Guiné > Região de Tombali > Catió > Ilhéu Infanda > Maio de 1970 > Assinalado com um círculo a vermelho, o João Tunes: está junto ao rádio, do lado esquerdo, em trono nu e auscultadores nos ouvidos.
Foto: © João Tunes (2005). Direitos reservados.
T/T Carvalho Araújo > Em Maio de 1970, regressou a Lisboa com 4 urnas (dos três majores e do alferes, chacinados em 20 de Abril de 19970) mais a CART 2412, a que pertencia o Fur Mil Sousa.
Foto: © Navios Mercantes Portugueses , página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...) . O autor foi oficial da marinha mercante.
Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (1),
por Afonso M.F. Sousa
Correspondência trocada entre o Afonso M.F. Sousa e algumas das suas fontes de informação
1. Resposta do Júlio Rocha, em 16 de Novembro de 2006:
Camarada
Foi com grande surpresa que recebi o seu e-mail sobre o trágico assassinato dos Majores e do Alferes [, em 20 de Abril de 1970].
Eu pertencia à CCAÇ 2586 e, por coincidência, na altura estava de férias na metrópole e só quando regressei, em Maio de 70, tomei conhecimento do sucedido.
Também tive o prazer de conhecer os Majores quando estive no CAOP em Teixeira Pinto.
Eram oficiais de primeira classe e homens admiráveis.
A minha companhia é que foi buscar os corpos e todos ficaram chocados e revoltados com este crime de guerra.
Até agora nunca se soube quem estava por detrás deste crime. Eu penso que pertenciam ao grupo do Nino, será?
Um grande abraço
Júlio Rocha
Ex-Furriel Miliciano
CCAÇ 2686 (Pelundo, 1969/71)
2. E-mail do Afonso M. F. Sousa , de resposta ao Júlio, na mesma data:
Olá, caro Júlio (na Cova da Piedade) !
Há dias li, algures, que pertenceu à CCAÇ 2586 (Batalhão 2884) e que esteve no Pelundo até 2/7/1970 (2).
Antes de redigir o e-mail, até cheguei a pensar em contactá-lo previamente, para tentar saber mais algum pormenor. Mas fiz seguir o mail, endereçado-o também a si, com o intuito de suscitar uma eventual reacção sua. E, efectivamente, essa sua reacção aí está! O meu obrigado por isso.
Esta questão intrigou-nos, sobretudo aos da minha Companhia [, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70], que, pouco mais de uma semana depois desta nata de militares ter sido morta, passou a escassas centenas de metros deste local fatídico de Jolmete, quando descíamos o Rio Cacheu, de LDG, vindos de Barro, rumo a Bissau, no termo da nossa comissão na Guiné.
E intrigou-nos porque, quando entramos para o navio Carvalho Araújo, para regressar a Lisboa, fomos surpreendidos com aquelas 4 urnas no porão do navio e depois de nos terem confidenciado (em voz baixa, atenção à PIDE) que tinha sido um grave acidente e que três deles eram majores.
Mais nada soube até há pouco tempo. A história, de facto, só se revelou com os escritos ou crónicas que vêm passando pela Internet.
Associei logo que eram esses bravos que tinham sido sanguinariamente mortos em Jolmete (na estrada Pelundo-Jolmete), e isto porque eles foram mortos em 20 de Abril [de 1970] e o navio partiu para Lisboa em 6 ou 7 de Maio. Portanto, eram eles. E a minha percepção veio a confirmar-se.
Quanto ao autor deste crime, o João Varanda garante que foi o André Gomes que consumou a brutal neutralização e liquidação dos majores, à catanada.
Esta proximidade (de datas, do Rio Cacheu, da utilização do mesmo navio para Lisboa) e sobretudo a forma selvagem como foram liquidados, suscitaram-me esta ideia de ir até junto da família de um deles, pelo menos, visitar a sua campa ou jazigo, abordar estes factos e relatar-lhes mais alguns pormenores da tragédia e, simultaneamente, recolher os seus pontos de vista e as informações disponíveis.
por Afonso M.F. Sousa
Correspondência trocada entre o Afonso M.F. Sousa e algumas das suas fontes de informação
1. Resposta do Júlio Rocha, em 16 de Novembro de 2006:
Camarada
Foi com grande surpresa que recebi o seu e-mail sobre o trágico assassinato dos Majores e do Alferes [, em 20 de Abril de 1970].
Eu pertencia à CCAÇ 2586 e, por coincidência, na altura estava de férias na metrópole e só quando regressei, em Maio de 70, tomei conhecimento do sucedido.
Também tive o prazer de conhecer os Majores quando estive no CAOP em Teixeira Pinto.
Eram oficiais de primeira classe e homens admiráveis.
A minha companhia é que foi buscar os corpos e todos ficaram chocados e revoltados com este crime de guerra.
Até agora nunca se soube quem estava por detrás deste crime. Eu penso que pertenciam ao grupo do Nino, será?
Um grande abraço
Júlio Rocha
Ex-Furriel Miliciano
CCAÇ 2686 (Pelundo, 1969/71)
2. E-mail do Afonso M. F. Sousa , de resposta ao Júlio, na mesma data:
Olá, caro Júlio (na Cova da Piedade) !
Há dias li, algures, que pertenceu à CCAÇ 2586 (Batalhão 2884) e que esteve no Pelundo até 2/7/1970 (2).
Antes de redigir o e-mail, até cheguei a pensar em contactá-lo previamente, para tentar saber mais algum pormenor. Mas fiz seguir o mail, endereçado-o também a si, com o intuito de suscitar uma eventual reacção sua. E, efectivamente, essa sua reacção aí está! O meu obrigado por isso.
Esta questão intrigou-nos, sobretudo aos da minha Companhia [, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70], que, pouco mais de uma semana depois desta nata de militares ter sido morta, passou a escassas centenas de metros deste local fatídico de Jolmete, quando descíamos o Rio Cacheu, de LDG, vindos de Barro, rumo a Bissau, no termo da nossa comissão na Guiné.
E intrigou-nos porque, quando entramos para o navio Carvalho Araújo, para regressar a Lisboa, fomos surpreendidos com aquelas 4 urnas no porão do navio e depois de nos terem confidenciado (em voz baixa, atenção à PIDE) que tinha sido um grave acidente e que três deles eram majores.
Mais nada soube até há pouco tempo. A história, de facto, só se revelou com os escritos ou crónicas que vêm passando pela Internet.
Associei logo que eram esses bravos que tinham sido sanguinariamente mortos em Jolmete (na estrada Pelundo-Jolmete), e isto porque eles foram mortos em 20 de Abril [de 1970] e o navio partiu para Lisboa em 6 ou 7 de Maio. Portanto, eram eles. E a minha percepção veio a confirmar-se.
Quanto ao autor deste crime, o João Varanda garante que foi o André Gomes que consumou a brutal neutralização e liquidação dos majores, à catanada.
Esta proximidade (de datas, do Rio Cacheu, da utilização do mesmo navio para Lisboa) e sobretudo a forma selvagem como foram liquidados, suscitaram-me esta ideia de ir até junto da família de um deles, pelo menos, visitar a sua campa ou jazigo, abordar estes factos e relatar-lhes mais alguns pormenores da tragédia e, simultaneamente, recolher os seus pontos de vista e as informações disponíveis.
Uma espécie de acto de saudade no percurso de uma memória.
Mas o tema tem continuar a ser abordado, porque foi uma fase importante de toda a guerra da Guiné. Toda a política de Spínola passava por aqui, nestas datas, nestes sítios (Teixeira Pinto) e na concepção e desenvolvimento da operação Chão Manjaco. Depois tudo terá evoluido noutro sentido - também sem a correspondência de Marcelo Caetano à trajectória concebida por Spínola. E tudo veio a desembocar, por exemplo, nos fortes assédios de Guidaje e Guileje, em Maio de 1973. (Em Guidaje estivemos 7 meses, entre 1968 e 1969)
Aliás soube que a viúva do Major Joaquim Pereira da Silva (que reside em Espinho) tem uma carta do seu marido (recebida com o espólio). E em que ele pressagia que o encontro com o PAIGC vai correr mal. Isso poderia ser um sintoma de que tudo não estaria completamente controlado. Mas parece-me que a questão tem outra profundidade e advêm de acções de descontrolo (e eventualmente rivalidades) no seio do PAIGC, na zona. Mas seria interessante ter cópia desse documento, pois pode ter alguma relevância histórica.
Há também uma pequena divergência que subsiste. O sobrinho do Major Pereira da Silva disse-me que foi Ramalho Eanes que, no dia seguinte (21 de Abril), procedeu ao levantamento dos corpos. Que foi ele próprio (ou o filho) que o informou. Poderá haver algum lapso de comunicação porque, segundo o João Varanda, ele, nessa altura, encontrava-se em Bafatá. E o que li, algures, é que quem efectuou essa diligência foi o Tenente-Coronel Romão Loureiro.
Se for necessário poder-se-á tentar saber se Romão Loureiro é vivo e, em caso afirmativo, qual o seu testemunho sobre este assunto.
Para já não me alongo mais. Com naturalidade poderemos voltar ao tema. Os meus agradecimentos pelo contacto e pelo seu testemunho.
Mas o tema tem continuar a ser abordado, porque foi uma fase importante de toda a guerra da Guiné. Toda a política de Spínola passava por aqui, nestas datas, nestes sítios (Teixeira Pinto) e na concepção e desenvolvimento da operação Chão Manjaco. Depois tudo terá evoluido noutro sentido - também sem a correspondência de Marcelo Caetano à trajectória concebida por Spínola. E tudo veio a desembocar, por exemplo, nos fortes assédios de Guidaje e Guileje, em Maio de 1973. (Em Guidaje estivemos 7 meses, entre 1968 e 1969)
Aliás soube que a viúva do Major Joaquim Pereira da Silva (que reside em Espinho) tem uma carta do seu marido (recebida com o espólio). E em que ele pressagia que o encontro com o PAIGC vai correr mal. Isso poderia ser um sintoma de que tudo não estaria completamente controlado. Mas parece-me que a questão tem outra profundidade e advêm de acções de descontrolo (e eventualmente rivalidades) no seio do PAIGC, na zona. Mas seria interessante ter cópia desse documento, pois pode ter alguma relevância histórica.
Há também uma pequena divergência que subsiste. O sobrinho do Major Pereira da Silva disse-me que foi Ramalho Eanes que, no dia seguinte (21 de Abril), procedeu ao levantamento dos corpos. Que foi ele próprio (ou o filho) que o informou. Poderá haver algum lapso de comunicação porque, segundo o João Varanda, ele, nessa altura, encontrava-se em Bafatá. E o que li, algures, é que quem efectuou essa diligência foi o Tenente-Coronel Romão Loureiro.
Se for necessário poder-se-á tentar saber se Romão Loureiro é vivo e, em caso afirmativo, qual o seu testemunho sobre este assunto.
Para já não me alongo mais. Com naturalidade poderemos voltar ao tema. Os meus agradecimentos pelo contacto e pelo seu testemunho.
Um grande abraço.
Afonso M. F. Sousa
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1436: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F.Sousa) (1): Perguntas e respostas
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1436: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F.Sousa) (1): Perguntas e respostas
(2) O Júlio Rocha já em tempos tinha contactado um dos nossos camaradas, o João Tunes:
Cópia de mensagem enviada por Júlio Rocha (19 de Dezembro de 2005)
Assunto: CCAÇ 2586/BCAÇ 2884 - Pelundo
Amigo Tunes:
Só há dias, através dum camarada que esteve comigo em Tavira, tomei conhecimento do site do Luis Graça e por muita satisfação encontrei-te no blogue.
Eu fiz parte da CCAÇ 2586 e estive no Pelundo até 02/07/70, dia em que tive o acidente quando me encontrava precisamente no teu quartel nessa noite, tendo de manhã sido evacuado para o hospital militar de Bissau e depois de ter estado internado e operado, vim evacuado para a metrópole em 21/07/70.
Era Furriel Miliciano do pelotão do Alferes Trindade. Costumo ir aos almoços do Batalhão [2884], se bem que ao último não pude ir. Devemos ser vizinhos, pois moro na Cova da Piedade. Bom natal para ti e vai dando notícias. Um abraço,
Júlio Rocha.
Vd. post de 28 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCVII: 'Bom festa pa tudo djinti': Natal 2005
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