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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27443: A nossa guerra em números (44): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte I




Capa de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992. 143 pp.)



Gráfico nº 1 > Distribuição por anos (1958-1974) das incorporações de cadetes da Reserva Naval 

Fonte: Adapt de  "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), pág.26



1. Com a morte do Manuel Lema Santos (MLS) (Barrancos, 1942 - Cascais, 2025) (*),  fomos redescobrir nas nossas estantes este livro, que ele havia oferecido ao blogue, em 21 dce abril de 2012, em Monte Real, por ocasião do VII Encontro da Tabanca Grande.

O MLS era do 8º CEORN (Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval) (data de alistamento: 9/10/65). Sendo um "filho da Escola", sempre manifestou um especial carinho pela Reserva Naval e criou inclusivamente um blogue, com esse nome, "Reserva Naval". 

https://reservanaval.blogspot.com/ 

Também fez parte, se não erro, dos corpos sociais da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

A Reserva Naval foi criada ou reformulada pelo Decreto-Lei nº  41399, de 27 de novembro de 1957. (Neste diploma foram definidos os diferentes quadros das reservas da Marinha, designadamente a: 
  • RA - Reserva da Armada, 
  • RN - Reserva Naval, 
  • RM -  Reserva Marítima; e 
  • RL - Reserva Legionária.)

No que respeita à RN, era estabelecido que os indivíduos a ela destinados seriam alistados provisoriamente, na idade militar, em contingentes a solicitar ao Ministério do Exército e fixados anualmente pelo Ministério da Marinha para as diferentes especialidades.

Esses contingentes eram constituídos por indivíduos que frequentassem ou tivessem frequentado as seguintes escolas (ou cursos):

  • Faculdade de Ciências;
  • Faculdade de Engenharia e Instituto Superior Técnico /cursos de Engenharia Civil,  Mecânica, Eletrónica, Química Industrial e Máquinas);
  • Faculdades de Medicina;
  • Escolas de Farmácia;
  • Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (cursos de  Ciências Económicas e Financeiras, Economia e Finanças);
  • Faculdade de Economia;
  • Instituto Superior de Agronomia.

Era dada preferência aos "voluntários e oferecidos" (sic) e  aos que possuíssem conhecimentos náuticos (titulares de carta de Patrão de Costa ou de Patrão de Alto Mar),

Finalmente, o referido Decreto-Lei remetia para o Ministro da Marinha a responsabilidade pela expedição das instruções necessárias à sua execução. Era então ministro da Marinha (havia um ministério da Marinha em 1957! ) o futuro presidente da República (e último do Estado Novo), o vice-almirante Américo Tomás (1894-1987).

Em 27 de Maio de 1958, através da Portaria no. 16.714 foram estabelecidas as condições de recrutamento e de prestação de serviço dos reservistas da Reserva Naval.

Esta Portaria, sucessivamente adaptada às realidades e necessidades da Marinha, constitui o instrumento regulador mais relevante da atividade da Reserva Naval. 

O livro em apreço  faz um breve historial da Reserva Naval e passa em revista os 25 CEORN / CFORN (Cursos de Especiais, até ao 8º, e depois Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval, do 9º ao 25º).

Os CFORN foram interrompidos em 1975 e retomados em 1976. 

 Neste poste queremos destacar  que entre 1958 e 1974 foram realizados 25 CEORN/ CFORN e formaram-se 1712 oficiais RN, com destaque para;
  • a classe de Marinha (M) (n=612) (35,7%), 
  • seguida da classe Fuzileiro (FZ) (n=465) (27,2%), 
  • Técnicos Especiais (TE) (n=246) (14,4%) 
  • e Administração Naval (AN) (n=243) (14,2%);
  • estas quatro classes  representavam mais de 90 % do total (Quadro nº 1).

 


Quadro nº 1 - CEORN / CFORN, data de alistamento, total de cadetes. e quantitativos por classes, de 1958 a 1974

Legenda: M=Marinha; MN = Médicos Navais; EMQ = Engenheiros Maquinistas Navais; AN= Administração Naval; FZ = Fuzileiros; ECN = Engenheiros Construtores Navais; TE = Técnicos Especialistas; FN = Farmacêuticos Navais.


Fonte: Adapt de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), pág.25.


O gráfico acima, nº 1, pode ter vária leituras: até 1966 (9º CFORN) (1966), a incorporação anual de cadetes da RN (n=459) representou apenas 26,3% do total. A partir de 1967 e até 1974  disparou (n=1262)( 73,7%)

Houve um aumento da oferta e da procura a partir de 1966:


(vd. Gráfico nº 1)

Fonte: Adapt de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992). pág.25.


(Cintinua)

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Notas do editor LG:

Guiné 61/74 - P27442: Fotos à procura de...uma legenda (196): Homenagem aos nossos camaradas da "Reserva Naval", em geral, e ao Manuel Lema Santos (Barrancos, 1942- Cascais, 2025), em particular


Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu >  Mensagem de Natal da LFG «Sagitário» P 1131 > "NRP Sagitário. 20-12-71. Feliz Natal" 

09 dezembro 2023


Fonte: Blogue Reserva Naval > 9 de ezembro de 2023 >  Guiné, 1971 - Mensagem de Natal da LFG «Sagitário» (I)

 
(...) Mesmo na Guiné e também no rio Cacheu onde, a guarnição da LFG «Sagitário», em 1971, em missão de patrulha e fiscalização na zona de Ganturé-Bigene, numa expressão primorosa de esperança, boa disposição e humor, encontrou numa pernada de tarrafo, reverencialmente inclinada para o efeito, a melhor estação dos CTT para afixar a universal mensagem.

Para que muitos iutros pudessem ter Natal!" (...)

Fontes:
Texto do autor do blogue, Manuel Lema Santos, com imagem de arquivo gentilmente cedida pelo então comandante da LFG «Sagitário», 1º  ten  Adelino Rodrigues da Costa, Foto reeditada por LG (2025) (*)




1. Caros leitores, amigos e camaradas: podem deixar aqui uma nota de apreço, homenagem e camaradagem aos antigos combatentes da "Res4reva Naval", em em geral, e ao nosso Manuel Lema Santos (Barrancos, 1954 - Cascais, 2025), em particular... (**)

Ele foi um dos  representantes da Marinha que integrou também, ao lado da malta do Exército e da Força Aérea, a pequena grande aventura, pelas terras, mares e ares da memória, do nosso blogue...  

Tem 64 referèncias no nosso blogue, e deixa-nos, em herança, o seu próprio blogue, "Reserva Naval", referència incontornável para quem quiser conhecer melhor o papel da marinha e dos nossos bravos marinheiros nos rios e mares da Guiné. Ele tinha a paixão (e o talento) da escrita. (***)



Sobre o nosso próprio blogue nunca é demais lembrar que já é uma peça de museu da Net, uma velharia:  já tem mais de 20 anos e não pode ter a veleidade de cumprir  outros tantos  20 anos...

 A geeração que fez a guerra colonial / guerra do ultramar está a despedir.se da Terra da Alegria.  Mais de um terço terá já morrido. Os outros dois terços vão  lutando, árdua e corajosamemnte, contra as mazelas da ususura física e mental da vida, as doenças do foro músculo-esquelético, e do sistema cardio-vascular, as neoplasias (próstata, pulmões, intestinos...), as doenças do foro neurológico e psiquiátrico  (Parkinson, Alzheimer, outras demências e condições, como a depressão, etc.)....Tudo maleitas "de que Dues Nos Livre, ámem!".


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Notas do editor LG:

(*) Esta icónica foto também vem reproduzida no livro "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992),  pág. 55, com a seguinte legenda: "Rio Cacheu, Guiné: a actividade de interceçãpo das 'camabanças', deproteçãos aos 'comboios' e de apoio às forças de fuzileiros, ainda permite alguma descontraçáo, designadamenmte na quadra natalícia".


Guiné 61/74 - P27441: Historiografia da presença portuguesa em África (504): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1949 (62) (Mário Beja Santos)

Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf
CMDT Pel Caç Nat 52

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Maio de 2025:

Queridos amigos,
O capitão de fragata Manuel Maria Sarmento Rodrigues já partiu para outros desígnios, está agora a construir-se a sua lenda, a sua memória indissolúvel. O encarregado do Governo propõe o seu nome para a ponte de Ensalmá, destinada a unir a ilha ao continente. Ponte que acabou num desastre ecológico, veio a independência e esqueceu-se a manutenção. O Boletim Oficial traz boas notícias, a produção de arroz é exuberante, a cidade está convertida num estaleiro. Na circunstância, aproveitei para fazer uma larga referência ao discurso de Sarmento Rodrigues no mesmo dia em que assistiu ao início da construção da ponte-cais de Bissau e em que também rejubilou com o início dos trabalhos da ponte de Ensalmá, hoje substituída por uma construção bastante sólida e que se espera que não tenha o triste fim que teve aquela construção em ferro que a incúria transformou em sucata.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné, inícios de 1949 (62)


Mário Beja Santos

1949 ainda guarda a sombra tutelar de Sarmento Rodrigues. O encarregado do Governo, até chegar o Governador Raimundo Serrão, será o Tenente-coronel Pedro Joaquim da Cunha e Menezes Pinto Cardoso, o Chefe de Gabinete é o 1.º Tenente António Augusto Peixoto Correia, que um dia será governador da Guiné e depois Ministro do Ultramar.

Antes de voltar a essa sombra tutelar que foi Sarmento Rodrigues, importa dizer que a produção de arroz se revelou excecional neste ano. Foi criada a povoação de Cantonez, na Circunscrição Civil de Catió, deu-se como justificação a necessidade de se exercer uma mais ativa e eficiente fiscalização sobre o comércio de arroz, era público e notório que a produção ia sendo drenada clandestinamente para território estrangeiro. Tomaram-se medidas em prol dos interesses económico das praças indígenas, definindo que estas quando em serviço público superiormente autorizado, ao deslocarem-se a mais de dez quilómetros da área do aquartelamento e desde que a deslocação demorasse 24 horas ou mais, seriam abonados de ajuda de custo diária de cinco escudos.

No Boletim Oficial n.º 18, de 2 de maio, consta o diploma legislativo 1:444:
“Interpretando o sentir da população da Guiné que com a maior grandiosidade e brilho tem homenageado o ex-governador desta colónia, Capitão de Fragata Manuel Maria Sarmento Rodrigues;
Indo ao encontro das intenções dos membros do Conselho de Governo;
Considerando a obra verdadeiramente notável que realizou durante o período do seu governo;
Considerando ainda o especial e persistente interesse que dedicou à velha aspiração da Guiné, a construção de uma ponte ligando a ilha de Bissau ao Continente, cujos trabalhos inaugurou oficialmente em 10 de julho de 1948;

Com a aprovação do Governo, o encarregado do Governo manda o seguinte: a Ponte de Ensalmá será designada Ponte Governador Sarmento Rodrigues, o que nos remete para um discurso do ex-governador no início oficial da construção da ponte-cais, em Bissau, igualmente em 10 de julho de 1948, é uma bela peça, não só de recorte literário, espelha o que o tinha trazido à Guiné naquela vertigem desenvolvimentista:
Nós por cá não somos muitos, não somos demais. Estamos absorvidos por um programa vasto que não nos deixa livres nem mãos nem meios. Precisamos de quem a nós se junte e nos ajude a levar por diante todas as obras, a remover todos os obstáculos.

A construção de uma ponte-cais, como esta de Bissau, levou-nos primeiro a solicitar a intervenção do Ministério, não só para a orientação técnica, como para a concessão do crédito que saía fora dos limites do orçamento ordinário. E acabou por trazer para a Guiné o concurso de uma empresa até estranha à Colónia, dispondo de meios financeiros, materiais e técnicos, apta a realizar esta e outras obras importantes.
Começamos hoje oficialmente os trabalhos de construção do maior benefício que ao comércio, e, portanto, à economia da Guiné poderia ser dado. Para se chegar a este dia de regozijo, foi preciso durante longos anos preparar os estudos, os projetos, e os meios. Nesta obscura campanha de tenacidade, tomaram parte principal o Governo da República e o Governo da Colónia, desde vários anos a esta parte. Os ministros Vieira Machado, Marcello Caetano e Teófilo Duarte e o Governador Vaz Monteiro. No Governo Central esteve sempre presente, a manter a continuidade e a assistir com a sua extraordinária competência e infatigável atenção para com a Guiné, o ilustre Subsecretário Sá Carneiro.

Coube-nos, apenas, a rara sorte de poder acompanhar a aceleração do projeto e a sua aprovação e de conseguir rapidamente os meios para a execução. Chegámos, porém, ao fim do processo. E digo-o confiadamente, porque hoje nada falta, nem projeto, nem fórmulas, nem dotações, nem materiais… nem empresa capaz de levar até ao fim esta obra.
Não é esta obra original entre nós. Desde 1870 que o Governo pensava a sério na edificação de uma ponte-cais em Bissau, e algumas pontes de madeira serviram por vezes a empresas particulares. Mas só em 1889 o Estado começou solenemente a construção da primeira ponte para atracação de navios, em parte de alvenaria e em parte de madeira, a que foi dado o nome de Correia e Lança, o governador de então.

E aqui bem perto estão as ruínas de realização semelhante à atual, levada a cabo mercê da inteligência e capacidade do ilustre governador Carlos Pereira, a quem os destinos desta colónia estiveram tão bem empregues durante os três primeiros anos da República.
Aquela ponte, que foi criação sua, era uma perfeita obra de engenharia e excedeu a duração de garantia, apesar das brutalidades que posteriormente lhe foram feitas, fruto da ignorância – ia a dizer da esperteza – de quem mais tarde a utilizou para fins diferentes para que foi projetada. Todas as violências se fizeram. Em vez de apenas os encostar, amarraram-lhe os navios, que a faziam continuamente oscilar perante o esforço das correntes fortíssimas; como não havia cabeços, abriram-lhe buracos, por onde passavam os cabos;
e por último, para que, em vez das vagonetas previstas, pudessem no seu leito transitar os mais pesados camiões, tiraram-lhe o ligeiro empedrado e pavimentaram-na solidamente com betão!

Eis por que, na presença de tão bárbaro procedimento, eu não oculto as minhas dúvidas sobre o futuro desta nova obra, sobre o destino de tantas energias já gastas, de tantos sacrifícios que se fizeram e que ainda se hão de fazer para chegar com a empresa até ao fim.
Por isso eu pretendi que esta construção tivesse aquela característica que tanto me tem preocupado aqui na Guiné e que desejaria sempre imprimir em todas as obras: a duração indefinida; resistência capaz de sofrer todos os maus-tratos, de dispensar os menores cuidados.

O velho cais do Pidjiquiti, ao qualquer nos últimos anos pudemos acrescentar o seu troço mais importante, nem assim tem podido evitar as grandes aglomerações que ultimamente se têm verificado, mercê de uma extraordinária atividade que é um seguro índice do progresso e da vontade de trabalhar e construir que por toda a parte se observa.
Espero que antes de dois anos e meio possa o primeiro navio atracar à ponte, resolvendo de vez o problema de maior acuidade que à economia da Guiné se põe. Ficarão assim mais livres os navios, mais disponíveis as lanchas, mais seguras as mercadorias, mais favorecidos os passageiros. Não mais veremos o pouco edificante, embora pitoresco, espetáculo da balburdia das lanchas atulhadas, acotovelando-se no único desembarcadouro; das mercadorias sofrendo tratos nas cargas e descargas; dos navios ao largo esperando da sua vez de carregar!
E teremos engrandecido a cidade de Bissau, capital da mais encantadora e rica parcela do Ultramar português.”

Único número publicado, vê-se a sua ligação à Mocidade Portuguesa e fala-se muito no colégio-liceu de Bissau, terá funcionado junto do Museu e Centro de Estudos da Guiné Portuguesa
Outra ilustração do jornal Voz Académica
Uma referência a Amílcar Cabral, no jornal de 1953
A ponte-cais do Pidjiquiti, 1950, fotografia Foto Serra

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 12 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27413: Historiografia da presença portuguesa em África (503): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1948 (61) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27440: Parabéns a você (2435): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Reconhecimento e Informação da CCS/QG/CTIG (Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 16 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27432: Parabéns a você (2434): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1972/74) e TCoronel Art Ref José Francisco Robalo Borrego, ex-Fur Art do 9.º Pel Art (Bissau e Bajocunda, 1972/74)

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27439: (Ex)citações (441): Regressei ao Canadá em 11 de Março de 2011, depois de reconhecer que pouco poderia fazer em benefício dos outros (João Bonifácio, ex-Fur Mil SAM)

Créditos: nomadglobal.com

1. Comentário do nosso camarada João Bonifácio, Ex-Fur Mil do SAM da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70), deixado hoje no Poste Guiné 63/74 - P7506: Tabanca Grande (256): João Bonifácio de volta ao Canadá, desiludido com Portugal:

Estamos em Novembro de 2025 e ao tentar recordar o que importante existe em Portugal, eis que estou a ler a resposta do José Câmara, e como estou aqui tão perto, envio os meus melhores cumprimentos e saudações a todos os que andam e participam nesta Tabanca chefiada pelo Luís Graça. O Jose escreveu em 27 de Dezembro de 2010 e eu só hoje dei conta desta resposta.

Para os que acompanham o blogue, eu regressei ao Canadá em 11 de Março de 2011, depois de reconhecer que pouco poderia fazer para evitar que outros sofressem mais. É verdade que poderia esperar por uma melhor adaptação. Eu até tentei ajudar a Junta de freguesia da Sobreda. Eu aprendi a lidar com as políticas da Câmara de Almada. Eu até os informava onde poderiam ajudar a limpar certos locais, onde se viam vidros partidos que eram zonas onde as crianças brincavam. Eu não podia aceitar que uma viatura carregada de lixo de obras da construção civil, despejasse a carga na estrada criando constrangimentos no tráfego local. Eu até os avisava de possíveis rebentamentos dos sistemas de drenagem de água subterrâneos. Mas, as respostas demoraram demoravam muito tempo.

O amigo José veja só esta resposta dos serviços de regas das árvores que são vistas nas ruas das cidades. Uma vez o carro/tanque passou na rua, regou as árvores 1, 2 , 3 e 4 mas não regou a 5 e foi para a 6. Quando perguntei o que se passava, os cantoneiros apenas disseram que não podiam regar porque não lhes pertencia. Percebem isto?

Mas a outra anedota que encontrei foi nas Finanças da Costa da Caparica. Fui atendido por uma funcionária que me disse que não poderia requerer a isenção do IMI. No dia seguinte voltei e fui atendido por outra funcionária, curiosamente ao lado da anterior, e os papeis foram submetidos, sem problema e bem depressa o assunto foi resolvido, já que eu tinha direito a 8 anos de insenção. Portanto, quero pedir desculpa a todos os amigos que por aqui passam, porque desapareci em 2011.

Estou aqui para dizer a todos que já não tenho 65 e nem 66, mas estou a caminhar para uma aterragem calma na pista 81. Desde o meu regresso, Portugal já sofreu muitas transformações, e o Canadá também. Ambos os países melhoraram, mas o meu país é pequeno, pobre e corrupto. Ninguém consegue resolver os fogos e as cheias. A Justiça não existe. Antes eram agulhas infetadas, agora são facas no pescoço.

Tivemos o covid e eu alterei os meus planos, mas quero dizer que gosto de visitar o meu país, mas por pouco tempo, porque as famílias estão cada vez mais reduzidas. Antes de ir para outro lado, quero dizer ao amigo José que hoje já não há paraísos na Terra. Estou conformado. Tenho 4 meses de inverno e os resto ate e muito aceitável. O Canadá tem um clima próprio, mas não é mau pois temos conforto. O Verão até é quente. Em breve iremos ter fartura de neve e fica tudo branco. Mais tarde vem a maravilha da primavera e do verão.

Bem, tenham umas festas felizes, muita saúde e um ano NOVO com o melhor que houver.
Obrigado a todos. Estou de volta após a ausência de 2011 a 2025.

João Bonifácio, Ex-Fur Mil do SAM
CCAÇ 2402/BCAÇ 2851
Có, Mansabá e Olossato, 1968/1970

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Nota do editor

Último post da série de 16 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27430: (Ex)citações (440): Estar com o amok, passar-se dos carretos, perder as estribeiras, estar f*dido dos c*rnos, estar apanhado do clima ou cacimbado... serão expressões equivalentes?

Guiné 61/74 - P27438: (in)citações (281): Os deuses também erram (Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro)


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414, Catió (1963/64) e Cabo Verde (1964/65), com data de hoje 18 de Novembro de 2025:


OS DEUSES TAMBÉM ERRAM

Mexendo nos meus velhos papéis encontrei um artigo publicado no extinto Jornal Correio de Fafe, de 15 de Janeiro de 1993, da autoria de Rui Assis e Sousa. Curioso, dado a sua actualidade.

Refere-se este distinto advogado e escritor ao Brasil de então, parafraseando alguém que não cita: Aqui os ricos são mais ricos que os ricos dos países ricos, e os pobres são mais pobres que os pobres dos países pobres.

O título do artigo fez-me lembrar o filme que vi há já bastantes anos, "Os Deuses Devem Estar Loucos".

Ontem como hoje no mundo inteiro a desproporção entre ricos e pobres é deveras assustadora. Paralelamente essa desproporção, que tende a aumentar, está na avareza, na inveja, no ódio, na falta de humanismo, acrescida de guerras, de injustiças, de morte de inocentes e de mau carácter de quem governa.

Resumindo: Os deuses também erram? Não... Os deuses estão loucos.

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Nota do editor

Último post da série de 8 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27402: (in)citações (280): A mata (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Inf)

Guiné 61/74 - P27437: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXXI: Içar da bandeira

 





Foto nº 1, 1 A e 1B





Foto nº 2, 2A e 2B


Foto nº 3

Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > Içar da bandeira (fcotos 1  2) e granada de morteiro 60 (foto nº 3)

Fotos do álbum do Padre José Torres Neves, antigo capelão militar.


Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Alferes graduado capelão,  padre José Torres Neves,
CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (Foto à direita)

1. Mais um conjunto de fotos do padre Zé Neves sobre Mansoa, enviadas no passado dia 10 de outubro pelo nosso camarada e amigo Ernestino Caniço, que tem sido o guardião, solicito, zeloso, dedicado, entusiasta, do álbum fotográfico da Guiné, deste padre missionário da Consolata, José Torres Neves, natural de Meimoa, Penamacor. Os dois merecem, justamente, os nossos melhores elogios e saudações.

O Padre José Torres Neves, nosso grão-tabanqueiro, reformou-se recentemente de uma vida inteira, generosa, abnegada, dedicada às missões católicas, nomeadamente em África; tem já cerca de 4 dezenas de referências no nosso blogue.

Diz-nos agora o Ernestino Caniço, seu amigo de longa data, deste os tempos de Mansoa:

 "Após uma observação mais atenta concluí que o álbum tem cerca de 400 fotos e não 200 como inicialmente referi (desculpem-me a imprecisão da estimativa). Destas já foram postadas 237 (se a contagem foi precisa)."
 
As fotos trazem sumárias legendas (ou títulos). Sem data. E não vêm numeradas. As que publicamos hoje têm a ver com o quotidiano de um quartel como Mansoa, em que o dia começava com o içar da bandeira. Na cerimónia aqui retratrata, há uma guarda de honra de 8 militares  (3 dos quais do recrutamento local), mais 2 corneteiros.

Na última foto, dois militares observam um granada de morteiro (IN ?) que não rebentou, ficando cravada na terra.

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 23 de outubro de 2025  > Guiné 61/74 - P27346: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXX: o "choro" entre os balantas

Guiné 61/74 - P27436: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (114): a tábua corânica de Galugada Mandinga (subsetor de Contuboel)

 



Tábua escrita por alunos de uma escola corânica em Galugada Mandinga, no setor de Contuboel, região de Bafatá, Guiné-Bissau. Cortesia de Eduardo Costa Dias (*)


(...) Tirei hoje esta fotografia - uma tábua escrita por alunos de uma escola corânica em Galugada Mandinga, no dia da festa Eid-al-Adha que o Sissau Sissé (falecido em 1994) considerava o centro do ano muçulmano e no mês em que fez 30 anos que morreu.

Acometido de uma apendicite aguda em Contuboel foi trazido por um jipe do DEPA para o hospital Simão Mendes em Bissau. Morreu durante a operação… tendo precisado de oxigénio… O hospital não tinha, sendo mais preciso: não havia oxigénio porque tinha sido desviado e possivelmente, como na época acontecia bastante, vendido no Senegal ou na Gâmbia. (...)






Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 16 de dezembro de 2009 > O João Graça, médico e músico, posando ao lado do dignitário Braima Sissé. Por cima deste, a foto emodulrada de Fodé Irama Sissé, um importante letrado e membro da confraria quadriyya [islamismo sunita, seguido pela maior parte dos mandingas da Guiné; tem o seu centro de influência em Jabicunda, a sul de Contuboel; a outra confraria tidjanya, é seguida pela maior parte dos fulas].

O Braima Sissé foi apresentado ao João Graça como sendo um estudioso corânico, filho de uma importante personalidade da região, amigo dos portugueses na época colonial [presume-se que fosse o próprio Fodé Irama Sissé].

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Carta de Contuboel (156)  (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Contuboel, Jabicunda, Rio Geba, Rio Bissanque e Gulagada.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné ( 2025)


1. A publicação de uma tábua  corânica, pelo meu amigo e colega de curso Eduardo Costa Dias (*), membro de longa data da nossa Tabanca Grande, despertou-me curiosidade. Estas tabuinhas são do meu/nosso tempo,  passei por algumas tabancas (mandingas e fulas) , no setores de Contuboel e de Bambadinca, onde havia o ensino do Corão. E os miúdos, os "djubis", ao fim da tarde, soletravam versículos corânicos, inscritos a tinta preta nestas pequenas tábuas de madeira, semelhantes às tábuas dos 10 mandamentos. Nos meses frios (dezembro / janeiro), era à volta de uma fogueira. Uma das imagenns mais fortes que algunms de nós trouxeram da Guiné.

Os professores destas escolas ("dara" ou "madrassa")  chamam-se "marabus". E os alunos são os "talibés"

Que rezavam ou recitavam eles ? Com a ajuda da minha assistente de IA, a "Sabe-Tábua", consegui   uma tradução aproximada destes caracteres, em árabe... Já em tempos, por volta de 2008, andei às voltas com uma cópias destas tabuínhas. Tinha entáo um aluno meu, médico, argelino, que estava a frequentar o curso de medicina do trabalho na Escola Nacional de Saúde Pública. Por qualquer razão, de que já náo me lembro, "perdi" o tradutor de árabe (**)...

Eu sempre desconfiei  das competências, já não digo pedagógicas, mas linguísticas desses marabus de tabanca... Mas isso é outra questão, a discutir mais tarde. De qualquer modo, há  que distinguir:

  •  o Árabe Corânico (ou Clássico): é a forma de árabe utilizada no Alcorão (Corão) e nos textos islâmicos mais antigos; a  grande maioria dos marabus adquire a capacidade de ler o Alcorão em voz alta e de o memorizar (o que se chama recitação), e de escrever passagens corânicas, geralmente com o objetivo de produzir amuletos (escrita talismânica); a competência principal que lhe é exigida (e reconhecida) é a  leitura e recitação do texto sagrado;
  • o Árabe Moderno (Fusha): é a língua usada hoje em dia na comunicação, nos jornais, na televisão e na educação formal nos países árabes;
  • muitos marabus tradicionais não têm competência para falar o Árabe Moderno para conversas quotidianas, ou para ler/escrever fluentemente textos não-religiosos em Árabe Moderno, a menos que tenham frequentado universidades ou escolas religiosas nos países árabes (como Marrocos, Egito ou Arábia Saudita).
  
De qualquer modo, à força de serem reproduzidas, há nestas tabuímnhas erros sistemáticos que passam, de mão em mão, de ... O Beja Santos lembra-se de as ver à venda,  em 1968/70, em Finete, tabanca e destacamento a norte do Rio Geba, no subsetor de Bambadinca.


2. O  que diz a  IA / ChatGPT em português:

Interessante peça! Essa tábua é um exemplo típico de ensino corânico tradicional na Guiné-Bissau, especialmente entre comunidades Mandinga: os alunos escrevem versículos do Alcorão em tábuas de madeira (chamadas luh) para memorização e recitação.

No entanto, não consigo fornecer uma tradução exata sem uma leitura cuidadosa do texto árabe. O que posso dizer, observando a imagem, é que o texto parece ser um excerto corânico  provavelmente relacionado com o sacrifício e a  obediência, temas centrais na festa de Eid al-Adha, que comemora a disposição do profeta Abraão em sacrificar o filho em obediência a Deus.

É muito provável que os versículos sejam retirados da Surata As-Saffat (37:102–107) ou Al-Hajj (22:34–37), ambas frequentemente estudadas e copiadas nessa altura do ano, por abordarem o tema do sacrifício.

Mas posso tentar fazer uma transliteração e tradução aproximada. Aqui vai:

Antes de tudo, deixo claro que o texto da tábua é em árabe corânico (e não árabe moderno), e, como é comum nas escolas tradicionais da Guiné-Bissau, a caligrafia pode variar ligeiramente da norma. 

Pelo que consigo ler da imagem, o conteúdo corresponde, de facto, a versículos do Alcorão ligados à história de Abraão (Ibrahim) e do sacrifício, recitados durante o Eid al-Adha (Tabaski, na Guiné-Bissau, ou "festa do carneiro").

Segue uma tradução aproximada do conteúdo:  Texto e tradução livre:

"Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Quando (o filho) atingiu a idade em que podia trabalhar com ele,
(Abraão) disse: 'Ó meu filho, vejo em sonho que te sacrifico;
observa o que pensas disso.'
Disse (o filho): 'Ó meu pai, faz o que te foi ordenado;
encontrarás em mim, se Deus quiser, um dos pacientes.'
E quando ambos se submeteram e ele o deitou com o rosto para baixo,
chamámo-lo: 'Ó Abraão!
Já cumpriste a visão.'
Assim recompensamos os que praticam o bem.
Isso foi, na verdade, uma provação evidente."

 Estes versos são da Surata 37 — As-Saffat (Os que se colocam em fila), versículos 102 a 106.

Na tradição islâmica, recitar e copiar este trecho é um ato de devoção durante o Eid al-Adha, simbolizando fé, obediência e sacrifício.

A tábua que o professor Eduardo Costa Dias tem em casa e fotografou, representa, portanto, um testemunho da pedagogia religiosa mandinga e da espiritualidade local associada ao ciclo ritual islâmico, sobretudo em regiões como  Galugada Mandinga, que têm uma longa tradição corânica. 


3. O Gemini  IA / Google confirma o conteúdo destes versículos, 102 a 106. da Surata 35 - As-Saffat:

A Surata 37, As-Saffat (Os que se colocam em fila), nos versículos 102 a 106, narra o episódio do Profeta Abraão (Ibrahim) e o mandamento de sacrificar seu filho.

Aqui está o resumo do que dizem esses versículos (baseado em traduções do Alcorão):

(i) Versículo 102: "E quando (o filho) chegou à idade de labutar com ele, (o pai) disse: "Ó filho meu, sonhei que te oferecia em sacrifício; que opinas? Respondeu-lhe: Ó meu pai, faze o que te foi ordenado! Encontrar-me-ás, se Deus quiser, entre os perseverantes!"

Este versículo descreve o diálogo entre Abraão e seu filho (geralmente identificado como Ismael), onde Abraão revela a visão de seu sonho e o filho demonstra total submissão e paciência à ordem de Deus

(ii) Versículo 103: m ostra o momento da submissão total de pai e filho, prontos para cumprir o que Deus havia ordenado. "E quando ambos aceitaram o desígnio (de Deus) e (Abraão) preparava (seu filho) para o sacrifício."

(iii) Versículo 104: "Então o chamamos: Ó Abraão!"

Neste ponto, Deus intervém no sacrifício.

(iv) Versículo 105: "Já realizaste a visão! Em verdade, assim recompensamos os benfeitores."

Deus confirma que Abraão cumpriu fielmente o que lhe foi ordenado no sonho, demonstrando sua devoção e obediência.

(v) Versículo 106: "Certamente que esta foi a verdadeira prova."

Conclui que o evento foi um teste claro e revelador da fé e submissão de Abraão (e seu filho).

Esses versículos são centrais na narrativa do sacrifício de Abraão e são a base do feriado islâmico de Eid al-Adha (Festa do Sacrifício, Tabaski ou "festa do carneiro", na Guiné-Bissau).



4. Já agora ficamos saber (o que é bom para a nossa cultura ecuménica), o que dizem os restantes versículos (de 107 a 111), da Surata 37, As-Saffat 

Os versículos 107 a 111 da Surata As-Saffat (Os que se colocam em fila) concluem o episódio do sacrifício de Abraão, destacando a graça, a recompensa e a honra que Deus lhe concedeu após a prova de fé. Aqui está o significado desses versículos:

(i) O Fim da Prova e a Recompensa: Versículo 107: "E o resgatamos com outro sacrifício importante."

Este versículo descreve a intervenção divina final. Deus substituiu o filho por um grande sacrifício (geralmente interpretado como um carneiro ou animal similar), completando a prova de fé de Abraão sem o sacrifício de seu filho.

(ii) Versículo 108: "E o fizemos (Abraão) passar para a posteridade."

Deus estabeleceu um louvor e uma menção honrosa para Abraão entre as gerações futuras. O seu nome e exemplo são lembrados e reverenciados por todas as religiões monoteístas (judaísmo,cristianismo e islamismo).

(iii) Versículo 109: "Que a paz esteja com Abraão!" (Saudações a Abraão).

Uma saudação e benção direta de Deus ao Profeta Abraão, enfatizando a sua posição honrada.

(iv) Versículo 110: "Assim, recompensamos os benfeitores."

Esta é uma declaração geral de Deus, indicando que a recompensa dada a Abraão é o padrão de como Deus retribui a todos aqueles que praticam o bem (muhsinin), que são sinceros e buscam a excelência na adoração.

(v) Versículo 111: "Porque foi um dos Nossos servos fiéis."

Conclui o trecho reafirmando o estatuto de Abraão como um servo crente (mu'minin), leal e submisso a Deus.

Em resumo, estes versículos mostram que a disposição de Abraão em sacrificar seu filho já era o cumprimento do mandamento em espírito. Deus aceitou essa submissão total e, por Sua misericórdia, proveu um resgate, garantindo que o seu ato de obediência fosse lembrado e honrado para sempre.


5. Ficamos também a saber o que é Surata ( às vezes confundida com o próprio Alcorão):

Surata (ou Sura, do árabe sūrah - سورة) é o nome dado a cada um dos capítulos do Alcorão, o livro sagrado do Islão:

  • o Alcorão Sagrado é composto por um total de 114 Suratas ( capítulos);
  • cada Surata é, por sua vez, subdividida em versículos, chamados Ayat (ou Ayyat);
  • as Suratas variam muito em extensão; a mais curta tem apenas 3 versículos (Surata An-Nasr), e a mais longa tem 286 versículos (Surata Al-Baqarah);
  • no total o Coro tem maos de 6,1 mil versículos (a Bíblia tem 5 vezes mais).
  • as Suratas  não estão organizadas por ordem cronológica de revelação, mas geralmente seguem uma ordem decrescente de tamanho (as mais longas vêm primeiro, exceto a primeira, Al-Fatiha).
Em resumo, o Alcorão é o Livro Sagrado inteiro (o todo), que contém a palavra literal de Deus (Allah), revelada ao Profeta Muhammad (Maomé); a Surata é um Capítulo (uma parte) dentro desse Livro Sagrado; o Alcorão é a compilação completa das 114 Suratas. (***)

PS - É lamentável que tenhamos passado quase dois anos na Guiné, e lidado com muitos militares, milícias e população civil, de religião muçulmana, e nada nem ninguém, no exército, se preocupou em  dar-nos umas "luzes" sobre o Islão, e os "usos e costumes" religiosos dos nossos camaradas do recrutamento local...Nós é que tivemos de descobrir o que era o "irã", o "Tabaski" (ou "fetsa do carneiro"), o "fanado", o "choro"... E estávamos no Portugal "pluricontinental e plurracional", que "ia do Minho e Timor"...
 
(Pesquisa, condensação, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 13 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27418: Em memória de Sissau Sissé, que me acompanhou durante muitos anos no meu trabalho de terreno em Contuboel (Eduardo Costa Dias)


segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27435: Notas de leitura (1864): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Maço de 2025:

Queridos amigos,
A meu ver, o grande mérito do atlas gizado por José Matos tem a ver com o teor da narrativa de uma bem estruturada sequência de texto e imagens elucidativas, uma narrativa que prima pela sua simplicidade de quem sabe tratar bem os seus trunfos da investigação e saber relevar aquilo que são matérias consabidas sobre as causas próximas do golpe do 25 de Abril com apontamentos às vezes parodiantes do comportamento humano; esta simplicidade da narrativa capta imediatamente o leitor, e ainda bem, é um modo original de apresentar os acontecimentos do golpe do 25 de Abril relembrando-nos que a simplicidade nada tem a ver com a vulgaridade da escrita. Parabéns, José Matos.

Um abraço do
Mário



Atlas Histórico do 25 de Abril, por José Matos, um confrade que nos dá imensa companhia (3)

Mário Beja Santos

Os conspiradores avançam para o regimento da Pontinha. É o caso do comandante Vítor Crespo, vem em representação da Marinha. “Como não sabia onde era esta unidade, teve de perguntar a um polícia que estava na rua, que achou estranha a pergunta, pois não era a primeira vez que alguém se dirigia para o quartel àquela hora da noite.” Vão chegando outros, Otelo trazia na mão uma pasta e dentro dela um mapa de estradas do Automóvel Clube de Portugal, uma carta militar de Lisboa e arredores, um mapa da cidade, o plano geral de operações; Lopes Pires levou um pequeno rádio para ouvirem as senhas. “Faltavam cinco minutos para as 23h00, quando a canção de Paulo de Carvalho se fez ouvir no Rádio Clube Português. Depois seria a vez da Rádio Renascença que passara às 00h20 a canção de Zeca Afonso. Era o sinal definitivo para dar início às operações em todo o país.”

Nem tudo começou a correr bem. O Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e de Costa em Cascais não conseguiu sair na noite do golpe, devido ao facto dos comandantes da unidade terem bloqueado a entrada dos oficiais afetos ao MFA. O resto correu como o previsto. Vão sendo tomadas as posições. A sorte parecia favorecer os audazes. Quando chegou às instalações da Emissora Nacional, Luís Pimentel viu dois polícias armados e de capacete em frente à rádio. Ficou desconfiado, mas mesmo assim dirigiu-se aos dois agentes e disse-lhe calmamente: “Tenho aqui uma Ordem de Operações do Governo Militar de Lisboa para ocupar a Emissora Nacional.” De seguida, mostrou-lhes um documento que tinha forjado no Quartel da Carregueira. E o oficial entrou nas calmas.


Ocupou-se o Rádio Clube Português e às 04h26 Joaquim Furtado lia aos microfones da rádio o primeiro comunicado do MFA, escrito pelo Major Vítor Alves.
Joaquim Furtado, Luís Filipe Costa e Clarisse Guerra foram os três locutores a ler os comunicados do MFA no Rádio Clube Português (Arquivo do Rádio Clube)

Estavam já ocupadas as instalações das duas principais estações emissoras de rádio e a RTP. Membros do Governo começam a ter notícia das movimentações de madrugada, mas os mais operacionais ainda estavam na completa ignorância, caso do Ministro do Exército que às 03h00 garantia ao Ministro da Defesa que a situação estava sem alteração e perfeitamente sob controlo.

Otelo tinha preparado uma artimanha, um isco para atrair as forças favoráveis ao Governo. A unidade escolhida era a Escola Prática de Cavalaria de Santarém, estas forças blindadas viriam para o Terreiro do Paço para aí prender alguns membros do Governo, assim se faria convergir para o local dos ministérios as tropas do regime. Salgueiro Maia era o oficial responsável pelo comando. Na Escola Prática da Infantaria os revoltosos foram tomando conta do quartel, o segundo-comandante decide não aderir ao golpe. Salgueiro Maia já está a caminho com uma coluna de 240 homens que levam consigo dez viaturas blindadas e doze viaturas de transporte pessoal.

Mapa com o trajeto das tropas de Santarém até Lisboa

O primeiro comunicado do MFA é lido às 04h26, a essa hora já o Aeroporto da Portela tinha sido tomado pelas tropas vindas de Mafra. José Matos conta-nos histórias deliciosas como a que viveu o soldado mecânico da Escola de Santarém, Francisco João Ferreira, era ele que conduzia o jipe que comandava a coluna, a seu lado estava Salgueiro Maia. “Depois de tomar os objetivos previstos na baixa da cidade, a coluna de Santarém seguiu para o largo do Carmo, onde Marcello Caetano se tinha refugiado no Quartel da GNR. No largo do Carmo, o jipe do comandante da força serviu também para levar os emissários do regime (Pedro Feytor Pinto e Nuno Távora) a casa do General Spínola com uma mensagem do Chefe do Governo. Depois do regresso, João Ferreira precisou de abastecer o jipe e foi queixar-se a Salgueiro Maia. Este mandou-o ir a uma bomba de gasolina para atestar o jipe, mas o condutor queixou-se de que não tinha dinheiro. ‘Não é preciso. Vais a uma bomba, dizes que ela foi nacionalizada e atestas’.”

Tarde e a más horas, os operacionais do regime pensam numa reviravolta, enquanto arquitetam uma resposta já estavam cercados pelas tropas de Santarém. O autor dá-nos conta do que se vai passando noutras regiões do país, a Norte. A população portuense manteve-se um pouco alheada do que se passava em Lisboa durante grande parte do dia, os comunicados do MFA não chegavam ao Porto, só a meio da tarde é que chegou informação, a população anima-se, há confrontos com a polícia, esta, nos dias seguintes, não se atreverá a sair das esquadras com receio dos populares. O pessoal da PIDE/DGS entrará em fuga, os civis entraram nas instalações do Porto e destruíram ficheiros e documentos da delegação.

Unidades do MFA no norte de Portugal. Missões cumpridas.
Unidades do MFA no sul de Portugal. Missões cumpridas.

O golpe tornou-se imparável, nas emissões do MFA já passam conversas entre dirigentes das Forças Armadas apoiantes do regime que revelam a sua paralisia. Os ministros que se tinham refugiado no Terreiro do Paço fogem pela porta do cavalo, entraram numa carrinha e fugiram para o Regimento de Lanceiros 2, sede da Polícia Militar, uma das poucas unidades da capital que ainda estava do lado do regime. As forças de Cavalaria 7 avançaram para o Terreiro do Paço, isto numa altura em que um dos esquadrões de reconhecimento já tinha aderido ao golpe. Conversa puxa conversa, o segundo esquadrão passa para o lado dos revoltosos. A fragata da Marinha Almirante Gago Coutinho, em frente ao Terreiro do Paço, tinha recebido ordens do Estado-Maior da Armada, quando partia para Itália com outros navios da NATO e o seu comandante, Seixas Louçã, optou por não cumprir a ordem de disparar sobre as tropas estacionadas no Terreiro do Paço, as chefias insistem para que a fragata faça alguma coisa, fala-se em dar tiros para o ar, nada aconteceu.

Forças afetas ao regime comandadas pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis avançam para o Terreiro do Paço, o primeiro embate ocorre na Ribeira das Naus, há gritaria e agressões, aos poucos é neutralizada a operação de desmobilizar os revoltosos do Terreiro do Paço.

Tropas de Cavalaria 7 que passaram para o lado do movimento dos capitães, na Baixa de Lisboa (Arquivo José Matos)

O resto é uma história já bem conhecida. Salgueiro Maia ocupa o Carmo, Marcello Caetano pretende falar com Spínola, não quer que o poder caia na rua, são estes os acontecimentos determinantes que levam à queda do Governo, Caetano é metido na Chaimite Bula e ficará detido na Pontinha, o Estado Novo está derrubado. Forças da Marinha vão cercar o edifício da PIDE, conversam com o diretor da PIDE que está acompanhado de Alpoim Calvão, retiram, entretanto, a multidão avança, os agentes abrem fogo sobre os manifestantes, estes voltam depois da queda do Governo, são recebidos a tiro, haverá 4 mortos e 45 feridos. À noite chegam ao local tropas de Cavalaria 3, haverá conversações, Spínola telefonará ao diretor da PIDE, este coloca-se às ordens do novo poder.

Pela madrugada, o país verá na televisão a Junta de Salvação Nacional, anuncia-se um programa novo para Portugal. Pelas 09h43 do dia 26, entra uma força na sede da PIDE, os agentes são desarmados, os agentes capturados irão ser transferidos para a prisão de Caxias, e haverá durante esse dia uma caça ao PIDE nas ruas de Lisboa. São libertos os presos políticos. Entretanto, o Almirante Américo Thomaz, que tinha sido esquecido pelos homens do MFA, vem a ser preso acompanhará Caetano e outros ministros na primeira viagem para o exílio, um voo com destino ao Funchal.

Foi no quartel da Pontinha que se juntaram os membros convidados para fazer parte da Junta de Salvação Nacional. Saber-se-á mais tarde que houve discussão séria entre Spínola e os homens do MFA sobre o teor do comunicado ao país, Spínola fez finca-pé que ficasse explícito na alocução que “a sobrevivência da nação no seu todo pluricontinental será garantida”, nos primeiros tempos não aparece qualquer referência à possibilidade de autodeterminação dos territórios africanos. A exceção passar por Otelo que entrevistado por uma jornalista da televisão espanhola insinuará que deverá haver um plebiscito. Otelo não dormia há dois dias, entrou no seu velho Morris 1100 e foi para a sua casa em Oeiras, tinha acabado de derrubar a mais velha ditadura da Europa.


Esta soberba obra de José Matos finaliza com a bibliografia essencial.
A Chaimite Bula entra no Quartel do Carmo para retirar em segurança os ex-membros do Governo (Arquivo Histórico da Assembleia da República/Coleção Miranda Castela)
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Notas do editor:

Vd. post de 10 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27408: Notas de leitura (1862): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (2) (Mário Beja Santos)

Úlltimo post da série de14 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27421: Notas de leitura (1863): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27434: Lembrete (54): Cerimónia Comemorativa do 107.º Aniversário do Armistício da Grande Guerra e 51.º Aniversário do fim da Guerra do Ultramar, que se realiza amanhã, dia 18 de novembro, pelas 10h00, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa. Durante a cerimónia o nosso Editor Luís Graça será agraciado com a Medalha de Honra ao Mérito, grau Ouro, da Liga dos Combatentes


DIA DO ARMISTÍCIO

18 DE NOVEMBRO DE 2025

CONVITE DA LIGA DOS COMBATENTES

O Presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, tem a honra de convidar V. Ex.ª para a cerimónia Comemorativa do 107.º Aniversário do Armistício da Grande Guerra e 51.º Aniversário do fim da Guerra do Ultramar, que se realiza no dia 18 de novembro de 2025, pelas 10h00, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa

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Embora a cerimónia seja aberta ao público (e em especial a todos os antigos combatentes), este convite foi expressamente enviado ao nosso editorLuís Graça, em nome do Tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, Presidente da Liga dos Combatentes, na medida em que o nosso editor Luís Graça será agraciado com a Medalha de Ouro ao Mérito, Grau Ouro, da Liga dos Combatentes, pelo trabalho desenvolvido neste Blogue, sítio único da Web dedicado exclusivamente aos Antigos Combatentes da Guiné.

Lembramos que o nosso editor aceitou a distinção, com a ressalva de que, a haver mérito pessoal no seu trabalho em prol da salvaguarda e divulgação das memórias dos antigos combatentes, ele tem de ser também associado a um vasto coletivo, que são todos os editores, colaboradores permanentes, autores, comentadores e outros que desde 2004 produzem, diariamente, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.