sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1446: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M. F. Sousa) (3): O depoimento do 1º sargento da CCAÇ 2586, João Godinho

Continuação da publicação de peças do dossiê sobre o Massacre do Chão Manjaco, organizado pelo Afonso M. F. Sousa , que vive em Ovar e foi ex-fur mil transmissões da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70 (1).
E-mail de 17 de Novembro de 2006, enviado pelo Afonso M. F. Sousa ao Júlio Rocha, que lhe havia arranjado o contacto de João Godinho, o 1º. Sargendo da CCAÇ 2586 , agora já Capitão reformado, e que vive em Évora:
Amigo Júlio Rocha :


Acabo de falar com o Cap João Godinho. É muito terra-a-terra. Forneceu-me as seguintes informações:

(i) Quem procedeu ao levantamento dos corpos, na manhã seguinte, [21 de Abrild e 1970,] foi a CCAÇ 2586, comandada por um capitão de que já não se recorda o nome (companhia teve 4 ou 5 comandantes). O Júlio recorda-se do nome dele ?

(ii) Confirma-se que não foi o Ten Coronel Romão Loureiro (comandante do Batlhão, o BCAÇ 2884). Eventualmente poderá ter aparecido por lá, mas não teve essa missão. Ramalho Eanes, de todo, não esteve presente.

(iii) O sítio exacto...Pensa ele que foi a meia distância entre o Pelundo e Jolmete.
(iv) Os oficiais portugueses almoçaram e partiram depois para o fatídico encontro, que
terá ocorrido às 16 / 17 horas.
(v) Nove (9) foi o total de pessoas que se deslocaram para o encontro, em 2 jipes.
(vi) Mal apareceram numa clareira, foram fortemente fustigados a tiro - depois terá eventualmente havido confronto corpo a corpo. O jipe dos oficiais vinha atrás e não terá sido o mais atingido.

(vii) Para ele não houve uso de catana. Pensa que terá sido usada faca de mato.

(viii) À pergunta se não terá havido excesso de confiança no bom desfecho do encontro, confessa que não, porque tinham ocorrido já cerca de 12 reuniões e a integração de elementos do PAIGC já se vinha sentindo. O problema é o assunto estava a atingir já uma elevada dimensão e terá criado fricção com outros elementos (de cúpula) do PAIGC. E se calhar André Gomes (o protagonista desta barbárie) ter-se-á querido limpar perante os seus superiores.

(ix) Confirma-se que Spínola esteve no local e que chorava como uma criança. Fica-se sem confirmar se, efectivamente, 2 diantes ele veio à Metrópole (chamado por Caetano), visto que esteve no local fatídico. Era interessante saber, porque segundo muitas versões, o PAIGC
tinha como propósito fazer a sua captura, neste encontro.

(x) Para concluir, posso adiantar que foi este 1º Sargento João Godinho que passou o relatório dos acontecimentos. Disse-me que, provavelmente, ainda terá uma cópia lá por casa. Ele vai confirmar. Caso o tenha, pedi-lhe para me facultar uma cópia, visto que é um documento de cariz histórico. Ele acedeu. Depois contacta-me para confirmar.

Foram muito bons esclarecimentos. Quero agradecer ao Júlio por esta excelente pista. Ele envia-lhe cumprimentos.

De minha parte,

Um grande abraço.

Afonso M. F. Sousa
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores:
18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1445: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F.Sousa) (2): O papel da CCAÇ 2586 (Júlio Rocha)
17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1436: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F.Sousa) (1): Perguntas e respostas

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