quinta-feira, 3 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15819: Inquérito 'on line' (39): Camarada, qual a tua opinião sobre os três a cinco principais problemas das NT no TO da Guiné ? 112 de nós já respondemos...E tu ? Podes responder até 6ª feira, dia 4, 17h36



Foto: Belmio Tavares (2010)
OPINIÃO: LISTA DE PROBLEMAS NO CTIG,  LOGO EM 1963 (COM-CHEFE, BRIG LOURO DE SOUSA)... 



Resultados preliminares (112 respostas no blogue, "on line", no canto superior esquerdo):




1. Deficiente instrução das tropas e quadros >

80 (71%)

2. Deficiente equipamento das unidades no terreno > 
70 (62%) 

6. Instalações inadequadas > 
69 (61%)


7. Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão e voltar para a metrópole >  

69 (61%)


4. Abastecimento (material, munições, víveres e água)  > 
44 (39%)


Votos apurados: 112
Responder até 6ª feira, dia 4, 17h36

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15816: Inquérito 'on line' (38): Os três principais problemas das NT em setembro de 1963: Deficiência ou inadequação de (i) instrução militar, (ii) equipamento, e (iii) instalações... Nº de respondentes até agora: 61... Prazo de resposta até 6ª feira, dia 4, 17h36

Guiné 63/74 - P15818: (De)caras (32): Visita a Fulacunda, em julho de 1974, de Bunca Dabó e do seu bigrupo, "armado até aos dentes"... (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 4A



Foto nº 4 B


Foto nº 5


Foto nº 5A


Foto nº 6


Foto nº 6 A

Foto nº 6 B


Foto nº 6C


Foto nº 6 D


Foto nº 7 A


Foto nº 7

Fotos: © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem, de 15 de fevereiro último,  do Jorge Pinto [, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça, foto à esquerda; é professor do ensino secundário, reformado]:


Aqui vai o segundo pacote de fotos:

(i) As duas primeiras (Fotos nºs 1 e 2) retratam um patrulhamento das NT, feito ainda em junho de 1974;

(ii) As outras retratam a primeira visita dos militares do PAIGC à tabanca de Fulacunda, com destaque para a 3ª e 4ª foto, onde a população ouve atentamente o comissário politico, sobre as "mudanças" que se avizinham;

(iii) Nesta sessão também é visível o Administrador de Posto, Sr, Norberto  (Fotos nº 4, 4A e 4B) ;

(iv) As fotos nºs 5 e 6 retratam a visita, a pedido expresso, dos militares do PAIGC ao porto de Fulacunda, por onde era feito o nosso reabastecimento [, porto fluvial, no rio Fulacunda, vd, poste P12368];

(v) A última foto (nº 7) retrata, à entrada da messe de oficiais, o comandante de bigrupo, Bunca Dabó, que atacou várias vezes o aquartelamento e a tabanca de Fulacunda, durante os dois anos em eu que lá estive.

As fotos evidenciam que a "confiança", por parte dos militares do PAIGC, ainda estava para nascer!!! ....(Já estávamos em Julho de 1974...)  Também ficou por explicar a utilidade desta visita, pois não fomos fazer nada nem ver nada de novo.

Recebe o meu forte abraço amigo e desejos de que a semana te corra otimamente bem 

  JPinto

2. Comentário de um leitor distraído:

Manda-me o editor dizer que corrigiu o nome do comandante do bigrupo, Bunca Dabó... Jorge, na tua mensagem, o apelido vinha grafado D'Abó... Ele julga que seja apelido beafada, Dabó. Se estiver errado, ele depois corrige... Parece que eles têm, na Tabanca Grande, um tal Cherno Baldé, que é o assessor científico deles, em Bissau,  para as questões étnico-linguísticas e religiosas... Ele poderá confirmar ou  infirmar essa suposição do editor...

Jorge, ele manda dizer que o título do poste não é teu, mas que não ofende ninguém (nem foge à verdade factual) quando ele diz que o bigrupo do tal Bunca Dabó vinha "armado até aos dentes"... Pelo menos, para uma visita de "cortesia a ti", aos teus camaradas e aos teus fregueses de Fulacunda... Porra, só RPG, a contar pelos tubos,  são mais do que os elementos do bigrupo (que parece muito reduzido)...

O editor tem outra dúvida: o comandante... será mesmo o comandante ou o comissário político ? É um "caixa d' óculos", tem ar "citadino", de "intlectual", parece demasiado novo para ser comandante... Deve ter vindo da URSS, ou da Europa de leste, ou de Conacri, ou do liceu de Bissau, ou de Dacar... E, pelo apelido, seria um beafada...

Pergunta o editor, e eu só transmito o recado que ele me pediu para te dar, já que sou teu conhecido e vizinho e tu és amigo do meu pai: como é que aquele homem (, parece-me mais novo do que eu, que tenho 30), se sentiria, uns tempos antes, atacando Fulacunda onde provavelmente teria parentes ?...

Enfim, reflexões serôdios de um "tuga" (,diz o editor, ) que passou, há quase meia centena de anos, por tabancas fulas, mandingas, balantas, e andou no mato aos tiros contra homens armados de Kalash, "costurinhas" e de RGP, e já se interrogava, "in loco",  nessa altura, em 1969/71, sobre o raio do sentido da guerra, em geral, e daquela guerra, em particular... "Guerra de libertação" ou "guerra civil" ?... Guerra, "tout court", meu estúpido, diz ele, o editor: pior que a peste (do latim, "peius", a pior doença), é a guerra... (Enfim, o raio do vosso editor parece que gosta muito de ir à origem etimológicas das palavras).

E mais manda dizer,  por este leitor distraído que sou eu: lembras-te, Jorge, tu que foste professor de história, e és da terra dos monges, Alcobaça, lembras-te da ladaínha que o nosso povo rezava na santa missa de domingo,   "Da peste, da fome e da guerra [, em voz alta,] ,... e do bispo da nossa terra [, baixinho,], 'libera nos, Domine'!" [... livrai-nos, senhor!]...

O que terão dito, nessa altura, os teus habitantes de Fulacunda que estavam sob a tua proteção?...  Em tempo de peste, fome e de guerra, bispo, comissário político, senhor da guerra, comandante de bigrupo, chefe de posto, e tropa... são tudo a mesma coisa, mensageiros de  desgraça e de morte... "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (Luís de Camões)...

Agora , Jorge, amigo do meu pai e meu vizinho,  deix-me, a mim, leitor distraído, fazer-te uma pergunta e um agradecimento: que será feito deste  Dabó ? E dos outros Dabós ?... E da tua tropa que passou por Fulacunda ? E daquela pobre gente que lá "vivia" em Fulacunda, e que era tão portuguesa como os tipos da tua terra, Turquel, Alcobaça ? Ou que vivia no "mato" a que o Bunca Dabó chamava "zona libertada" ?

Olha,  Jorge, obrigado na mesma, mas as fotos da guerra, com gente fardada e com armas, fazem-me sempre impressão. Não fiz tropa,  nasci em 1985, no meu tempo, felizmente, já tinha acabado a guerra. Mas o meu pai também andou nessa guerra.... e não sabe (ou, melhor, não quer) explicar-me certas coisas....

É talvez por ele, que não é nada dado a estas coisas da Net, que eu às vezes paro por aqui, neste blogue, e fico a ver e a ler estas merdas... O meu pai ralha-me: "Ó filho, deixa-te disso e trata mas é da tua vida. A guerra nunca existiu. Ou então foi  como um pesadelo: tens um  sonho mau, de noite, mas no dia seguinte acordas, felizmente vivo e inteiro, e não te queres lembrar mais dessa merda, desse pesadelo"...  Eu acho que ele não razão, a guerra existiu mesmo, estas fotos são prova disso...

Cumprimentos lá em casa,  A.
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de março de 2016 >  Guiné 63/74 - P15813: (De)Caras (31): José Manuel Lopes (Josema), o poeta duriense de Mampatá... Relembrando um dos seus poemas de antologia, Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15817: Os nossos seres, saberes e lazeres (143): O ventre de Tomar (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
O tempo convidava à vadiagem, e passear sem bússola é aceitar as benesses dos imprevistos. E foram vários, nessa tarde, não é a qualquer hora que se encontra uma perita em latoaria artística, de desempregada entrou num desses programas para criar pequenas empresas e lá vai subsistindo, dando alegria a muita gente com artefactos destinados à Festa dos Tabuleiros, bijutaria e até lancheiras e caixas para ferramentas.
No fim do dia, resolvi reverter a meu favor estas deambulações pelas vísceras da cidade, foi confrontado com uma fachada soberba, tenho para mim que é no tempo histórico deste edifício que está o último assomo dos bons tempos industriais que seguramente já não voltam a Tomar.

Um abraço do
Mário


O ventre de Tomar (7)

Beja Santos


É tudo uma questão de gosto, não discuto. Mas quem teve a ideia de repescar o genial património de Rafael Bordalo Pinheiro e de o replicar no presente, merece o meu respeito. O que é belo ganha intemporalidade, qualquer uma destas réplicas tem o condão de se misturar bem com o mais antigo e até com o que está na moda. Diante destas réplicas de alguém que correu todos os riscos para criar uma fábrica de cerâmica nas Caldas da Rainha, quando já estava consagrado como o maior desenhador de humor, pasmo de admiração, bem merecia ser apontado como figura cimeira e exemplar do nosso empreendedorismo. É bom revê-lo e levá-lo para casa.


Não sei se é a obra mais valiosa do núcleo de arte contemporânea de Tomar. Este Júlio Resende justifica que aqui o viajante se detenha perante um testemunho inigualável de alvorada da pintura abstrata. E caso curioso, regresso à atualidade de Rafael Bordalo Pinheiro: o que nasce excelente, excelente permanece, e ainda bem que haja outras obras-primas fora do Museu do Chiado e de Serralves. Há para aqui muito conteúdo para trazer os alunos a aprender ver o que de melhor se pintou em Portugal.


Esta é a maqueta de El Rei D. Sebastião, a escultura está em Lagos, com outros matizes, tanto quanto me parece. Não sei o que idealizou o mestre João Cutileiro, este jovem parece muito inocente, inocente caminha para o holocausto que ele próprio desenhou. Reza a história que o jovem era reguila, desencabrestado e até vândalo. Mas a arte é assim mesmo, este menino Sebastião fica-nos na memória por ir até Alcácer Quibir onde morreu e deixou saudades. Em vez de um deus grego, mestre Cutileiro esculpiu o menino redentor que há de regressar numa manhã de nevoeiro, e salvar Portugal.





De há muito que desejava fazer esta visita a uma oficina de metais que privilegia a latoaria artística. Passava por aqui e via pelos vidros artefactos obrigatórios na Festa dos Tabuleiros. Entrei em hora vaga para a artesã, descobri que isto da latoaria é assunto sério, mete mãos engenhosas, um sentido apropriado para revigorar as tradições, da lata também se faz bijutaria, lancheiras e caixas de ferramentas, a artífice surpreende-me com o esplendor da coroa, parece prata iridescente, equilibrada pela Cruz de Cristo, tão austera. O viajante tem as suas fraquezas, como é um desastrado manual olha para estas mesas de trabalho como se tivesse o privilégio de ver Picasso a trabalhar, há para ali instrumentos para torcer e retorcer, para cortar e afinar, e ele ali fica especado vendo transformar um pedaço de lata em arte fundente.


Um dia, há semanas, almoçava todo lampeiro um prato de povo à lagareiro e tinha pela frente, ali bem perto, alguém que falava com boa disposição, que se levantou e partiu. Então, não é que, bem pouco depois o viajante ao entrar nesta oficina não deu de frente com aquele outro que se amesendava, tão bem disposto? Explicou-lhe o viajante que não vinha comprar mas conhecer, pedia licença para ver como se repara ou cria de raiz, tirou imagens à vontade, escolheu esta porque a madeira fala a verdade, uma carpintaria tem poeira e há um outro aspeto nesta imagem que é a arrumação do ferramental e talvez umas colas e vernizes bem linhados, para melhorar a cenografia. Palavra de honra que hei de voltar!


Aviso desde já que esta imagem inverte deliberadamente os propósitos destes registos de imagens, sei muito bem que isto é pele, pele é exterior, e o ventre é interior. Mas o que acontece é que houve uma força irresistível, parecia ser o melhor prémio de consolação que naquele dia me podiam dar, tantas vezes por aqui passei, devo ter passado sempre com os olhos no chão, esta fachada Arte Deco, já com sinais de transição, é esplendorosa. Reparem bem na escala volumétrica, na harmonia das varandas e como aquele envidraçado se ergue, retilíneo qual coluna vertebral que alevanta a reta proporção e que define a harmonia da escala. Merecia este bálsamo para os olhos depois de ter passado a tarde metido nos interiores, naquelas vísceras das redes comerciais onde também desaguam os nossos sonhos. Ainda bem que te contemplei de frente, foste a última saudação numa tarde de sol, depois de uma doce caminhada em territórios tão aprazíveis.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15789: Os nossos seres, saberes e lazeres (142): O ventre de Tomar (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15816: Inquérito 'on line' (38): Os três principais problemas das NT em setembro de 1963: Deficiência ou inadequação de (i) instrução militar, (ii) equipamento, e (iii) instalações... Nº de respondentes até agora: 61... Prazo de resposta até 6ª feira, dia 4, 17h36

Os nossos "bu...rakos": Cantacunda, 1967.
Foto de A, Marques Lopes
OPINIÃO: LISTA DE PROBLEMAS NO CTIG,  LOGO EM 1963 (COM-CHEFE, BRIG LOURO DE SOUSA)...VOTA NOS QUE CONCORDARES


1. Deficiente instrução das tropas e quadros  > 
46 (75%)

2. Deficiente equipamento das unidades no terreno  > 41 (67%)



6. Instalações inadequadas  > 41 (67%)



7. Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão  e voltar para a metrópole >  
38 (62%)


4. Abastecimento (material, munições, víveres e água)  > 
24  (38%)

3. Falta de pessoal / insuficiência de efetivos  > 
21  (34%)


5. Falta de enquadramento / aproveitamento militar 
dos guineenses > 
17 (27%)


8. Outros problemas não referidos acima 
(pelo Com-chefe, brig Louro de Sousa)  >
 13  (21%)



Votos apurados: 61
Responder até 6ª feira, dia 4, 17h36


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Nota do editor:

terça-feira, 1 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15815: XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 16 de Abril de 2016 (2): Lista provisória com os 68 primeiros inscritos

XI CONVÍVIO DA TERTÚLIA DO NOSSO BLOGUE

DIA 16 DE ABRIL DE 2016

PALACE HOTEL DE MONTE REAL



Caros camaradas e amigos tertulianos
Neste primeiro dia de Março estamos a dar notícia do nosso XI Encontro Anual, publicando a lista provisória dos inscritos para o Almoço/Convívio de 16 de Abril próximo.

Embora as inscrições só encerrem daqui a algumas semanas, é com muito agrado que registamos já 68 marcações, entre as quais algumas caras novas. A maioria dos presentes corresponderá àqueles que já não podem passar sem esta confraternização anual, que está para durar.

O ano passado facilmente esgotamos a sala, pelo que este ano não nos contentaremos com menos. Duzentas inscrições é a meta. Um dia, quando chegarmos às 500, o Palace Hotel de Monte Real terá de nos servir nas frondosas matas que ladeiam a avenida até às Termas.

Brevemente o camarada Joaquim Mexia Alves confirmará a hora em que se celebrará a Missa de Sufrágio pelos camaradas que caíram em campanha ou que nos deixaram posteriormente porque para eles a morte chegou cedo demais. Incluímos nestes últimos, também os nossos familiares e amigos, especialmente aqueles que fizeram parte dos nossos Encontros e que connosco estarão sempre pensamento.

Terminamos, como se de de uma comunicação rádio se tratasse, passando à escuta, o mesmo querendo dizer que ficamos na expectativa de mais inscrições, que devem ser feitas para: carlos.vinhal@gmail.com.


Ao vosso dispor:
Luís Graça
Joaquim Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Poste anterior de 19 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15770: XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 16 de Abril de 2016 (1): Primeiras informaçóes e abertura de inscrições

Guiné 63/74 - P15814: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (40): A moeda relíquia e as mães dos combatentes

1. Em mensagem do dia 26 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma das suas Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

40 - A moeda relíquia e as mães dos combatentes

A minha mãe, nos tempos que antecederam o meu embarque para a Guiné, não conseguia esconder o seu enorme sofrimento, causado pela ansiedade e pelo medo. Mas há já vários anos que a ideia do meu embarque a atormentava, descrente de uma reviravolta política que pusesse fim à guerra colonial. Nas vésperas da minha partida, para minha surpresa, entregou-me uma moeda de 10$00 e disse-me que a levasse comigo para a Guiné, mas que tinha de regressar com ela, para lha devolver. Naquele momento não pude evitar rir-me da sua imaginação e do ar solene que emprestou à ocasião. Mas depois, percebendo que ela estava a tomar aquilo muito a sério, prometi-lhe que cumpriria a sua vontade. Longe de imaginar que, num futuro distante, iria valorizar com carinho a lembrança da entrega da moeda e a própria moeda, mesmo se, durante muitos anos, tivesse esquecido tudo nos recônditos da memória.

Um dia, após o seu falecimento em 2001, encontrei entre as suas coisas pessoais um papelinho muito bem dobrado a guardar uma moeda de 10$00. Foi emocionado que li o papelinho, uma pequena folha de agenda de 1965 que, no interior dizia:
“Esta moeda de 10$00 (1971) é uma relíquia. Acompanhou o António à Guiné e voltaram juntos”.

Saberia a minha mãe que outros, em tempos diversos e remotos, também se fizeram acompanhar de relíquias nas suas viagens aventureiras? É que, por absoluta casualidade, há meia dúzia de anos, ao ler uma revista de um semanário qualquer, deparei-me com uma imagem e uma legenda que me deram um sobressalto:
“São Rafael: esta imagem foi à Índia com o Gama e de lá tornou”.
Acudiu-me logo a ideia de juntar esta relíquia à minha. Digitalizei a imagem do São Rafael, procurei a fotografia que tinha feito da minha moeda e juntei as duas, como mostro a seguir.

Relíquias

Ainda guardo a minha moeda religiosamente embrulhada no mesmo papelinho, pelo que significou para a minha mãe, antes e depois do meu regresso. Quanto deve ter sofrido, ela e todas as mães daquela época... Em 1974 tinha-me a mim na Guiné e ao meu irmão José Alberto em Moçambique. Fortuna a dela e nossa que tivéssemos regressado sãos e salvos, sem as tragédias que se abateram sobre tantas famílias daquela década.

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Mulheres de Buba

Não recordo a data (1973 ou 1974) nem a razão deste evento em Buba, com grande aparato de viaturas, mulheres e militares à mistura, mas garanto que foram momentos de grande descontracção os que nos proporcionaram as mulheres de Buba, com a sua alegria, vitalidade e carácter forte. Reconheço na assistência, soldados do meu grupo de combate e de outro grupo de Nhala. No meio da roda de dançarinas, pode ver-se o Cap. João Brás Dias da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 de Buba, animando a festa. Na foto 2, estou eu, sentado num Unimog entre as mulheres.
Tudo isto é o pretexto para deixar a seguir um pequeno álbum.











Mulheres de Buba.

Fotos: © António Murta
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15784: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (39): De 1 a 24 de Agosto de 1974

Guiné 63/74 - P15813: (De)Caras (31): José Manuel Lopes (Josema), o poeta duriense de Mampatá... Relembrando um dos seus poemas de antologia, Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!



Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250/72 (1972/74) > "Uma mina A/C e três A/P. Das dezenas que o Vilas Boas e o Fernandes levantaram. Ainda hoje me interrogo como só tivemos uma baixa em minas, além dos seis trabalhadores que foram vitimas de uma mina A/C ao beber água de um carro cisterna que molhava a terra da estrada acabada de terraplanar para lhe dar consistência. A picagem era mesmo um trabalho bem planeado e bem feito,onde o método, o rigor, a paciência eram fundamentais. A pica era mesmo o sexto sentido dos soldados da CART 6250, Os Unidos."

Foto (e legenda): © José Manuel Lopes (2008). Todos os direitos reservado



1. Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

por Josema [José Manuel Lopes] (*)

Estradas amarelas,
corpos cobertos de pó,
pica na mão à procura delas,
o polegar ferrado no pau,
tac, tac, tac, tac, tac, tac,
tacteando por sons diferentes,
o Fernandes, com cara de mau,
espeta no solo o ferrão da pica,
tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!...


O calafrio,
depois o grito,
anunciando o perigo!


O
grupo é mandado parar,
chega o Vilas à frente,
e a todos manda afastar:
de joelhos no chão,
numa simulada carícia,
afaga a terra com a mão,
com gestos simples e perícia,
vai cavando devagar...

Hei-la... está aqui,
lisa, preta, a brilhar,
parece inofensiva,  a maldita,
deita-lhe a mão e grita:
– És minha , já te tenho.

Volta-a,
tira-lhe o detonador
e entre dentes, diz:

– Esta, não,
esta não causará dor.



 Josema, Guiné, s/l, c. 1972/74 [Revisão e fixação de texto: LG]


2. Mensagem do José Manuel  Lopes, com data 28 de abril de 2009:



[José Manuel Lopes, vitivinicultor, duriense, poeta, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74]


"Camarada Luís: Enviei até agora 62 poemas que tinha guardados. Algures em casa de minha avó, na
Régua, onde vivi até me casar em 83, devo ter mais alguns junto às coisas que trouxe da Guiné. Me lembro que numa altura, perturbado, sem saber o que fazia, destrui parte do que trouxe.

Tudo que conseguir recuperar enviarei para o nosso Blogue, por agora pouco mais tenho para enviar, pois algumas coisas são muito pessoais e outras podem ferir a sensibilidade de terceiros.

Um abraço, José Manuel"


3. Nota do editor:

Havia 5 armas do IN (e seus aliados "naturais") que nos infundiam respeito, em campo aberto, nas picadas ou no mato, de noite ou de dia:

1 - As abelhas selvagens, as formigas bagabaga, os mosquitos, a cobra verde, a bolanha,, os rios...
2 - As minas e armadilhas
3 - O RPG 2 e 7
4 - A Kalash
5 - A "costureirinha" (PPSH)...

Este poema do Josema merece figurar em qualquer antologia da poesia da guerra: é uma homenagem aos nossos "picas" e sapadores, metropolitanos e guineenses, que eram na altura os melhores do mundo...

É também um grito contra essa arma, a mina (A/C, A/P),  que era um "assassino silencioso", usado tanto pelo IN como pelas NT... Todas as armas são "sujas", esta era talvez a pior de todas... Há centenas e centenas de camaradas nossos que ainda hoje trazem no corpo e na alma as suas "marcas", fora os que infelizmente morreram por ação, direta e indireta, de minas e armadilhas...

Obrigado, Josema!
LG
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de


Guiné 63/74 - P15812: Inquérito 'on line' (37): O moral das tropas... lá no cu de Judas! (António Rosinha / José Colaço)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Pessoal do 2º Grupo de Combate, atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete na margem direita do Rio Geba, no regulado do Cuor, em frente a Bambadinca (que pertencia ai regulado de Badora). O destacamento que havia mais a norte, era o de Missirá (guarnecido pelo Pel Caç Nat 52, no tempo do alf mil Beja Santos, 1968/70, e depois pelo Pel Caç Nat 63, do al

A tabanca de Finete, em autodefesa, guarnecida pelo Pelotão de Milicia nº 102, é visível ao fundo. No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali (se não erro), vê-se o fur mil op esp Humberto Reis e o 1º cabo António Branco.

Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) >  c, 1969/1970 > Pessoal do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete, No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali,   vê-se o fur mil at inf Tony Levezinho, ao meio (com o tapa-chamas da sua G3 devidamente protegido por uma cápsula de plástico verde, cuidado que era raro haver entre as NT), ladeado pelo 1º cabo António Branco (à sua direita, com duas granadas defensivas à cintura) e pelo 1º cabo José Marques Alves, de alcunha, o "Alfredo" (à sua esquerda) (infelizmente, já desaparecido, em 2013),


Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados (Edição e legendagem: LG)


Comentários ao poste P15807 (*)

I. António Rosinha 

[ ex-fur mil, Angola,1961/62; viveu no Brasil,
 no pós-25 de abril;  foi topógrafo da TECNIL,
como "cooperante", na Guiné-Bissau, em 1979/93]



Nunca houve quarteis no interior em que a moral não fosse do piorio, mesmo sem guerra, nem tiros, nem ataques, nem baixas.
Exceptuando as unidades nas cidades, com especialidades burocráticas, o chamado apoio de rectaguarda, transmissões, abastecimentos, administrativos, que teriam algum alheamento do perigo e do isolamento, tudo o resto, em qualquer território africano, a tropa vivia ansiosa a dar baixa dos dias no calendário da parede.

Como vivi, por necessidade de ofício no interior de Angola (estradas, pontes e levantamentos) acampei em Angola durante anos, em lugares em que geralmente ou havia uma companhia, ou um pelotão ou uma secção, por perto.

E como fui furriel na guerra e não me sentia bem com arame farpado, capitães, e majores, aliás, acima de alferes nunca acertei, só tive duas porradas leves, mas por ser bom rapaz, como digo que para mim foi chata a tropa, custava-me ver a tropa da metrópole naqueles cus de judas, como chamou o Lobo Antunes umas terras lindíssimas, só que fosse livre de arame farpado.

Mas um dos martírios da tropa do interior, era não haver um programa de rotatividade de pequenos grupos se deslocarem às cidades para um pequeno banho de civilização (mudar de ambiente, mudar o óleo, e até de comida do mesmo cozinheiro).

Mas o pior, é que a tropa nem convivia com africanos, por não falar a mesma língua, nem com os europeus como eu, a quem por exemplo um capitão me atirou à vara que estava ali, porque eu tinha andado a tratar mal os pretos.

Ou seja, além da falta de moral, ainda havia a revolta.

Luís e António, não podiamos abandonar aquilo sem guerra. Entregar ao Amílcar Cabral, jamais, que ainda era novo, precisava viver.

Mas era preciso 13 anos? Porque não parou a meio, quando o homem de Santa Comba caíu da cadeira?

Porque os capitães de Abril ainda só eram alferes nesse tempo?

Luís Graça, quando tornares a fazer um inquérito,  questiona tudinho, mais do que questionavam os comandantes

Cumprimentos, Antº Rosinha.


II. José Colaço  

[ex-soldado trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65]

Respondendo ao nosso inquérito, assinalo os seguintes pontos:

(i) a deficiente instrução das tropas e quadros;

(ii) o deficiente equipamento das unidades no terreno;

(iii) as faltas de pessoal e insuficiência de efectivos;

(iv) os problemas nos abastecimentos das unidades em material, munições, víveres e água;

(v) a falta de enquadramento e aproveitamento dos nativos em operações de segurança...


Sou do início da guerra da Guiné, fui lançado na Operação Tridente só com um mínimo de preparação, eu e os meus camaradas de especialidade, inclusive o furriel (transmissões) e todas os outras especialidades até os atiradores; devido a nossa inexperiência e falta de conhecimentos houve alguns acidentes com a desconhecida G3...Por outro lado, receber uma mensagem era repetição constante dos grupos fonéticos e ter que pedir para o emissor transmitir devagar, pausado, que o operador era (maic) (maçarico)... mas como nós somos um povo do desenrasca tudo se resolveu.

Para transmitir para Catió nós não conseguíamos, comunicávmos com alguma dificuldade (principalmente durante a noite) com o BCAÇ 490 que estava em Cauane, no outro lado da Ilha do Como, e eles retransmitíam a nossa mensagem. Devido a esta dificuldade alguém do comando mandou ao Cachil um segundo sargento electromecânico e ensinou-nos como montar (e montou ele) uma uma antena horizontal.

Com este aparte, é só para dizer que concordo com todos os pontos que o meu primeiro comandante chefe na Guiné, Brigadeiro Louro de Sousa, mencionou pois tive oportunidade de os comprovar no terreno.

Mas discordo do ponto nº 1 em 50%: que os milicianos tivessem essa deficiência, concordo em absoluto, mas os quadros não: são ou eram profissionais de carreira, tinham por obrigação, dever de profissionalismo, estar preparados a 100% para todos os reveses que a profissão reserva.

Um abraço, Colaço.

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Nota do editor: