quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10510: Em busca de... (206): Camaradas que tenham conhecido o meu pai, Francisco Parreira (1948-2012), ex-1º cabo mec elect auto, Grupo de Artilharia nº 7, Bissau, 1970/72 (Filomena Maria de Sousa Parreira)

Guiné > Bissau > 25 de >Março de 1972 > Cerimónia de despedida da CART 2716 (Xitole, 1970/72), unidade de quadrícula do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), na presença do Com-Chefe General Spínola.



Foto: © Jorge Silva (2010). Todos os direitos reservados (Com a devida vénia...)

1. Em 5 de Julho passado, a nossa leitora Filomena Parreira fez seguinte comentário ao poste P7857:(...) Caros amigos, sou filha do 3º elemento da fotografia, não fazem referência ao nome mas tenho a certeza que é meu pai... Francisco Parreira, diz-vos alguma coisa?

Meu pai faleceu há pouco e por coincidência procurei na Net pelo nome dele...pois só me lembro dele e apareceu esta foto. Ele esteve em Guiné e nesta altura.... podem por favor enviar mais informação ?!

obg e bem-hajam, Filomena Parreira (...) 


2. O nosso grã-tabanqueiro David Guimarães foi o primeiro a confirmar a não existência de nenhum militar com o nome de Francisco Parreira, em comentário ao mesmo poste:

(...) Amigo Luís e todos aqueles que nos vamos preocupando uns com os outros... Amigos: Eu, David Guimarães Furriel Miliciano, esclareço o seguinte: essa Companhia que em cima (na foto) desfila é a CART 2716 onde em memória não me lembro que tivesse algum elemento com o apelido Parreira.
 
Como a memória não dá para relembrar toda a companhia em nomes, então fui ao livro do Batalhão ver se haveria alguém de que eu me tivesse esquecido e que se chamasse Francisco Parreira. Lamento dizer que se deve tratar de um equívoco (...). Pedia à nossa amiga para efectivamente ver se não se tratará aí de algum sósia de seu pai - o que pode acontecer... 


Um abraço e muito lamento pelo falecimento do Pai da nossa amiga e do pouco que possa ter sido útil... mas uma certeza tenho... Há equívoco... Abraço, David Guimrães (...)


3. No dia seguinte houve uma troca de correspondente entre o David e a Filomena:


(i) Filomena Parreira:

(...) Caros camaradas, obrigada pela atenção. Pode até ser equivoco, mas eu vou jurar que é o meu pai... Então tentarei enviar-vos uma foto dele e informação mais detalhada sobre a prestação dele na guerra, em África, pois ele esteve na Guiné e por esses anos...70/72abraço e obrigado pela força. (...).

(ii) David Guimarães:


Minha amiga, pois estarei atento à fotografia que enviar, no entanto procure saber se seu falecido pai era da CART 2716 e esteve no Xitole. Sabe que nessa data estávamos na Guiné cerca de 35 mil  homens espalhados por tudo quanto é canto da Guiné, ora em Batalhões. em Companhias, em Pelotões e Companhias independentes, mais a Aviação e a Marinha... Qualquer um de nós poderia estar em algum lado...
Querendo, facultarei a página onde constam todos os nomes dos militares que vê aí nesse desfile e onde verificará não constar o nome de Francisco Parreira - falecido e que muito lamento (...).



4. Mais tarde, e procurando a ajudar a  nossa amiga (, dentro daquele princípio da nossa Tabanca Grande segundo o qual "filho/a de um camarada nosso, nosso/a filho/a é"), sugeri à Filomena que fosse consultar a caderneta militar do seu pai... A 26 de julho ela trouxe, até nós, os seguintes elementos e identificação


De: [Filomena] Maria de Sousa [Parreira]
Data: 26 de Julho de 2012 12:15

Assunto: Meu pai, o Parreira

Bom dia caro Luis, já tenho novidades quando à identificação do meu pai, encontrei a caderneta e do que dela consta vejamos:

(i) 
Nome completo: Francisco Manuel de Almeida Parreira;

(ii) Nº matricula: 190543769;

(iii) Função : 1º cabo, curso Mec Elect auto;

(iv) Pertenceu  ao Grupo de Artilharia nº 7 [ O Grupo de Artilharia de Campanha Nº 7 - Grupo de Artilharia Nº 7 ( GAC 7 - GA 7) teve Início em 1Jul70, e foi extinto em 14 de Outubro 1974 ]

(v) Esteve em (ou passou por) as  seguintes unidades; RAP 3 em 1969; EPSM em 1970; RI 2 em 1970; GAC 7 e CICA em 1970; RAL 1 em 1972...

(ii) Embarcou em Lisboa em 18 de setembro 70 com destino ao CTIG;

(ii) Desembarcou em Bissau, em 24 de setembro de 1970;

(iii) Regressou a 8 novembro de 1972:

(iv) Considerado serviço na GUINÉ - 100% desde 24-09-1970 até 6/11/72 ou seja 2 anos e 44 dias.

Posto isto, espero que me ajudem de alguma forma a compreender a vida do meu pai na guerra, por onde ele andou e o que fez…

Pois ele era um homem bastante sociável, mas com uma forma de estar, um temperamento um pouco reservado, calado, resistente e muito teimoso, inclusive até revoltado, vivia no mundo só dele; quanto ao estado de saúde, não aceitava outras opiniões..e bastava ter tido um pouco mais de cuidado que não se ia assim tão de repente.

Eu creio que deve-se também ao facto dos traumas que teve lá fora... Não se relacionava de forma equilibrada o suficiente para aceitar que os outros também tinham razão ...e se preocupavam consigo, principalmente a família. Havia sempre um sentido de forte, homem resistente.

Melhor que ninguém os camaradas podem me falar um pouco desses tempos, uma vez que do meu pai pouco sei... Ele não falava muito desse tempo, nada mesmo, aliás não gostava nada de falar da guerra. Algo me diz que muito há a dizer sobre o que vocês lá viveram e, de alguma forma, consequências e os porquês. Eu leio a história e sei do que se trata, mas quando nos toca aos nossos queremos outras respostas…

Sabe, a família também viveu os fragmentos da guerra.... Do que eu vi, ele tinha estilhaços nos braços pois esteve no meio de uma bomba...

Quanto as fotografias, não me esqueci, estou a tratar de digitalizar, em breve envio, porque muito me custa mexer nas coisas dele…

obrigado pelo vosso apoio e ajuda, bjs, 
Filomena Maria de Sousa Parreira

5. Mais recentemente, a 8 do corrente, a Filomena mandou-nos uma foto do pai [, vd. acima],

(...) Conforme combinado junto envio as fotos do meu pai, que esteve em Guiné em 1970/72.
Ele nasceu em 10/08/48 e faleceu a 27/09/12 [?], tinha 63 anos...

Peço desculpa por só entregar agora, mas isto não tem estao bom, eu tenho estado um pouco em baixo...O verão foi difícil. Faz-me muita falta o meu pai. Obrigado pela força e apoio e desejo que alguns colegas amigos se lembrem dele e me digam histórias e passagens sobre a vida na guerra. (...)
 
PS - Eis umas palavras que li e gostei e fazem-me refletir...é tudo o que sinto... "E chegará o dia em que o pai se cala de vez e aí passamos a compreender tudo aquilo que ele nos disse, tudo aquilo que ele nos quis ensinar. A lágrima rola com o avançar do tempo mas os dias não voltam para trás, nem nós voltámos para trás... talvez a memória, talvez a dor, de certeza a saudade." (desconhecido)

6. Comentário de L. G.: 

Obrigado, Filomena, faz-lhe bem falar do seu pai, num blogue de camaradas de armas. Você está a fazer o luto. Também perdi o meu,  em abril deste ano, já com quase 92. Também estou a fazer o luto. Um pai é sempre  uma perda irreparável. Resta-nos a saudade, a partilha, a memória. Vamos ver se aparece alguém do tempo do seu pai, algum camarada da matrópole ou do GAC 7 (Bissau, 1970/72). Um bj. Luis Graça

PS - Presumo que a data da morte do seu pai esteja errada... Se ele morreu com 63 anos, deve ter sido antes de 10 de agosto de 2012. Não será antes junho ou maio de 2012 ? O seu primeiro comentário é de 5 de julho de 2012. Mas isso, não é relevante. Por outro, diz-me que me  mandou "fotos" (no plural)... Em anexo, só vinha esta, que agora publicamos acima. Deve ter fotos do tempo da Guiné. São mais fáceis de reconhecer por parte dos camaradas do seu pai.
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Nota do editor: 

Último poste da série > 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10445: Em busca de... (205): Manuel Moreira de Castro encontrou o camarada Santos, do BENG 447, ao fim de 44 anos

6 comentários:

Luís Graça disse...

Filomena: O pessoal que ia para o GA 7 era de rendição individual, o que significa que muitos nunca mais se voltaram a encontrar, depois de acabada a tropa.

Precisamos de uma foto do seu pai, desse tempo, e mais dados: donde era natural, onde vivia aos 20 anos, etc.

Muitos camaradas eram conhecidos pelos nomes da sua terra ou bairro, o "Setúbal", o "Peniche", o "Mouraria"... LG

Anónimo disse...

Talvez o Ten-Cor. Borrega o tenha conhecido.
À época era Fur. e fazia parte dos quadros do GAP7 (ex-BAC1), sedeado em Bissau mas com cerca de 25 pelotões no mato.
António Ribeiro

Anónimo disse...

Caro Luis,
É isso mesmo, nós do GAC 7 (GA 7, BAC 1...), éramos de rendição individual,por vezes logo após um curto período, íamos para os Pelotões, é provável que esse camarada tenha ficado em Bissau, pois era aí que ficavam os especialistas (macânicos, eletricistas, etc...).
forte abraço
Vasco Pires

Filomena P. disse...

caros amigos,

ele faleceu em 27 de junho de 2012.
peço desculpa pelo erro.

Anónimo disse...

Cara Filomena Maria de Sousa Parreira
Fui alferes miliciano da BAC 1, e percorri muitos locais da Guiné, comandando vários pelotões,de dezembro de 67 a dezembbro de 69. Tive a oportunidade de tirar quase 200 fotografias, se pretender conhecê-las basta que me contacte para o efeito pelo meu email: jjdelimaalvesmartins@gmail.com
Um abraço com votos de pesar pela morte do seu pai.
João Martins

Anónimo disse...

Caro João Martins
Tenho trocado mails com o Jorge Gaudêncio Figueira, também ex-alferes na BAC, que, creio eu,fez a viagem para a Guiné contigo.
O Figueira esteve comigo 2/3 meses em Mejo e depois transitou para Guileje.
António Ribeiro