Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1973 > O helicanhão AL III, com a nova configuração de armamento. Créditos fotográficos: Grupo Operacional 1201 (comandamte : ten cor pilav Fernando Jesus Vasquez, hoje ten gen ref).
Texto e foto: José Matos (2017) [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem, de 19 do corrente, do nosso amigo José Matos:
[Foto à direita: o nosso grã-tabanqueiro José [Augusto] Matos; formado em astronomia em 2006 na Inglaterra ( University of Central Lancashire, Preston, UK ); é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992; faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro; filho de um antigo combatente, nosso camarada da Guiné, já falecido; é investigador independente em história militar]
Olá, Luís
Mando-te uma foto do AL III 9377 na BA 12 em 1973
que é histórica e tem um certo interesse.
Vemos o helicóptero armado com dois ninhos de foguetes SNEB de 37 mm e duas metralhadoras de 7.62 mm, tudo armamento que se usava no T-6G.
Na altura, por indicação do comandante do Grupo Operacional 1201 (Ten cor pilav Vasquez) , foi testada esta configuração de armamento no AL III com vista a ser usada no TO, no caso de se verificar novos ataques em força contras os quartéis de fronteira.
O armamento foi testado em primeiro lugar acoplado a uma viatura na carreira de tiro da BA12 para ver se os suportes aguentavam a pressão das armas. Depois foi adaptado ao helicóptero e experimentado nos Bijagós.
Podemos também ver na imagem uma mira no lugar direito do helicóptero, que era a mira do Fiat calibrada para o AL III para pontaria das armas. Esta configuração nunca foi experimentada em combate, mas era uma possibilidade improvisada na BA12, que podia ter tido alguma utilização.
Aqui fica a foto que podes creditar ao Grupo Operacional 1201.
Ab, José Matos
PS - SNEB: acrónimo do fabricante francês da granada-foguete, Société Nouvelle des Établissements Edgar Brandt
________
Nota do editor:
Último poste da série > 1 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17303: FAP (101): Agora num expositor... Aventuras de um capacete... E não só... (Miguel Pessoa)
Ab, José Matos
PS - SNEB: acrónimo do fabricante francês da granada-foguete, Société Nouvelle des Établissements Edgar Brandt
________
Nota do editor:
Último poste da série > 1 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17303: FAP (101): Agora num expositor... Aventuras de um capacete... E não só... (Miguel Pessoa)
8 comentários:
Obrigado, Zé... Vê se não cometi nenhuma asneira na legendagem... Quanto aos créditos fotográficos: é foto de arquivo da FAP ? É do ten gen ref Fernando José Vasquez ? É de autor desconhecido ? Dizes que é do GO 1201, mas isso é muita gente...
Obrigado, pelo teu sentido de oportunidade e pela tua generosidade em relação a nós... Seria interessante que os nossos camaradas da FAP enriquecessem o teu precioso contributo para o conhecimento da guerra da Guiné, com comentários...O Miguel e o António são dessa época e por certo viram na BA 12 o AL III 9377 com esta "nova" configuração de armamento... Ab, Luís
Miguel Pessoa
23 out 2017 08:01
Luís,
Sobre o assunto, preciso de mais tempo para analisar. Soube que existiam testes mas não foram confirmadas acções em teatro de operações.
Abraço. Miguel
Os pilotos do AL III poderão dizer-nos as desvantagens/desvantagens desta configuração de armamento em relação ao clássico helicanhão que todos nós conhecemos, o "Lobo Mau", e que era o terror do "pessoal do mato": guerrilheiros e pop IN.
Com metralhadora pesada 12.7, munições e um apontador, o helicanhão devia ter um peso extra muito superior aos 100 kg..., o que lhe retirava mobibilidade e autonomia, penso eu (que não sou especialista nesta matéria...).
Os ninhos das fotos,com 18 foguetes cada,eram utilizados nos DO's,em certas missões tipo Rvis ou Pcv's,e nos T6 eram de 36 foguetes cada,no total de 72 e disparavam aos pares ou rajada.
também creio que nunca foram utilizados,e não sendo "expert"em hélis,me parece que dificilmente seriam mais eficazes do que o canhão,pois tinha alguma mobilidade independente do héli.
gil moutinho
Gil, és capaz de ter razão em relação às vantagens do clássico helicanhão... Mas os nossos pilotos e os apontadores do canhão é que podem falar de cátedra sobre este tema...
O D0 27, equipado com foguetes SNEB 37 mm, acho que ainda cheguei a ver, no meu tempo, mas o mais vulgar era a aeronave fazer de PCV (posto de comando volante) e andar no serviço de transporte áereo militar: evacuação de feridos e doentes (nomeadamente civis), correio e víveres ("frescos")...
Um abraço, e até um dia dia destes, de novo, na Tabanca dos Melros.
Olá a todos
Esta configuração nunca foi usada em combate. Foi só testada...como já foi dito este ninho de foguetes usava-se no DO 27, as metralhadoras eram as do T-6G...Também posso dizer que esta não foi a única configuração testada nesta altura, há fotos com outras possibilidades. Mas realmente o helicanhão era o mais usado e o mais eficaz.
Ab
José Matos
O helicanhão era uma "máquina de terror" para os homens que combatíamos na Guiné, em 1969/71... Eufemísticamente, o "lobo mau", como era chamado na gíria da malta da FAP.
Para nós, o heli AL III estava associado sobretudo a cobertura aérea das NT, helioperações (com os páras), mortos e feridos, evacuações Y (ipsilon) ou, na melhor das hipóteses, uma visita de um "cão grande" (Spínola & Companhia=... Ainda hoje, para mim, o som do heli é como o ti-no-nim do ambulância do 112: ambos pressagiam desgraça... embora eu saiba que o heli hoje têm múltiplas aplicações civis (desde passear turistas a transportar executivios) e militares (para além da guerra)...
Falando agora de "cães grandes" (que eram os nossos "executivos", sem ofensa para ninguém)...Em boa verdade, quem andava de heli, no meu tempo, quem se podia dar o luxo de andar de heli (e fazia gala disso) era o gen Spínola, governador-geral e comandante-chefe...
O heli era tembém o "terror" dos comandantes de batalhão... Comentávamos nós, o pessoal da tropa macaca, quando chegava um heli à sede de batalhão: "Ou é foda ou canelada... Lá vem mais um par de patins para o 'maior deste'...".
O seu custo,no meu tempo, era de 12 contos por hora (lia-se nos relatórios)... Doze contos, 12 mil escudos, era "manga de patacão"!... Qual quê 60 euros em moeda atual... Se fizermos a conversão ao valor atual, eram 3.589,21 €!!!... Um fortuna!
Doze contos na época, no CTIG, dava para comprar cerca de 250 garrafas de uísque novo... ou para ir ao restaurante cerca de 500 vezes... Que bebedeira monumental apanharia a rapazida toda de uma companhia de tugas, com 12 contos!... Mais: dava para ir às "meninas" no Pilão, em Bissau, ou no Bataclã, em Bafatá, todas semanas durante uma comissão...
Doze contos por hora!... A FAP nunca deve ter dados estes números ao sovina do Salazar, nem ao seu ministro das Finanças (1965-1968), o Ulisses Cortês (1900-1975), grande latifundiário, pelo casamento, na minha terra (Quinta do Bom Sucesso, Lourinhã)...
Aliás, esse custo/hora do AL III, 12 contos, equivalente ao dois meses de vencimento de um alferes miliciano, devia ser a razão, meramente economicista, para que a FAP não carregasse com os nossos mortos...
Os que eu tive/tivemos em combate foram sempre carregados, penosamente, às costas, por nós, ou em padiola improvisada, pelo mato fora até ao próximo quartel... Já ouvi o argumento contrário: as evacuações Y é que eram prioritárias, o que é urgente era levar os feridos graves até ao HM 241... Mas este raciocínio esconde um sofisma...Não havia dinheiro para transportar os mortos, de barco, para a metrópole até 1968!... Não havia dinheiro, até ao fim da guerra, para os helis transportarem os mortos até ao quartel mais próximo, porque na guerra os mortos deixam... de contar!...
Enviar um comentário