Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamgo > CCS/BART 6523 (1973/74) > O fur mil op esp José Saúde e a "menina do Gabu"... que não chegou a conhecer o pai..- Terá morrido aos 12 anos, segundo informação da mãe (foto abaixo).
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamgo > CCS/BART 6523 (1973/74) > A mãe da "menina do Gabu"
Fotos (e legendas): © José Saúde (2011). Todos os direitos reservados.
(...) Era linda! Por ironia do destino não consigo lembrar-me do seu nome. Sei, e afirmava o povo com certezas absolutas, que era filha de um camarada, furriel miliciano, que anteriormente esteve em Nova Lamego. Era uma criança dócil. Meiga. Recordo que a sua mãe era uma negra, muito negra, com um rosto lindo e um corpo divinal. Conheci-a e verguei-me perante a sua sensibilidade feminina. Da menina, agora feita senhora, nunca mais soube.
Os seus cabelos eram loiros. Maravilhosos. De cor morena, e de olhos negros, a criança, ainda de tenra idade, era de facto graciosa. Simpática, e de sorriso aberto, a menina espalhava simpatia nos braços de um qualquer soldado… desconhecido. Perdi algum tempo a deliciar-me com a sua meiguice. Dei-lhe o carinho dos meus braços e o seu sorriso tenro transmitiu-me um infinito afecto. Hoje, lamento a ausência do seu nome. Ficou retida na minha memória a sua pequena fisionomia. A sua imagem dócil deixou-me saudades. A menina foi, afinal, mais um dos “filhos do vento” que marcaram os conflitos em África.
(...) Do pai nada se soube. Partiu. A mãe, uma cidadã comum de uma tabanca, conviveu de perto com uma menina nada parecida com outros meninos com os quais partilhava brincadeiras de crianças. E assim terá crescido. Com a minha saída de Nova Lamego perdi-lhe o rasto. Não sei qual terá sido o seu futuro. Será, hoje, uma mulher ilustre na Guiné? Terá procurado futuro num país distante? Ter-se-á encontrado com o seu pai? Será que ele a reconheceu como filha? Será que sua mãe, outrora esbelta e linda, fez dela uma mulher digna no seio do seu clã? Será que estamos agora na presença de uma cidadã guineense com nome internacional? Enfim, um rol de interrogações que me conduz à decência de procurar no infinito do horizonte alvíssaras da sua presença. Fica o pedido! (...) (*)
1. Festival Rotas & Rituais, 2015 > Filhos da Guerra | Conferência
Lisboa | Cinema São Jorge
6ª feira, 22 de maio de 2015 | 19h30
Sala Montepio
Filhos da Guerra
Filhos da Guerra
Sinopse > Entre 1961 e 1975, cerca de um milhão de homens portugueses foram enviados para três frentes de batalha, na tentativa de manter um moribundo império colonial. Há uma geração de filhos que cresceu com histórias desta guerra, umas contadas, outras mais ou menos escondidas. Com o passar dos anos, os álbuns de fotografia foram sendo arrumados nas arrecadações de muitas casas portuguesas.
O que transmitiram estes pais sobre as suas experiências de guerra?
O que se pode contar a um filho? Terão alguns destes homens contado aos seus filhos portugueses que têm irmãos africanos que nunca conheceram?
Nos sítios onde houve guerra, alguns destes ex-militares fizeram filhos a mulheres africanas. Na altura, havia quem lhes chamasse portugueses suaves, hoje, filhos do vento. São homens e mulheres, que eram crianças e que hoje são adultos, e que continuam a perguntar “quem é o meu pai tuga?”.
Catarina Gomes
O que transmitiram estes pais sobre as suas experiências de guerra?
O que se pode contar a um filho? Terão alguns destes homens contado aos seus filhos portugueses que têm irmãos africanos que nunca conheceram?
Nos sítios onde houve guerra, alguns destes ex-militares fizeram filhos a mulheres africanas. Na altura, havia quem lhes chamasse portugueses suaves, hoje, filhos do vento. São homens e mulheres, que eram crianças e que hoje são adultos, e que continuam a perguntar “quem é o meu pai tuga?”.
Catarina Gomes
FILHOS DE CÁ E FILHOS DE LÁ | CATARINA GOMES
Jornalista do Público há 17 anos e autora do livro Pai, tiveste medo? (edições Matéria-Prima) que reúne doze histórias sobre a guerra colonial vista por filhos de ex-combatentes, sendo também ela filha de um ex-combatente. Do livro nasceu a reportagem Filhos do Vento. Em 2015, a jornalista recebeu o Prémio AMI – Jornalismo Contra a Indiferença com duas reportagens, uma sobre o desaparecimento de um pai que tinha Alzheimer (Perdeu-se o pai de José Carlos) e outra sobre histórias de filhos de doentes com lepra separados dos pais à nascença (Infâncias de Vitrine).
OS NETOS QUE SALAZAR NÃO TEVE ! MARGARIDA CALAFATE RIBEIRO
Doutorada em Estudos Portugueses pelo King’s College de Londres, é investigadora-coordenadora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e responsável pela Cátedra Eduardo Lourenço da Universidade de Bolonha e apoio do Instituto Camões. Das suas publicações destacam-se os livros África no feminino: as mulheres portuguesas e a Guerra Colonial, Uma história de regressos: império, Guerra Colonial e pós-colonialismo e ainda, em conjunto com Roberto Vecchi, Antologia da memória poética da guerra colonial. Entre 2007 e 2011, coordenou o projecto Os filhos da guerra colonial: pós-memória e representações.
QUE GUERRA SE CONTA AOS FILHOS? | LUÍS GRAÇA
Sociólogo de formação e doutorado em saúde pública pela Universidade Nova de Lisboa, é investigador e professor universitário, além de director da Revista Portuguesa de Saúde Pública´(desde 2007). Tem uma página pessoal na internet sobre saúde e trabalho desde 1999, e desenvolve o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, desde 2004, um caso raro de partilha de memórias e afetos entre antigos combatentes da guerra colonial, composto por cerca de 700 membros.
FILHOS DO VENTO – DIREITO AO CONHECIMENTO DAS ORIGENS GENÉTICAS? | RAFAEL VALE E REIS
Assistente convidado da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Direito Biomédico da Faculdade de Direito, da Universidade de Coimbra. Integra a equipa do Observatório Permanente para a Adopção no âmbito do Centro de Direito da Família da Faculdade de Direito de Coimbra. É autor de O Direito ao Conhecimento das Origens Genéticas, publicado em livro pela Coimbra Editora em 2008.
Convite extensivo a todos os amigos e camaradas da Guiné (**)
2. Perguntas ao noss editor Luís Graça
A Catarina Gomes, jornalista do Público, que vai moderar a conferência, e que me comvidou para participar, mandou-me a seguinte mensagem ontem:
Caro professor,
Aqui lhe deixo algumas das perguntas a que gostava que tentasse responder na sua intervenção, que deverá ter 10 a um máximo de 15 minutos. O nosso painel [, Filhos da Guerra,] começa às 19h30, a exposição dos Filhos do Vento inaugura às 18h00.
- Que guerra se conta aos filhos?
- Existe o direito ao silêncio?
- Será que alguns destes pais contaram aos seus filhos que deixaram ou poderão lá ter deixado filhos?
- Que relações eram estas entre ex-combatentes e mulheres locais durante a guerra?
- Têm esses filhos direitos a procurar os seus pais?
- Têm estes pais direito a não ser encontrados?
Até sexta.
Catarina Gomes
__________
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
19 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8798: Memórias de Gabú (José Saúde) (3): “Filhos do vento”: reflexos de uma guerra que deixou marcas no tempo
29 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 – P8837: Memórias de Gabú (José Saúde) (6): A notícia infeliz do desaparecimento da menina de Gabú
19 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8798: Memórias de Gabú (José Saúde) (3): “Filhos do vento”: reflexos de uma guerra que deixou marcas no tempo
29 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 – P8837: Memórias de Gabú (José Saúde) (6): A notícia infeliz do desaparecimento da menina de Gabú
Dizia-me o antigo camarada que ao ler os meus apontamentos (...) , decidiu contactar e elucidar-me sobre o infeliz desaparecimento daquela pequena flor que ousei trazer à estampa.(...)