 63 e 68. Devido à sua proximidade do nsso aquartelamento, consideravamo-lo como se de um nosso 'enteado' se tratasse, já que filho não podia ser atendendo à sua cadeia de comando.

"Se com os obuses 14 podíamos e fazíamos o batimento da zona em redor de todo o destacamento de Copà, com os obuses 10,5 só conseguíamos atingir as imediações daquele Destacamento e apenas do lado que ficava mais próximo de nós.

"No dia 31 de Janeiro, como atrás se referiu, dois pelotões da nossa Companhia efectuaram um patrulhamento em direcção ao Marco 61, que envolvia o reconhecimento das imediações da Copà. Assim, seguimos até Cantire, onde inflectimos para Oré Maundé e Orèodé, duas Tabancas recentemente abandonadas, tendo as suas populações sido levadas pelo IN, como denunciavam os vestígios, bem visíoveis, dos roddos das viaturas utilizadas 'nessa limpeza' e que se dirigiam em direcção ao Senegal, detectados num patrulhamento efectuado dias antes. Dali fomos até às imediações de Copà, aproximando-nos daquele aquartelamento por Leste. Voltou a detectar-se, também ali, a existência de múltiplos rodados de diversas viaturas pesadas, bem como o estabelecimento de pequenas trincheiras e, para espanto geral, o abandono de inúmeros cunhetes vazios. Ficámos estupefactos perante tais imagens, pois não contávamos com aquele 'estendal todo' no meio da mata. O IN estivera ali em força, estabelecendo os seus morteiros (82 e 120) a Noroeste daquele e a uma distância de uns 3 km do mesmo, sem ter a mínima preocupação de eliminar vestígios da sua presença no local. Após termos procedido a um reconhecimento daquela área onde o IN estivera instalado, precisamente fora do alcance dos obuses 10,5, rumámos em direcção a Canquelifá, já que não estava previsto qualquer contacto com o pessoal daquele aquartelamento.

"A partir do início de Fevereiro, esse destacamento passou a estar sujeito a fogo de morteiro de 120 mm, com intensidade variável, mas algumas das vezes até inusitada. Através das comunicações via rádio comunicávamos com aquela força para inferirmos da sua situação. O Furriel, comandante daquele Destacamento, e o próprio responsável pelas transmissões, de início ainda gracejavam, referindo-se aos ataques como se de jogos de futebol se tratassem e dizendo que só levavam golos, sem conseguirem marcar nenhum. Não tinham a possibilidade de levantarem a cabeça, quanto mais ripostarem e, ainda por cima, com o quê? Nós, com os nossos obuses 10,5, de má memória, lá íamos, de vez em quando, tentar a nossa sorte nas 'barbas' daquele aquartelamento, mais próximo do nosso, sabendo, de antemão, que só o barulho dos rebentamentos das granadas é que poderia incomodar o IN.

"O IN, como se verá a seguir, aproveitava-se dessa circunstância e desferia sossegadamente e nas calmas os seus ataques. Nós ouvíamos, por vezes, as suas transmissões onde começou a aparecer, cada vez com maior frequência, um linguarejar em espanhol, sinal de que os internacionalistas cubanos também por ali andavam. Normalmente durante a noite, ouvíamos o roncar de viaturas que deviam proceder ao reabastecimento das diferentes posições no terreno ou, então, à mudança das mesmas com transporte de pessoas, armas e munições.

"Esta situação trazia-me preocupado, pois se viessem ao assalto ao nosso Aquartelamento a nossa posição seria débil, no caso de utilizarem viaturas blindadas, de que se ouvia falar, uma vez que só dispunhamos de umas três ou quatro bazucas, usadas, nos patrulhamentos, e sem nenhum pessoal treinado para a luta anti-carro. Os RPG-2 e RPG-7, usados pelo IN, revelavam-se de manejo mais fácil e eficaz.

"Retomando o assunto: Copà passou a ser 'abonado' quase diariamente, com as flagelações a ocorrerem a horas sempre diversas e com durações igualmente variáveis.

"Lá para a segunda quinzena de Fevereiro [***], depois de uns três dias seguidos de assédio forte a Copà e aí a meio de uma tarde, que nunca esqueceremos, foram aparecendo aos poucos e em pequenos grupos, ou isoladamente, os elementos provindos daquele Destacamento. O pessoal vinha todo sujo, camuflado, se existia, em desalinho, arma às costas ou ao ombro, desorientado e de olhar perdido. Enfim, uma lástima.

"Aqui foi uma das outras vezes em que recordei a tal frase muito usada e divulgada, mesmo em cartazes, nos meios militares, que assentava como uma luva perante o cenário que se me apresentava. A frase, já anteriormente citada, rezava assim: 'O Exército é o Espelho da Nação'.

"Mas prosseguindo. Tinham fugido, praticamente aos pares, do Inferno em que Copà se transformara. Primeiro demos-lhes de beber e de comer e depois procurámos saber o que tinha acontecido, embora, antecipadamente, já soubessemos a resposta. Lá fomos sabendo pormenores à medida que foram acalmando. Como todos sabíamos estavam a ser sujeitos a flagelações cerradas, dia após dia, que lhes foi destruindo o aquartelamento e a moral. Não conseguindo aguentar mais, fugiram naquela tarde, depois de terem passado palavra uns aos outros, dirigindo-se desorientados para o nosso aquartelamento que era o que lhes ficava mais próximo. Ainda hoje estou para perceber como é que não foram interceptados pelo IN. Sem o saberem, deixaram para trás o Furriel, o fulano das transmissões e não sei se mais alguém. Aquilo era deserção. Confrontados com a idéia de regresso, diziam que preferiam ser mortos.

"Entretanto, recebíamos uma mensagem, de que não posso precisar a origem, adiantando-nos que, na manhã do dia seguinte, ir-se-ia proceder à desactivação daquele Destacamento, sendo dali retirada a sua guarnição, sendo que em tal operação estariam envolvidas as unidades de pára-quedistas. Foi um fim de dia agitado. O Capitão Cristo a confirmar essa Operação de resgate e a reunir-se com alguns dos nossos Milícias no sentido de se arranjar uns dois ou três elementos, entre População e Milícias, que conhecessem bem aquela parte da região, para servirem de guias e levarem de volta aqueles elementos transviados que nos tinham ali caído inusitadamente. Paralelamente, os Alferes e Furriéis falavam com os mesmos no sentido de os convencer a regressarem à procedência, em face das novas notícias. Duas tarefas que não se revelaram tão fáceis como poderia parecer. Foi tudo muito estudado e planeado para se ter êxito no que se pretendia: enfiar no Destacamento sem serem interceptados pelo IN e fazer de conta que os mesmos nem dali tinham saído. Houve certa resistência dos mesmos em regressarem, mas ao cabo de umas horas convenceram-se de que aquela, embora arriscada, operação era o melhor para eles, pois não passavam ali de uns 'miseráveis desertores'.


"Um dos factores de maior peso na mudança de atitude daqueles homens foi o caso de terem abandonado o Furriel e mais um ou dois dos seus camaradas. Esse facto que, inicialmente, desconheciam era o que mais os constrangia, sendo por isso aquele que foi mais vezes utilizado, a par do relativo à desactivação do seu aquartelamento, daí a umas quantas horas. Assim, por volta das 03H30, lá seguiu o grupo de militares com os seus guias. O Capitão não dormiu bem nessa noite, tal como eu. Acho que todos suspirámos de alívio quando os guias regressaram a são e salvo com a 'encomenda entregue', o mesmo voltando a acontecer logo que se teve conhecimento de que a Operação de evacuação de Copà se tinha realizado com êxito.

"Sempre me surpreendeu o IN não ter interceptado os fugitivos, bem como não ter ido ao assalto final do Destacamento. Estava a actuar nas calmas, para além de talvez ignorar o que nele se estava a passar. Sabia que a sua queda era inevitável e uma questão de dias, não precisando de expor os seus homens. Se tivessem ido ao assalto após todas as flagelações efectuadas, acho que apanhariam, praticamente à mão, os nossos Militares, totalmente debilitados quer física, quer psicologicamente que dali só tinham uma saída: a morte.

"Para o Furriel e os seus dois ou três acompanhantes, que junto dele sempre se mantiveram, aqui fica exarado um voto de louvor.

"Mais sós ficámos, já que o nosso 'enteado' nos tinha abandonado, deixando mais uma parcela de território para nos 'estendermos', em comunhão com o IN.

"E assim reza a História sobre o final de um Destacamento em terras-do-fim-do-mundo: O Destacamento de Copà. Muito resistiu, embora passivamente, por não ter a mínima chance de ripostar."

_______

Nota de H.S.:

O Capitão Cristo referido no texto acima era o Cap Mil Fernando Peixinho de Cristo, Comandante da Companhia, CCAÇ 3545, colocada em Canquelifá e pertencente ao BCAÇ 3883 e à qual pertenceu o autor do texto inserto no livro também acima identificado, o então Alf Mil Op Esp Fernando de Sousa Henriques.
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)
Sobre o autor e o livro, vd. também o artigo, publicado no Diário dos Açores, 9/11/2007 > "No Ocaso da Guerra do Ultramar" relata uma vivência militar na Guiné, por Vera Borges

(...) "Em declarações ao Diário dos Açores, Fernando de Sousa Henriques qualifica o seu trabalho como sendo um livro 'de factos, de vivências, sentimentos e simbolismo, de grande interesse histórico'.
(...) "Repleto de ilustrações, o título do livro No Ocaso da Guerra do Ultramar, remete-nos para um significado: 'os últimos dias da Guerra do Ultramar' (...).
"O livro procura retratar 'como se vivia e se passava na Zona Leste da Guiné, com fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conacri, entre 1972-74, num período em que o IN (Inimigo) incrementava aí a sua actividade, procurando levar a cabo a denominada Limpeza do Leste que, a concretizar-se, aumentaria consideravelmente as chamadas Zonas Libertas, permitindo-lhe maior notoriedade e projecção a nível Internacional e um eventual assento na ONU', ressalva o autor.
"Por outro lado, Fernando de Sousa Henriques pretende transmitir ao leitor o período de 'sufoco vivido pelas nossas tropas (NT), perante o cada vez maior poder ofensivo que o IN continuadamente vinha a apresentar, contando mesmo com elementos internacionalistas a integrarem já as suas fileiras'.
(...) "Esta é a segunda obra publicada de Fernando de Sousa Henriques, a primeira tem como título: Um Icebergue Chamado 25 de Abril. 'A Revolução dos Cravos' foi vivida à distância pelo autor, porque nesta altura se encontrava no Ultramar, tendo este acontecimento histórico sido decisivo para o término da guerra colonial.
"Fernando de Sousa Henriques formou-se, no Porto, em Química, e, posteriormente, em Electrotecnia. Em São Miguel seguiu um percurso profissional muito diferenciado, tendo percorrido áreas como as do Ensino Técnico, desenvolvido trabalhos diversos, em especial a nível de Projecto e Fiscalização, no âmbito da sua Formação Profissional, com relevância para a Engenharia Electrotécnica, passando por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os CTT. Em 1989 assumiu o cargo de Engenheiro-adjunto da Junta Autónoma do Porto de Ponta Delgada".

(**) Vd. postes de:

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues
e
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda

(***) Deve ser primeira quinzena de Fevereiro de 1974, já que oficialmente o destacamento terá sido abandonado a 14/2/74.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3808: Estórias cabralianas (44): O amoroso bando das quatro não deixou só saudades... (Jorge Cabral)

1. Mensagem do Jorge Cabral:

Caros Amigos, hesitei muito em mandar mais uma estória. Ainda por cima sobre esquentamentos... Mas que raio de ex-combatente sou eu, que não falo da guerra? Pergunto-me, às vezes, se lá estive? Parece que sim. Um ano em Fá, outro em Missirá (acreditem, o mesmo do Beja Santos...), doze dias em Bambadinca, e dezoito na Ponte do Rio Undunduma. Conheci muito pouco e sempre de passagem. Enxalé, Xime, Mansambo e Xitole, de partida para operações. De Bafatá, o Teófilo e as Libanesas, mais umas damas simpáticas que trabalhavam na horizontal... à entrada da cidade. Não transitei por Bolama. Nem tive I.A.O. De rendição individual passei em quinze dias dos cafés da Av. de Roma para a Ponte do Rio Undunduma...

Confesso que nunca percebi muito da guerra... Fui apenas um simples Alferes de Mato, que comandou Destacamentos e alinhou em todas as operações para as quais o Pel Caç Nat 63 foi escalado. Mas se não percebi então, hoje ainda percebo menos... Estou porém agora a tentar aprender no Blogue!

Abraço Grande. Jorge Cabral


2. Estórias cabralianas (44) > As Trombas do Lopes
por Jorge Cabral


O Amoroso Bando das Quatro deixou-nos muitas saudades. Mas que noite agradável ... até sonhámos com elas. Só que ainda nem três dias haviam passado, já recebíamos tratamento à fortíssima infecção que nos atingira o dito e adjacências. Graças à Penicilina, o caso seria em breve esquecido, pois afinal tinham sido apenas ossos do ofício, os quais segundo alguns até mereceram a pena... Porém, e estranhamente, os sintomas começaram a surgir nos africanos, soldados e milícias, os quais não tinham usufruído da benesse.

Só então o Alfero ficou preocupado. Ora se nos mandam agora numa operação!
Que vergonha! Avançaremos de pernas abertas como se fossemos da Cavalaria no tempo dos cavalos?

Mas como é que a moléstia teria chegado aos Africanos? Mesmo sem poder contar com o investigador Nanque que continuava preso em Bambadinca, o Alfero acabou por descobrir. Reconstituída a noite do Amor, constatou que as damas se tinham ausentado durante meia hora para comer. Fora, então.

E quem? Óbvio suspeito, Preto Turbado, soldado Bijagó, de quem se dizia, que às vezes aliviava os maridos fulas do débito conjugal. Chamado, confessou. Naquela noite oferecera às visitantes a bianda, e à sobremesa... acontecera. Depois contagiara algumas das mulheres dos militares, as quais por sua vez, contaminaram os fidelíssimos maridos...

O assunto era grave. Que fazer perante aquela verdadeira pandemia? Como tratar as mulheres e ao mesmo tempo dissipar as dúvidas sobre o seu comportamento sexual?
Naquele tempo e para aquele Alfero, tudo era possível. Resolveu reunir todos os africanos, soldados, milícias e respectivas mulheres, proibindo os brancos de assistirem, com uma única excepção – o enfermeiro Alpiarça.

E a todos, pregou o mais absurdo discurso da sua vida. Ainda hoje se lembra dos olhos esbugalhados do Alpiarça... Falou de gonococos trazidos pelo vento, das infecções do útero e das trompas de Falópio... Tratamento imediato, frisou, e nada de mezinhas. Claro que perceberam muito pouco, mas ficou com a certeza que no futuro se protegeriam do vento Blenorrágico...

Na semana seguinte, encontrava-se no bar de oficiais em Bambadinca. Conversava e bebia o seu quarto uísque, quando o foram chamar para ir ao Posto de Socorros. Lá foi. Médico, Furriel e Cabo rodeavam um casal de Missirá, o Milícia Suma Jau e a mulher. Não os percebiam. Eles queixavam-se das... “Trombas do Lopes”.

O Alfero ouviu e muito sério informou:
- É fula, quer dizer, esquentamento.

Parece que o Furriel apontou no seu caderno de sinónimos...

Jorge Cabral

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Notas de vb:

1. Jorge Cabral foi, como Alferes Mil., comandante do Pel Caç Nat 63 em Fá Mandinga e Missirá, Bambadinca, entre 1969/71. É actualmente especialista em direito criminal.

2. Último artigo da série em

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3572: Estórias cabralianas (43): O super-periquito e as vacas sagradas (Jorge Cabral)


Vd. também o poste de 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1696: Estórias cabralianas (21): O Amoroso Bando das Quatro em Missirá (Jorge Cabral)

Nos Destacamentos em que vivi, todos eram bem recebidos, à boa maneira da gente da Guiné, cuja cativante hospitalidade foi muitas vezes confundida com subserviência ou portuguesismo. Djilas, batoteiros profissionais, artesãos, doentes, feiticeiros, alcoviteiros, parentes dos soldados, visitavam o aquartelamento e às vezes ali permaneciam, fazendo negócios, combinando casamentos, tratando-se ou tratando, ou simplesmente descansando. Desconfio mesmo que alguns guerrilheiros terão passado férias em Missirá (...)