1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)
Temos, de novo, o ex-sold Agostinho Gomes Evangelista, do 1º pelotão, a contar-nos aqui uma história, com piada, sobre um camarada, o Artur, que arranjava sempre umas desculpas para se baldar... ao mato (pp. 84/85)... Aliás, era para isso que também serviam as doenças, da cabeça, do estômago, do cú...
Porque afinal de contas, na guerra e noutras situações-limite em que se arrisca a vida, "quem tem cu tem medo", já lá diz o nosso povo, para logo acrescentar: "Quem tem medo, fica em casa"... E, mesmo assim, o céu pode-nos cair em cima... (LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 24 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13642: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXIII: O quotidiano em Canjambari...(Agostinho Evangelista, 1º pelotão)
9 comentários:
1.Baldarse, desenfiar-se... Ontem como hoje, é um velho problema da sociedade portuguesa... Somos um povo absentista ? E, já agora, qual era a taxa de absentismo nas nossas companhias, no TO da Guiné ?
Com as baixas por ferimentos em combate, doença natural e acidente, mais os desenfiados em Bissau (a tratar dos dentes, dos ouvidos, etc., ou apenas no "bem-bom" (e não contabilizando o pessoal no gozo do direito, legal, de licenºa para férias...) atingirem númmeros da ordem dos 15, 20., 25 ou até mais...
Isto quer dizer que numa companhia, com uma dotação de 150 homens, a taxa de absentismo devia ser de dois dígitos: 10 a 20%,,, Feitas as contas, uma companhia operacional, com 4 grupos de combate, totalizando 120 efetivos, bastava que faltasse 3 edm cada pelotão para ter, ao londo do ano, uma taxa de 10% de absentismo...
O problema tendia a agravar-se à medida que "a usura física e mental da guerra" se ia agravando...
2. Aplicado este raciocínio às emprsas, veja-se como o absentismo pode atingir valores insuspeitáveis...
Cito aqui o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar São João, do Porto, Antío Ferreiram, enm entrevista ao "Portal da Liderança!:
http://portaldalideranca.sapo.pt/arquivo/destaque/antonio-ferreira-com-o-indice-do-s-joao-o-custo-da-saude-reduziria-mais-de-500-milhoes
(...) "Referiu que no Hospital de S. João, no conjunto de 6000 colaboradores, faltam em média 10% por dia. Como é que justifica isto?
AF: Deve-se a dois motivos. O primeiro é porque o Hospital de S. João é o único hospital português em que se registam efetivamente as presenças, o que é muito importante. Ou seja, todos os grupos profissionais e o conselho de administração quando chegam fazem o seu registo biométrico de entrada e o mesmo quando saem. ´
Isto permite-nos ter uma ideia da maior parte do absentismo. Isto porque há outros que vão fazer o registo, depois vão trabalhar, voltam a vir fazer o registo de saída mas só lá vão estacionar o carro. Se todos os hospitais fizessem isto, a taxa de absentismo aumentaria em termos globais.
Estes 10% de absentismo do Hospital de S. João incluem tudo, como férias, comissões gratuitas de serviço e apoio na parentalidade, entre outros, bem como o absentismo fraudulento, onde se incluem as baixas fraudelentas, que é imenso e penso que o seja em todo o lado. E temos de viver com isto porque temos uma legislação que nos impede de ter uma abordagem séria em relação a isso."
Tirando as férias (que não devem ser contabilizadas para efeitos de absentismo, tal como as greves e ontros conflitos laborais, que são fenómenos coletivos), isto quer dizer, "grosso modo", que em o hospital nâo trabalha todos os dias com 6 mil "colaboradores", mas apenas com 5400...
O mesmo se passava com as NT, na Guin´´e, em que os pelotões saíam para o mato desfalcados, com menos 3, 4, 5 e 6 elementos (10 a 20%)... É verdade ?
PROTESTO
Meu caro camarada L.Graça
Que exemplo vieste dar
Os conselhos de administração hospitalares são todos "comissários políticos".
Têm isenção de horário..logo, moralmente, não são exemplo para ninguém.
Para colmatar as suas próprias insuficiências "cospem" para o ar atordoadas destas.
Os registos biométricos têm como finalidade o controle "fascistoide" dos trabalhadores..detesto o termo "colaboradores"..colaboradores de quem?
Há legislação para os prevaricadores.
Só quem não sabe como funciona um hospital é que lança atordoadas destas.
Por exemplo..nas cirurgias programadas se faltar um elemento da equipa esta não se pode realizar..a não ser que arranjem substituto.
Com estes números o hospital pura e simplesmente não funcionava.
Um chefe de serviço no topo da carreira com horário de 35 horas sem exclusividade ganha em média 1500 euros líquidos.
A esmagadora maioria é pessoal dedicado e competente.
Claro que também existem alguns "chicos espertos" como em todas as actividades.
Apetece-me dizer.."barda merda para tanta demagogia".
Ah..já me esquecia..absentismo na tropa..no meu pelotão cujos os soldados eram todos guineenses..estava sempre de prevenção uma secção e no caso de ataque todos os outros iam para os seus postos a maioria das vezes debaixo de fogo.
Quanto às companhias..não me lembro de estas não irem para mato por falta de efectivos..ou ter havido muitas baldas.. e para quem não sabe estava numa zona bem quente..gadamael.
Desculpa a minha contundência mas há coisas perante as quais já me falta paciência..é da p.d.i.
Um alfa bravo
C.Martins
Meu Caro C. Martins
De organização hospitalar sei muito pouco e o que sei é como utente que sou inflismente do S. João há uns anitos. O hospital de S. João é um monstro em tamanho aquilo é um autentico formigueiro humano.E a partir da altura em que foi para lá este adm. António Ferreira que eu não conheço de lado nenhum transformou-se num dos melhores do Pais, em algumas especialidades é mesmo o melhor.Como disse não conheço o Sr. mas parece uma pessoa muito séria, muito competente e nada demagogo.
Relativamente aos desenfanços no mato julgo que estamos a falar daqueles que iam para operações e alguns feriam-se nos pés propositadamente para ficaren dentro do arame farpado e eu sei do que falo porque um dia sonhei que ia morrer fingi que estava doente para não ir a uma operação.Havia muitos locais na Guiné onde dentro do arame farpado se estava mal mas fora era bem pior.
Um abraço para ti e para todos.
Manuel Carvalho
Meu caro camarada M.Carvalho
O hospital de s.joão é igual ao h. de santa maria em lisboa, são ambos hospitais universitários e autênticos monstros,como dizes, só para fazeres uma ideia, gastam tanto em electricidade como uma cidade de trinta mil habitantes.
Quanto ao funcionar melhor,ainda bem,só que isso se deve principalmente ao empenhamento dos profissionais que lá trabalham,porque por melhor que seja a administração se não houver empenhamento dos profissionais nada resulta.
Os médicos,por exemplo, são autónomos no desempenho das suas funções e se não estiverem empenhados..julgo que me fiz entender.
Mal "acomparado"..na tropa..o QG mandava fazer uma operação e esta só resultava em sucesso,para além da sorte sempre necessária, do empenhamento de quem a executava.
Um alfa bravo
C.Martins
Martins, aceito o teu "protesto"!... De qualquer modo, não gostaria que nos focalizássemos nos problemas, gravíssimos, de gestão de recursos humanos que se põem hoje aos hospitais e centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde cujo futuro nos preocupa a todos, profissionais, utentes, cidadãos...
Estamos sempre a pôr aqui uma fronteira imaginária entre o passado e o presente, mas é impossível não passar de uma aara a outra...
PS - O nome do o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar São João, do Porto, saiu truncado: é António Ferreira. Peço desculpa.
Caros C. Martins e manuel Carvalho:
Voltando à "realidade" do passado, o que eu queria chamar a atenção é para a subdotação das nossas unidades operacionais na Guiné e a dificuldade, ou mesmo impossibilidade, de ir repondo o "sctock" humano...
Não sendo "atirador", passei a alinhar, na minha companhia (CCAÇ 2590, depois CCAÇ 12) como "pião de nicas", logo desde o início: fomos colocados em 18 de jullho de 1969, no setor L1 (Bambaddinca), tivemos logo o batismo de fogo passados uns dias, em Madina Xaquili, em "farda nº 3" (, ainda não tinham chegado os camuflados para os nossos soldados do recrutamento local...). No meu caso, foi uns dias depois, a 7 de agosto, no subsetor do Xime... Ao meu lado, iria morrer o primneiro homem...
A companhia tinha um 1º sargento (que depois voltou *a metrópole para seguir a sua carreira, frequentando a escoal de Águeda...) e dois segundos sargentos, do quadro.
Devido à idade, os segundos sargentos, comandantes de secção, não alinhavam no mato... Logo os grupos de combate começaram desfalcados... Depois vêm as primeiras baixas...
Os cabos substituem os furrieís, os furriéis substituem os alferes... Um furriel e um alferes, e mais dois cabos (se não erro), são desviados para o reordebamento de Nhabijões...
Era o "desenrascanço" em marcha!...
Já não falo da gestão (estratégica) de recursos humanos nas Forças Armadas, em Lisboa e em Bissau...
Hoje pergunto-me: como foi humanamente possível aguentar "tudo aquilo" ?... As companhias africanas (como a CCAÇ 12) foram "usadas e abusadas"... pelos comandos de batalhão a que estavam afetas.. Vê-se pela sua intensa atividade operacional, e pelas baixas, mas também pelos louvores e punições...
Sugestão: e se falássemos das doenças e outras incapacidades que nos afetavam no TO da Guiné ? Do paludismo às afeções cutâneas, dos pés inchados aos problemas digestivos...
O C. Martins era estudanre de medicina quando foi incorporado no exército e depois mobilizado para a Guiné. E hoje é medico de família... Pode falar disto como ninguém...
Ab. Luis Graça
"Hoje pergunto-me: como foi humanamente possível aguentar "tudo aquilo" ?.."
pois é Luís, perguntas bem, e pouca gente portuguesa mesmo da nossa geração e muito menos a geração actual, se preocupa em fazer tal pergunta e muito menos qualquer resposta.
Ai aguenta!!! como disse não sei quem, recentemente.
Ai aguentava, aguentava. Eram férias, idas a Bissau para a carta de condução, para tratar dos dentes, do estômago etc. etc. >Uma vez, um pelotão saiu com apenas 13 rapazes e um destes só foi para fazer número porque , no regresso, foi preciso outro trazer-lhe a canhota. É que, nos últimos anos da guerra, aproveitava-se toda a gente, doentes e tudo, num pequeno país que tinha que despachar jovens para todas as parcelas ultramarinas. Aquilo era desumano e agora os governos querem é que morramos quanto mais depressa melhor.
Um abração.
Carvalho de Mampatá.
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