segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12021: (In)citações (54): Revista do Expresso, de 24/8/2013, traz artigo sobre a vida e a obra do nosso camarada João Crisóstomo (Eduardo Jorge Ferreira)... E o nosso blogue gostaria muito de o ver condecorado num próximo 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (Luís Graça)


Vilma Kracun e João Crisóstomo, no dia do seu casamento em Nova, 20/4/2012.  A história de amor de Vilma, cidadã eslovena, e do nosso camarada João Crisóstomo, já tinha sido publicada em The New York Times,de 28/4/2012, e antes disso no nosso blogue. . E chega também agora à imprensa portuguesa (Expresso, 24/8/2013).

O João Crisóstomo, natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/66), vive em Nova Iorque desde 1975 e integra a nossa  Tabanca Grande  desde 26 de julho de 2010.


Foto: LusoAnmericano, 24 de abril de 2013 (Reproduzida com a devida vénia...)



1. Mensagem do Eduardo Jorge Ferreira [, foto à esquerda,] ,ex-alf mil da Polícia Aérea (BA12, Bissalanca, 1973/74), natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, e amigo pessoal do nosso editor Luís Graça:

Data: 2 de Setembro de 2013 às 16:33

Assunto: Artigo do Expresso sobre o nosso camarigo João Crisóstomo

Caríssimos Luís  Graça e co-editores:

Regressado de umas curtas férias,  só ontem dei uma olhadela ao Expresso, de 24 de agosto,  e em cuja revista  me deparei com uma reportagem sobre o nosso camarada João Crisóstomo.

A par do muito que já se escreveu no Blogue sobre esta personalidade ímpar,  julgo que não seria demais voltar a falar dele a propósito de mais uma notícia na imprensa acerca da sua vida fascinante.

Como já foi descrito trata-se de um Português com P grande, de quem muito nos orgulhamos, pelo seu contributo para a defesa de grandes causas [, Gravuras Rupestres de Foz Coa, Memória de Aristides Sousa Mendes, autodeterminação de Timor Leste e do Sará Ocidental. .], e um ser humano de imenso coração e ao mesmo tempo de uma simplicidade e generosidade cativantes.

Em boa hora o João Crisóstomo começou a fazer parte da nossa Tabanca Grande e já todos conhecemos a sua história que agora vai chegando também ao grande público nacional. Foi um privilégio muito grande para mim tê-lo conhecido e à (agora) sua Vilma Kracun, bem como poder ter confraternizado com ambos, embora por muito pouco tempo, em companhia do nosso comum amigo Luís Graça e esposa.

Eduardo Jorge [Ferreira]

2. Comentário de L.G.:

Eduardo, obrigado pela tua oportuna mensagem. Também li o referido artigo na Revista do Expresso, edição de 24 de agosto último, e tinha intenções de fazer sobre ele um pequeno poste. O João e a  Vilma aparecem fotografados no Central Park, com um brilhozinho nos olhos, sinal de que estão felizes.

Para os seus amigos e camaradas, como nós, é um motivo de orgulho as elogiosas referências ao João Crisóstomo, na imprensa (nacional e internacional). Só agora, acabadas as férias, é que disponho de um pouco mais de tempo para publicar e comentar a tua mensagem. Para já, mando-te um abraço e um xicoração para a tua gentilíssima esposa, que só conheci recentemente, justamente no passado mês de agosto, na casa da Abelheira, Lourinhã, do casal Marteleira, Glória e Laurentino, nossos amigos comuns. (Não está esquecida a promessa de a tua querida esposa nos contar histórias do tempo da sua infância e juventude, em Bissau, ou pelo menos nos mandar fotos do seu álbum).

E o que eu queria dizer e reiterar, a propósito do nosso João, teu conterrâneo e meu vizinho, é que ele é um português da diáspora que nos honra a todos. Já fez por nós e por Portugal provavelmente muito mais do que muitos diplomatas de carreira juntos.

É pena que a casa civil do Presidente da República, a nossa diplomacia, os membros do Governo e os membros das ordens honoríficas portuguesas andem distraídos e ainda ninguém tenha proposto ou referenciado, ao que eu saiba, o nome do João Crisóstomo, como elegível para uma possível (, justissima, quanto a mim!) condecoração no 10 de junho.

Este ano, o 2013,  essa distinção teria sido a cereja no bolo. Que seja ao menos no 10 de junho de 2014. A nossa Tabanca Grande vai fazer força para isso!...  (Como se sabe, "a concessão de qualquer grau das Ordens Honoríficas Portuguesas é da exclusiva competência do Presidente da República como Grão-Mestre das Ordens", segundo leio no sítio oficial da Presidência da República).

As nossas mais calorosas saudações bloguísticas para o casal nova-iorquino João e Vilma, que espero poder rever e abraçar para o ano!
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11825: (In)citações (53): Bem haja quem fundou o blogue, bem haja quem apreciou as crónicas do meu pai, e tu, pai, continua a escrever, peço-te. Da filha que te adora (Paula Ferreira)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Estive há dias a almoçar com familiares e amigos (entre eles, os nossos tabanaqueiros Joaquim e Margarida Peixoto) no restaurante do museu de Foz Coa... Falámos inevitavelmente do João Crisóstomo e das gravuras que não sabiam nadar...

Aqui fica umn excerto de arigo pubçicado, em 1/1/2010, na revista da TAP, Up Magazine, assinado por Maria João Velioso... Com a devida vénia:


João Crisóstomo – Nova Iorque


(...)"João Crisóstomo cresceu numa família com grande tradição católica. Muitos dos seus parentes seguiram a vocação religiosa e dedicaram a vida ao sacerdócio. Ele próprio, na juventude, frequentou um seminário de franciscanos, mas acabou por seguir outro rumo. Deste percurso, ficou a vontade de ajudar o semelhante: “Não sou um católico fervoroso, mas a base da minha vida é seguir a palavra de Cristo”, admite. Pode dizer-se que, nas últimas décadas, o português radicado em Nova Iorque se tem dedicado a causas quase sempre relacionadas com Portugal ou os portugueses.

Se hoje em Foz Côa existe o maior museu paleolítico ao ar livre do mundo, João Crisóstomo tem a sua quota-parte de responsabilidade, através da campanha internacional que lançou, em 1995, apelando a que não afogassem este santuário de arte rupestre. “O caso, para mim que vivo no estrangeiro, foi uma surpresa. Não fazia a mínima ideia da existência de Foz Côa e, quando li o artigo no New York Times, achei que nos EUA podia dar alguma ajuda.” O emigrante publicou então uma carta aberta ao editor do periódico nova-iorquino que explicava o que se estava a passar em Portugal. Mandou também uma outra carta, a Boutros Ghali, então secretário-geral da ONU, onde mostrava a sua preocupação com o facto das obras da barragem de Vila Nova de Foz Côa obrigarem à submersão das figuras. O Times, a BBC, o Le Monde e o Liberation, deram-lhe um grande apoio. Da mesma forma, chegaram a Portugal epístolas suas para jornais como o Público, o Expresso, ou o Diário de Notícias.

“O Times, de Londres tornou-se campeão na defesa das gravuras de Foz Côa. Cheguei até ao dono do jornal, o magnata da imprensa Rupert Murdoch, porque era amigo dos mordomos (portugueses) que trabalhavam com ele, e pedi-lhes que lhe entregassem uma carta”. O resultado foi um artigo que dizia: “Portugal tem que parar com o vandalismo do século XX”. Na altura, estas palavras caíram como uma bomba em terras lusas, lembra. Peter Jennings, pivot do ABC World News Tonight, dedicou ao assunto um programa depois de convencido por Crisóstomo: “Se não houvesse uma opinião pública mundial a favor das gravuras não haveria força suficiente para parar isto”. (...)

http://upmagazine-tap.com/pt_artigos/joao-crisostomo-nova-iorque/

Luís Graça disse...

Mais um exerto do citado artigo, da Up Magazine, de 1/1/2010

(...) "Um exemplo de diplomacia

O percurso do activista português é no mínimo sui generis. Saiu de Portugal para a Europa para aprofundar os conhecimentos em línguas, tencionando depois regressar e tornar-se profissional de turismo. Mas a vida reservava-lhe várias surpresas. Andou por Inglaterra, França e Alemanha, sempre a trabalhar na área da hotelaria, tirando em simultâneo cursos de inglês e francês. Na década de 1970 rumou ao Brasil, onde começou por trabalhar na recepção de um hotel, aproveitando para tirar um curso de hotelaria na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A convite de um professor, foi até aos EUA, onde aproveitou para estudar na universidade de Cornell. Quando se preparava para voltar ao Brasil, soube que havia uma senhora a precisar de um mordomo. Jacqueline Kennedy Onassis. “Foi uma experiência extraordinária. Ela era uma senhora em todos os sentidos. Carinhosa, diplomata, muito inteligente, tinha todos os predicados para ser uma primeira-dama.”

Terá sido um bom exemplo, nos anos em que trabalhou para ela, vê-la ajudar prisioneiros, com iniciativas de vária ordem, entre as quais mandar livros para as prisões, ou não hesitar em sair para a rua com cartazes contra a demolição do Grand Central Terminal, a emblemática estação de comboios nova-iorquina. “Inconscientemente fui influenciado pela sua determinação. Nos movimentos que entretanto lancei ela não teve influência directa, mas o John John Kennedy (o filho) sim”.

A actividade como mordomo, e depois como maître de um banco, pô-lo em contacto com personalidades de relevo americanas, da esfera da alta finança e da política, o que tem facilitado a sua actividade como defensor de causas. A seguir a Foz Côa, João Crisóstomo lutou pela independência de Timor-leste. Quando lhe pediram para abraçar a causa do país do sol nascente, conheceu Anne Treseder, advogada norte-americana bastante informada sobre o assunto. Os conselhos que lhe deu levaram-no, por outro lado, à descoberta do cônsul português Aristides de Sousa Mendes que, a partir de Bordéus, salvou milhares de judeus dos campos de concentração durante a segunda Guerra Mundial.

“Para ajudar Timor-Leste, impunha-se conseguir o apoio da imprensa. Ora, esta é bastante controlada pela comunidade judaica. Se quer o apoio deles, fale-lhes de Aristides de Sousa Mendes, disse-me a advogada”. O cônsul português em Bordéus tornou-se assim uma porta, e “uma causa apaixonante para mim”. O LAMETA – Movimento Luso-americano para a Autodeterminação de Timor-leste –, da qual é presidente, deu seguimento a várias iniciativas de pressão junto das autoridades norte-americanas, como uma petição ao presidente Bill Clinton: “Quando lhe mandei o abaixo-assinado, fazia notar que estavam ali assinaturas conscientes, por exemplo de líderes portugueses e membros prestigiados da comunidade internacional, como Patrick Kennedy (filho de Ted Kennedy).” A contribuição foi decisiva para que a Indonésia mudasse a política em relação a Timor e aceitasse a realização de um referendo, passo em direcção à autodeterminação do povo timorense". (...)


http://upmagazine-tap.com/pt_artigos/joao-crisostomo-nova-iorque/

Luís Graça disse...


3º e último excerto:


(...) "Entretanto, ao conhecer a história de Sousa Mendes, João Crisóstomo começou paralelamente um outro movimento para que se fizesse justiça ao nome do diplomata português que, com um simples carimbo no passaporte, salvou cerca 30 mil vidas, entre as quais as de 10 mil judeus. Na exposição Visas For Life, em Junho de 2003, no Museu da Herança Judaica de Nova Iorque, destaca-se Sousa Mendes, embora o mordomo português tenha lembrado ao curador da mostra, a relevância de outros diplomatas portugueses e brasileiros, nomeadamente Luís Martins de Sousa Dantas, Sampaio Garrido, Teixeira Branquinho e Guimarães Rosa, cuja acção diplomática permitiu salvar também milhares de judeus do holocausto.

A acção mais extraordinária desta causa, contundo, aconteceu a 17 de Junho de 2004. Por iniciativa de Crisóstomo – para assinalar o dia em que Sousa Mendes iniciou a concessão de vistos (em 1944) – organizou-se, com o apoio da Fundação Raoul Wallenberg e de vários cardeais, uma missa de Acção de Graças em 22 países, lembrando não apenas o cônsul português, mas também o sueco Wallenberg e o suíço Carl Lutz considerados por Israel como “justos entre as nações”. Em Abril do ano seguinte, aquando dos 50 anos sobre a sua morte, o nosso entrevistado conseguiu também que o “Schindler português” voltasse a ser homenageado no Museu de Herança Judaica." (...)

http://upmagazine-tap.com/pt_artigos/joao-crisostomo-nova-iorque/