Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da nossa tertúlia > Foto (parcial) do grupo: assinalado com um círculo a amarelo, o Rui Alexandrino Ferreira, coronel na reforma, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda (1).
Legenda completa: 1ª fila > Esparteiro (camarada do Rui Albino, foi o fotógrafo oficioso da CAÇ 2701), Eduardo Magalhães Ribeiro (mais conhecido como o pira de Mansoa), Benjamin Durães, João Varanda e, por fim, um camarada que não consigo, de memória, identificar;
2ª fila > Humberto Reis, J. Casimiro Carvalho e Luís Moreira;
3ª fila > Raul Albino, Artur Soares, mais um camarada não identifcado, mais uma senhora e, na ponta, o António Pinto;
4ª fila > Almeida (e, escondido, o António Rosinha), Carlos Santos, Rui Alexandrino Ferreira, José Bastos (tendo ao lado um grupo de acompanhantes que quiseram ficar na fotografia);
5ª fila > João Parreira, Vitor Barata e a família do Vitor Junqueira (duas filhas e os respectivos companheiros, além de duas netas).
1. Mensagem do Virgínio Briote (que esteve connosco em Pombal, acompanhado da esposa e da sogra, e com quem infelizmente só falei dois ou três minutos, durante o almoço, não tendo desta vez nem sequer tido tempo para lhe tirar uma fotografia, ele que o gentleman da nossa tertúlia) (2):
Caro Luís,
Envio-te o teor da mensagem que acabo de enviar ao Rui Ferreira. Tens toda a liberdade para a publicar, uma vez que o livro está à venda.
Gostei muito de te ver.
Um abraço,
vb
2. Caro Rui,
Apesar de não termos praticamente falado, para além de uma apresentação muito breve, tive muito gosto em te ver. Foste muito amável em me teres oferecido o teu livro e, no meio daquela gente toda, acho que nem te agradeci o gesto. Fico-te agradecido.
Pois acabei agora de o ler na totalidade. Como vês, não perdi tempo.
Somos do mesmo tempo e não só, pelo que acabo de ver. Fui mobilizado em Janeiro de 65, para o BCAV 490, o tal que esteve na Op Tridente na ilha do Como. Em rendição individual, em substituição de um alferes que tinha sido evacuado. Fui para Cuntima, para a CCAV 489 e por lá me mantive até quase o Batalhão acabar a comissão. Tive conhecimento que o Cor Cavaleiro tinha conseguido colocação em Bissau para os que estavam em rendição individual e que ainda não tinham tempo suficiente para a desmobilização.
Não me quis ver no meio dos papéis do QG e ofereci-me para os Comandos. Foi meu instrutor o então Cap Nuno Rubim, o também então Ten Saraiva e outros. Acabado o curso, fizeram-se 4 grupos, os Centuriões (Alf Rainha), os Apaches (Neves da Silva), os Vampiros (Vilaça) e os Diabólicos (3), de que fui o chefe até à chegada da 3ª CCmds (Cap Alves Cardoso) e da 5ª (Cap Albuquerque Gonçalves) em 30 de Junho de 66. Por ordem do Comandante Militar R. Nogueira ainda estive em Mansoa até 30 de Agosto, com elementos a quem faltavam ainda uns meses para acabar a comissão.
Corri a Guiné toda, como calculas. E, ao ler o teu livro, acabo por constatar que ambos percorremos aqueles trilhos da zona do Oio. Contas histórias que me são familiares. E são várias.
(i) Aquela do guia que se pirou, foi com o meu grupo. Nessa saída acompanhava-nos o então Cap Garcia Leandro. E foi como a contas, com um ou outro pormenor que já não recordo. Tenho ideia que o guia ia amarrado a um milícia de Mansoa , que a fuga ocorreu ainda de noite e não tenho presente que tenha havido fuzilaria. Eu era o 3º homen do grupo e, se a memória me não atraiçoa, o Marcelino (3) era o 1º , logo a seguir ao milícia e ao guia .
(ii) Outra é passada em finais de Junho, em Mansabá. A história do cão que não recordo alguma vez de ter ouvido falar, mas que não duvido que alguém do grupo tenha feito essa asneira. Na pág. 248, referes que nem um Km andado já estávamos a "cagar". Meia dúzia de linhas à frente, reduziste o km a que estávamos do destacamento para apenas 100 metros. E, meia dúzia de linhas abaixo, já são apenas meia dúzia de metros. São pormenores, caro Rui, que não têm muita importância. Para mim, importância tem o resultado. Entrámos no acampamento sem sermos detectados, fizemos aquilo que tínhamos a fazer e sem baixas do nosso lado.
Não posso falar sobre o caso da "perna partida" do Rainha, e de, por já ser dia, ter passado a hora de ataque ao acampamento. Surpreende-me. Porque foram várias as acções em que actuámos de dia. Que era, quanto a mim, uma altura privilegiada. Tive até a oportunidade de, precisamente com o Rainha, ser largado em Sitató, junto ao Senegal, zona de Cuntima, para uma nomadização de 48 h. Três ou 4 horas depois entrámos por um acampamento, com alguns elementos lá dentro na limpeza das armas. Fizemos isso várias vezes, por isso repito, acho estranho toda essa história.
Não terá ocorrido algo que tenha levado o Rainha a abortar a operação?
Guiné > Mapa assinalando os muitos sítios, de norte a sul, de leste a oeste, por onde andou, em actividade operacional, o ex-alf mil comando Virgínio Briote, de 1965 a 1966.
Foto: © Virgínio Briote (2005).- Direitos reservados
Do resto, emites algumas opiniões generalizadas sobre os cmds, opiniões a que tens evidentemente todo o direito. "Que corria à boca cheia que num bambúrrio de sorte....", que entraram numa arrecadação, coisa e tal, e que aquilo durou até ao fim da comissão...E perguntas-te a ti próprio se terá sido verdade. "Actuações terrivelmente confrangedoras..." "E se operacionalmente não era aquela CCmds um valor efectivo nem o podia ser nunca, pois ...., mal preparados..." Opiniões.
A CCmds actuou de Jun 64 a Jun 66. Os efectivos rondaram os 200 homens. Tiveram 12 mortos e 19 feridos. Cerca de 70 armas capturadas, para falar só de armas. Foram estes os resultados. Não são opiniões.
Àparte esta questão, repito, caro Rui, tive muito gosto em ler o livro. Rever aquelas terras, página a página, os nomes dos intervenientes quase todos meus conhecidos, foi uma leitura muito interessante.
Caro Rui Ferreira, um grande abraço e até um dia destes.
vb
_____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)
(2) O Briote está connosco desde Outubro de 2005 > Vd. post de 23 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLV: Virgínio Briote, ex-comando da 1ª geração (1965/66)
Em 7 de Fevereiro de 2006, criu o sue próprio blogue > Tantas Vidas. Sob o pseudónimo do Gil Duarte, reconstroi na primeira pessoa do singular o puzzle das suas memórias do tempo em que andou lá pela Guiné (1965/67), incluindo amores e desamores... Uma notável escrita e um grande documento humano que merecia passar a suporte de papel, sob a forma de livro.
Vd. também o seu álbum fotográfico > Imagens da guerra colonial.
(3) Vd., entre outros, os seguintes posts:
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1381: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu regresso (6): comandos de Brá em 1965, crime e castigo (João S. Parreira)
Legenda completa: 1ª fila > Esparteiro (camarada do Rui Albino, foi o fotógrafo oficioso da CAÇ 2701), Eduardo Magalhães Ribeiro (mais conhecido como o pira de Mansoa), Benjamin Durães, João Varanda e, por fim, um camarada que não consigo, de memória, identificar;
2ª fila > Humberto Reis, J. Casimiro Carvalho e Luís Moreira;
3ª fila > Raul Albino, Artur Soares, mais um camarada não identifcado, mais uma senhora e, na ponta, o António Pinto;
4ª fila > Almeida (e, escondido, o António Rosinha), Carlos Santos, Rui Alexandrino Ferreira, José Bastos (tendo ao lado um grupo de acompanhantes que quiseram ficar na fotografia);
5ª fila > João Parreira, Vitor Barata e a família do Vitor Junqueira (duas filhas e os respectivos companheiros, além de duas netas).
1. Mensagem do Virgínio Briote (que esteve connosco em Pombal, acompanhado da esposa e da sogra, e com quem infelizmente só falei dois ou três minutos, durante o almoço, não tendo desta vez nem sequer tido tempo para lhe tirar uma fotografia, ele que o gentleman da nossa tertúlia) (2):
Caro Luís,
Envio-te o teor da mensagem que acabo de enviar ao Rui Ferreira. Tens toda a liberdade para a publicar, uma vez que o livro está à venda.
Gostei muito de te ver.
Um abraço,
vb
2. Caro Rui,
Apesar de não termos praticamente falado, para além de uma apresentação muito breve, tive muito gosto em te ver. Foste muito amável em me teres oferecido o teu livro e, no meio daquela gente toda, acho que nem te agradeci o gesto. Fico-te agradecido.
Pois acabei agora de o ler na totalidade. Como vês, não perdi tempo.
Somos do mesmo tempo e não só, pelo que acabo de ver. Fui mobilizado em Janeiro de 65, para o BCAV 490, o tal que esteve na Op Tridente na ilha do Como. Em rendição individual, em substituição de um alferes que tinha sido evacuado. Fui para Cuntima, para a CCAV 489 e por lá me mantive até quase o Batalhão acabar a comissão. Tive conhecimento que o Cor Cavaleiro tinha conseguido colocação em Bissau para os que estavam em rendição individual e que ainda não tinham tempo suficiente para a desmobilização.
Não me quis ver no meio dos papéis do QG e ofereci-me para os Comandos. Foi meu instrutor o então Cap Nuno Rubim, o também então Ten Saraiva e outros. Acabado o curso, fizeram-se 4 grupos, os Centuriões (Alf Rainha), os Apaches (Neves da Silva), os Vampiros (Vilaça) e os Diabólicos (3), de que fui o chefe até à chegada da 3ª CCmds (Cap Alves Cardoso) e da 5ª (Cap Albuquerque Gonçalves) em 30 de Junho de 66. Por ordem do Comandante Militar R. Nogueira ainda estive em Mansoa até 30 de Agosto, com elementos a quem faltavam ainda uns meses para acabar a comissão.
Corri a Guiné toda, como calculas. E, ao ler o teu livro, acabo por constatar que ambos percorremos aqueles trilhos da zona do Oio. Contas histórias que me são familiares. E são várias.
(i) Aquela do guia que se pirou, foi com o meu grupo. Nessa saída acompanhava-nos o então Cap Garcia Leandro. E foi como a contas, com um ou outro pormenor que já não recordo. Tenho ideia que o guia ia amarrado a um milícia de Mansoa , que a fuga ocorreu ainda de noite e não tenho presente que tenha havido fuzilaria. Eu era o 3º homen do grupo e, se a memória me não atraiçoa, o Marcelino (3) era o 1º , logo a seguir ao milícia e ao guia .
(ii) Outra é passada em finais de Junho, em Mansabá. A história do cão que não recordo alguma vez de ter ouvido falar, mas que não duvido que alguém do grupo tenha feito essa asneira. Na pág. 248, referes que nem um Km andado já estávamos a "cagar". Meia dúzia de linhas à frente, reduziste o km a que estávamos do destacamento para apenas 100 metros. E, meia dúzia de linhas abaixo, já são apenas meia dúzia de metros. São pormenores, caro Rui, que não têm muita importância. Para mim, importância tem o resultado. Entrámos no acampamento sem sermos detectados, fizemos aquilo que tínhamos a fazer e sem baixas do nosso lado.
Não posso falar sobre o caso da "perna partida" do Rainha, e de, por já ser dia, ter passado a hora de ataque ao acampamento. Surpreende-me. Porque foram várias as acções em que actuámos de dia. Que era, quanto a mim, uma altura privilegiada. Tive até a oportunidade de, precisamente com o Rainha, ser largado em Sitató, junto ao Senegal, zona de Cuntima, para uma nomadização de 48 h. Três ou 4 horas depois entrámos por um acampamento, com alguns elementos lá dentro na limpeza das armas. Fizemos isso várias vezes, por isso repito, acho estranho toda essa história.
Não terá ocorrido algo que tenha levado o Rainha a abortar a operação?
Guiné > Mapa assinalando os muitos sítios, de norte a sul, de leste a oeste, por onde andou, em actividade operacional, o ex-alf mil comando Virgínio Briote, de 1965 a 1966.
Foto: © Virgínio Briote (2005).- Direitos reservados
Do resto, emites algumas opiniões generalizadas sobre os cmds, opiniões a que tens evidentemente todo o direito. "Que corria à boca cheia que num bambúrrio de sorte....", que entraram numa arrecadação, coisa e tal, e que aquilo durou até ao fim da comissão...E perguntas-te a ti próprio se terá sido verdade. "Actuações terrivelmente confrangedoras..." "E se operacionalmente não era aquela CCmds um valor efectivo nem o podia ser nunca, pois ...., mal preparados..." Opiniões.
A CCmds actuou de Jun 64 a Jun 66. Os efectivos rondaram os 200 homens. Tiveram 12 mortos e 19 feridos. Cerca de 70 armas capturadas, para falar só de armas. Foram estes os resultados. Não são opiniões.
Àparte esta questão, repito, caro Rui, tive muito gosto em ler o livro. Rever aquelas terras, página a página, os nomes dos intervenientes quase todos meus conhecidos, foi uma leitura muito interessante.
Caro Rui Ferreira, um grande abraço e até um dia destes.
vb
_____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)
(2) O Briote está connosco desde Outubro de 2005 > Vd. post de 23 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLV: Virgínio Briote, ex-comando da 1ª geração (1965/66)
Em 7 de Fevereiro de 2006, criu o sue próprio blogue > Tantas Vidas. Sob o pseudónimo do Gil Duarte, reconstroi na primeira pessoa do singular o puzzle das suas memórias do tempo em que andou lá pela Guiné (1965/67), incluindo amores e desamores... Uma notável escrita e um grande documento humano que merecia passar a suporte de papel, sob a forma de livro.
Vd. também o seu álbum fotográfico > Imagens da guerra colonial.
(3) Vd., entre outros, os seguintes posts:
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1381: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu regresso (6): comandos de Brá em 1965, crime e castigo (João S. Parreira)
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