terça-feira, 6 de novembro de 2012

Guiné 763/74 - P10628: Blogpoesia (304): Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades [Ta muda tenpu, ta muda vontadi] (Luís de Camões / José Luís Tavares)


Efígie de Luís de Camões, "principe dos poetas. Selo de 50 centavos, Guiné, República Portuguesa, emitido por ocasião do 400º aniversário de Os Lusíadas



Fonte: Cortesia de

Postugal > Portugal on stamps, blog de Michel Wermelinger [ "I’m a Portuguese living in the UK and this is a ‘show and tell’ site about my home country. The rest of this page explains how the site and my stamp collection are organised. Thanks for dropping by and I hope you enjoy the visit" (Michel Wermelinger)].


[Poste dedicado aos nossos amigos da banda portuguesa de música klezmer Melech Mechaya em digressão por Cabo Verde e Brasil, no âmbito da 20ª edição do Festival Sete Sois Sete Luas: João Graça, violino e nosso grã-tabanaqueiro; Miguel Veríssimo, clarinete; André Santos, guitarra; João Sovina, contra-baixo; e Francisco Caiado, percussão; e que esta noite estão a tocar na Ilha da Brava, berço desse poeta maior da caboverdianidade, que se chama Eugénio Tavares, 1867-1930]


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
Ta muda tenpu, ta muda vontadi, 

Muda-se o ser, muda-se a confiança; 

Ta muda ser, ta muda konfiansa; 

Todo o mundo é composto de mudança, 

Tudu mundu é fetu di mudansa, 

Tomando sempre novas qualidades. 

Ta toma senpri nobus kolidadi. 



Continuamente vemos novidades, 

Sen nunka pára nu ta odja nobidadi, 

Diferentes em tudo da esperança; 

Diferenti na tudu di speransa; 

Do mal ficam as mágoas na lembrança, 

Máguas di mal ta fika na lenbransa, 

E do bem, se algum houve, as saudades. 

Y di ben, si izisti algun, ta fika sodadi. 



O tempo cobre o chão de verde manto, 

Tenpu ta kubri txon di berdi manta, 

Que já coberto foi de neve fria, 

Ki di nebi friu dja steve kubertu, 

E em mim converte em choro o doce canto

Y, na mi, ta bira txoru u-ki n kantaba 



E, afora este mudar-se cada dia,
Ku dosura. Y, trandu es muda sen konta,

Outra mudança faz de mor espanto: 

Otu mudansa ta kontise ku más spantu, 

Que não se muda já como soía. 

Ki dja ka ta mudadu sima kustumaba.


Camões (c. 1524-1580)


Tradução, do português para crioulo cabo-verdiano, de José Luís Tavares)
Fonte: Blogue Um Reino Maravilhoso > 3 de fevereiro de 2011 > Camôes em crioulo cabo-verdiano [Adaptado e reproduzido aqui, com a devida vénia...)


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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10625: Blogpoesia (303): Quero um futuro marcado com traço por mim riscado (Josema)

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bonito!

Como é fácil compreender a tradução!
Com um pouco mais aprendíamos a língua deles.

Obrigada ao Luís de Camões e ao José Luís Tavares.

Um abraço fraterno da

Felismina.

Bispo1419 disse...

Belo, fascinante soneto de Luís de Camões.
Para além da sua enorme qualidade literária este soneto exerce um fascínio generalizado porque serve a todos os que o leem: a gentes de todas as "cores" e credos religiosos e políticos, sejam ricas, pobres ou remediadas, novas ou velhas ...
Esta sua incidência global,universal, existe porque fala de algo que todos conhecem, fala dos Tempos, da Vida Humana,do tempo da vida de cada um.
Mudem-se os tempos e as vontades que continuará a ser uma obra-prima de todos os Tempos, passados e futuros.
É que a vida é mesmo feita de mudança. A ação contrária, a não-mudança, leva à morte. Aliás esta perceção faz parte da chamada sabedoria popular: "Parar é morrer!"